domingo, 31 de maio de 2020

ABANDONEM A ARROGÂNCIA.



Abandonem a arrogância!
(por Antonio Samarone)
Os coordenadores políticos do combate a Pandemia em Sergipe, falharam! Não seguiram a ciência. Um Isolamento Social de “faz de conta” é mais lesivo que a imunização de rebanho. A livre circulação produziria resultados parecidos.
As ações preventivas em Sergipe foram uma encenação vazia.
O STF deu poderes aos Estados e Municípios sobre a pandemia, quebrando a Federação, e alguns fizeram besteiras.
É simples explicar as falhas em Sergipe:
O isolamento geral, acima de 70%, não funcionou; não existem testes para saber quem está contagiado e esses circulam livremente, e quando se consegue testar e identificar alguns positivos, o isolamento é feito nos domicílios e fiscalizados por telefone. Ou seja, só fica em casa, os que podem e tem consciência. Muito poucos!
A doença se espalhou em Aracaju livremente (600 casos por cem mil habitantes).
O isolamento social em Aracaju nunca chegou a 50%, menor que nos feriadões antigos, fora da Pandemia. Eles falharam! Bastava um pouco de humildade para reconhecerem.
E não falharam por falta de recursos. Li no “NE – notícias”:
“O Estado de Sergipe irá receber do Governo Federal, através do Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus para estados, Distrito Federal e municípios, R$ 400 mi, sendo que R$ 86 milhões para serem investidos na saúde pública e R$ 314 milhões para livre aplicação.”
Oitenta e seis milhões, só para combater o Coronavírus!
Falharam!
Claro, é a minha opinião! Não sou o dono da verdade. Hannah Arendt alertava sobre o risco de uma única verdade, pois qualquer verdade "necessariamente termina o movimento do pensamento".
Os Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo também falhou. Desde que chegou à Casa Branca, o governo Trump foi informado de que uma pandemia dessa severidade era uma ameaça muito real. E nada fez!
Aracaju tem uma incidência da covid de 600,3 casos por cem mil habitantes, o triplo da média nacional. Um horror! A incidência na cidade de São Paulo, o epicentro da peste, é de 188,1 casos por cem mil habitantes. Existes suspeitas fundadas, que a mortalidade em Aracaju está sub notificada.
Os dados da Peste em Aracaju acusam: as medidas de prevenção não foram levadas a sério em Aracaju. Não funcionaram! Um fracasso absoluto! O combate à Peste em Aracaju foi uma peça do marketing político.
O Prefeito de Aracaju priorizou a continuidade das obras da Prefeitura, de olho no retorno eleitoral. Não impediu as aglomerações das filas da Caixa Econômica, fato decisivo para a disseminação da Peste em Aracaju.
O relator das Nações Unidas, Baskut Tuncak, decidiu ampliar suas investigações sobre o Brasil e incluir as respostas dos governos à covid-19 em seu informe que apontará para as violações de direitos humanos cometidas pelos governos ao não proteger sua população.
Eu peço que incluam Aracaju nessas investigações da ONU.
O medo é que o fracasso na prevenção se estenda para a assistência. Essas UTIs de última hora são respostas inadequadas, gambiarras sanitárias. UTI não se improvisa! Só cria ilusões!
O hospital da campanha de Aracaju, por enquanto, é mais uma peça de propaganda. Construíram um gripário, para atender casos leves. As necessidades são outras.
Eu sei, foram decisões tomadas às pressas. A Pandemia não esperava. O grave é não reconhecerem as falhas.
Falharam!
Não adianta gastar o dinheiro do combate a Pandemia com propaganda, dizendo o contrário.
Deixando de lado a doce província, com as suas mazelas, as suas vaidades e as suas arrogâncias.
Vamos adiante: tratar da Pandemia como uma crise da civilização. A grande reclusão deixará sequelas.
O meu inconsciente está se acostumando com a vida 'online', vivendo virtualmente defronte ao computador. Já comecei a duvidar da realidade. Caminhamos para a digitalização total da vida?
O medo da alienação, a necessidade urgente de sair do mundo virtual, me levou a leitura de “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Airton Krenak. Ambientalista, líder indígena, que compartilha a sabedoria dos povos da Florestas.
Como bem analisou Eliane Brum:
“Os povos originais entendem o fim do mundo. Para aqueles que receberam a "visita" dos europeus, como diz ironicamente Krenak, o mundo terminou no século XVI. Estima-se que 95% dos povos indígenas foram exterminados por vírus e bactérias que atravessaram o oceano a bordo dos corpos dos invasores.”
“O pensamento que rejeita a centralidade do ser humano é geralmente visto como curiosidade, folclore ou até excentricidade. Povos indígenas de diferentes povos afirmaram, muito antes dos cientistas, que o céu poderia cair se os brancos continuassem a devorar o planeta.”
Concordo com Noam Chomsky: “Se não conseguirmos um ‘Green New Deal’, ocorrerá uma desgraça. Se não falarmos da causa dessa Pandemia, a próxima será inevitável e será pior, por culpa do aquecimento global”.
O vírus é literalmente uma mensagem, resta-nos saber decifrá-la.
Antonio Samarone.

sábado, 30 de maio de 2020

QUARENTENA SEM FIM


Quarentena sem Fim.
(por Antonio Samarone)
“Não ande nos bares/ Esqueça os amigos/ Não pare nas praças/ Não corra perigo/ Não fale do medo/ Que temos da vida/ Não ponha o dedo/ Na nossa ferida!” – Ivan Lins.
O isolamento já dura um século e a Peste não arreda! Esse distanciamento social promete se prolongar por muito tempo. Vai longe! Sairemos do confinamento mascarados, com medo de gente?
Seremos os eternos susceptíveis se escondendo do vírus? Quem já pegou e não morreu está livre, ficou imunizado. A gente não! A nossa liberdade, sem riscos, vai depender da vacina?
Os que perderam os seus, jogados numa cova rasa, sem velório e sem despedida, carregarão a marca desse sofrimento para o resto da vida. Continuarão com os olhos marejados.
A vida será mais dura após a Peste. As desigualdades sociais
aumentarão. O desemprego já está nas portas. A economia continuará excludente.
Soube que as empresas buscarão a automação máxima. As máquinas não adoecem, não se organizam e não fazem greve. O capitalismo financeiro não precisa de muita gente. Cada um vai ter que se virar sozinho, os empregos estão acabando.
Seremos “empreendedores”, exploraremos a nós mesmos. E quem não der certo, vai se culpar, se sentirá um fracassado. A reação não será a revolta contra a ordem social, mas a depressão, a droga e o suicídio.
No Brasil, as nuvens do autoritarismo estão escuras. Pode chover ditadores, grandes e pequenos.
A liberdade está encolhida, assustada com a violência. Quem falar em direitos humanos pode ser linchado. O termo saiu de moda.
Esse isolamento social, além de abrandar a curva da morte, para que o Poder Público pudesse comprar os respiradores, o isolamento foi um ensaio de controle social, um ensaio de vigilância.
Muitos prefeitinhos de aldeias assumiram ares imperiais, fizeram e desfizeram, mandaram e desmandaram. Muitos gostaram.
O Brasil se comoveu com a morte de George Floyd e se revoltou com o racismo americano.
A polícia de Witzel, em plena quarentena, eliminou nesse mês, no Rio de Janeiro, 167 negros. Entre eles o João Pedro, de 14 anos. Aqui não é racismo, nem genocídio, a imprensa noticia como “combate ao tráfico”. “O Haiti é aqui!”
Que sociedade queremos construir no pôs Pandemia?
Ou a gente descruza os braços e toma conta do que é nosso ou eles transformarão o Brasil num inferno. Eles quem? Acho que todo mundo sabe!
Antonio Samarone.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

O FIM DO ISOLAMENTO SOCIAL


O Fim do Isolamento Social.
(por Antonio Samarone)
O Brasil começou a suspender o isolamento social. O que houve? A Pandemia chegou ao pico e começou a declinar? Não, pelo contrário, a mortalidade continua crescendo. Ontem morreram 1.086 pessoas.
E por que vão abrir a economia, quais as justificativas?
1. Já temos um número de leitos de UTI suficientes, compramos mais respiradores. As pessoas já podem morrer com um certo conforto. Se o isolamento era para evitar o colapso do sistema de saúde, o problema foi resolvido.
2. A economia caiu muito, só em abril, perdeu-se quase um milhão de empregos com carteira assinada. Os cofres públicos estão se esvaziando. Está na hora de abrimos a economia.
3. Não faltará quem argumente, está vendo, esse isolamento social foi uma perda de tempo. Nunca funcionou. Estava na hora de acabar.
4. Outro grupo defenderá que o isolamento social já cumpriu o seu papel, salvou milhares de vidas. (Alguns citam até o número de mortes evitadas). Já podemos suspendê-lo.
É a Torre de Babel. Os argumentos apontam para todos os lados, são movidos pelos interesses, mas todos encontrarão um “estudo científico” comprovando.
Mas se abrirmos a economia e todos voltarem as ruas, aumentar as aglomerações, o número de mortos não vai crescer? Parece lógico.
Mesmo assim, se o número de mortes pode crescer, o que levou mesmo a essa decisão nacional, de reabrir a economia agora?
Houve uma grande mudança no Brasil. A doença que chegou de avião, avançou para a periferia, para vilas e favelas, quem morre mais, agora, é o povo pobre e os profissionais de saúde.
A Pandemia começou a perder a sua importância social. A Pandemia está matando bem mais os pobres e profissionais de saúde.
Entenderam, a Pandemia está perdendo a sua importância social. Essa é a razão mais importante para a suspensão do isolamento. Os que vão morrer, em sua imensa maioria, são pobres e profissionais de saúde.
As mortes podem até aumentar, mas são mortes severinas. Na lógica neoliberal, esse gente é excedente, não conta para a economia.
O novo corona chegou cheio de empáfia, não poupava ninguém. Agora percebeu que matar pobres é bem mais fácil.
A Pandemia ter eliminado idosos pobres é visto como uma “reforma biológica da previdência”. É nessa realidade em que vivemos.
A velha sociedade se apressa em retornar ao modo de vida de antes.
O discurso em defesa da vida era um biombo político? A vida vale pouco no Brasil! O medo de quem é levado em conta, passando, em breve a Pandemia será uma curiosidade histórica.
Não estou dizendo nenhuma novidade, todos já sabiam. Estou apenas relembrando.
A dengue, a zica e a chikungunya vem aí, farão a sua coleta de mortos, deixarão as suas sequelas, e passarão desapercebidas, como sempre. No máximo, as autoridades mandarão que cuidemos dos jarros de flores, para não deixarmos água acumulada.
Essas são viroses antigas, que aprenderam a escolher as suas vítimas.
Os que sonham que a Pandemia botará uma pá de cal no neoliberalismo, precisam acordar!
Antonio Samarone.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

A PESTE CHEGOU!


A Peste Chegou!
(por Antonio Samarone)
O temido colapso dos Serviços de Saúde chegou à Sergipe. Não se trata de uma metáfora, é um colapso mesmo. É o paciente grave, com sofrimento intenso, necessitar de uma assistência especializada e não encontrar.
Essa carência não se resolve de improviso. Chega, manda comprar mais 50 respiradores e abre-se mais leitos. Não é assim que funciona. Um respirador não é um eletrodoméstico que você compra na loja, leva para casa, liga na tomada e ele começa a funcionar. Não é como o liquidificador de nossas casas.
Um leito de UTI precisa de equipamentos e muita tecnologia, entretanto, se não tiver profissionais qualificados, esses equipamentos de nada servem. Não basta ligar na tomada, precisa de gente competente para operá-los.
A alma da assistência numa UTI é a sua equipe de saúde.
Sem um bom médico intensivista, enfermeiras especializadas, fisioterapeutas treinados, os melhores equipamentos do mundo são lixo. Uma arma não mão de quem não sabe atirar.
Leitos de UTI são equipes de profissionais treinados, com condições de trabalho adequadas, tecnologias e insumos disponíveis, e segurança. Sergipe teve tempo para montar essas esquipes, treiná-las, capacitá-las, e não o fez.
Empurraram com a barriga. Não se levou a sério. Enganaram ao Ministério Público.
Quantos desses leitos de UTI em Sergipe, montados a toque de caixa, estão em condições de funcionamento adequado? Os pacientes entram sozinhos, em estado grave, sem a presença da família, desprotegidos, não podem avaliar a qualidade do serviço que estão recebendo.
Como agravante, não existe uma regulação única.
A Secretaria da Saúde do Estado aponta para um lado a de Aracaju para outro. O município tem dificuldades em transferir um paciente grave de suas UPAs, para um leito de UTI estadual. Pacientes já morreram pelas dificuldades burocráticas.
A essa altura, ainda não existe um fluxo estabelecido para os pacientes com covid. E não foi por falta de reuniões. Posso parecer duro, mas falta uma gestão competente. O critério político nas escolhas dos gestores é um crime contra a saúde pública.
Um paciente grave procurando a rede de saúde, ainda sem diagnóstico, para onde encaminhá-lo? As UTIs não aceitam pacientes sem diagnóstico. Eles esperam onde? Nem o Nestor Piva, nem o Fernando Franco, nem o hospital da campanha possuem estruturas adequadas para assistir a esses pacientes graves.
As UPAs estão lotadas com pacientes graves. E mais, ontem um paciente grave ficou no Onésimo Pinto, uma unidade básica, até tarde da noite. Ninguém sabia para onde encaminhá-lo. Uma perversidade.
Não existir um fluxo estabelecido para os pacientes de covid beira a estupidez.
A desorganização levou que o hospital da campanha receba pacientes já testados positivamente com necessidade de internamento, junto com pacientes sintomáticos, mas sem o diagnóstico.
Qual é o problema?
O polêmico hospital da campanha foi construído por gente acostumada a montar espaços de festas. Fizeram um ambiente único, as salas de atendimento não possuem cobertura, respira-se o mesmo ar em todo o ambiente.
O que significa essa aberração?
Uma pessoa internada com sintomas parecidos com os da covid, mas seja outra doença respiratória, ela vai se contagiar no hospital. Ambiente respiratório único, com o ar condicionado ajudando a espalhar o vírus, o hospital da campanha se transformou numa central de transmissão da Pandemia.
O hospital da campanha virou um Lazareto, um depósito de doentes aguardando o seu destino. Juntou-se num mesmo ambiente pacientes covid positivo, pacientes suspeito da covid e pacientes de outras patologias, que pareçam covid. Em pouco tempo, todos serão pacientes da covid.
Enquanto eles batem cabeça, a morte continua com a sua foice afiada. Chegamos a 116 óbitos, 292 pacientes internados e 3.105 pessoas testadas positivas, em suas casas, esperando a misericórdia de Deus.
Já chegamos no pico da Pandemia em Sergipe (27/05)?
Ninguém sabe!
Os dados são insuficientes. As previsões são especulativas. Sem dados corretos os “modelos matemáticos” são abstrações efêmeras. Quantos são os contaminados em Sergipe? A testagem é muito baixa.
Antonio Samarone.

terça-feira, 26 de maio de 2020

SÓ A VACINA SALVA


Só a Vacina Salva!
(Por Antonio Samarone)
“Paz para os bons, consolo para os aflitos e o fogo eterno para as almas sebosas.” Frei Damião.
A postura do governo brasileiro frente a Pandemia assusta o mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) suspendeu todas as pesquisas sobre o uso da cloroquina em seres humanos. Existem evidências que a droga além de ser ineficaz contra a covid, aumenta a mortalidade.
No Brasil, o uso da cloroquina tornou-se epidêmico.
Durante a Peste Asiática na Espanha, em 1885, os médicos prescreviam o láudano de Sydenham, um composto de vinho madeira, ópio (Papaver somniferum), açafrão, cravo e canela. Saboroso, porém ineficaz.
Láudanos eram preparados de ópio com álcool, tomados via oral. O ópio é o sumo da papoula e contém diversos alcaloides (morfina, heroína, papaverina). E Thomas Sydenham, era um famoso médico inglês, reconhecido como o fundador da medicina clínica.
Portanto, o láudano de Sydenham não era um remédio qualquer, mas não funcionava no tratamento do Cólera. Tinha na época mais prestígio que a cloroquina na atualidade.
Já se sabia que bastava ferver a água antes de beber, mas ninguém acreditava. Um ano antes, o cientista alemão Robert Koch havia anunciado que um micróbio era responsável pela cólera. As pesquisas de john Snow eram conhecidas. Essa história é contada por Cajal (o da foto acima), em suas memórias.
Em junho de 1885, as autoridades declararam oficialmente a epidemia de cólera em Madri. Os comerciantes fizeram protestos, exigindo que medidas preventivas não afetassem os seus negócios. Essas reações vêm de longe.
Um jovem médico catalão, Jaime Ferrán, produziu uma vacina experimental contra a cólera: uma injeção subcutânea de pequenas doses do micróbio. O gênio espanhol Santiago Ramón y Cajal, prêmio Nobel em medicina em 1906. foi consultado, e propôs ao invés de micróbios vivos, o uso de uma vacina com germes de cólera mortos pelo calor.
Na época a ideia de Cajal não foi aceita, mas estava descoberto um novo tipo de vacina, hoje chamada de morta ou inativada e já em testes em humanos contra a covid-19.
No entanto, a honra da descoberta foi tomada pelos bacteriologistas americanos Daniel Salmon e Theobald Smith, que publicaram conclusões semelhantes um ano depois.
No final do século XIX existia apenas a vacina contra a varíola, produzida por vírus cultivados no ubre de vacas.
Os médicos sempre reagiram as mudanças de paradigmas da medicina. Oswaldo Cruz enfrentou resistências da Academia Nacional de Medicina, em sua luta no combate à febre amarela, eliminando os mosquitos. Os médicos não aceitavam essa novidade dos mosquitos.
Os médicos foram contra a vacinação obrigatória, proposta por Oswaldo Cruz em 1904.
Os leprologistas não aceitaram a causa bacteriana da lepra com facilidade. Na década de 1940, o tema ainda era motivo de discórdia.
Segundo a OMS, cerca de 70 pesquisas de vacina contra a covid – 19 estão em andamento no mundo, pelo menos três em fase de ensaio clínico. Novas tecnologias da engenharia genética estão sendo usadas na produção da vacina. Em breve teremos novidades.
Voltando a Pandemia.
Se não bastasse a estupidez do Governo Federal, em Sergipe, a Pandemia está sendo administrada por gente vaidosa, políticos populistas, sem a necessária humildade para se declararem incompetentes.
Para quem pensa que nada acontece na Província durante a Pandemia, ontem, a Academia Sergipana de Letras reuniu pensadores e curiosos, para ouvir o intelectual Jorge Carvalho profetizar sobre o futuro da educação, no pós Pandemia. Uma conversa proveitosa!
O Governador de Sergipe anunciou mais um decreto para o combate à Pandemia. Como se esperava: nada de novo! A mesma ladainha, que agora é para valer, vamos fiscalizar, estamos atentos. Chega!
Enquanto isso a Peste avança em Sergipe (25/05). 5.448 casos notificados e 103 mortos. 139 pessoas internadas nas UTIs. A taxa de ocupação dos leitos de UTI, aproxima-se do limite trágico.
A realidade é assustadora, não porque é real, mas por ameaçar tornar-se...
O boletim epidemiológico estadual informa que em Itabaiana existe um leito de UTI para a covid. Como assim, um leito? Existe uma equipe profissional montada para atender a um paciente? É evidente que os profissionais que atendem a pandemia são exclusivos, por conta do contágio.
Alguém pode explicar?
O mesmo boletim epidemiológico passa outra desinformação: “até agora, existe 2.222 curados”. Vendendo uma versão que esses “curados” resultam supostamente da assistência dos serviços de saúde. Uma ação positiva do governo.
É urgente a readequação do hospital da campanha da Prefeitura de Aracaju, às necessidades da Peste. Quem está precisando de internamento e assistência de alta complexidade são os casos graves.
Um hospital improvisado para casos leves, um local de triagem, um gripário, não é a principal necessidade. Para não deixar dúvidas: estamos precisando de mais leitos de UTI.
Os pacientes graves precisam de atendimento de alta complexidade, unidades bem equipadas, profissionais qualificados e experientes (e protegidos). Não é uma doença simples.
Ouvi de um gestor aflito: “Leitos de UTI improvisados, são melhores do que nada. Pelo menos o governo dar uma satisfação à sociedade. O que não pode é o povo morrer em casa ou nos corredores.”
É a tal escolha de Sofia.
Antonio Samarone.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

O GRANDE CONFINAMENTO


O Grande Confinamento.
(por Antonio Samarone).
A Peste, a guerra, a fome, a violência, a solidão, a obesidade e a morte são as Sete Bestas do apocalipse. Caminham próximas!
O fim do mundo sempre foi um patrimônio das religiões. No entanto, a ciência vai acumulando dados e começa a levar a sério os riscos de que um fenômeno natural ou provocado pelos humanos possa acabar com a civilização.
Entre os riscos reais do fim do Homo sapiens estão um conflito nuclear, choque da terra com um asteroide, aquecimento global e, por que não, as Pestes.
O cientista francês Patrick Zylberman, em seu clássico “Tempêtes microbiennes”, faz a previsão que o mundo será crescentemente atacado pelas Pestes.
A Pandemia já matou no mundo, até ontem (24/05), 350 mil pessoas. Os negacionistas minimizam: morrem 56 milhões de pessoas por ano no mundo, 350 mil não é nada, menos de um por cento. Acidente de trânsito mata um milhão e duzentas mil pessoas por ano, e ninguém está preocupado com os automóveis. Ninguém tem medo de carro.
Oitocentas mil pessoas se suicidam por ano, e ninguém nota. A Pandemia matou trezentos e cinquenta mil e é esse alvoroço. O mundo está parado, dizem os negacionistas.
O número de vítimas assassinadas em atentados terroristas é pequeno. Mas se trata de uma ameaça endêmica, que alterou profundamente a vida cotidiana.
Ocorre que não sabemos qual porcentagem de pessoas contagiadas perde a vida por culpa do coronavírus SARS-CoV-2. Se for 0,1% e todos os seres humanos puderem se contagiar, o número total de mortos poderia, hipoteticamente, alcançar a ordem de 7 milhões.
Eu sei que você está pensando, mas toda a população não será contaminada, em breve teremos uma vacina, eu sei. Mas o percentual de mortes é superior a 0,1%. Os estudos atuais apontam em torno de 0,5%.
O negacionismo é uma ideologia brasileira, não encontra sustentação científica. Outra esquisitice nossa é o uso da cloroquina no tratamento da covid. Nossa e de Trump.
Os negacionistas apresentam três alternativas ao atual modo de isolamento social:
1. A imunização do rebanho. Deixa todo mundo se expor livremente, os mais frágeis sucumbem, e os que restarem estarão imunizados. Todos vivem normalmente.
2. Isolamento seletivo. Segrega os velhos, obesos, diabéticos, os mais vulneráveis, e o restante continua vivendo normalmente.
3. Isolamento individual. Testa todo o mundo e isola somente os contaminados. O restante continua vivendo normalmente.
Esses três modelos, com as suas variantes, são alternativas que visam preservar a economia e o mundo atual. Visa manter a atual normalidade.
O isolamento social genérico, com ou sem lockdown, é quem está destroçando a economia, segundo o ponto de vista negacionista.
Acho, que quem está desmontando o atual modo de vida, não só a economia, é a própria Pandemia. independente da estratégia de combate.
Grande parte de nossa forma de vida anterior ao vírus já é irrecuperável. O distanciamento físico, por exemplo, será obrigatório assim que se saia de casa.
O isolamento social genérico, com uma cobertura de 70%, indicado pela OMS, foi o caminho seguido pela imensa maioria dos países.
Sergipe resolveu seguir um caminho próprio: o isolamento social do faz de conta, cumpre quem quer. Essa opção não retarda a propagação da Pandemia.
Sergipe encerrou o final de semana (24/05) com 93 óbitos, 132 pessoas internadas nas UTIs, e 5.314 casos notificados. A incidência de 236/100.000 e a taxa de mortalidade de 4,1/100.000. Os dados epidemiológicos são trágicos. Se não bastasse, o isolamento social em Sergipe é o menor do Brasil.
Em Aracaju, o isolamento social relaxou. Só cumpre quem quer. Limitando-se a propagação da doença evitaremos mortes.
Nesse momento, precisamos de posturas responsáveis das autoridades, para evitarmos mais mortes e um provável saturamento dos serviços de saúde.
Precisamos de ações corajosas, mesmo que desagradem. O populismo não é uma boa companhia, nessa hora.
Vamos aguardar o pronunciamento do Governador. Ainda hoje?
Antonio Samarone.

domingo, 24 de maio de 2020

INCERTEZAS SOBRE A PANDEMIA EM SERGIPE



Incertezas sobre a Pandemia em Sergipe.
(por Antonio Samarone)
“Cantem, deusas, a cólera de Aquiles...”
Em Sergipe a Pandemia cumpre a sua história natural. Livremente! As medidas de prevenção são quase espontâneas. A ação governamental é simbólica: decretos, marketing, avisos, ameaças, muita conversa fiada, e pouca ação. Quase nenhuma ação!
Amanhã é um dia de incertezas. As autoridades tomarão novas decisões sobre o combate a Pandemia. Tem sido assim, a cada oito dias ocorrem mudanças. As coisas andam a base do improviso.
Amanhã pode ocorrer de tudo, inclusive nada!
Não existe um planejamento para a saída da crise sanitária em Sergipe. A Prefeitura de Aracaju publicou um documento com muitos gráficos, muitas cores e poucas ideias. Uma proposta com regras genéricas.
A Pandemia não sossega por aqui. Corre solta. Sergipe chegou a 5.131 casos notificados, uma incidência de 223,21 casos por cem mil habitantes, e 86 óbitos. Sergipe possui o menor isolamento social do Brasil.
Sergipe caminha no escuro!
Antonio Samarone.

CUNHÃO RENDIDO


Cunhão Rendido. (por Antonio Samarone)
A incidência das hérnias inguinocrurais em Itabaiana era assombrosa. Quase a metade dos homens, a partir dos 40 anos, tinha o cunhão rendido. Não sei as causas. Hoje a incidência não passa de 5%.
No começo da noite, os homens se sentavam nas portas das casas, com as pernas abertas e estiradas. Calças folgadas e cuecões de algodãozinho, feitos em casa. Era a forma de aliviar o incomodo da quebradura e correr uma fresca nos culhões.  
O Pai de Zé Pindoba, meu vizinho no Beco Novo, era portador de uma antiga hérnia inguinal ou quebradura, um rendido da virilha. Usava uma funda, espécie de cinta de couro na virilha, para evitar que intestino delgado saísse pela abertura da hérnia.
O mal assombrado ficava meio defeituoso, nem podia pegar peso, nem fazer esforço. Mané Lombriga teve que abandonar a profissão de carroceiro, por causa de um cunhão rendido.
As tentativas de cirurgia eram infrutíferas, oitenta por cento recidivava. Quando a hérnia estrangulava, Dr. Pedro sabia que não adiantava prescrever calomelano, tintura de arnica ou extrato de ópio, o jeito era o cristão cair na faca, a cirurgia era inevitável. Atualmente se coloca uma prótese e, assunto encerrado.
Antonio Samarone.

AS MULHERES NA MEDICINA


As Mulheres na Medicina.
(por Antonio Samarone)
A primeira médica no Brasil, não era formada em medicina. Madame Durocher - Marie Josephine Mathilde Durocher, nasceu em Paris em 1808. Veio com a família para o Brasil em 1816, com oito anos. Fugindo da volta dos Bourbons ao Trono francês. O avô de Madame Durocher era um Jacobino.
Filha da florista Anne Durocher, que se estabeleceu como comerciante de moda no Rio de Janeiro, na Rua dos Ourives, no centro comercial da cidade.
Madame Durocher se naturalizou brasileira.
Durocher foi casada com comerciante francês Pedro David, com o qual teve dois filhos. Após o assassinato do marido, ela resolveu ser pateira.
Durocher obteve o diploma de Parteira em 1834, após dois anos de estudos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
No século XIX, o Real Colégio dos Médicos de Londres declarava que cuidar de partos, não era mister dignos de um médico ou de um cirurgião.
Mesmo com todo preconceito, a Parteira Durocher notabilizou-se em sua arte. Escreveu vários trabalhos sobre a obstetrícia: “Considerações sobre a obstetrícia”, “O centeio e a ergotina”, “Do emprego do clorofórmio nos partos fisiológicos” e Ação abortiva do sulfato de quinina”.
Foi a primeira mulher admitida na Academia Nacional de Medicina em 1871, ocupando como membro titular a cadeira 63. Durocher se destacou entre os médicos.
Durocher dominava as técnicas de obstetrícia mais usadas em sua época, cuidava de recém-nascidos, indicava amas-de-leite, tratava de febre amarela, cólera e dava pareceres sobre defloramento. Teve papel importante nas políticas de saúde pública, aprovando e/ou condenando medicamentos.
Durocher usava o fórceps com destreza (o parto á ferros). O fórceps foi um instrumento inventado no século XVII, por Pedro Chamberlain. A cesariana no Brasil do século XIX era usada somente em mães mortas, na esperança de se encontrar o feto vivo.
Madame Durocher atendia a todas as mulheres sem distinção, de escravas a membros da nobreza. Em 1866, foi nomeada parteira da Casa Imperial. Atendeu a Imperatriz Tereza Cristina no parto da Princesa Leopoldina, filha de D. Pedro II.
Em 60 anos de profissão, realizou mais de cinco mil partos.
A madame Durocher vestia-se sempre de preto, saia, casaca, gravata borboleta e uma pequena cartola afunilada. Andava sempre de tílburi.
Madame Durocher faleceu na noite do Natal de 1893, no Rio de Janeiro.
Antonio Samarone.

sábado, 23 de maio de 2020

MÉDICOS E PADRES NAS PANDEMIAS


Médicos e Padres nas Pandemias.
(por Antonio Samarone)
O Jornal Nacional de ontem (22/05) informou que a Pandemia já matou 103 médicos no Brasil. A imensa maioria, por mortes evitáveis, se o trabalho estivesse sendo realizado dentro das normas de segurança.
Chama a atenção a naturalização dessas mortes. A indiferença social. O fato é encarado como soldados morrendo numa guerra. As mortes dos médicos são evitáveis.
As duas maiores entidades médicas (CFM e AMB), não tocam nesse assunto.
O Sindicato dos Médicos de São Paulo criou um memorial, para não deixar essas vidas no esquecimento.
O Doutor Juvenal Urbino, perdeu o pai, também médico, na Peste Asiática (Cólera) de 1856. A Peste virou uma obsessão.
O Doutor Urbino convivia com a Peste:
“Cada um é dono de sua própria morte, e a única coisa que podemos fazer, chegada a hora, é ajudá-lo a morrer sem dor e sem medo.” “O meu medo é de não encontrar Deus na escuridão da morte.”
“É mais fácil suportar as dores alheias que as próprias.”
“Por pura experiência, sem fundamentos científicos, o doutor Juvenal Urbino sabia que a maioria das doenças mortais tinha um cheiro próprio, e nenhum tão específico quanto o da velhice.”
Para quem esqueceu o Doutro Juvenal Urbino, ele é o personagem principal do clássico “El amor en los tiempos del cólera”, de Gabriel Garcia Marques.
Por falar em guerra.
A Guerra da Cloroquina, que dividiu os médicos, teve o lado positivo. Tornou claro como os protocolos são elaborados. O que está por trás das justificativas científicas, o jogo de interesses, quem ganha e quem perde. Uma certeza, o paciente é um detalhe nesse processo.
O Dr. Antonio Carlos Lopes, o maior nome da clínica médica no Brasil, defende:
“Não quero saber de estudos multicêntricos porque isto tem viés importantes. A importância é a da experiencia adquirida a beira do leito por anos, isso é imbatível”.
Parece claro. Se o objeto da medicina é o doente, é necessário se observar a diversidade humana. E por que prevalece a rotina dos protocolos? Quando a medicina é desumanizada e o objeto passa a ser a doença, a relação é reificada.
A medicina de mercado, que transformou o cuidado em procedimento, atendendo as exigência do mundo das mercadorias, não pode conviver com a subjetividade da arte médica. Essa medicina é guiada pelos protocolos.
O messianismo no Nordeste.
As Pestes sempre impulsionaram grandes mudanças. A Peste Asiática (cólera) de 1855, ensejou o movimento messiânico no Nordeste.
O catolicismo popular no século XIX foi liderado por três beatos: o Padre Ibiapina, Padre Cícero e Antonio Conselheiro.
Ibiapina (1806), Antônio Conselheiro (1830) e Pe. Cícero (1844) formam um trio antológico no cenário do Nordeste do século passado. Embora nascidos em anos mais ou menos distantes, foram contemporâneos. Inclusive chegaram a se cruzar pelos caminhos de suas missões.
Em 1855, surgiu a notícia de uma epidemia do cólera-morbo que já havia atingido várias regiões, ameaçando Pernambuco. Pe. Ibiapina passou a sentir-se como que omisso frente a essa situação pela qual passava o povo.
A padre Ibiapina deixou tudo e foi cuidar das vítimas da Peste.
Os cemitérios foram as primeiras obras na missão de Ibiapina, cuja peregrinação iniciara-se pelo interior da Paraíba. Foi na atual cidade de Soledade que Ibiapina se deparou com cadáveres das vítimas da epidemia do cólera espalhados pelo chão; então, tomou a iniciativa de construir cemitérios.
Padre Cícero e Conselheiro, cada um a seu modo, seguiram o Padre Ibiapina.
Em Sergipe tivemos a experiencia do “Céu das Carnaíbas”, em Riachão dos Dantas, onde as pessoas tinham nomes de santos, e viviam num comunismo primitivo, tudo era de todos. A comunidade foi destroçada a bala, pelos fazendeiros e seus jagunços.
Para encerar a conversa.
O que me chamou a atenção na tal reunião ministerial do dia 22, não foi o nível da conversa, eu já suspeitava, mas a visão do Governo Federal sobre a Pandemia. Logo na abertura do vídeo: “O foco aqui não é a solução do problema, mas quem são os culpados.”
Enquanto isso:
A Pandemia continua dizimando em Sergipe (22/05): 82 óbitos, 170 pacientes internados, 4.922 casos confirmados e 2.482 pessoas isoladas em seus domicílios, monitoradas pela própria consciência.
Antonio Samarone.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

LOCKDOWN E CONTROLE SOCIAL


Lockdown e Controle Social
(por Antonio Samarone)
Duas controvérsias: o isolamento social e o lockdown são necessários para o enfrentamento da Pandemia? O abalo econômico é decorrência desse isolamento social? Vamos continuar discutindo isso por muito tempo.
Defendeu recentemente o filosofo italiano Giorgio Agamben:
A epidemia está permitindo que o Estado de Exceção se torne natural, até desejado, e que ressurja a força imperial do poder político. O mais humilde Prefeito ganhou poderes discricionários, com a Peste. Por decreto, ele pode suprimir todos os direitos individuais, fechar igrejas e mercados. Limitar o direito de ir e vir. Os Tribunais estão fechados e Estado de Direito suspenso.
A economia já havia submetido a política aos ditames do capitalismo financeiro. Agora a economia está sendo absorvida pelo “novo paradigma de biossegurança ao qual todos os outros imperativos devem ser sacrificados”. Ressuscitamos Foucualt?
A biopolítica já deu lugar a psicopolítica. (Byung-Chul Han)
O receio é que as medidas de exceção se prolonguem no pós Pandemia, que o controle social se naturalize e se transforme em modo de vida.
O Italiano Agamben acredita que as razões sanitárias do isolamento social são de fundo ideológico, e que não existe comprovação cientifica dessa necessidade:
“A Pandemia, pelos dados epidemiológicos disponíveis, causa sintomas leves/moderados (um tipo de gripe) em 80-90% dos casos. Em 10-15%, pode se desenvolver uma pneumonia, cujo decurso é benigno na maioria absoluta. Estima-se que apenas 4% dos pacientes necessitem de hospitalização em terapia intensiva.”
Por outros lado, mais de vinte mil óbitos só no Brasil, até ontem (21/05), é muita gente, muito sofrimento.
Agamben defende que, exaurido o terrorismo como causa de medidas de exceção, a invenção de uma epidemia pode oferecer o pretexto ideal para ampliá-la muito além de todos os limites.
Eu acrescento, mesmo que as medidas de exceção tenham justificativas epidemiológicas, são reais os riscos de contaminação do nosso modo de vida. O distanciamento social pode se tornar um comportamento valorizado.
Na tese de Agamben, o medo da Pandemia será difundindo nas consciências dos indivíduos e que se traduz em um verdadeiro de estados de pânico coletivo. A Pandemia oferece o pretexto ideal.
Giorgio Agamben adverte sobre o fato de os meios de comunicação bombardeiam a população com notícias sobre a Pandemia, utilizando-se da velha tática de difusão de um clima de pânico, provocando um verdadeiro estado de exceção, com gravosas medidas de restrição das liberdades.
Assim, em um perverso círculo vicioso, a limitação da liberdade imposta pelos governos, em nome da Pandemia, é aceita pelo desejo de segurança. Os Governos se apresentam para satisfazê-lo.
A utopia de Slavoj Žižek é ilusória: a Pandemia não está trazendo os ventos da revolução, da justiça social e da liberdade.
Pelo contrário, teremos um fortalecimento do autoritarismo.
O pôs Pandemia trará o fim do contato pessoal, do barzinho, do abraço, do beijinho na face, do aperto de mão. Seremos uma sociedade de mascarados. O medo do outro será um sinal de prudência. O isolamento social se tornará permanente e festejado.
Ou pode ocorrer exatamente o inverso.
O fim da Gripe Espanhola transformou o carnaval brasileiro numa festa orgiástica. O pôs Pandemia do covid – 19, pode ensejar uma onda de liberdade, justiça e tolerância.
Esse meu desejo em querer imaginar um destino para a sociedade humana, deve-se a herança religiosa, inspirado pela ideia apocalíptica do fim do mundo.
Uma das restrições mais perversas imposta pela Pandemia foi a proibição de se velar os mortos. Recentemente perdi alguns amigos, por morte natural, mas o medo me impediu de comparecer aos seus sepultamentos. Fiquei envergonhado com a minha covardia.
Sou de uma tradição cultural onde o único evento cuja ausência é indesculpável é o enterro de uma amigo. Justifica-se a ausência em aniversários, casamentos, batizados, formaturas, iremos aos próximos. Os sepultamentos são eventos únicos, não se pode perder.
A Pandemia apressará a tendência a atomização social e a virtualização das relações. A rede social será a nossa ágora! O mundo digital imporá uma relação binária, sem criatividade.
Dado a sua plasticidade, o nosso cérebro analógico, em pouco tempo será transformado em digital. A seleção natural se encarregará da mudança. É a vitória da inteligência artificial.
Continuo defendendo o isolamento social temporário, por acreditar que ele reduza a velocidade de propagação da Pandemia. Só por isso!
Não faço defesa ideológica do distanciamento social. Pelo contrário, defendo a confraternização, a vida comunitária e os laços coletivos. Não quero um cérebro binário, digital.
Gosto de feiras, procissões, romarias, comícios e passeatas. Gosto das peregrinações. As minhas raízes provincianas são antigas e sólidas.
Antonio Samarone.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

A INTERVENÇÃO MILITAR NA SAÚDE.


A Intervenção Militar na Saúde.
(por Antonio Samarone)
A semana começou com uma derrota na luta contra a Pandemia no Brasil. O Presidente da República anunciou: “O General Pazuello comandará o Ministro da Saúde por muito tempo”.
Nada contra o oficial, deve ser competente. Não é isso!
Coordenar a Saúde durante uma Pandemia requer conhecimento da área. Imagine um médico comandando um batalhão do Exército durante uma guerra.
Na Ilíada, os médicos gozavam de um prestígio superior ao dos guerreiros. No canto décimo primeiro, lê-se uma sentença proclamada pelo sábio Nestor: “Vale por muitos um homem que é médico, (que sabe) extrair flechas e aplicar medicamentos lenitivos nas feridas”.
Os medicamentos no Brasil serão aplicados pelos guerreiros.
Em obediência a uma determinação superior, a primeira medida do General Pazuello foi modificar as Diretrizes para Diagnóstico e Tratamento da COVID -19 (protocolo), introduzindo a cloroquina no tratamento dos casos leves.
O Ministério da Saúde foi criado por Getúlio Vargas, em julho de 1953. Nos últimos dez anos, por lá passaram 09 ministros. Nem esquentaram a cadeira. Enquanto o sanitarista Waldir Arcoverde foi ministro por seis anos (1979/85). Passamos a ter Ministros efêmeros.
Ao longo da história, o Ministério da Saúde cometeu erros e fez coisas absurdas, mas alterar um documento técnico (protocolo) com a discordância do mundo científico é a primeira vez.
Como curiosidade, já tivemos um sergipano comandando o Ministério da Saúde (1972/74). O Dr. Mário Machado de Lemos. Mario era irmão do Deputado Federal e médico Eraldo Lemos. No verbete de Mario no site do MS, consta que ele nasceu em Penedo. A família é toda sergipana.
Por falar em Sergipe.
A pandemia corre solta em Sergipe. O último boletim epidemiológico (20/05) aponta 4.277 casos e 69 óbitos. 2.716 doentes isolados no domicílio, monitorados pela própria consciência. Sem contar 24 óbitos aguardando o resultado dos exames, o cidadão morreu antes.
Não pense que essa lentidão é específica do SUS. Um amigo foi fazer o teste (PCR) - numa clínica privada em Aracaju, pagou R$ 360,00 e o resultado só sai em 10 dias.
No último decreto de isolamento social do Governador, ele ameaçou: se o isolamento não aumentar eu decreto o lockdown. Dessa vez eu vou fiscalizar com dureza! Muita gente pensa que foi só para meter medo. Ele estava ressentido com os líderes empresariais.
O enigmático é a cobertura do isolamento social em Aracaju, o menor entre as cidades da Região Metropolitana. A cobertura do isolamento em Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros é maior que em Aracaju.
Alguém sabe explicar?
Não é falta de vontade política do Prefeito de Aracaju, o que ele mais queria era que desse certo.
A verdade é que as medidas de prevenção da Prefeitura de Aracaju não estão funcionando. A prefeitura bota gente no aeroporto, mede a temperatura de feirantes, faz cercadinho para os usuários da CEF, lava o calçadão da treze com água sanitária, organiza a fila do peixe, distribui máscaras, borrifa os terminais de ônibus, toma mercadoria dos ambulantes. Todo dia é uma novidade.
E o que está errado?
Observem que essas medidas de prevenção da Prefeitura de Aracaju são efêmeras, aleatórias, dispersas, sem continuidade. Muita fumaça e pouco fogo.
Pode ser isso?
O tempo passa, a Pandemia avança sobre Aracaju, e a cobertura do Isolamento Social não passa de 45%. O ideal é de 70%. Aracaju passa longe.
Vamos aguardar os próximos passos das autoridades.
Antonio Samarone.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

ISOLAMENTO SOCIAL OU CLOROQUINA?



Isolamento Social ou Cloroquina?
(por Antonio Samarone)
O Brasil está dividido em duas estratégias conflitantes, quanto a forma de enfrentamento a Pandemia. O Vírus tira proveito e corre solto.
A primeira, comandada por Estados e Municípios, onde, na ausência de vacina e tratamento seguem a orientação da OMS, decretando o isolamento social e, nos casos mais graves, o lockdown.
A segunda, comandada pelo Governo Federal, condena o isolamento social por afetar a economia. Entende que a doença não tem a gravidade apregoada pela imprensa e que existe um tratamento eficaz.
A cloroquina faz parte do protocolo do Ministério da Saúde, por decisão do Presidente da República. O laboratório do Exército está produzindo o medicamento em larga escala. É uma política do Governo.
Os dois grupos travam uma guerra encarniçada nas redes sociais, onde vale tudo. Não existem sinais de entendimento.
O isolamento social encontra a resistência natural das pessoas afetadas economicamente. Em outros países, o Governo toma medidas de ajuda econômica, para a redução desses agravos.
No Brasil, essas medidas são de competência do Governo Federal, que é contra o isolamento.
O isolamento social encontra resistência das pessoas, que por sua condição social, não podem cumpri-lo em condições dignas. Uma coisa é o isolamento em um condomínio fechado na praia, outra é o isolamento numa vila de quarto, em habitações desumanas.
Segundo Guilherme Benchimol, Presidente da corretora XP: o pico da doença já passou para a classe média e alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo.” A doença agora é só dos pobres.
A onda negacionista é essa percepção de se estar fora de perigo.
O isolamento social encontra resistência ideológica dos que acreditam que a cloroquina seja eficaz no tratamento da doença e, vão além, que o medicamento possui uma ação preventiva.
Não é uma crença de gente desinformada. Muitos médicos além de prescreverem, se necessário, usam preventivamente. Trump não está só. A cloroquina já é distribuída para pessoas com sintomas leves, que são acompanhadas em suas casas.
Eu não discuto mais sobre a cloroquina.
Mesmo que ela não possua nenhum efeito químico sobre a covid - 19, possui o efeito placebo. É cientificamente comprovado que existindo uma crença forte num medicamento, ele funciona pelo efeito placebo. Acreditando, as pessoas se sentem melhor.
A história natural da covid – 19 aponta que 95% dos casos são leves e assintomáticos, vão evoluir para a cura, com ou sem remédios. Dos 5% de casos graves, uma parcela menor vai lotar as UTI, e desses, uma parcela morre. Claro, tem os que morrem sem acesso aos respiradores das UTI.
A tragédia é que essa minoria que morre é muita gente. Por isso luto pelo isolamento social, por acreditar que essas mortes podem ser reduzidas e o isolamento ajuda.
A vida sempre valeu pouco no Brasil.
A Pandemia exacerbou a escolha entra a vida e a economia. Os estragos econômicos são apontados pelo Governo Federal e pelo empresariado. Eles estão acontecendo no mundo.
Os que são contra o isolamento social apostam que depois, quando a tempestade sanitária passar, quando os mortos estiverem sepultados, quando a situação econômica piorar, o desemprego assolar, a miséria bater em muitas portas, haverá um desespero. Ninguém vai morrer de fome com os braços cruzados.
A luta política pela responsabilização da tragédia está em seu início.
Por outro lado, a opção de deixar a Pandemia cumprir o seu ciclo, sem isolamento social, que a população se imunize pelo contato, se mostrou uma desgraça maior para quem tentou.
O lockdown em Sergipe é impraticável. o Estado, felizmente, não tem a capacidade repressora necessária, nem detém a legitimidade para exigir sacrifícios de ninguém. Eles não conseguem por decreto, nem um isolamento social aceitável.
O desentendimento social em Sergipe chegou a extremos.
O povo desconfia até dos políticos testados positivos, mesmo eles apresentando o resultado dos exames. Acham que são todos saudáveis ou com sintomas leves. Ficam simpáticos, podem desaparecer por 15 dias e o vírus deles é manso.
Os ricos não querem o lockdown porque não precisam, não se sentem mais ameaçados com a Pandemia, acham que o pior já passou.
Os pobres têm medo da Peste, mas desconfiam do Estado. Acham que eles receberam muito dinheiro do Governo Federal para a Pandemia e estão tirando proveito.
O povo tem razões para a desconfiança:
"Nós sempre morremos à míngua, os serviços de saúde sempre nos foram negados, sempre enfrentamos filas intermináveis por um exame, por uma ficha para um médico. E agora o estado que defender a nossa saúde"?
A vida vale pouco no Brasil.
A ausência de uma estratégia unificada e de líderes acreditados, apontando os caminhos, agrava a Pandemia no Brasil.
O resultado é um Estado errático e inconsistente, incapaz de proteger grande parte da população da doença e dos efeitos econômicos da pandemia.
Antonio Samarone.