sexta-feira, 30 de abril de 2021

A MATERNIDADE DA TERRA DURA


A Maternidade da Terra Dura.
(Por Antonio Samarone)

Uma maternidade com capacidade para mais de 500 partos por mês, está sendo construída no Bairro 17 de Março, na Terra Dura, a mais de 7 anos. A maternidade terá 50 leitos de média complexidade.

A Prefeitura de Aracaju iniciou a construção em junho de 2015. A obra se arrasta por 7 longos anos, sem previsão de término.

Será uma maternidade com 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTIn); 10 leitos de Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCINCo); cinco leitos de Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa); 50 alojamentos conjuntos (mãe e bebê agrupados); duas salas cirúrgicas com três leitos de recuperação pós-anestésica; três leitos de cuidados intermediários; dois leitos de estabilização; nove leitos de aplicação de medicação e observação, e oito quartos PPP.

Não é pouca coisa, pelo menos no projeto inicial. A dificuldade será encontrar esse projeto, depois de tanto tempo.

Por que não existem cobranças dos órgãos fiscalizadores para a conclusão da obra, a imprensa não toca no assunto e a sociedade é indiferente?

Existe previsão para a Maternidade da Terra Dura começar a funcionar?

Talvez o nosso atraso seja mais profundo e os políticos apenas parte desse atraso.

Antonio Samarone (médico sanitarista)


 

terça-feira, 27 de abril de 2021

O NOME É MATAPOÃ


O nome é Matapoã!
(por Antonio Samarone)

“O homem deu nome a todos os animais, às aves e a todas as feras selvagens...” – Genesis 2:20. (Cometeu vários erros).

A Prefeitura do Aracaju acabou com os nossos bucólicos povoados, transformando-os em bairros. Saciou-se a gula da especulação imobiliária. É o chamado desenvolvimento.

Manteve os nomes originais dos povoados, fazendo duas modificações:

O esquecido e belo povoado São José, virou bairro São José dos Náufragos. Palmas! O nome ficou mais bonito, não afetou a tradição e fez uma justa homenagem aos náufragos, da Segunda Guerra em Sergipe.

Por outro lado, cometeu uma gafe. O povoado Matapoã, virou bairro Matapuã. Creio que por ignorância.

Matapoã, significa mata redonda, mata bonita, é um povoado de Itabaiana, onde nasce gente inteligente e troncha. Gente sem pescoço e malformada de corpo, com a cintura, quando existe, debaixo do sovaco. As batatas das pernas pesam mais de 5 kg, cada uma. Por outro lado, a maioria dos gênios de Itabaiana é de lá.

Pois é, o povoado Matapoã em Aracaju, recebeu esse nome em homenagem a Família Teixeira. Os famosos gordinhos da Norcon, Luiz e Tarcísio, montaram uma chácara na região. O povo passou a chamar de Matapõa, uma clara referência a Dona Caçula, matriarca da família, ligada à Matapoã dos agresteiros.

Quando eu era menino, em Itabaiana, o povo chamava de Maitapã, onde viveu a tribo “Mathiapoa”, da Nação Tupinambá.

Os meus ancestrais, quando chegaram de Portugal, na primeira metade do século XVIII, montaram as suas tendas de ferreiros na Matapoã. Portanto, tenho legitimidade para pleitear a revisão do nome.

Matapuã é o nome de uma Casa de Material de Construção, em Aracaju.

Sua excelência, envie uma emenda à lei que criou esses bairros.

O bairro chama-se Matapoã.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)


 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O CHORO DO COVEIRO


O Choro do Coveiro...
(por Antonio Samarone)

A imprensa não fala dos mortos, mas do número de óbitos.

Não sei e não quero saber de quem foi a infame ideia, mas em Aracaju, a relação dos mortos pela Covoid-19 é divulgada diariamente, sem os nomes das vítimas. Se não bastasse, divulgam as comorbidades de cada um, numa tentativa de esconder a gravidade da Pandemia.

Diz a Prefeitura de Aracaju em seu boletim: morreu de covid-19! E cita as comorbidades. Enfatizando que as vítimas estavam na fila da morte (velhos, gordos, diabéticos e hipertensos). Visivelmente, uma forma mascarada de negacionismo.

Deixar de nominar os mortos é uma forma de apressar o seu esquecimento.

Dona Genoveva vivia só e morreu só. Foi encontrada dias depois, pelo cheiro que exalava na vizinhança. Ela vivia num pequeno sítio, no povoado Sambaiba. Era aposentada do FUNRURAL.

Ninguém quis pegar na alça do caixão, com medo da Peste. Pagaram a Mané Lombriga para levá-la a última morada, numa carroça de burro. E assim foi feito.

O caixão foi comprado às pressas, na Funerária de Nego Velho.

Genoveva foi sepultada, sem os rituais cristãos, no centenário Cemitério das Flechas, construído por Conselheiro, em sua passagem por Itabaiana.

O Cemitério estava vazio. Ninguém na despedida de Genoveva, nem as almas!

Genoveva morreu aos 92 anos. A sua morte não foi registrada em cartório.

Não deixou herdeiros de sangue. O pequeno sítio e a casinha onde caiu morta, ficaram com Dona Maroca, uma vitalina, sua amiga de infância e comadre.

Genoveva passou a vida cortando fumo e vendendo rapé, na feira de Itabaiana.

No seu enterro, o coveiro Ascindino tomou uma lapada de cachaça, para evitar o pior.

Ascindino abriu e fechou os sete palmos aos prantos. Chorou e rezou um Padre Nosso, pela alma de Genoveva. Coisa rara entre os coveiros!

Eu recomendo benesses a alma de Genoveva. Descanse em Paz!

Antonio Samarone (médico sanitarista)


 

terça-feira, 20 de abril de 2021

A VOLTA DA FOME


A Volta da Fome!
(por Antonio Samarone)

Com o final da ditadura, parte da esquerda acreditou que a saída para o Brasil seria uma aliança com a burguesia desenvolvimentista. Onde encontrar esses burgueses, comprometidos com um projeto nacional?

A Aliança Democrática colocou Zé Sarney na Presidência da República. Foi essa a aliança possível com a burguesia. O “Tudo pelo Social” do Sarney terminou no Caçador de Marajás e a economia entregue a Zélia Cardoso.

Essa crença de uma burguesia nacional com interesses diversos do Imperialismo, voltada para o Brasil, acabou de vez com a chegada do neoliberalismo, durante o Governo de FHC. O capitalismo tomava novos rumos.

O mercado foi globalizado e passou a significar o mercado financeiro.

Lula foi eleito e tratou de assegurar tranquilidade a esse mercado. E cumpriu, com uma ressalva: distribuiu uma parte da renda com o andar de baixo. Não atacou as bases da desigualdade, mas criou uma esperançosa “classe C”.

Lula deu um “rosto humano” ao neoliberalismo. Naquele momento, foi possível distribuir renda e melhorar a vida de muita gente, sem mexer nos interesses da tal burguesia nacional. Pelo contrário, eles nunca ganharam tanto.

O capitalismo mudou muito. O pacto com o Centrão acabou e Dilma foi golpeada aos pontapés.

O neoliberalismo avançou ferozmente, suprimiu direitos sociais e trabalhistas, precarizou as políticas sociais e elegeu um fascista despreparado.

O “mercado”, como diz a imprensa, continua agitado, sedento por sacrifícios humanos. Ele exige a sua parte, sem concessões. Que se apertem os cintos...

Os pobres não cabem no orçamento!

Como se não bastasse, veio a Pandemia. A sociedade brasileira encontra-se profundamente dividida e com um futuro incerto. A desigualdade social avançou e o desemprego ameaça a sobrevivência dos trabalhadores.

A fome retornou faminta, voltou a ser o nosso principal problema, o mais urgente.

Como sair dessa tempestade? No momento apresentam-se três alternativas:

1. Deixar a extrema direita com o atual projeto, que no final dará certo;
2. Optar por uma direita “civilizada”, num arranjo Dória/Ciro/ACM Neto;
3. Dar uma nova chance ao projeto Lula/PT.

Nenhum desses projetos visa romper com a Ordem Capitalista.

Antonio Samarone (médico sanitarista)


 

domingo, 18 de abril de 2021

TODA MORTE É PREMATURA


Toda Morte é Prematura.
(por Antonio Samarone)

Na entrada do “Whiskynão”, encontrei um velho amigo, ex-Vereador do Aracaju, e tivemos a mesma reação de alegria: até agora, escapamos! O nosso medo disfarçado da morte foi explicitado às gargalhadas.

A razão deseja a imortalidade.

Trezentos e setenta mil óbitos chocam menos que a morte trágica de um amigo. Na verdade, o inaceitável é a própria morte. O nosso ressentimento contra a finitude está enraizado no inconsciente.

“A morte propriamente dita é a própria morte.” - Heidegger

Somos a única espécie que sabe previamente que vai morrer. Os outros animais só descobrem no corredor da morte, nos instantes finais.

O instinto de sobrevivência é inato, a morte é aprendida. Logo cedo aprendemos que somos mortais, por “ouvi dizer”. Essa certeza incômoda é aprendida e precisa ser afastada da nossa mente. No fundo, desconfiamos desse destino e temos a ilusão que escaparemos.

É trabalhosa a aceitação da verdade bíblica: “Pulvis es et in pulverem reverteris”.

Na evolução, quando o “Homo” descobriu que era mortal, inventou as religiões e passou a enterrar os mortos. Somos “seres humanos” porque enterramos os mortos. Enterrar é “Inhumar”, o inverso de “exhumar”.

O meu pai só aceitou a morte, já bem velhinho. Certo dia, me chamou num canto e revelou: “meu filho, acho que não vai ter jeito, vou morrer.” Eu perguntei curioso: como o senhor descobriu? Ele foi sucinto: “todos os meus amigos já se foram...”

Após o último suspiro, fecham-se os olhos dos defuntos, para evitar a grande inveja dos mortos pelos vivos.

A única prova de que vamos morrer é a morte dos outros. Se até agora ninguém escapou, eu não serei o primeiro. É um raciocínio lógico.

Antonio Samarone (médico sanitarista)