Trabalho Médico
Antonio Samarone de
Santana.
Academia Sergipana de
Medicina.
Ao longo da história, o trabalho
médico foi subdividido ou reagrupado em atividades profissionais distintas e em
especializações e sub-especializações, correspondendo ao aumento de complexidade
da assistência à saúde. Até aí, tudo bem, a divisão social do trabalho é
característica do trabalho humano tão logo ele se converte em trabalho social,
isto é, trabalho executado na sociedade e através dela.
Entretanto, o que ocorreu recentemente
foi o parcelamento do cuidado médico, a divisão em pequenas operações batizadas
de “procedimentos”, executados por profissionais diferentes, sem comunicação
entre si, sem hierarquia, sem coordenação, tornando o médico inapto para
acompanhar o cuidado como um todo, perdendo de vista o ser humano em sua
individualidade. A Associação Médica Brasileira (AMB) agrupou essa fragmentação
em 4.600 procedimentos distintos, por enquanto. Esta divisão imposta pelo
mercado, sob o comando do capital, levou a desvalorização do trabalho médico e
a sua menor remuneração. Passou a ser um trabalho de baixa complexidade, onde
um pequeno treinamento pode torná-lo habilitado para a realização de suas
tarefas, resumidas na execução de alguns poucos procedimentos.
Enquanto a divisão social do
trabalho subdivide a sociedade, a divisão parcelada do trabalho subdivide o homem,
e enquanto a subdivisão da sociedade pode fortalecer o indivíduo e a espécie, a
subdivisão do indivíduo é um menosprezo das capacidades e necessidades humanas.
Ao parcelar o trabalho médico em procedimentos, o mercado desvalorizou o
trabalho dos profissionais, para valorizar o emprego do trabalho morto,
incorporado à tecnologia e sob comando e direção do capital.
Quando a assistência destina-se a
condições agudas de saúde, esses procedimentos usados corretamente, de forma
rápida, apresentam uma razoável eficácia; contudo, quando se destinam ao
atendimento de condições crônicas de saúde (80% do total), que exige um
acompanhamento em longo prazo, envolvimento do paciente, cuidados continuados e
integrais, intervenção em equipe, etc. os procedimentos médicos tem se mostrado
ineficazes, quando não iatrogênicos. O que se mostrou eficaz para aumento da
lucratividade do capital que comanda a saúde, tem sido limitado na redução do
sofrimento humano e de impacto zero sobre os indicadores de saúde da população.