Gente Sergipana. (por Antônio Samarone)
Antônio Santana Meneses, nasceu
em Itabaiana, em 05 de agosto de 1944. Filho de Florival de Oliveira Menezes
(Florival de Dario) e Dona Valdelina de Santana. O pai era comerciário, empregado
do armazém de Manoel Teles (chefe político em Itabaiana). Seu Florival morreu
cedo, deixando Antônio Santana com nove anos. Santana tem 4 irmãos: Zé
Torneiro, João, Maria e Nivalda.
A vida ficou difícil para Antônio
Santana, com a morte do pai. Como todo menino pobre daquele tempo, pegou
carrego na feira, vendeu água em moringa, e aos dez anos, a mãe resolveu que estava
na hora dele aprender um ofício. Empregou o menino na Alfaiataria de Zé Crispim
(cortar ponta de linha, pregar botão, ascender o ferro em brasa). Sempre tinha
o que fazer. Zé Crispim comprou uma loja de tecido, e o balconista foi Santana,
aos 11 anos.
O trabalho educou e disciplinou o
menino. Não o impediu de jogar bola na Praça da Feira, nem de frequentar e se
sair bem na escola. Os tempos eram outros.
Antônio Santana nunca descuidou
da escola. O primário começou na escola de Maria Branquinha e depois no Grupo
Escolar Guilhermino Bezerra. O ginásio ele fez no grande Murilo Braga, com
excelentes professores e muita organização. As escolas publicas funcionavam
muito bem. Só iam para as escolas particulares os alunos que não queriam nada.
Eram escolas “papai pagou, filhinho passou”.
A dificuldade apareceu para estudar
o científico, em Itabaiana não tinha. E agora, como vir para Aracaju sem ter
onde ficar, sem tem como se manter. Zé Crispim vendo aquilo, resolveu ajuda-lo.
Fez contato com Valtênio Meneses, dono das lojas de tecidos Maracanã, e conseguiu
um emprego para Santana. Em 1960, Antônio Santana se mudou para Aracaju.
Trabalhando, pode estudar o científico,
à noite, no Colégio Atheneu Sergipense, onde estudava o rico e o pobre. Foi
morar numa vila de quartos, na rua Japaratuba. Santana se destacou nos
estudos. No 3º ano científico, Seu Valtênio Menezes, vendo o esforço do
menino, fez uma concessão: - “você só precisa vir trabalhar depois do almoço,
pela manhã fique em casa para estudar”. Foi o suficiente! Em 1963, Antônio Santana
passou no concorrido vestibular de medicina da UFS, o único pobre da turma. Só
passaram 11 alunos naquele ano.
Naquele tempo eram poucos os filhos
de Itabaiana que se formavam. Em medicina tivemos o filho de Manoel Teles, Dr. Airton
Mendonça Teles; e agora teríamos o filho de um balconista do armazém de Manoel
Teles; Antônio Santana, o primeiro Itabaianense a forma-se em medicina pela UFS.
Durante o curso, logo cedo, Antônio
Santana se interessou pela psiquiatria. Aproximou-se do Dr. Hercílio Cruz, professor
e dono da única clínica particular em Sergipe, o Hospital Psiquiátrico Santa
Maria. Além de Hercílio, exerciam a psiquiatria em Sergipe: Garcia Moreno,
Renato Mazze Lucas, Jorge Cabral Vieira e Eduardo Vital Santos Melo. Um grupo
pequeno, todos influentes na sociedade.
Antônio Santana Meneses concluiu
o curso de medicina em 20 de dezembro de 1968. Em primeiro de janeiro, já
estava empregado na Clínica Santa Maria. Em dezembro de 1970, casou com uma
amiga de infância, uma ceboleira, Dona Carmen Santos Meneses.
Pouco tempo depois, deixou a
Clínica do Dr. Hercílio para assumir a direção do Hospital Psiquiátrico Adauto
Botelho, um velho depósito de pacientes. Mesmo recém-formado, o Secretário da
Saúde não tinha alternativas, os psiquiatras famosos não aceitavam.
Antônio Santana encontrou o
Adauto Botelho superlotado. Uma ala feminina, assistida pelo Dr. Renato Mazze
Lucas; e uma ala masculina, sem assistência médica. Aos fundos, ainda existia
um puxadinho, com os pacientes remanescentes da Colônia Eronides de Carvalho. O
Adauto Botelho possui ainda uma ala dos “Sem Leitos” (eu alcancei), isso mesmo,
os que dormiam no chão.
Entre os tratamentos dominantes
no Adauto Botelho: a insulinoterapia (o paciente era induzido ao choque hipoglicêmico);
o cardiozol (método químico de provocar convulsões); e o “sulfo”, (mistura de
óleo de cozinha com enxofre em pó), que aplicado na bunda do suplicante, injeção
intramuscular para produzir um abscesso, reduzia a agitação do infeliz. Um
velho principio hipocrático: “a dor maior, cura a dor menor”.
De moderno, o Adauto Botelho possuía
o eletrochoque, aplicado em quase todo o mundo. O choque era a panaceia, servia
para tudo. O Dr. Antônio Santana demorou pouco tempo nessa casa de horrores.
Doentes no chão, sem assistência médica, sobrevivendo a base dos choques.
Santana pediu demissão e foi embora para São Paulo.
Antônio Santana foi compor a
imensa legião de médicos sergipanos migrantes para São Paulo. Da segunda metade
do século XIX, até hoje. Formamos uma elite de paus-de-arara, que partiram em
busca de uma vida melhor. Não ajudamos a construir São Paulo só com o trabalho braçal,
com o suor; exportamos também cérebros, inteligências, pensamentos, arte e
sensibilidade.
Em 1972, Antônio Santana foi
morar em São Paulo. Residiu primeiro em Piracicaba. Em 1975 mudou-se para Presidente
Prudente, onde foi trabalhar no Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes. Lá
viveu, exerceu a medicina decentemente, e criou os seus filhos: Carla,
oftalmologista; e Claudio, patologista. Antônio Santana desenvolveu um trabalho
voluntário de combate ao alcoolismo, na cidade de Mirante de Paranapanema, próxima
a Presidente Prudente.
Antônio Santana Meneses, o Dr.
Meneses (para os paulistas), cinquenta anos de formado, reside hoje em São Paulo
(capital), e ainda exerce a psiquiatria em seu consultório.
Antônio Samarone.
Dr. Meneses, continua sendo aquele rapaz, homem e senhor absoluto das suas decisões quanto a sua escolha na medicina até hoje. E EU me sinto uma felizarda em ser sua paciente.
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