domingo, 25 de dezembro de 2022

ARBORIZAÇÃO DO ARACAJU

 

Voltando a arborização do Aracaju.
(por Antonio Samarone)

Senhor Governador Belivaldo, o senhor ainda tem 15 dias no cargo e isso o senhor pode resolver.

Não vou requentar o tema da Orla na Sarney (Avenida Inácio Barbosa), a maior obra do seu governo. O tema já foi debatido, os erros apontados, fica para o próximo.

Não se plantou um árvore no calçadão novo de Vossa Excelência. Exceto meia dúzia de arbustos no trecho do Tecarmo. Mas deixemos também para o próximo.

Mas esse absurdo da foto o senhor ainda pode impedir:

Na interseção da rua Walter Bastos com o calçadão da Sarney, veja a foto, existe um rótula gigantesca. Aracaju esperava um bosque ajardinado, com arvores típicas da região: coqueiros, palmeiras, amendoeiras, aroeiras etc. Era o razoável!

Passei pelo local e percebi que estão botando britas. Isso mesmo, aquelas pedras quebradinhas. Pensei que era engano. Não! Está no projeto.

Governador, mande suspender! Consulte o Prefeito Edvaldo!

Se não estiver previsto no orçamento da obra, eu me encarrego de conseguir as mudas. E plantá-las. Sei que o senhor é muito ocupado para saber os detalhes. Mande conferir...

Espero uma boa notícia. Aracaju precisa de árvores, muitas árvores.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

NOVAS SAÚVAS

 Novas Saúvas.
(por Antonio Samarone)

Terminado o curso de medicina, me especializei em Saúde Pública. Foi difícil explicar a mamãe o que fazia um médico sanitarista. A salvação foi apontar a obra de Osvaldo Cruz: saúde pública é isso! Mamãe fez de conta que entendeu.

Se a pergunta fosse hoje, a resposta seria mais complicada. Os higienistas do meu tempo carregavam uma narrativa civilizadora. Havia um círculo vicioso pobreza/doença. Lembram-se do Zeca Tatu de Monteiro Lobato?

A maioria das pestes estavam relacionadas com as condições de vida, com a pobreza. Como acabar com a pobreza não estava nos planos, os sanitaristas sonhavam em acabar com as doenças.

Investia-se em dois planos: na mudança dos hábitos de higiene pessoal, através da educação sanitária; e no combate aos insetos transmissores, através das campanhas da Saúde Pública.

Um único mosquito, o Aedes aegypti, transmite quatro endemias graves. Oswaldo Cruz saiu como um louco matando esse mosquito. Uma luta inglória, os mosquitos se adaptaram aos venenos.

A nova Saúde Pública encontrou novos métodos: além das vacinas, o Instituto Butantã acaba de anunciar a descoberta de uma vacina eficaz contra a dengue, a fundação Bill Gates, patrocina um laboratório em Medellín, na Colômbia, que produz 30 milhões de mosquitos geneticamente modificados, por semana.

Explico, o Aedes para se reproduzir precisa de sangue, e cada humano tem cerca de cinco litros. Nesse banquete, o mosquito injeta o vírus.

As novas tecnologias apontam: vamos produzir mosquitos estéreis, que não precisam de sangue, e vamos jogá-los na natureza. Nessa concorrência legitima, logo, logo, os mosquitos naturais vão desaparecer.

Se anuncia, que outras doenças entrarão nessa lista. A Fundação Bill Gates quer produzir os mosquitos (são muitos) da malária, para espalhar na floresta amazônica, e produzir o amedrontador “barbeiro”, para soltar na Bahia e no Norte de Minas Gerais.

Os velhos sanitaristas diziam cheios de orgulho, que o fim da doença de Chagas dependia de residências higiênicas para todos, um amplo programa habitacional. Vivíamos num Brasil Rural. A doença de Chagas precisava do BNH e não do DDT.

Os insetos geneticamente modificados, desmontaram o discurso social da Saúde Pública. A Fundação Bill Gates quer acabar com as doenças sem mexer com a pobreza.

Os mosquitos também viraram mercadorias, com patentes e donos, comercializados nas bolsas de valores. A Big Pharma investe na introdução da inteligência artificial nos mosquitos. Um sonho, os mosquitos passarão a picar seletivamente, de acordo com o software.

Acho que os “maruins” aqui em casa já são dessas inteligentes. Nada explica a seletividade deles em me picar, sempre no tornozelo.

Imaginem, como explicar isso a mamãe.

Feliz Natal.

Antonio Samarone (por enquanto, médico sanitarista)

O BRASILEIRO CORDIAL

 O brasileiro cordial.
(por Antonio Samarone)

O tema central da Ilíada, obra fundadora da cultura ocidental, é a Ira desordenada de Aquiles e as consequências de sua cólera, inclusive para ele próprio.

Homero refere-se a Ira, um sentimento grandioso, próprio dos deuses e dos heróis. A Ira pode ser divina, santa, inspiradora. A Ira é filha da indignação.

O ódio é um sentimento pequeno, filho do ressentimento e da inveja, não suporta o perdão e a tolerância.

O que os grupos de WhatsApp de extrema direita exalam é ódio, um sentimento destrutivo, nascido de frustrações não resolvidas. O ódio é filho da intolerância. A narrativa do ódio é a violência, o segregacionismo e a ditadura.

Nenhuma ideia, apenas ódio.

Essa gente, até ontem, participou do Natal sem fome do Betinho, era contra o esquadrão da morte e a favor dos direitos humanos. Era tudo aparências, medo de expressar publicamente os meandros da alma?

Como esse ódio explodiu, e se transformou em militância política? Não sei! O certo, é que as redes sociais fortalecem essas ondas de ódio.

Pessoas pacatas, religiosas, bem-comportadas presencialmente, profissionais conceituados, quando se enturmam nos grupos de WhatsApp, liberam a alma, divulgam fakes, pregam a violência, clamam por ditaduras, são racistas e aporofóbicos, sem a menor cerimônia.

Acham que os que assim não pensam, são todos comunistas, até o Papa. O comunismo real ou fictício, continua sendo um fantasma ameaçador. Não sei se usam esse mote unificador dos odientos, por falta de argumentos, delírio, desinformação ou má fé.

Quando questionados sobre a pregação do ódio, defendem-se com o desgastado argumento que estão exercendo a liberdade de manifestação.

Trata-se de um fenômeno social aparentemente duradouro, que voltará ao poder. Um solo fértil para o fascismo.

Mesmo sendo Natal, não professo falsos otimismos.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

GENTE SERGIPANA - ROSITA DOS SANTOS

 Gente sergipana – Rosita dos Santos.
(por Antonio Samarone)

O doutor Afonso Figueiredo Góes, depois de 32 anos, teve um gesto sublime: liberou a sua empregada doméstica, Rosita dos Santos, para passar o Natal em casa.

Rosita é do Riachinho, interior de Ribeirópolis, veio trabalhar na casa do doutor aos 15 anos. Já era órfã de mãe. O doutor Afonso possui uma fazenda na região do Saco do Ribeiro. Por ser muito católico, entendeu que estava na hora de fazer uma caridade aquela órfã: trouxe a menina para ajudar em sua casa, em Aracaju.

A menina fazia de tudo: era babá, faxineira, lavava e passava. Foi ajudante de cozinha, pau para toda obra. Abrigava-se num quarto dos fundos, próximo ao canil.

Hoje Rosita está com 45 anos, passaram-se três décadas. Rosita sempre teve um sonho: conhecer o mar. Mesmo morando em Aracaju há 30 anos, nunca teve essa oportunidade.

Rosita ouviu na televisão que tinha direito a carteira assinada, entre outros direitos trabalhistas. Rosita nunca teve a coragem de tocar nesse assunto, com o protetor. O doutor Afonso a considerava da casa. Uma agregada. Rosita tinha casa, comida e umas roupinhas, para que mais? Que botasse as mãos para o Céu.

Se comenta, eu acho que não procede, que o doutor durante a pandemia, cadastrou Rosita no Auxílio Brasil, e tomou posse do seu cartão. Pensei, se for verdade, que pelo menos ele devolva o cartão da moça.

A intenção do doutor Afonso com essas “férias”, é que Rosita não retorne, fique por lá, pois a esposa, dona Roseane, resolveu mudar-se para um apartamento, defronte ao Parque da Sementeira. O novo lar não cabe Rosita.

Para fazer justiça, o doutor deu um dinheiro a Rosita, para ele iniciar uma nova vida. Ela não revela quanto. O mundo é grande e Deus não desampara ninguém, disse a dona Roseane.

Rosita só tem uma amiga em Aracaju, dona Carmelita, que trabalhou na república cebolinha. É nesse ponto que eu entro na história. Foi dona Cacá que me ligou, contando essa história corriqueira.

Rosita dos Santos não tem para onde ir, o pai já morreu, não tem irmãos, nem parentes nem aderentes, me contou dona Cacá. “Abrigá-la aqui em casa, eu não tenho condições” – Cacá.

Rosita é nova para se aposentar e velha para arrumar trabalho. Rosita tem quarenta e cinco anos, que parecem sessenta.

O drama é maior, Rosita precisa de um emprego que lhe forneça abrigo. Não aprendeu a cozinhar. Nunca frequentou uma escola, conhece os ônibus pela cor. O que sabe mesmo é lavar roupas, serviço que as máquinas fazem cada vez melhor.

O doutor Afonso é um homem de bem, viajou para Roma, foi assistir à missa do galo no Vaticano. É uma tradição dessa família religiosa, temente a Deus. O doutor, recentemente, doou uma certa quantia para as obras de caridade da Paróquia.

Pelo menos o Natal, Rosita passará na casa de Dona Carmelita, no Parque dos Faróis.

Feliz Natal.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

ARACAJU INSUSTENTÁVEL

 Aracaju insustentável.
(por Antonio Samarone)

Quando Inácio Barbosa decidiu transferir a capital de São Cristóvão, já existia uma comunidade de ceramistas na Colina, chamada Arraial de Santo Antonio do Riacho do Aracaju. Portanto, Aracaju era o nome desse riacho, por isso, escreve-se “do Aracaju”, e não “de Aracaju”.

O vocábulo Aracaju é de origem Tupi, segundo Teodoro Sampaio. Ará-acayú, Aracaju, significa “o cajueiro dos papagaios”. Existem outras versões, mas essa é a mais poética.

Aracaju já foi a sultanas das águas, de fato, somos cercados de rios (Sergipe, Poxim, Sal, Vaza Barris, Santa Maria etc.). Sergipe também é de origem Tupi, cyri-gy-pe, serygipe, seregipe, Sergipe, é o Rio dos Siris. Por isso somos “do Sergipe” e não “de Sergipe”.

O Cajueiro dos Papagaios poderia ser uma cidade voltada para o meio ambiente, para os rios, uma terra de cajueiros e de papagaios, uma terra acolhedora, sustentável, onde o turismo não dependesse de cenários religiosos artificiais de milagres, explorados pelo mercado. (ouvi essa bobagem na imprensa).

Ontem eu assisti a uma revoada de ararinhas às margens do Rio Santa Maria, no que resta de restingas e coqueirais preservados, entre as comunidades do Robalo e São José.

A foto é um registro.

Aracaju segue o caminho das demais cidades metropolitanas, voltada para o lucro do capital imobiliário. Estamos criando uma cidade insustentável, coberta de asfalto e concreto, poluída pelos meios de transporte. Os esgotos coletados pela DESO são jogados “in-natura”, na Praia Formosa.

É formosa, mas fede...

Aracaju é um paraíso para a especulação imobiliária e um inferno para a sustentabilidade. O mundo civilizado já deu meia volta, e nós ainda estamos indo na mesma direção. A cidade investe na infraestrutura que interessa ao capital.

Recomendo as autoridades urbanos, políticas e técnicas, e aos interessados em geral, a leitura de “Guerra dos Lugares”, um livro grandioso da professora Raquel Rolnik.

Gente, na Zona de Expansão (expansão de quem?), ainda restam oásis de natureza, onde ainda vicejam os cajueiros e os papagaios.

Até quando?

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

ENTÃO É NATAL


 Então é Natal...
(por Antonio Samarone)

Estava afastado do centro do Aracaju desde a pandemia. Sempre gostei do burburinho do centro, multidões para cima e para baixo, comprando lembrancinhas.

Hoje eu voltei. O centro do Aracaju estava vazio (veja a foto, as 9 horas).

Uma ou outra alma perdida, zanzando sem rumo. Um papai Noel dos comerciantes pousando para fotos com meninos pobres, na esquina da Igreja de São Salvador.

Não encontrei os velhos antigos, que ficavam passando a vida a limpo nas sombras das calçadas. Para onde foram? Quantos escaparam da pandemia e de outras mazelas, próprias da idade?

Os calçadões estão tomados por mocinhas oferendo empréstimos. Isso mesmo, dinheiro emprestado, pela hora da morte. A agiotagem prospera na dificuldade econômica.

Antes, os ambulantes compravam ouro, vendiam senhas para abreugrafia, chips de celular e bilhete de loteria. Hoje é dinheiro emprestado. Até sugeri as vendedoras: vão vender nos Shoppings, lá os consumidores têm mais dinheiro.

Elas riram: “lá eles tomam nos bancos, no crédito consignado.” Sem exageros, fui cercado por dezenas de moças me oferecendo dinheiro emprestado. Pela insistência, penso que elas me acharam com a cara de quem estava muito precisado.

Autoridades, o povo sergipano empobreceu muito, depois da pandemia. Bolsa família não resolve, é só um alívio para o desespero. Não adianta só encher os postes com luzinhas chinesas, que acendem e apagam sem parar. Não!

Gente, vamos iluminar as mentes com ideias. Sergipe precisa de projetos para criação de empregos. Muita gente qualificada profissionalmente está se virando no Uber. Um aplicativo dos quintos dos infernos que toma 40% da renda do trabalhador.

O Natal sem consumo é um indicador do desastre econômico em que nos metemos em Sergipe.

Os calçadões do centro do Aracaju são desérticos, nenhuma árvore, parece que esse ano, nem as arvores de Natal botaram nos calçadões.

Feliz Natal.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

DIA DE SANTA LUZIA

 Dia de Santa Luzia.
(por Antonio Samarone)

Hoje é o dia da padroeira da Barra dos Coqueiros, aliás, Ilha de Santa Luzia, defronte a Aracaju.

Santa Luzia de Siracusa também é a padroeira de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

O treze de dezembro desperta as minhas lembranças infantis: nesse dia, as devotas da Santa saiam de porta em porta, esmolando, com a sua imagem nos braços. Ninguém negava, a Santa é a protetora das nossas vistas.

Não sei se as devotas passarão hoje em meu condomínio, de todo jeito, já avisei na portaria para deixarem entrar.

No dia de Santa Luzia os camponeses colocavam pedrinhas de sal expostas ao tempo, se elas se juntassem, era sinal de um ano bom de chuvas. Hoje, os meteorologistas avisam pela jornal Nacional.

Recentemente fiz cirurgia de catarata com o renomado Max Rollemberg. Fiquei encantado com a sua clínica, onde a imagem de Santa Luzia encontra-se destacada nas salas e consultórios. Max é um humanista da velha e desprezada (pelo mercado) escola hipocratica.

No candomblé, Santa Luzia é o orixá Ewá (pronuncia-se “Euá”), que comanda a visão humana, os horizontes e o céu estrelado. Ela é a rainha do cosmos, a regente da neblina e dos nevoeiros.

Ewá é o orixá protetor da pureza e da virgindade, do inexplorado e do desconhecido, das florestas e dos rios.

Dante Alighieri era devoto de Santa Luzia. A Santa aparece na Divina Comédia com sendo a “graça”. Dante não enxergava o caminho certo, estava nas trevas, foi Santa Luzia que apontou os caminhos.

Santa Luzia, na iconografia católica, é uma Santa bonita de bochechas coradas, carregando uma folha de palmeira (imortalidade) e uma bandeja dourado com um par de olhos.

Essa imagem permeia as minhas lembranças atávicas.

Viva Santa Luzia.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

REDES DE DORMIR

 Redes de dormir, balanço e descanso.
(por Antonio Samarone)

Não conheci berço na infância. Fui criado dormindo na rede (“inis”) até os 13 anos. Até quando mamãe comprou a minha primeira e única cama, fornida, na feira de Itabaiana. Uma cama de braúna legítima. Não foi fácil me acostumar. Era uma cama com o colchão de junco, um capim macio que se vendia de porta em porta. Não sei por onde anda essa cama...

“No ronronar de uma rede/ há como um canto divino/ de uma mãe pobre e cansada/ balançando o seu menino”, mamãe recitava. Não sei com quem apreendeu.

A rede, dócil e macia, toma a forma do nosso corpo. A rede é acolhedora. Nos primeiros dias, dorme-se no meio, para a rede não ficar “pensa”. Falo da rede de dormir.

A rede do pobre nunca se acaba, quando fica velha, corta-se os cadilhos e vira lençol. As redes são eternas.

Eu brincava emborcando na rede, me escondendo de barriga para baixo. Tolinho, acha que ninguém me via. A minha irmã sentava-se em minhas costa, fazendo da rede um balanço.

A rede de balanço, que fica no alpendre, é de todos, inclusive das visitas. O ranger dos armadores se escutava de longe. A rede dos poderosos é quase um trono. Euclides Paes Mendonça recebia os correligionários deitado em sua rede, na varanda da casa.

O séquito ficava no entorno da rede. Euclides não permitia que se pegasse nem nos punhos nem nos cadilhos. Os mais puxa-sacos, balançavam a rede do Coronel com o movimento dos quadris. Encostava e dava um tanjo discreto.

Meu pai Elpídio e o meu tio, Antonio de Genoveva, vendiam redes nas feiras. Eu ainda conheço o cheiro de rede nova, sei avaliar a qualidade, onde foi fabricada.

O meu avô Totonho, depois de morto, teve o seu corpo transportado de rede, no galeio tradicional, do povoado Flechas até as proximidades da cidade, onde foi colocado no caixão e levado ao cemitério de Santo Antonio e Almas.

Quando os portugueses chegaram no Brasil, em 1500, encontraram a rede, está dito por Pero Vaz Caminha. Aliás, foi ele quem batizou a rede com esse nome.

Herdamos dos Tupinambás os banhos de rio, a rede de dormir e a farinha de mandioca (pirão, farofa, beiju, tapioca e puba).

Os índios em Sergipe não conheciam o mosquiteiro, dormiam em suas “inis”, com uma fogueira por perto. O fogo afastava os insetos, os inimigos noturnos, os fantasmas e os demônios. Os diabos dos índios tinham medo do fogo, imaginem se eles iam criar o inferno.

As índias fiavam e teciam as suas redes de algodão. Ainda alcancei a produção de redes domésticas. Depois as redes foram produzidas em fabriquetas, quase artesanais. Na década de 1950, Sergipe possuia15 dessa fabriquetas, hoje, que eu saiba, existem duas.

As redes de tecidos compactos e franjas de enfeite de rendas foi uma contribuição das portuguesas. E as redes finas, de luxo, geralmente brancas, de punhos robustos, as chamadas redes de varanda, vinham do Ceará.

Aliás, a rede (hamaca) era conhecida por todos os índios da atual América Latina. A maca descende da hamaca e o pai é espanhol. A rede de dormir nasceu no continente americano. A rede já serviu de transporte para os senhores de escravos, um tipo de liteira.

A queda de rede é fatal para os velhos. No geral, dorme-se em redes altas, para se evitar os bichos rastejantes, os ventos miasmáticos e poder se equilibrar em caso de queda. A queda em rede baixa, quem escapar, fica sem caminhar por um bom tempo.

“Para dormir numa rede/ cumpre logo prevenir/ não é chegar e se deitar/ nem é deitar-se e dormir/ Tem de procurar o jeito/ de se deitar enviesado/ pois não dando esse jeitinho/ não está, em regra, deitado/ E em se deitando, deixe sempre/ um certo espaço, porque/ vem o anjo da guarda/ deitar-se, e dormir ao seu lado.” – Adelmar Tavares.

“A rede nos acompanha desde o primeiro dia ao último – é berço, é leito nupcial, é cama de enfermo, é caixão de morto”. Rachel de Queiroz.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

NOVA PSIQUIATRIA

 Franco Basaglia (1924 – 1980).
(por Antonio Samarone)

Revisitando o psiquiatra italiano Franco Basaglia, percebe-se os descaminhos da psiquiatria orgânica atual sob o domínio da indústria farmacêutica. A necessidade do lucro impulsionou o consumo das drogas psicoativas. Para justificar “cientificamente” esse super consumo, a medicina produziu novos diagnósticos e, epidemiologicamente, os transtornos mentais dispararam.

A luta de Basaglia contra os grandes confinamentos em hospitais psiquiátricos, em libertar das grades dos manicômios milhares de vítimas, não contava com a dependência futura dessa gente às prateleiras das farmácias.

Os presos pela dependência medicamentosa são quimicamente privados da liberdade. A prisão deixou de ser física e passou a ser química.

O capitalismo produz mercadorias e cria as necessidades do seu consumo. Independe se as mercadorias são automóveis ou medicamentos.

A experiência de Basaglia na Itália foi importante para a luta antimanicomial no Brasil. Falo do início das Caps e da psiquiatria social – década de 1980.

No momento, a psiquiatria tomou outros rumos, tornando-se uma atividade hegemonizada pelo mercado, encoberta pela legitimidade de uma ciência encomendada.

Pinel libertou os pacientes das prisões e os colocou em outra, nos manicômios. Basaglia os libertou dos manicômios e os empurrou para a prisão da dependência dos psicofármacos. Definitivamente, a história da psiquiatria não é a história dos doentes.

A experiência de Basaglia na gestão do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, traduzida em sua obra prima, “A Instituição Negada”, mexeu com a psiquiatria no mundo.

Basaglia exerceu grande influência no Brasil. Em 1979, no auge do hospitais psiquiátrico estatais (tipo Juqueri e Barbacena), do surgimento dos hospitais psiquiátricos privados, financiados pelo INAMPS, ele visitou o Brasil, atiçando o debate.

Franco Basaglia foi excomungado pelo mercado, deturpado, ridicularizado, para abrir as portas dessa psiquiatria americanizada, centrada na dependência dos psicofármacos. Nas escolas de medicina, se ensina até hoje que Franco Basaglia criou a anti-psiquiatria.

Concluir recentemente uma especialização em psiquiatria. Não ouvi falar em Franco Basaglia. O modelo de atenção atual da psiquiatria não me convenceu.

A ciência ensinada nos cursos de medicina afirmava que Basaglia negava a loucura, pregava a sua inexistência. Basaglia nunca negou a doença mental. “A loucura existe, é parte da condição humana. Como existe a razão, existe a desrazão. Certamente, uma das terapias mais importantes para combater a loucura é a liberdade.” – Basaglia.

A política de saúde mental do governo Bolsonaro destruiu a rede assistencial centrada nos CAPs e nas ações preventivas. Abriu espaço para as instituições controladas por políticos e evangélicos políticos. Na ausência de alternativas, essas instituições se tornaram o último refúgio para os dependentes. Os novos manicômios possuem as mesmas mazelas dos antigos.

Não estou acompanhando, nem imagino os caminhos da saúde mental no futuro governo Lula.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

COMO NASCEM OS APELIDOS

 Como nascem os apelidos?
(por Antonio Samarone)

Joãozinho Baú era o apelido de um sapateiro famoso em Itabaiana, o pai do jogador Gustinho, de Walter, do professor Bosco e de Miro.

De onde vem o baú?

Seu Joãozinho de Cícero era uma apaixonado torcedor do Confiança. Houve um período que o Confiança não ganhava para o Sergipe. Por um longo tempo! Se diz no futebol: criou-se um tabu, o Confiança nunca ganhava.

Num domingo de sorte, o Confiança venceu o Sergipe! Seu Joãozinho, tomou um banho, colocou a roupa nova e marchou para o Cinema Popular, de Zeca Mesquita. A todos que ia encontrando, seu Joãozinho esbravejava festivamente: “O Confiança quebrou o baú, o confiança quebrou o baú!”

Na maldade da molecada, pela troca de tabu por baú, Joãozinho de Cícero se tornou Joãozinho Baú. Virou nome de pia.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

O NOSSO QUARUP

 O nosso Quarup...
(por Antonio Samarone)

Nestes dias tem morrido muita gente, mais do que o de costume. Diariamente, o meu telefone toca antes das sete. Eu já sei, morreu um conhecido. Atendo apenas para saber quem foi e onde será o sepultamento.

Penso como o meu patrono na Academia Itabaianense de Letras, Alberto Carvalho: “não receio o envelhecimento físico, nem a morte. Tenho medo é do embrutecimento mental.”

Por que as mortes por certas doenças são mais aceitas que por outras? Quando se pergunta: o falecido morreu de quê? O anunciante responde de boca cheia: Infarto fulminante. Morrer do coração é quase um ato de heroísmo.

Ninguém se sente culpado por morrer do coração, é como se ele tivesse vontade própria. Para quando quer. Já outras doenças são indesejadas, estigmatizantes, até os nomes são ocultados.

Saudade dos tempos em que os velhos morriam de queda, catarro ou caganeira e a caduquice era romantizada. O meu avô Totonho, morreu de velho aos 53 anos.

Parece que a Peste da Covid-19 naturalizou a morte. Foram tantos conhecidos, que perdi a conta. A ausência dos velórios apressou os esquecimentos. A morte virou apenas uma notícia.

Eu já planto árvores que crescerão para os outros. Nesses dias vou comemorar a chegada dos anos, serão 68. Não tenho ilusões: segundo o IBGE, a expectativa de vida aos 70 anos é de apenas 13,9 anos. Isso em média, podendo ser um pouco mais ou um pouco menos.

Vamos arredondar: se a morte não me encontrar por aí, comemorarei mais dez aniversários. Gente, essa conta não é só minha, vale para todos...

Vamos celebrar o nosso ritual do Quarup, antes que seja tarde.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

DOUTOR SILVESTRE, O PATRIOTA

 Doutor Silvestre, o patriota.
(por Antonio Samarone)

Fui contemporâneo de Silvestre na faculdade. Em 1978, com o retorno das eleições para o Centro Acadêmico Augusto Leite, da medicina, Silvestre formou uma chapa para a disputa, de nome Eugenia. A chapa esquerdista chamava-se Construção. Eles perderam.

Antes, o centro acadêmico de medicina vivia sob intervenção. Possuía uma sede e oferecia dois serviços aos estudantes: uma cantina, terceirizada a Dona Zilda, uma pessoa atenciosa e simpática e uma mesa de ping-pong.

Silvestre foi um aluno médio, daqueles que estudam o necessário para passar. Tinha a fama de possuir o melhor caderno, copiava até o suspiro dos professores. A xerox da caderno de Silvestre era cobiçado nos tempos de provas.

No mais, nem cheirava nem fedia.

Silvestre era conhecido como o filho de... Fazia medicina por fazer, não precisaria da profissão para viver.

E assim ocorreu. Silvestre colou grau, como todos colam. Ao abrir o consultório, fechou definitivamente os livros. Deu fim até aos cadernos.

E foi vivendo uma vida tranquila, casou-se, teve filhos, comprou apartamento na Beira-Mar. Nunca se soube o que Silvestre pensava sobre nada. Ele nunca abriu a boca. Quando aparecia nas solenidades da categoria, era só sorrisos. O doutor Silvestre é que se chama “homem de bem”.

Para surpresa de todos, inclusive da esposa, Silvestre envolveu-se com a política. Odeia o comunismo, ama e confia no Mito. Até aí, sem novidades, isso é assim maioria, entre os colegas. Ele sempre foi assíduo nas manifestações dos camisas amarelas. Discreto, mas ia caracterizado e com uma bandeira do Brasil na mão.

Silvestre tem um orgulho: nunca comprou um livro. "Quem gosta papel é traça", repete ele como sendo um dito espirituoso. Odeio teorias, “meu negócio é a prática”. Pratica a medicina no tato, pede os exames, prescreve os remédios. Não lhe chamem para debates, conferências, congressos.

A medicina é para dr. Silvestre uma intuição científica. O consultório dele é cheio, só de particulares. Não aceita cheques, cartões e nem atende a convênios. A consulta custa 400 reais.

Após a vitória de Lula, no segundo turno, o que o dr. Silvestre desconfiava se confirmou: fraude eleitoral aberta, descarada. O STF está mancomunado com o comunismo. fraude só para Presidente. Se fosse um problema técnico das urnas a fraude seria coletiva, para todos os cargos. Não, a fraude foi política, só para Presidente.

O dr. Silvestre, fechou o movimentado consultório e acampou em frente ao 28 BC. Destaca-se pela bravura cívica. Canta todos os hinos, marcha em todas as marchas. Só vai em casa para trocar de roupa.

Dr. Silvestre quando chega na garagem do condômino, grita a todos pulmões: Selva! Mito! Passou a andar em passos de marcha militar. Corpo ereto, queixo alevantado, passos firmes e cronometrados. Presta continência na entrada e saída do elevador.

Sábado foi o seu aniversário de casamento, uma tradição na família, e ele me convidou. Uma festa animada, muitos amigos dos tempos de estudantes. Sardento levou o violão. Todos embasbacados com o tamanho do apartamento e a fartura da mesa.

Todos animados, essas festas da alta classe média. Vinhos caros, rapapés, e um jantar com bacalhau norueguês. Nada perto do churrasco temperado a ouro dos jogadores da seleção, mas um banquete para não se botar defeito.

Deu 9, 10, 11 horas, e nada do Dr. Silvestre. Cotinha a esposa, aflita, encabulada, não soltava o celular: “Silvestre, estamos aqui lhe esperando, você vem ou não?” E ele enrolando: estou chegando...

Deu 11 horas da noite e o jantar foi servido, mesmo sem o dr. Silvestre, o dono da casa. Silvestre estava à serviço da Pátria, acampado defronte ao 28 BC.

Cotinha, a esposa, ficou furiosa. “Não vou perdoar essa desfeita: era o aniversário de casamento. Silvestre é um dissimulado. Não tem religião, só não é ateu por covardia. Não cultua a família, só faz de conta. Do seu lema herdado de Mussolini, Deus, pátria e família, sobrou a pátria.”

O dr. Silvestre é um patriota!

Antonio Samarone (médico sanitarista)

VELHOS AMIGOS

 Velhos amigos.
(por Antonio Samarone)

Não sei como os velhos suportavam a vida antes das redes sociais. As relações virtuais são mais amplas, consistentes e menos trabalhosas. Quando se tornam chatas, se deleta. Simplesmente.

Os amigos de carne e osso tomam o tempo, querendo contar as suas estórias, muitas vezes repetidas. Em geral, são falsos e invejosos. Não conte com os amigos, são poucos.

A solidão na velhice é uma opção. O tempo desvenda as almas. Nas casas de repousos (asilos), não existe diálogo entre os internados. As estórias do outro não interessam. Os velhos deixam de contar vantagens e não se interessam pelas vantagens dos outros.

Os amigos virtuais não cobram atenção, podemos deixar as narrativas escritas e não ficamos sabendo se foram lidas. Não precisa! Basta uma curtida, um “emoji” de aprovação, que a leitura fica dispensada. Se a opção for um comentário positivo (belo texto), a felicidade é completa.

"As mentiras sinceras interessam." Cazuza.

Os amigos virtuais são bichinhos de pelúcia, que podem ser descartados sem peso na consciência.

A vida virtual foi criada para suportamos a realidade na velhice, para continuarmos vivendo coletivamente, mesmo sozinhos.

Os valores, a personalidade, o caráter, os desejos, as crenças e as ilusões estão localizadas no córtex pré-frontal, o resto é cenário. Os apetites inconscientes e os desejos do “id” são amansados na velhice.

A família é o último refúgio de carinho, solidariedade e proteção. É a nossa melhor herança evolutiva.

O celular ligado a internet 5G é uma grande companhia, o melhor amigo, sempre disponível. A ante-sala do paraíso. O verdadeiro calor humano é virtual, subjetivo, uma função do cérebro.

As emoções nascem na alma, na memória e na sensibilidade afetiva de cada um. Com a velhice, renasce a gratidão, doma-se o ego e a vaidade, aprofunda-se a certeza da morte e do esquecimento.

Tenho pouco tempo e muito a dizer. Cadê a coragem para contrariar? Espero que essa virtude chegue antes da demência. Freud está certo: “a natureza não tem compromissos com a felicidade.”

Buda achava que a felicidade era a ausência dos desejos. O capitalismo concorda, desde que, não se renuncie ao desejo de consumo.

“Que a luz eterna dos refletores brilhe sobre nós!”

Antonio Samarone (médico sanitarista)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O CÉU DAS CARNAÍBAS


 O Céu das Carnaíbas.
(por Antonio Samarone)

Conheci o professor José Paulino, em 1979, quando a União Nacional dos Estudantes (UNE) saía da ilegalidade. Baseado no Decreto-Lei 477, o AI-5 dos estudantes, a ditadura proibiu eleições para UNE.

Na Universidade Federal de Sergipe, o pró-reitor estudantil, José Paulino, solicitou as urnas da justiça eleitoral, e bancou a legalidade da eleição da UNE. Incentivou a ida dos estudantes ao Congresso da UNE em Salvador.

José Paulino foi o iniciador dos estudos sobre o participação de Sergipe na guerra de Canudos, inspirado na leitura da “Guerra do Fim do Mundo”, de Vargas Llosa.

Foi em Sergipe que Antonio Conselheiro iniciou a sua fase messiânica. Na edição de 22 de novembro de 1874, o jornal estanciano “O Rabudo”, noticiou a presença do Conselheiro em Sergipe. Conselheiro peregrinou por vários municípios. Em Itabaiana existe um monumento na rua da Pedreira (foto), marcando a passagem de Conselheiro.

Registra o jornal “O Rabudo, sobre Conselheiro”:

“Anda no caráter de missionário, pregando e ensinando a doutrina de Jesus Cristo. Suas prédicas consistem na proibição dos xales de merinó, botinas, pentes, e não se comer carne e coisas doces nas sextas e nos sábados.”

Conselheiro apareceu na cidade de Itabaiana em 1874. “Esmolava, seguiam-no os primeiros fiéis, um dos quais carregava o templo único, um oratório tosco, de cedro, encerrando a imagem de Cristo.” – citado por José Paulino.

Muitos sergipanos mal-aventurados seguiram o séquito de Conselheiro, defenderam o arraial, não se entregaram. A peregrinação messiânica começou em Itabaiana. O padroeiro de Canudos era Santo Antonio dos pobres, imagem levada de Itabaiana.

“Chamava-se Antonio e o povo o denominava Conselheiro. Passou por Sergipe, onde fez adeptos. Pedia esmola e só aceitava o que supunha necessário para a sua subsistência.” – Sílvio Romero.

Conselheiro arrebatou em sua caminhada rumo ao Belo Monte, centenas de sergipanos, sobretudo negros. O sangue dos sergipanos foi derramado em Canudos.

Quando criança, ouvia mamãe recitar uma trova, citado por Sílvio Romero:

“Do céu veio uma luz/ que Jesus Cristo mandou/ Santo Antonio Aparecido/ dos castigos nos livrou/ quem ouvir e não aprender/ quem souber e não ensinar/ no dia do Juízo/ a sua alma penará.”

Se as autoridades do turismo conhecessem a história de Sergipe, a Orla Por Sol não seria apenas uma bela paisagem. Foi na foz do Vaza Barris, onde os corpos mal enterrados durante a guerra de Canudos, em Belo Monte, foram parar em Aracaju, após a primeira enchente do rio.

Sem contar que a 2ª coluna, na IV Expedição da guerra. sob o comando do General Cláudio do Amaral Savaget, saiu do Aracaju. O escritor e intelectual sergipano Pedro Moraes, descreveu detalhadamente esta coluna, sob a ótica do exército.

O sergipano José Calazans desvendou a história de Canudos para o mundo, e o professor José Paulino, incluiu Sergipe.

Foi José Paulino que mobilizou estudantes e estudiosos sergipanos sobre Canudos. Cito de memória, entre os entusiasmados: Chico Buchinho e o jornalista Enock, irmão de João Brasileiro.

Perdemos um conselheirista, José Paulino da Silva (80 anos), pernambucano de Cachoeira de Taépe. Seminarista na Congregação Salesiana Dom Bosco, em Jaboatão. Em 1970, José Paulino ingressou na Universidade Federal de Sergipe.

Entre as várias contribuições de José Paulino, sem dúvidas, a maior, foi tirar do esquecimento, a participação de Sergipe na jornada de Antonio Conselheiro.

Descanse em paz, Zé Paulino, missão cumprida!

Antonio Samarone (médico sanitarista)