Eu acreditei em cegonhas. (por Antônio
Samarone)
Nasci antes do Concílio Vaticano
II (1961 - 1965). Vivi um tempo sob a égide do Concilio de Trento, onde o sexo
era pecaminoso e precisava ser escondido das crianças.
O Concilio de Trento (1545 –
1563), tornou o casamento obrigatório; permitindo o sexo vaginal somente com
fins de procriação. Tornou abomináveis e passiveis de excomunhão: o sexo oral,
sodomia, abortos, incestos e adultério. Essas regras valiam em Itabaiana.
A repressão sexual das crianças
era absoluta. A maternidade, o nascimento de uma criança, era obra da cegonha,
que num horário imprevisto, secretamente, trazia o bebê para junto da mãe.
Durante o parto de um dos meus irmãos, que nasceu em casa; fiquei a madrugada
acordado, de olho no telhado, esperando a chegada da cegonha.
A minha estranheza maior era que
não existiam cegonhas em Itabaiana, era a minha única desconfiança da
explicação.
Outra crueldade era a interdição do
onanismo. A doutrinação era pesada. Naquele tempo todos tínhamos um “anjo da guarda”,
um dedo duro full time, o que tornava uma simples masturbação num martírio. Na
confissão, o padre sempre perguntava se a gente tinha praticado o crime
solitário. Eu sempre mentia!
Não sei se nas mudanças dos costumes
propostas pelo novo Governo, essas coisas voltarão. A direita tem um certo fascínio
pela Idade Média. É só aguardar...
Antônio Samarone.
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