sábado, 30 de setembro de 2017

FEIRINHA DE NATAL EM ARACAJU


FEIRINHA DE NATAL - Num belo texto (rev. 19, do IHGS) sobre as danças populares, Paulo de Carvalho Neto descreveu as antigas feirinhas de Natal em Aracaju, de forma sucinta e reveladora.
“Estes festejos, de autoria da Igreja, congregam a população indistintamente, desde as classes mais favorecidas da área adjacente à Rua da Frente até os proletários das oficinas e do carro-quebrado. Entremostram-se as classes aí, em praça ao ar livre, sem, contudo, forçarem nenhuma mútua ligação. Os pobres se condensam nos fundos da igreja ou em locais arredios, na sua chamada Rua do Egito, onde a prefeitura lhes concede uma triste iluminação de interior de barracas em troca de um imposto avultado. A frente da igreja ou no centro da praça viceja o grupo privilegiado, em luz feérica, com o chão atapetado de areinha branca e debaixo de uma paisagem de palmeiras cinquentenárias. Os entrelaçamentos de grupos se processam assim; da burguesia fogem os filhos de família para a Rua do Egito, onde bebem e fazem baderna; na Rua do Egito para a área da burguesia vem as legiões de paralíticos, de tuberculosos, de cegos, de leprosos, se postarem nas dobras do passeio a esmolar, expondo as suas pragas e crianças de colo incrivelmente esqueléticas. As mulheres-damas são as únicas realmente nômades nessa vasta concentração populacional. “

Antônio Samarone. 

domingo, 24 de setembro de 2017

REGES ALMEIDA MEIRA - Radioterapeuta.


REGES ALMEIDA MEIRA (67 anos) – natural de Itabaiana, nascido em 17 de novembro de 1950. Filho de Pedro de Almeida Meira (Pedro da Jabá), e Maria Amélia Meira (dona Zuzu). O pai, filho do velho Cido, de Moita Bonita, analfabeto, deu sorte quando casou com a filha de Joãozinho de Norato, forte comerciante de jabá em Itabaiana, e de dona Melinha, da família de Nicolau do fumo. São filhos de dona Melinha: Antônio Gonçalves de Lima ( Tonho de Bila), Maria Amélia Almeida Meira (Zuzu), José Monteiro de Lima (Zé de Melinha), Terezinha Monteiro de Carvalho (Tereza), José Monteiro Lima (Tica), Enilde Monteiro de Lima (Nidinha),Carlos Monteiro de Lima (Carlito),Maria Aparecida de Lima Rodrigues (Aparecida) e Maria do Carmo Maximo de Jesus (Ninha).

Pedro herdou o comércio do sogro e levou em frente. Em 1957, por desavença política com Euclides Paes Mendonça, para evitar perseguições, Pedro da Jabá mudou-se com a família para Aracaju. Foi o passo decisivo, pois em Aracaju estabeleceu-se na Rua Santa Rosa e virou o rei da jabá, tornando-se o único importador no estado. Comprava toda a produção de jabá do Rio Grande do Sul. Mesmo analfabeto, seu Pedro aprendeu a passar telegrama, para importar o bacalhau da Noruega. Pedro da Jabá virou um homem rico, compôs uma geração de itabaianenses que dominou o comércio desde a década de 1950 (Pedro Paes Mendonça, Mamede Paes Mendonça, Gentil Barbosa, Oviedo Teixeira, Albino Silva da Fonseca; Noel Barbosa, Zé de João de Rola, etc.).     
Reges Meira viveu uma adolescência de filhinho de papai, tendo de tudo. Isso não o fez descuidar dos estudos. Fez o primário no Colégio Dom José Thomaz; o ginásio no Jackson de Figueiredo e o científico no Ginásio de Aplicação. Em 1970, Reges Meira entrou na Faculdade de Medicina de Sergipe, e para surpresa de Aracaju, ganhou um “dodge dart” amarelo de presente. Nos primeiros períodos decidiu acompanhar o Dr. Oswaldo Leite no serviço de radioterapia. Aprendeu muito com a experiencia do velho mestre. Quando formou em 1975, Reges Meira foi fazer residência médica em radioterapia (3 anos), no Sírio Libanês em São Paulo, no serviço do renomado professor Mathias Octávio Roxo Nobre.
Abro um parênteses para uma curiosidade: quando o professor Roxo Nobre dava uma festa em sua casa para os alunos, preparava uma pegadinha: levava os novatos para identificarem uma frondosa árvore que ele cultivava no quintal, quase ninguém acertava, a árvore era um velho Pau Brasil. Suspeita-se que o amor que o Dr. William Soares pelo Pau Brasil, tornando-se um doador de mudas para todo Sergipe, tenha nascido com as festas na casa do professor Roxo Nobre.
Retornando a Sergipe após a residência médica, o Dr. Reges Meira foi administrar o serviço de radioterapia do Hospital de Cirurgia. Isso durou de 1977 à chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores. Em 2009, o contrato do SUS com a radioterapia do Cirurgia foi rompido pela Secretaria da Saúde, sob fortes acusações de irregularidades. Reges Meira ficou sem condições de continuar exercendo as suas funções no hospital. Para sobreviver, foi fazer medicina no PSF de Campo do Brito e Frei Paulo. Em 2013, foi chamado de volta, sem que nenhuma das acusações fossem provadas e como se nada tivesse acontecido. No momento, Reges Meira voltou a ser o responsável técnico pelo serviço que ele organizou, no Hospital de Cirurgia.
O Dr. Reges Meira é pai de nove filhos (Maísa, Mateus, Camila, Pedro Reges (acadêmico de medicina), André, Ronaldo, Yasmim, Reges Junior e Lorena), de oito mães diferentes. O último relacionamento, com a enfermeira Maria Pergentina dos Santos (foto) já dura 40 anos. Foi atleta de futebol de salão na década de 1970. Reges Meira participou da política partidária, disputando sem sucesso algumas eleições. Dr. Reges Meira foi Presidente da SOMESE.

Antônio Samarone.

A RADIOTERAPIA EM SERGIPE


RADIOTERAPIA EM SERGIPE.
A aventura começou no final de 1895, quando Roentgen descobriu os raios-X. Os raios-X matam as células que se reproduzem rapidamente. No final de 1900, os médicos já vislumbravam a possibilidade de curar o câncer com o raios-X. Em 1902, o casal Pierre e Marie Curie vasculhando o mundo natural descobrem o rádio, fonte químicas do Raios-X, permitindo a emissão de radiações mil vezes mais poderosa contra os tumores. De imediato a oncologia entrou na era atômica: o rádio era introduzido diretamente nos tumores (braquiterapia) ou usava-se aplicações com equipamentos capazes de produzir doses poderosas de raios X, em locais protegidos, (teleterapia), mil vezes superiores aos equipamentos de raios-X destinados ao uso diagnósticos. A radioterapia estava inventada. Ainda não se conhecia os efeitos deletérios das radiações (Marie Curie morreu de leucemia, em 1934).
A radioterapia chegou ao Brasil em 1914, com o professor Eduardo Rabello, fundando no Rio de Janeiro, o Instituto de Radium e Eletrologia da Faculdade de Medicina. Em 1918, iniciou o funcionamento do primeiro aparelho de roentgeterapia profunda, no consultório do Dr. Arnaldo Campelo. Na verdade, era um aparelho de raios-X potente. Em 1938, foi fundado o Instituto Nacional do Câncer (INCA), e o Dr. Manoel de Abreu (o mesmo da abreugrafia), era o responsável pela roentgeterapia. No início do seu uso, quando ainda não se conhecia os efeitos patogênicos das radiações ionizantes, a medicina usou o tratamento radioativo em: ulceras cancerosas, epitelioma, tumores, fibroses, nevralgia facial, dores pertinazes, reumatismo crônico, suores profundos das mãos, doenças rebeldes da pele e das mucosas, eczemas, acne, verrugas, queloides, psoríases, lúpus, tuberculose de pele...
Em Sergipe, somente em 1943 chegou o primeiro equipamento de radioterapia, um aparelho de ortovoltagem para radioterapias superficiais, instalado no Hospital de Cirurgia, sob a responsabilidade técnica do Dr. Oswaldo Leite (foto). Em 1975, ocorreu a virada. O Hospital de Cirurgia recebeu do Ministério da Saúde um equipamento de radioterapia, com base na tecnologia da “bomba de cobalto”. A questão passou a ser, quem vai operar o novo equipamento? Três recém-formados, Geraldo Bezerra, foi fazer hematologia em Salvador; William Soares e Regis Meira saíram para residência médica nas áreas oncologia/radioterapia, em São Paulo. São os pioneiros, depois de Oswaldo Leite. A partir de 1977, a radioterapia em Sergipe se tornou uma realidade, atendendo cerca de mil pacientes por ano.
Sergipe entrou na era da radioterapia moderna, com equipamento movido por “acelerador linear”, a partir do ano 2000. O Dr. Regis Meira foi aos Estados Unidos e comprou um acelerador linear, de segunda-mão (usado), por 70 mil dólares, (um novo custava na época 400 mil dólares), e instalou no Hospital de Cirurgia. O antigo equipamento com a bomba de cobalto, foi doado ao departamento de física da UFS. O acelerador linear acima é o mesmo que continua funcionando no Hospital de Cirurgia, claro a maior parte do tempo quebrado. No mesmo período, foi instalado outro acelerador linear no HUSE.
No momento a radioterapia vive uma expectativa de crescimento. Uma clínica privada foi inaugurada; e os Serviços de Radioterapia do HUSE e do Hospital de Cirurgia estão recebendo um acelerador linear cada, ainda esse ano, doados pelo Ministério da Saúde. Temos em Sergipe seis radioterapeutas em atividade: William Soares, Maria Valdhenice Oliveira, Maria Luciene Santos, André Gentil, Marcos Antônio Santana e Regis Almeida Meira; e quinze físicos. Sem contar que existe um Hospital do Câncer previsto nos discursos dos políticos, terraplanagem feita, obra começada, só que ninguém de boa-fé acredita.

Antônio Samarone.  

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

COISAS DE SERGIPE


Coisas de Sergipe.

José Rodrigues da Costa Doria, governou Sergipe entre 1908 e 1911. Além de médico, era professor da Faculdade de Medicina Bahia, contudo, um dos seus despachos, onde negou a licença maternidade a uma professora de Itabaiana, se tornou um clássico da insensibilidade social daqueles tempos. Vamos ao requerimento e ao despacho:

Excelentíssimo Senhor, Doutor Presidente do Estado.

Isabel Giudice Lima, abaixo firmada, professora pública do povoado Terra Vermelha deste município, achando-se em estado interessante, bem adiantado, no tempo necessário para o parto, vistos os sintomas e não podendo continuar no exercício da cadeira, requer a Vossa Excelência uma licença de noventa dias para a competente dieta, de acordo com o regulamento. Deixo de juntar o atestado preciso por não ter um médico nesta cidade.
Pede deferimento.
Itabaiana, seis de março de mil e novecentos e onze.
Isabel Giudice Lima.

O despacho do Governador.

Concedo a licença requerida sem vencimento algum, visto não constituir moléstia o estado em que se acha a suplicante e nem constituir situação independente de sua vontade.
Palácio do Governo, nove de março de 1911.

Rodrigues Doria.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - Everton de Oliveira.


EVERTON DE OLIVEIRA – Mestres da medicina em Sergipe...

Everton de Oliveira (90 anos), nasceu em Neópolis, em 31 de outubro de 1927, filho de Ulisses de Oliveira, operário da fábrica de tecido dos Peixoto Gonçalves, na Passagem, e dona Alice de Oliveira. Órfão de mãe logo cedo, Everton foi criado inicialmente pelos avós maternos, dona Olímpia e seu Pedro Narigudo. Começou o curso primário no Colégio dos Padres, em Piaçabuçu, e concluiu na Escola do Professor Quincas, em Penedo. Aos treze anos, foi morar na casa da Tia Zulmira, em Aracaju, com o objetivo de estudar. Fez o curso ginasial no Colégio Salesiano e o científico no Atheneu Sergipense. Como bom aluno em matemática, ensinava banca na casa da tia, e nunca faltou alunos.

Filho de operário, órfão de mãe, criado por uma tia vitalina em Aracaju, como ir prestar vestibular para medicina na Bahia, quem pagaria essa conta? Nessas horas uma solução aparece. O Comendador Peixoto ao saber que um filho de um operário de sua fábrica queria ir estudar medicina na Bahia e não tinha condições, usou o prestígio, e arrumou um emprego para o jovem Everton em Salvador, no Serviço de Água e Esgoto da Bahia. Tendo do que viver, Everton foi morar na pensão de dona Mirtes, no Beco do Mijo, em Salvador. Dona Mirtes era uma sergipana, que ao lado de dona Lila, de Itabaiana, que tinha outra pensão, recebiam os estudantes sergipanos de menor poder aquisitivo.

Everton entrou na Faculdade de Medicina da Bahia em 1948 e concluiu o curso em dezembro de 1954, numa turma recheada de sergipanos. Fez toda a formação médica dirigida para a obstetrícia, pensando em ser parteiro. Perto de se formar, recebeu a visita do Dr. Carlos Firpo, diretor do Hospital Santa Izabel em Aracaju, que levou uma proposta ao jovem estudante. Precisamos de você em Aracaju, mas como Anestesiologista. Everton pensou, e resolveu passar mais um tempo na Bahia depois de Formado, para receber um treinamento na nova especialidade. Destaca-se, que o Dr. Everton conheceu na Bahia a destemida enfermeira Railda Andrade de Oliveira (foto), com quem se casou em 07 de novembro de 1957 (estão completando 60 anos de casados).


Em Aracaju, o Dr. Everton foi trabalhar como anestesista no Hospital Santa Izabel; plantonista no SAMDU, uma urgência da Previdência Social; plantonista no Pronto Socorro Municipal, que funcionava nos fundos da antiga sede da Prefeitura, no Parque Olímpio Campos; e tinha o seu consultório particular no Edifício Maiara. Uma vida modesta, voltada para a medicina, no tempo em que a base do trabalho médico era a filantropia. Everton nunca foi de muita conversa, um homem simples, que gostava mesmo era de jogar buraco com os amigos, e das pescarias nos finais de semana. O Dr. Everton e a enfermeira Railda, educaram seis filhos: a enfermeira e advogada Acácia, Ulisses, Clara, Paulo, Beto e Fábio; e possuem nove netos e três bisnetos, chamando atenção para a neta Luise, que decidiu seguir a profissão do avô e é anestesista na Bahia. Na entrevista com o Dr. Everton de Oliveira, constatei a tranquilidade de quem tem a certeza que cumpriu a sua missão na vida salvando vidas com decência e dignidade. 
Antonio Samarone.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

JOSÉ NUNES DA SILVA – Histórias do povo sergipano.


JOSÉ NUNES DA SILVA – Histórias do povo sergipano.

José Nunes da Silva, nasceu em 13 de novembro de 1904, em Aracaju, e faleceu em 26 de setembro de 1986. Filho de Antônio Nunes da Silva e Adelaide Nunes da Silva. José Nunes foi casado com a professora pública Júlia Canna Brasil (estanciana). Teve quatro filhos: Hélio Nunes da Silva, Célio Nunes da Silva (escritor e jornalista), Neyde Nunes da Silva e Layde Nunes da Silva (única viva, mora em Houston – EUA). Fonte: jornalista Claudio Nunes

José Nunes foi gráfico, dirigente sindical, funcionário público, presidente do Centro Operário Sergipano*, entidade que teve marcante atuação nas décadas de 20 e 30, retornando na década de 50, sendo fechado pelo Golpe militar de 1964. Participou de movimentos sindicais e revolucionários em Sergipe, sendo preso em 1935 e processado pelo Governo Militar em 64. Sempre esteve ligado, desde 1922, (data de fundação nacional) ao Partido Comunista Brasileiro – PCB. José Nunes, Manoel Vicente, Gervásio Santos (Careca), Gilberto Burguesia, Major João Teles, Lídio Santos, Pedro Hilário, Tonico Alfaiate, Seu Brás do Siqueira, Antonino Pedreiro, Hélio Nunes, Álvaro Pedreiro, construíram a história do movimento social em Sergipe. Parodiando Ferreira Gullar, “quem contar a história de Sergipe e a do seu povo, tem que falar deles, ou estará mentindo”.

*O Centro Operário Sergipano, fundado em 11/12/1910, teve os seus estatutos aprovados em 09/07/1911, assinados   por Olympio Mendonça, Manuel Júlio da Silva e Avelino dos Reis; e teve como primeiro Presidente o Major Xavier de Assis. A primeira realização do Centro Operário foi a criação da Escola Horácio Hora (08/12/1911), com funcionamento noturno para os operários. A Escola funcionou inicialmente num salão cedido por Thales Ferraz, proprietário da Fábrica Sergipe Industrial. Essa escola funcionou até 1964, quando os militares mandaram fechar. O Centro Operário publicava o jornal “O Operário”, para informar e educar os trabalhadores.  Em 01 de maio de 1911, foi inaugurada a Escola Federal de Aprendizes e Artífices, destinada a qualificação dos trabalhadores, sob a direção do Dr. Augusto Leite, com três oficinas: alfaiataria, marcenaria e mecânica.


Antônio Samarone.

POLÍTICOS DE PROCISSÃO


Políticos de procissão.

Duas coisas não faltam em procissão: andor e político. Em procissões menores, de povoados, pode até faltar o padre, ter poucos fies, faltar as congregações, andor sem enfeite, mas com certeza, os políticos estarão presentes. Pode-se acusar os políticos brasileiros de tudo, menos de falta de devoção. Muitas vezes rezam e cantam alto sem ao menos saber o nome do padroeiro.

Já existe uma ordem hierárquica nos cortejos religiosos: na frente, em fila indiana, as congregações com os seus estandartes; em seguida o clero, sacristão e coroinhas, na frente do andor enfeitado; logo atrás vem a banda de música (quando tem); separado por um pequeno espaço para dar visibilidade, surge o comboio de políticos (situação e oposição), e na rabeira, o povo em geral, um amontoado de gente sem prestar a menor atenção a reza. Com exceção dos que estão pagando alguma promessa, quase sempre uniformizados, para serem vistos.

Parece absurdo, mas funciona. Mesmo todo mundo sabendo que os acenos, sorrisos, apertos de mãos e abraços são falsos; os contemplados ficam felizes, e guardam o nome do político para as próximas eleições. Os mais críticos e sonhadores ainda afirmam: que nada, isso acabou. Nas próximas eleições o povo já está escaldado e não vai votar em ninguém, os políticos terão uma surpresa. Escuto isso há cinquenta anos. Enquanto acompanhar procissão por estratégia política tiver importância eleitoral, as mudanças estão longe de acontecer no Brasil.

Antônio Samarone. 

domingo, 17 de setembro de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - Dr. Raulino Galrão de Lima.


RAULINO GALRÃO LIMA – Um apaixonado pela medicina.

Raulino Galrão, nasceu na Estrada da Rainha, Salvador, em 09 de março de 1937, filho do seu Serapião Oliveira Lima e dona Nair Galrão Lima, família pobre e numerosa (nove irmãos). Viveu plenamente a infância daquele tempo, nos (babas) futebol e nas traquinagens sadias. Desde cedo, o que Raulino queria mesmo era ser médico, inspirado no irmão mais velho Raimundo Galrão, médico destacado. Fez o primário na Escola Getúlio Vargas, no Barbalho; o ginásio no Instituto Normal da Bahia e o científico no Ginásio Central da Bahia. Todas escolas públicas. Na hora do vestibular o sapato apertou. Como cursar a faculdade, sem uma renda, precisava trabalhar. A realidade empurrou Raulino para um concurso na Polícia Militar. Aprovado, passou a seguir a carreira militar, passando para a reserva como Major da Polícia Militar da Bahia. Em seguida, fez vestibular para biologia, concluindo a sua primeira formatura. Em 1963, aos 26 anos, já com o diploma de Biologia em mãos, Raulino submeteu-se ao vestibular de medicina na Universidade Federal da Bahia, tornando-se médico em 21 de dezembro de 1969, aos 32 anos.

Já maduro, Raulino entrou de cabeça no curso de medicina. Virou rato de hospital. No período da anatomia, Raulino comprava os cadáveres anônimos no Nina Rodrigues, e enfrentava a dissecação minuciosa, sozinho, noites a fio. Tornou-se monitor de anatomia. No segundo ano passou a frequentar a maternidade. Meteu as caras e fez de tudo (de anestesia a cirurgia oncológica). Foi interno do Hospital Santo Antônio, da Irmã Dulce, onde até cirurgia neurológica realizou. Ao final do curso, Raulino estava preparado para exercer a medicina com qualidade em qualquer lugar. Somando-se a disciplina, os estudos e o treinamento exaustivo, o talento natural de Raulino para a medicina era evidente. Fazia um parto cesariano em menos de trinta minutos, e com perfeição.

Concluído o curso de medicina, casado, com filhos, Raulino recebeu uma visita surpreendente: a Irmã Rafaela Pepel vai a Salvador convida-lo para vir assumir a Maternidade São José, em Itabaiana, inaugurada em 01 de novembro de 1959. Desde 1963, a maternidade era administrada pela Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição (a mesma da Irmã Dulce): Evencia Vasconcelos (parteira), Maria Auxiliadora, Maria Acácia e Rafaela. Bateu a dúvida: como oficial da polícia poderia acomodar-se, ficar no corpo médico da corporação; mas a proposta de Itabaiana parecia atraente. Procurou os sergipanos Reginaldo Silva e José Augusto Lisboa, seus colegas de turma, para aconselhar-se, não deu outra, pediu licença da polícia, e em 17 de fevereiro de 1970 estava chegando a Itabaiana, para começar uma nova vida. Encontrou dois colegas residindo na cidade: Pedro Garcia Moreno e Ormeil Câmera de Oliveira.

Raulino fez uma revolução na assistência médica em Itabaiana. Corajoso, preparado, passou a fazer os partos normais e complicados, reativou o velho Hospital Rodrigues Dória, começou a realizar todos os tipos de cirurgia. Ele fazia a anestesia e operava sozinho. Iniciou o atendimento a 14 municípios da Região, dando por semana seis plantões de 24 horas. Vivia nos hospitais, com um media semanal de 30 partos. O mais importante, com baixa mortalidade Raulino fazia de tudo, atendendo sobretudo a população carente. Em 1973, passou no concurso da Faculdade de Medicina de Sergipe, para a cadeira de obstetrícia, o que facilitou a formação de sua equipe em Itabaiana. Vieram Luciano Siqueira e Guilhermino Noronha para anestesia; depois para a obstetrícia, Cardoso, Carlos Alberto, Antonia, Bosco, Aldevan, Fontes, Edmundo, montando uma equipe de profissionais qualificados.

Raulino abriu tanta gente, operou tantos, que passou a conhecer os sertanejos de Sergipe pela cor do tecido adiposo. A gordura do sertanejo é amarelo ouro, intensa, diferente, mais apurada, conta Raulino... Francisco Rollemberg, outro grande da cirurgia em Sergipe, presente na entrevista, confirmou balançando a cabeça. Raulino possuía uma habilidade cirúrgica notável. No campo espiritual, Raulino é espírita Kardecista praticante, com consequências em sua postura médica. Nunca deixou de atender um paciente, por ter ou não como pagar, razões financeiras nunca teve peso em suas decisões. Sempre movido pela missão de aliviar os sofrimentos dos seus pacientes. Um fato merece ser destacado: uma paciente de Carira teve trigêmeos e faleceu durante os partos, consequência, as três crianças (Bruno, Luciano e Raul) foram adotadas pela equipe médica. Raul passou a ser filho de Raulino. Do primeiro casamento, Raulino teve mais 4 filhos: Jorge, militar na Bahia; Jane, médica; Jussana, dentista; e Dinho.
   
Em 1980, Raulino, divorciado do primeiro casamento, começou um relacionamento com Josefa Delfina (foto), filha de Roque, ex prefeito de Campo do Brito, com quem vive até hoje. Delfina incentivou Raulino para a política. Foi vereador em Itabaiana por dois mandatos, deputado estadual, e presidente do IPES durante o Governo de Albano Franco. A passagem pela política, estimulou Raulino para voltar aos bancos escolares, junto com a esposa, em busca de uma nova formatura. Em 1993, aos 56 anos, Raulino recebe o diploma de bacharel em direito. Em seguida foi aprovado na prova da OAB, assumindo a condição de advogado, passando a exercer à lide jurídica, em especial na defesa dos colegas médicos quando precisam responder a justiça.

Somente em 2015, após 45 anos de bons serviços prestado ao povo da Região de Itabaiana (14 municípios), de ter sido presidente da Associação Olímpica de Itabaiana, ter participado do Rotary, virado ceboleiro, é que Raulino mudou-se para Aracaju. Quem pensa que ele, aos 80 anos, está descansando após a longa jornada, errou. Raulino continua dando três plantões por semana no Hospital José Franco, em Socorro; e os nos outros dois dias trabalhando na rede básica de Aracaju. Continua atendendo no SUS. Eu fiz uma pergunta óbvia, professor, já não está na hora de parar? Ele estendeu as duas mãos espalmadas, e respondeu-me de forma enfática: - “só paro quando as mãos começarem a tremer”. E eu sou testemunha, as mãos continuam hígidas, impassíveis ao tempo. Raulino, 80 anos, professor aposentado, oficial da reserva, trabalhos publicados em revistas científicas, tem uma situação financeira estabilizada, mas continua na linha de frente do SUS, atendendo aos que mais precisam. Saí querendo entender, que força é essa? Acho que a vocação tem um peso, Raulino tem a alma dos antigos médicos; mas acredito que a sua fé no espiritismo tem uma parcela de responsabilidade. A minha homenagem a Raulino é especial, pois além do exposto, foi ele quem sempre socorreu a minha mãe em suas necessidades de saúde, de forma gentil e atenciosa.


Antônio Samarone.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

MAJOR JOÃO TELES DE MENEZES - Historias do povo sergipano...


Major João Teles de Menezes, histórias do povo sergipano.

Em 1952, o Governo Vargas iniciou uma caçada nacional aos militares considerados subversivos, a pedido da CIA, onde foram realizadas mais de mil prisões pelo no Brasil. A caçada chegou a Sergipe entre os dias 16 e 17 agosto de 1952. A polícia política do exército prendeu alguns militares considerados subversivos em Aracaju, entre eles os Majores João Teles de Menezes e Humberto de Andrade; e os sargentos Manuel Messias dos Santos, João Alves Santana, Antônio Rodrigues da Silva, presidente da Casa do Sargentos. Os presos foram levados para a sede da Capitania dos Portos, onde foram submetidos a torturas cruéis.  Poucos dias depois, nove presos (entre eles o Major João Teles) foram colocados num avião, com o destino ignorado. Na mesma operação, a polícia política estabeleceu o cerco aos civis, entre eles o destacado jornalista Fragmon Carlos Borges, sergipano de Frei Paulo.

O Major João Teles de Menezes passou um tempo sem que a família soubesse o seu paradeiro, não se sabia nem se ele estava vivo. A esposa, dona Horonita (foto), não teve descanso enquanto não localizou o marido, preso a 15 meses no Regimento de Cavalaria e Guarda da Base Naval de Natal, RN, por envolvimento num inquérito policial militar instaurado em Aracaju. O Coronel Amaury Kruel, comandante do RCG, manteve o Major João Teles incomunicável, sem direito ao uso do telefone, nem ao banho de sol, durante todo o período da prisão. Dona Honorita procurou o famoso advogado Evandro Cartaxo de Sá, defensor de presos políticos, e finalmente, em novembro de 1953, o Superior Tribunal Militar libertou o Major João Teles de Menezes, preso injustamente.

João Teles de Menezes nasceu em Laranjeiras, em 14 de junho de 1903, filho de José Hermenegildo Teles de Menezes e de Clotildes Menezes (professora Santinha). Estudou o primário com a mãe e concluiu na escola da professora Possidônia Bragança. Na adolescência foi tropeiro e mascate. Em 1922, já no exército, casou com Heronita Nascimento Teles, e tiveram oito filhos: Eurípedes, Etodéa, Hermínia, José, Juarez, João Alberto, Clotildes e Eraldo. Serviu o exército em Natal, RN. Admirador de Luiz Carlos Prestes, participou do Movimento Tenentista e da Intentona Comunista de 1935, permanecendo ligado a causa até a morte. Faleceu em 24 de fevereiro de 1981.

Antônio Samarone.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - DR. TODT


DIETRICH WILHELM TODT - (um alemão, nascido na Bahia, com a alma sergipana).

O Dr. Todt nasceu em 27 de dezembro de 1937, na Maternidade Climério de Oliveira, em Salvador/BA. Só nasceu, pois na verdade é natural de Cachoeira do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. O pai, Hans Karl Todt (João Carlos Todt), veio da Alemanha logo após a Primeira Guerra, para trabalhar nas fábricas de charutos Dannemann e Suerdieck, empresas de origem alemãs; a sua mãe é a baiana Stella Machado Todt. O Dr. Todt fez o primário no Colégio Montezuma, em Cachoeira; e o secundário no Colégio Maristas, em Salvador. Em 1958, entrou na Universidade no curso de medicina veterinária, tendo concluído em 1962. Como médico veterinário, foi funcionário da Inspetoria Sanitária da Bahia. Em paralelo, em 1959 foi também aprovado no vestibular para o curso de medicina. Como não era possível fazer os dois cursos ao mesmo tempo, esperou concluir o de Veterinária, e em 1963, começou para valer o curso de medicina, tendo se tornado médico em 1968. Em resumo, o Dr. Todt formou-se em medicina veterinária em 1962; e em medicina em 1968.

Atendendo ao convite do concunhado Dr. José Augusto Barreto, transferiu-se para Aracaju logo após a conclusão do curso de medicina. Atuou no INAMPS, inicialmente no Serviço de Emergências Médicas da Previdência Social (SAMDU). Foi plantonista do Pronto Socorro do Hospital de Cirurgia, atuando ao lado dos colegas Fernando Felizola e Fernando Sampaio. Pertenceu ao corpo clínico do Hospital São José. Em 1972 prestou concurso para a UFS, lecionando a disciplina parasitologia, depois substituiu Aírton Teles na clínica, após fazer o mestrado em pneumologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no serviço do professor Mário Rigatto, nos anos de 1976 e 1977. Na chegada do Dr. Todt à Sergipe, surgiu um boato no meio médico, dizia-se a boca miúda: José Augusto Barreto é tão influente, que trouxe um concunhado da Bahia, que mesmo sendo médico veterinário está atendendo gente no hospital.

O Dr. Todt iniciou a nova pneumologia em Sergipe, a especialidade com vocação clínica, próxima a cardiologia. Antes, os médicos especializados em pulmão eram os tisiologistas, centrados no combate da tuberculose e ligados à Saúde Pública. Tisiologistas tivemos Paulo Faro, José Maria Rodrigues, Lourival Bonfim, entre outros. Na pneumologia clínica o pioneiro foi o Dr. Todt. A especialidade teve grande avanço com a descoberta dos corticoides inalatórios, dando um impulso no tratamento da asma, antes de baixa eficácia. Usava-se o chá de zabumba (Brugmansia suaveolens), uma planta alucinógena, no tratamento da asma.

O Dr. Todt participou, ao lado de José Augusto Barreto e outros colegas, na criação da Clínica São Lucas, em 18 de outubro de 1969, sendo o seu Diretor Clínico. Em seguida, a Clínica se transformou no atual Hospital São Lucas. Dr. Todt foi fundador da Sociedade Sergipana de Pneumologia, tendo exercido a presidência da entidade por dois mandatos. Presidiu o 11º Congresso Norte Nordeste de Pneumologia, realizado em Aracaju. Membro fundador da Academia Sergipana de Medicina, onde ocupa a cadeira de número quinze, que tem como patrono o Dr. Gérson Siqueira Pinto.


O Dr. Todt é casado desde 1964, com a nutricionista Eunice de Azevedo Todt (Dona Nicinha), pai de seis filhos (Ângela, Ana Luíza, João Carlos, Maurício, Sérgio e Miguel); avô de onze netos e bisavô de Alice. Por influência do pai, o Dr. Todt é torcedor do Fluminense e possui a alma luterana, mas acompanha a esposa nos cultos católicos. Aos oitenta anos, o Dr. Todt mantém a disciplina germânica, a memória intacta e a clareza do dever cumprido. Acredita que a medicina artesanal, humanizada, centrada na relação médico paciente é superior a atual medicina dos procedimentos, centrada apenas na incorporação da tecnológica. “É fundamental o toque, o contato, a atenção acolhedora aos pacientes”, nos ensina o Dr. Todt. (foto: Dr. Todt e dona Nicinha).
Antonio Samarone.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

MESTRE DA MEDICINA EM SERGIPE - NESTOR PIVA


NESTOR PIVA, oitavo filho de Alberto Piva e Laura Piva, nasceu em 13 de junho de 1930, em Salvador/BA. Imigrantes italianos, operários de tecelagem, ao chegarem ao Brasil passaram pelas fábricas dos Matarazzos, em São Paulo; Bangu, no Rio de Janeiro; Pelotas, Rio Grande do Sul; até chegarem a fábrica dos Catarinos, em Salvador. Nestor Piva perdeu o pai aos três anos, o irmão mais velho, Inocêncio Piva, assumiu as funções paternas. Estudou o primário no Colégio do Professor Eufrates, em Salvador; e o restante dos estudos no Ginásio da Bahia. Em 1948, ingressou na centenária Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, criada por D. João VI. A opção pela patologia foi precoce, desde cedo trabalhou em laboratório e dominou as suas técnicas.

Nestor Piva foi campeão juvenil no futebol pelo Galícia, vice-campeão baiano de vôlei pelo Fluminense, e campeão de basquete pelo Bahia. Por muitos anos jogou tênis na Associação Atlética de Sergipe; participou do movimento de rádio amador, e tinha um xodó especial pela pescaria. Foi fundador e presidente do Clube de Pesca de Sergipe. Um verdadeiro desportista.

Em 1954, o Dr. Augusto Leite convidou o professor baiano Aníbal Silvani para assumir o serviço de patologia do Hospital de Cirurgia, em substituição ao patologista alemão Konrad Schimitt, que retornava a sua terra. Silvani não aceitou, mas indicou o seu aluno Nestor Piva, ainda doutorando para o cargo. Piva chegava em Aracaju na sexta à tarde, trabalhava o final de semana, e retornava na segunda para Salvador.

Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1954. Em 1955 organizou a disciplina de patologia da Faculdade de Medicina da Paraíba. Um ano após voltou para Salvador onde assumiu por concurso o cargo de médico do IAPC – Instituto de Aposentadoria dos Comerciários. Em 1959 transferiu-se para Aracaju atendendo convite dos médicos Juliano Simões e Fernando Sampaio, para retornar ao Hospital de Cirurgia que estava sem médico patologista. Augusto Leite e o Senador Leite Neto, conseguiram que o IAPC colocasse Piva à disposição do hospital. Todos os exames de patologia do estado, inclusive os do Hospital Santa Izabel, passaram a ser realizados no laboratório montado por Piva no Cirurgia. Um fato: ele não recebia nada por isso. Ele só montou outro laboratório, no São Lucas, quando o curso de medicina deixou o Hospital de Cirurgia.

Nestor Piva e Osvaldo Leite foram os primeiros professores da Faculdade de Medicina de Sergipe, fundada por Antônio Garcia, lecionando inicialmente histologia; e em seguida, professor titular da Patologia Geral, Especial e Bucal. Somente com a saída das instalações da Faculdade de Medicina do Hospital de Cirurgia, Piva resolveu fundar o seu Laboratório de Patologia no Hospital São Lucas, em sociedade com duas ex-alunas. O Dr. Piva assimilou rápido toda a modernidade e quis que o seu laboratório emitisse laudos com imagens digitalizadas e com as técnicas mais modernas de imuno-histoquímica.

Em 1972, transferiu-se para Brasília onde assumiu por concurso o serviço de patologia do Hospital das Forças Armadas. Nesse período foi professor adjunto de patologia da Universidade de Brasília, ocupando o cargo de chefe do Departamento. Permaneceu em Brasília por quatro anos, regressando a Sergipe atendendo o convite do então reitor da UFS, economista Aloísio Campos.

Na área administrativa, Dr. Piva exerceu vários cargos públicos: foi Diretor do Instituto de Biologia (1969/70); Chefe do Departamento de Medicina Interna e Patologia (1961/68); Diretor do Hospital Universitário, na administração do Reitor Eduardo Garcia; Pró-Reitor de Graduação, onde implantou o sistema de créditos na UFS, substituindo o antigo sistema seriado; Vice-Reitor da UFS; foi Secretário de Educação do Estado de Sergipe por nove meses, no governo de João de Andrade Garcez, tendo montado uma equipe de notáveis na educação (Gizelda Morais, Carmelita Pinto Fontes, Beatriz Góis, Núbia Marques, Carmen Mendonça, Silvério Fontes e Thetis Nunes). Com todos esses cargos ocupados, Piva nunca deixou a sala de aulas. Nestor Piva nomeia um dos hospitais do município de Aracaju.

Foi um dos fundadores e primeiro presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe, onde atuou por dois mandatos. No início da década de 1980, um grupo de médicos recém-chegados da residência médica, desconhecido, estava decidido em fundar o sindicato dos médicos em Sergipe. Como legitimar esse sindicato, junto a uma categoria conservadora? O grupo tinha participado ativamente do movimento estudantil na UFS, quase todos de esquerda, como representar uma categoria tradicional? Tivemos uma ideia, vamos convidar um médico antigo e que tenha legitimidade. Quem? Não tivemos dúvidas: Nestor Piva. A maior cultura médica de Sergipe. Combativo, corajoso, não fugia de conflitos, e respeitado por todos. Ninguém enfrentava Piva e quem enfrentou perdeu. Procuramos o Dr. Piva e fizemos o convite: professor, precisamos do senhor para legitimar o nosso Sindicato. Ele aceitou... Dr. Piva foi militante no antigo Partido dos Trabalhadores, no tempo que isso significava acreditar em mudanças para o Brasil. (no momento que escrevo, estou ouvindo a delação de Palocci na TV).

Pesquisador destacado na área da patologia parasitária, a sua tese de doutoramento em 1961, foi sobre Esquistossomose do Aparelho Genital Inferior. Nesse período, só existiam dois doutores em Sergipe: Luciano Duarte em filosofia e Nestor Piva em medicina. Piva fez Pós-graduação em histoquímica com o Prof. Vialli – Universidade de Pávia – Itália, de janeiro a julho de 1961, recebendo o Prêmio Pravaz. Pós-graduação em Patologia no National Institute of Pathology - Prof.George Glenner - Bethesda-MDUSA, de julho de 1965 a julho de 1966. Publicou (Parasitology - USA, Acta Dermato Venerealogia Scandinávia, Riv. Italiana de Histochimica). Foi presidente da Sociedade Brasileira de Patologia no período de 1985 - 1987.

Em 1956, Piva casou-se com a baiana Bernadete Rabello e com ela constituiu uma família com quatro filhos: Ana Cristina, Marta, Nestor Piva Filho e Augusto César. Em seu tempo livre, costumava distrair-se com a família e amigos, na pesca com molinete, percorrendo nos finais de semana, as praias de Sergipe e Alagoas, participando de campeonatos. Faleceu, sem deixar fortuna, em decorrência de um câncer pulmonar, em 21 de outubro de 2004, em Aracaju/SE, com 74 anos. Tentou o tratamento no Hospital Universitário de Porto Alegre, e foi tratado como indigente. Retornou à Aracaju, sabia da gravidade do seu problema e não aceitou nenhum tratamento invasivo, só cuidados paliativos. Sepultado no Cemitério Colina da Saudade, Aju/SE. Rendo as minhas homenagens ao querido professor...


Antônio Samarone.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

MESTRAS DA MEDICINA EM SERGIPE - Jacy Meirelles Carvalho



JACY MEIRELLES CARVALHO (uma sanitarista voltada para a puericultura e a saúde materna), baiana, nascida em 21 de outubro de 1930, em Gandu/BA, filha de Victor Meirelles e Maria Magalhães Meirelles, numa família de 15 irmãos. Órfã de pai e mãe aos cinco anos, tendo a família permanecido unida, sob os cuidados da irmã mais velha, em Salvador. Fez o primário na Escola Joana Angélica, e restante do curso médio no Ginásio da Bahia. Mudou-se para Sergipe em 1955, logo após a formatura pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 15 de dezembro de 1954. Foi colega de turma de vários médicos sergipanos: Paulo, Piva, Everton, Maria Antonieta, Ciro, Aldemar e Fábio). Casada com um colega de turma, o sergipano de Salgado, Paulo Freire de Carvalho (falecido em 05/09/1996).

Jacy em Sergipe sempre exerceu a medicina voltada para a puericultura e para a saúde materna, pediatra por vocação, apaixonada pela saúde pública. Atuou na Legião Brasileira de Assistência , na Casa Maternal Amélia Leite , no INAMPS , Instituto de Puericultura Martagão Gesteira. Contudo, foi como diretora do Serviço de Amparo à Maternidade, à Infância e a Adolescência da Secretaria de Saúde e Assistência Social do Estado de Sergipe, depois transformado em Programa Materno Infantil, durante a gestão de José Machado de Souza, que a Dra. Jacy mais contribuiu para a Saúde Pública em Sergipe.

Defensora de uma visão de saúde pública de inspiração americana, similar ao praticado pela antiga FSESP, centrada na técnica e na disciplina. Jacy capacitou enfermeiras e técnicos, montou serviços, liderou as transformações sanitárias vividas com a implantação do PIASS em Sergipe. Sempre elegante, educada, mas firme e intransigente na defesa de suas teses. Num período de grandes esperanças na reforma sanitária, a Dra. Jacy fez a sua parte, com competência e dignidade. Quem cruzava os corredores do Serigy naquela época, sabe o valor, a tenacidade e o exemplo da Dra. Jacy para os iniciantes na saúde pública. Parodiando Gonçalves Dias: “Meninos, eu vi!”. Infelizmente, as suas teses foram derrotadas, e a saúde pública se transformou nessa realidade que vivemos. Jacy é especialista em Saúde Pública, foi consultora técnica para desenvolvimento de Programas de Controle de Doenças Transmissíveis da SES. Publicou: “A Poliomielite em Sergipe no ano de 1967” e “Um Caso de Nefrose Tratado com Cortisona”.

A Dra. Jacy fundou em Aracaju, junto com o esposo, a Clínica Infantil e de Medicina Preventiva, em 14 de setembro de 1969. A primeira clínica particular em pediatria, preventiva e curativa, criada no Estado de Sergipe. Funcionava no Parque Teófilo Dantas, na esquina da rua Santo Amaro. Aos 87 anos, a Dra Jacy, mãe de Barbara, arquiteta; Sonia, médica; Paulo, economista e Emerson, engenheiro; avó de seis netos e bisa de dois, vive e continua em Aracaju. Memória perfeita, a mesma elegância, e pintando maravilhosamente belos quadros. A Dra. Jacy continua crente numa medicina humanizada e preventiva. Meu reconhecimento e minhas homenagens a quem silenciosamente lutou pela "saúde como um direito de todos".

Antonio Samarone.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Primeira Campanha contra a Poliomielite em SERGIPE (1962).


Primeira Campanha contra a Poliomielite em SERGIPE (1962).

Diante de um surto de paralisia infantil no Estado de Sergipe, no final de Março de 1962, compareceu ao Estado o Dr. Getúlio Moura Lima, Diretor do Departamento Nacional da Criança, ligado ao Ministério da Saúde, visando fornecer as condições para que o Estado realizasse sua primeira campanha de massa para vacinação contra a pólio.

Em abril de 1962 foi organizada uma comissão, formada pelas autoridades sanitárias do Estado, para iniciar uma ampla campanha de combate à paralisia infantil. A comissão foi formada pelo Secretário da Educação e Saúde, Dr. Antonio Garcia; pelo Delegado do Departamento Nacional da Criança, Dr. João Cardoso; pelo Diretor do Departamento de Saúde Pública, Dr. Juliano Simões; e pelos Representantes da Saúde do Município, Dr. Adel Nunes; da LBA, Dr. Sílvio Santana; do DNERU, Alexandre Menezes, do Parreiras Horta, Teotonilo Mesquita e do Dr. João Batista, pelo Serviço Cooperativo do Estado.  A previsão era a de aplicar-se 25 mil doses da vacina Sabin num período de vinte dias. As vacinas foram fornecidas pelo Ministério da Saúde.

Foi também criada uma comissão de mobilização formada pelos médicos Paulo Carvalho, José Machado de Souza, Gileno Lima, Walter Cardoso, e dois acadêmicos de medicina. Ficou definido que entre os dias 24 a 29 de abril de 1962, todas a crianças de Sergipe entre quatro meses e seis anos de idade, deveriam ser vacinadas em Aracaju. Houve uma grande mobilização em todo o Estado. A campanha foi coordenada pelo Dr. João Cardoso.

Os locais de vacinação foram descentralizados pelas unidades de Saúde existentes em Aracaju naquele momento. Foram 22 locais escolhidos: Postos de Saúde do Palácio Serygi, Dona Jove (B. Industrial), Dona Sinhazinha (B. Grageru), Carlos Menezes (B. Santo Antonio), Antonio Alves (Atalaia), LBA, Centro Professor Martagão Gesteira (Hospital de Cirurgia), Posto Médico do Mosqueiro. Os demais locais de vacinação foram instalados em Escolas e outros prédios públicos.

Exatamente na data prevista, 24 de abril, as 07 horas da manhã, o Governador Luiz Garcia abriu a campanha, colocando as gotinhas na boca da primeira criança. No primeiro dia foram imanizadas mais de oito mil crianças. Somente de Itabaiana, o Prefeito Euclides Paes Mendonça trouxe mais de mil, em quarenta veículos. Eu estava nessa comitiva. Mesmo com oito anos, e a vacina sendo indicada até os seis anos, minha mãe achava que seria bom eu me proteger, e me empurrou em um dos ônibus. Talvez por isso, no final faltaram vacinas. Das 30 mil doses enviadas pelo Ministério, até penúltimo dia já tinham sido aplicadas 29.854 doses. Na sexta-feira, dia 29 de abril, dois ônibus de Campo do Brito e Itabaiana voltaram sem ter conseguido vacinar as crianças. A vacina acabou.

Essa foi a minha segunda visita a Aracaju. Com um ano de idade, fui trazido as pressas para retirada de um tumor no peito, no Hospital de Cirurgia, e fui salvo pelas mãos do Dr. Airton Teles, filho de Itabaiana. Voltei aos oito anos para me vacinar. Nessa viagem, quando a marinete passava pela Av. Maranhão, perto do antigo aeroporto, alguém gritou: olhe um avião! Eu ouvi a zoada, e como nunca tinha visto um avião, incontinente, botei a cabeça para fora pela janela. Além de não avistar nada, o chapéu novo, de couro, comprado só para a viagem, voou de minha cabeça. Eu nem vi a invenção de Santos Dumont, e ainda por cima perdi o meu chapéu. Fui vacinado na LBA.

Antonio Samarone.

PRIMEIRO CONGRESSO MÉDICO EM SERGIPE - Marcos Aurélio Prado Dias.


Primeiro Congresso Médico em Sergipe (publicado no jornal “A Cruzada”, em 15/01/1965)

Marcos Aurélio Prado Dias (1944/2012).

Vamos abrir hoje um parêntese nesta coluna, para falar algo sobre a realização do 1º Congresso de Medicina a realizar-se no próximo mês de fevereiro em nossa capital.

O referido certame que foi organizado pelo Hospital Santa Izabel, através do seu Centro de Estudos e de acordo com a Sociedade Médica de Sergipe, terá lugar no período compreendido entre 11 e 15 do próximo mês. Várias e ilustres personalidades médicas do país deverão estar presentes para honrar e prestigiar o congresso que constará de: mesas redondas, demonstrações cirúrgicas, temas livres e atualizações médicas na parte científica; além de vasta programação social como: visita ao campo petrolífero de Carmópolis, churrasco na antiga capital sergipana e um jantar de encerramento no Hotel Pálace.

Tendo em vista o elevado alcance e expressão do Congresso, resolveu o Governo Federal dispensar o ponto dos médicos funcionários que desejem vir participar do certame a realizar-se justamente no ano em que será diplomada a primeira turma de médicos da Faculdade de Sergipe, fato sobremodo auspicioso e significativo para o povo sergipano.

Reina o maior interesse e a mais viva expectativa não somente nos círculos médicos, como em todas as camadas sociais, em torno dessa magna assembleia, que reunirá as mais altas expressões da medicina brasileira, afim de estudar e debater temas importantes relacionados a ciência de Hipócrates. Estão os sergipanos no dever indeclinável de prestigiar e incentivar o congresso, tendo na devida atenção e merecido apreço as altas finalidades que tem em mira colimar e os nobres objetivos que tem em vista realizar. Simultaneamente com a celebração do certame, serão inauguradas as novas e modernas instalações do Hospital Santa Izabel, levadas a efeito pelo espírito dinâmico e esclarecido do Dr. Gileno Lima.


Aguardamos, portanto, com entusiasmo e boa vontade, o 1º Congresso Médico que se aproxima e que marcará época em nossa terra.

PRIMEIRO CONGRESSO MÉDICO EM SERGIPE


Primeiro Congresso Médico em Sergipe.

Entre 11 e 15 de fevereiro de 1966, ocorreu o Primeiro Congresso Médico de Sergipe, organizado pelo Centro de Estudo Carlos Firpo, do Hospital de Santa Isabel; com a participação da SOMESE, Centro de Estudos do Hospital de Cirurgia e a colaboração expressiva dos doutores Gilvan Rocha, Gileno Lima e Oswaldo Souza. A oportunidade serviu também para a inauguração das novas instalações do Hospital de Santa Isabel. O Congresso foi aberto em 11 de fevereiro de 1966, com uma conferência do Dr. Augusto Leite no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, discorrendo sobre a história da cirurgia em Sergipe. Os cursos, seminários e debates nos dias seguintes ocorreram no Hospital Santa Isabel. Foram apresentados 34 trabalhos científicos nas sessões de Temas Livres, exibidos filmes e exposições científicas. Durante o Congresso também ocorreu um Curso de Atualização Médica, a cargo dos professores visitantes.

A programação científica constou das seguintes mesas redondas:
a) Tuberculose Pulmonar, a cargo dos Drs. José Silveira, Aníbal Silvany e Itazil Benicio dos Santos da Bahia; e dos Drs. Airton Teles, José Maria Rodrigues e Paulo Faro de Sergipe;
b) Hipertensão Arterial, a cargo do Dr. Adriano Pondé da Bahia; e dos Drs. Marcos Teles, Raimundo Almeida, José Augusto Barreto, Júlio Flávio e Antero Carôzo de Sergipe;
c) Câncer do Colo do Útero, a cargo do Dr. Jorge Marsillac da Guanabara; do dr. Aníbal Silvany da Bahia; do Dr. Dirceu Falcão de Alagoas; e dos Drs. Gilvan Rocha, Hugo Gurgel, Osvaldo Leite, Albino Figueiredo de Sergipe;
d) Desidratação na Criança, a cargo dos Drs. Paulo Freire de Carvalho, José Machado de Souza, João Cardoso Nascimento e Hider Gurgel de Sergipe;
e) Acidentes em Cirurgia, a cargo do Dr. Jorge Marsillac da Guanabara; do Dr. Kentaro Takaoka de São Paulo e dos Drs. Fernando Sampaio, Moacir Freitas e Gilton Resende de Sergipe; esquistossomose, a cargo do Dr. Aníbal Silvany da Bahia; e dos Drs. Alexandre Menezes Neto, José Abud e Cleovansóstenes Pereira de Aguiar de Sergipe.

Chamou a atenção à quantidade de médicos pesquisando e publicando trabalhos, a regularidade no funcionamento do Centro de Estudos do Hospital de Cirurgia e a frequência de suas publicações científicas. Nas décadas de 50 e 60 do século XX vários números da revista médica do Centro de Estudos circularam em Sergipe. Entre os grupos de pesquisa organizados em Sergipe, existia um núcleo de medicina experimental e um outro de estudos da medicina tropical. Foi o período iluminista da medicina em terras sergipana.

A parte social do Congresso demonstrou o prestígio e a pujança da classe médica em Sergipe: foram dois coquetéis, um no Iate Clube oferecido pelo Prefeito da Capital, e um outro na Sorveteria Iara, patrocinado pela Petrobrás; dois laudos banquetes, um em São Cristóvão, oferecido pela Sociedade Médica de Sergipe. O Congresso foi encerrado no dia 15 de fevereiro, terça feira, com um grande banquete no Hotel Pálace de Aracaju. Participaram do encerramento o Governador Celso de Carvalho; o Prefeito Godofredo Diniz Gonçalves; o Arcebispo Dom José Vicente Távora; o Comandante do Exército em Sergipe, Coronel Tércio Veras; o Secretário de Saúde do Estado, Dr. Walter Cardoso.

Antônio Samarone. 

domingo, 3 de setembro de 2017

QUEM IRÁ SUCEDER AO SOFRÍVEL GOVERNO DE JACKSON BARRETO?


Quem irá suceder ao sofrível governo de Jackson Barreto?

A separação estado/sociedade ficou tão acentuada que para os que estão no bloco da política a única preocupação é como permanecer. Existe uma lógica interna no jogo: aliar-se com quem, filiar-se em que partido, quais as coligações interessantes, qual a barganha a ser feita, quem irá ser o candidato a que, quais os compromissos que ele assume, quem apoia quem, em suma, qual o espaço de cada um. A essa negociação interna pela divisão do butim é o que se chama vulgarmente dos bastidores da política. Vamos a um exemplo desse tipo de análise.

Quem irá suceder ao sofrível governo de Jackson Barreto? As composições políticas em Sergipe estão aceleradas. A candidatura do governador ao Senado apressou o passo da campanha. A caravana de Lula inaugurou os comícios. Valadares inventou o “pensar Sergipe”. André Moura circula com verbas federais para os aliados. Doutor Emerson, da Rede, está preparando uma surpresa. Pensam todos: se Jackson, no governo, já está em campanha, já saiu na frente; o jeito é a oposição sair atrás. O governador, político tarimbado, anda em zigue-zague, ora com Lula, ora com André Moura. Qual o critério? Onde a sua eleição seja mais fácil. Claro, esse apressamento pode trazer problemas. Como a conjuntura nacional ainda é nebulosa, imprevisível, tudo podendo acontecer; muita gente pode ter que voltar atrás e ser obrigado a marchar com quem não estava nos planos. Adversários podem ser correligionários no próximo ano, e vice-versa. Portanto, é bom amansar a língua.

Vamos a um dos cenários. Com o provável impedimento judicial da candidatura de Lula, mesmo assim, ele continuará sendo a maior liderança política do país. Talvez preso se fortaleça. Lula pode se tornar vítima, mesmo as pessoas acreditando que ele participou do banquete da corrupção. A lógica é outra, por que só ele foi impedido de ser candidato? Em qualquer circunstância, o PT não deixará de ter um nome a Presidente da República. Lula indicará esse nome. Para quem já elegeu Dilma, nada é impossível. Neste cenário, o PT vai procurar compor com os Partidos próximos ideologicamente. Uma chapa nacional PT/PSB torna-se provável, seria bom para os dois Partidos. Nesse caso, o PT e o PSB em Sergipe marchariam separados? Valadares já percebeu. Essa semana andou falando que não vai fustigar Lula, que num segundo turno ele marchará com os vermelhos. E como ficam os petistas candidatos, cada um cuidando do seu negócio? Muitos com parte da campanha à reeleição montada na força da máquina governamental, vão ter que recuar? Por isso, afirmações do tipo, “em Valadares em não voto”, podem ser desmentidas. O jogo está aberto.

Vários cenários, várias conjecturas podem ser montadas e desmontadas para a sucessão em Sergipe, com maior ou menor probabilidade. Contudo, nenhuma análise pode deixar de considerar os interesses nacionais. Pensar as alianças em Sergipe na exclusiva lógica paroquial, pelo menos para os grupos que disputarão com chances a Presidência da República, poderá conduzir a um erro fatal na avaliação política. O jogo em Sergipe começou antes da definição do regulamento do campeonato. No devido momento a sociedade será informada quem foram os escolhidos para ela apertar e confirmar nas urnas. Ainda é cedo...

Antônio Samarone