quarta-feira, 28 de setembro de 2022

A CRISE DA VERDADE

 A crise da verdade.
(por Antonio Samarone).

A inteligência artificial é uma lupa que explora o inconsciente, revelando aspectos imperceptíveis do eu, ignorados pelo próprio sujeito. Muitas vezes somos o que não sabemos. O regime de informação se apodera das camadas pulsionais, emotivas, pré-reflexivas do comportamento, anteriores as ações conscientes.

Mídia é dominação!

No início da democracia a mídia determinante era o livro. Na cultura livresca, o discurso apresentava coerência lógica. A narrativa era fundamentada. As ideias políticas fundavam-se na racionalidade e na justificação dos interesses.

O famoso debate (1854) entre o republicano Abraham Lincoln e o democrata Stephen A. Douglas durou 8 horas. Douglas defendeu as suas ideias por três horas, Lincoln replicou por outras três horas. Em seguida, cada um teve mais uma hora para debaterem questões políticas complexas.

As mídias eletrônicas de massas (televisão) destruíram os discursos racionais da política, oriundos da cultura livresca. O discurso degradou-se em show e propaganda. O público se tornou consumidor de uma representação teatral.

Nos debates políticos televisivos o que importa não é a mensagem do candidato, mas a sua performance, a sua capacidade interpretativa e histriônica. O debate político tornou-se uma forma de entretenimento. A imagem substituiu a palavra.

A TV fragmentou o discurso político, mantendo a aparência de informação. Em Sergipe, Marcelo Déda foi o líder político das mídias eletrônicas.

A televisão pode ser o império das aparências, mas ainda não é uma fábrica de fake News eficiente, falta-lhe a velocidade para improvisar os memes.

É a Era da inteligência artificial e do Big data e o fim da democracia, que são lentas, prolixas e tediosa. A política se tornou uma disputa do mercado eleitoral, por meio das redes sociais.

A sociedade da informação migrou para o Smartphone. A informação tem vida própria, não precisa da verdade. Pelo contrário, a Fake News viraliza mais fácil, são fragmentos de informações descontextualizada. Se a informação coincide com as crenças de quem as recebe, independe de confirmação.

As mídias digitais trabalham com a psicopolítica. O comportamento do eleitor é influenciado a níveis do inconsciente, como os comportamentos de consumo. Grupos diferentes recebem uma mesma informação de forma diferente, previamente estudado para cada perfil.

Nas mídias sociais a luta política se transformou numa guerra de informações (infowaes), onde a verdade não possui o menor valor. São robôs produzindo Fake News com disparos em massa, robôs produzindo memes provocantes. Os memes privilegiam as imagens.

Nem o discurso nem a verdade são virais. Argumentos e fundamentações não cabem em tweetes. A coerência lógica é estranha a mídia digital.

É impossível entender o comportamento dos candidatos e dos eleitores no atual processo eleitoral e prevê quem serão os eleitos, sem compreender a supremacia das mídias sociais na disputa.

As informações ganham vida, temporalidade, velocidade e dignidade próprias. Estão além da verdade e da mentira. A informação ultrapassa a verdade, a superpõe pela velocidade.

A verdade está condenada ao fracasso nas batalhas políticas através das redes sociais.

Mesmo as chamadas ações de rua, carreatas, passeatas, comícios, repercutem bem mais com as postagem nas redes sociais. Uma manifestação em local remoto, alcança a comunidade das redes de forma instantânea.

Estamos na Era das pós verdades. Afinal é o fim das grandes narrativa que dá início a pós-modernidade. É a morte da palavra, e com a sua morte, o fim do homem.

No início era o verbo, o logos a palavra. - Gênesis

Antonio Samarone (médico sanitarista.

OS CASAMENTOS DO BARÃO

 Os Casamentos do Barão.
(por Antonio Samarone).

O polêmico João Gomes de Melo, o Janjão do Santa Bárbara, nasceu em 18 de setembro de 1809, em Santo Amaro das Brotas, Sergipe. Foi um grande do Império. Exerceu todos os cargos na política.

João Gomes de Melo (depois Barão de Maruim) era de família rica. Entretanto, cresceu economicamente se casando, em 1833, com a viúva do Coronel Manuel Rollemberg, Maria José do Faro (Maria do Topo), dona de muitos engenhos. João Gomes ficou muito rico, com o primeiro casamento.

Pelas circunstâncias da vida, Dona Maria do Faro morreu em 1859, ficando o Barão viúvo. João Gomes de Melo se tornou o Barão de Maruim em 12 de outubro de 1848.

Com o segundo casamento, o Barão foi mais longe.

Morando no Rio de Janeiro, o Barão de Maruim casou-se pela segunda vez, em 1862, com Valentina Soares de Souza, filha do médico José Antonio Soares de Souza, cirurgião-mor do exército de Napoleão, e da poetisa francesa, de família nobre, D. Antoinette Gabrielle Madeleine Gibert.

Os pais de Valentina morreram cedo, deixando-a órfã. Ela foi criada pelo irmão famoso. Dona Valentina, a Baronesa de Maruim, era irmã de Paulino José Soares de Souza (Visconde do Uruguai).

Com esse segundo casamento, João Gomes de Melo se tornou um comensal da família imperial, amigo de Pedro II.

A indicação de Inácio Barbosa para presidir a Província de Sergipe, em 7 de outubro de 1853, teve o dedo do Barão de Maruim. A Assembleia Provincial que decidiu a mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju, ocorreu no engenho Unha de Gato, de propriedade do Barão.

O Barão de Maruim foi o presidente da Provincia de Sergipe, durante a grande Peste de Cholera Morbus, de 1855.

Em 21 de março de 1861, o Barão de Maruim foi nomeado Senador Vitalício do Império, cargo que ocupou por 28 anos, até a sua morte, em 23 de abril de 1890, no Rio de Janeiro.

Em 1937, o seu corpo foi transladado para a Igreja Matriz de Maruim, onde se encontra. Aliás, igreja que ele tinha construído com recursos próprios.

Não avaliarei a sua importância política, nem o seu papel na transferência da Capital para Aracaju, apenas uma constatação: além do amor, ele teve bons motivos (riqueza e poder) para os casamentos. O Barão de Maruim deu sorte no amor.

O Barão dá nome a uma das principais avenidas do Aracaju.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

O NOVO NIILISMO

 O Novo Niilismo (nihil).
(por Antonio Samarone).

O niilismo do século XIX pretendia recriar os valores. O antigo niilismo foi resumido numa sentença de Nietzsche: “Deus está morto.”

O atual niilismo, ao contrário, suprime todos os valores. A narrativa é substituída pelo Bigdata, a teoria pela informação.

A dualidade verdade/mentira acabou. Antes, o mentiroso reconhecia a verdade, apenas estava semeando confusão. Hoje, a diferença verdade/mentira foi anulada, os fatos e a realidade são desconsiderados.

Está confuso? Vamos clarear...

O fim das grandes narrativas dá início a pós-modernidade, nasce a sociedade da informação. Inicia-se a Era da pós verdade. A mercadoria substitui a verdade.

Os Fake News não são mentiras, apenas afirmam o que lhes convém. Os Fake News são indiferentes à verdade, pertencem a um mundo da pós verdade.

O mentiroso reconhecia a existência da verdade, hoje, a verdade é ignorada, deixa de existir.

Não se fala merda apenas por desconhecimento, fala-se também por indiferença à verdade. A liberdade de opinião se transformou na fragmentação do pensamento, no fim das referências, na legitimação do “achismo”, onde cada um tem a sua verdade, ou seja, o fim da verdade factual.

Quando a extrema-direita bolsonarista afirma que está lutando contra a “ameaça comunista”, mesmo inexistindo essa ameaço, eles não estão simplesmente mentindo, apenas desconsideram convenientemente a realidade.

É o fim dos sistema verdade/mentira.

Nem a verdade prevalecerá, nem a mentira tem pernas curtas. A dualidade verdade/mentira acabou e a verdade morreu. A ordem digital aboliu a solidez dos fatos. “Tudo o que era sólido se desmanchou no ar.”

A fotografia analógica era prova da realidade factual. Foi assim, veja a foto! A fotografia digital produz uma realidade editável, nova, indiferente a factualidade.

A informação é aditiva e cumulativa, a verdade é narrativa e exclusiva. A sociedade da informação é esvaziada de sentido, uma sociedade da desconfiança.

Estamos presos numa Caverna de Platão digital. Essa é a base do novo niilismo.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

MANUEL BATISTA ITAJAY


 Gente Sergipana.
(por Antonio Samarone)

Manoel Batista Itajay (1859 – 1918), médico lagartense, formou-se na Bahia, em 1886. Chegou à Itabaiana em 1888, montou consultório e farmácia, na Praça da Feira.

Assumiu a delegacia de polícia em 1889, implantando uma rigorosa política de costumes. Proibiu que os tabaréus andassem de ceroulas na cidade. Foi um Deus nos acuda: os homens, mal-acostumados com os celourões folgados, tiveram que vestir calças.

Os meninos, até um dia desses, vestiam um “chambre”, um vestidinho de algodão, fechado, branco, unissex. Eu vesti calça comprida aos sete anos.

Batista Itajay casou-se com Carlota Alves Teixeira, uma fidalga da terra, facilitando a sua entrada na política, tornando-se o chefe local dos Cabaús, liderado por Olímpio Campos.

Batista Itajay foi delegado de Higiene em 1899 e depois eleito Intendente de Itabaiana (1900 – 1901), vice-governador (1908 – 1911). Foi deputado estadual por várias legislatura.

No cargo de vice-governador, Batista Itajay se meteu em uma grande confusão.

A chapa Rodrigues Dória/ Batista Itajay tomou posse no governo em 24 de outubro de 1908. Rodrigues Dória era propriaense, um borboletão de hábitos sofisticados, intelectual, professor da faculdade de medicina na Bahia, não se adaptou à vida provinciana.

Para completar, o senador eleito por Sergipe, Desembargador Guilherme de Campos, estava enfrentando dificuldades para o reconhecimento da sua eleição. Isso assanhou Rodrigues Doria, louco pelo Senado, para ir morar no Rio de Janeiro.

Em 10 de julho de 1909, para facilitar a sua ambição pela cadeira de Guilherme de Campos, o Dr. Dória arrumou uma doença e partiu para a Bahia. Rodrigues Dória deixou uma carta renuncia assinada com o Secretário Geral do Governo, Nobre de Lacerda. Caso resolvesse renunciar, mandaria a autorização para publicá-la.

Na prática, ele estava contando tempo de desincompatibilização. Caso a vaga no Senado continuasse vaga, ele estaria apto para disputá-la. Foi uma “renúncia” interesseira. Não foi por ingenuidade.

Rodrigues Dória estava enfastiado com a vida sergipana, queria o Senado. Rodrigues Dória era um solteirão erudito, viciado em teatro, música clássica e viagens a Paris. Aracaju no começo do século XX, tinha poucos atrativos culturais.

O diabo atentou, e Batista Itajay publicou a carta de renúncia, sem autorização do renunciante, e assumiu o governo em definitivo. Foi um corre-corre. Foram buscar Rodrigues Dória no laço, para ele reassumir à força. Ainda tacharam Itajay de traidor. O desgaste de Itajay foi enorme.

Rodrigues Dória era um homem mufino, medroso, não enfrentava o estado maior dos cabaús, gente bruta e decidida. Se diz em Itabaiana, em defesa do seu líder, que Dória autorizou a Nobre de Lacerda, seu amigo, que publicasse a renúncia. Quando a bomba explodiu, ele negou a autorização e reassumiu o governo, com a ajuda de forças federais.

Em 13 de novembro de 1909, as forças federais reempossaram Rodrigues Dória no Governo e começou o declínio de Itajay.

Rodrigues Dória, mesmo sem suportar a vida em Sergipe, concluiu o mandato com impaciência. Renomeou o mesmo Nobre de Lacerda, para cargo de Secretário Geral. Dória desconhecia Sergipe e a administração pública. Ele só conhecia três cidades: Propriá, Laranjeiras e Aracaju.

No final, o Professor Rodrigues Dória passou faixa de governador para o General Siqueira de Menezes, que nem era peba, nem cabaú.

"O Dr. Itajay era um homem pessoalmente bom, talvez um tanto ingênuo, que depois de conquistar o título na Faculdade de Medicina não procurou progredir, vivendo em Almas de Itabaiana. Não tinha cultura e desembaraço para mover-se sozinho, e quando lhe faltou o assessor, o espírito santo de orelha, encolheu-se sobre si mesmo, ficando politicamente inutilizado. Após grandes abalos porque passou, apresentou sinais de doença gástrica irreversível, e veio a falecer com grandes padecimentos, em 31 de janeiro de 1918." - Edilberto Campos, 

Apagou-se o facho de Itajay. Desgastado, idoso para a época, sem a proteção dos Cabaús, avançou para o declínio e a morte. Faleceu em 1918, em Aracaju, aos 59 novos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

sábado, 24 de setembro de 2022

MEUS BRINQUEDOS


 Meus brinquedos.
(por Antonio Samarone)

O primeiro brinquedo que guardei na lembrança, foi um apito de som anasalado, fanhoso e fino, que achei no banco da igreja. Um apito com ruídos irritantes e sem graça. Mesmo assim, eu me apeguei. Mamãe tinha medo de que eu engolisse, por isso jogou fora.

Nunca prestei a atenção à música. Não separava som de ruído. Nasci chorando alto, aos berros. Nunca soube nem assobiar direito. Não dei certo no coral da igreja, nem na filarmônica de Antonio Melo. Mesmo assim, o meu segundo brinquedo foi um realejo de taquara.

Depois colecionei boi de barro. Mamãe sempre trazia da feira. A minha coleção fazia inveja aos meninos bestas. Depois os bois começaram a quebrar as pernas e não ficavam mais em pé. Esse fato permitiu o meu primeiro insight de inteligência: quebrei as pernas restantes e me tornei um fazendeiro de bois cotós.

Carrinho eu não sabia fazer, nem de lata de sardinha. Ximava os carros de madeira do filho de Seu marinho. Pareciam carros de mesmo. Brincava também empurrando um roda de borracha com um arame adaptado. Não sei descrevê-lo, mas gostava muito.

Na brincadeira, já celebrei missas e fiz comícios com um funil de flandres. Meu pai me levava para os comícios de Manoel Teles, do Partido de Leite Neto.

Brinquei muito na rua: cantigas de roda (pobre de marré deci), de manja, pé em barra, cipó queimado, bola de maraite, furão, mãos ao alto (mões), esconder, cipó queimado, pau de sebo, quebra pote e pipa. Tudo era aproveitado e virava brinquedo.

O brincar de bola era o rei das brincadeiras. Jogar pelada com bola de meia, na rua, estropiando os dedos e ralando os joelhos. Se fosse uma modalidade olímpica, o Santos do Beco Novo seria medalha de ouro. Depois apareceram as bolas de borracha e de plástico (a bola Pelé). Sempre descalços.

A bola de couro nunca chegou para o meu bico.

O sonho de sair da pobreza através do futebol, ser um jogador profissional, foi uma decorrência das duas Copas (58 e 62), vencidas pelo Brasil. Todo menino se acha um craque.

Como todo menino pobre, eu sonhava com um velocípede. Entretanto, se existisse Papai Noel no Beco Novo, eu teria pedido uma bola de couro, número cinco. E não um velocípede. O primeiro menino de minha rua que ganhou uma bola de couro, foi Benjamin de Seu Bebé.

Nada tenho a me queixar da infância, nada. Vivi a vadiar.

Por sorte, mamãe me botou na escola e exigiu a minha frequência. Mamãe nem batia, nem castigava, dava conselho. “Meu filho o certo é assim! Se você seguir o caminho errado, o mundo lhe ensina. Com uma diferença: eu lhe ensino com carinho e o mundo ensina na pancada.”

Precisei trabalhar cedo (aos 15 anos). Logo descobrir que a escola seria a minha salvação. E foi! Na verdade, eu brincava mais do que estudava. Só comecei a estudar para valer, para não ficar por baixo dos meninos que foram estudar em Aracaju. Pura competição.

Depois viciei em leituras. Virou um divertimento.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

UM RAIO DE LUZ NAS TREVAS


 Um raio de luz nas trevas.
(por Antonio Samarone)

O Dr. Sinval Andrade me presenteou com um livro de sua autoria: “Manual Básico de Cromoterapia”, ou seja, a terapia através da luz. Pelo título, achei tratar-se de uma excentricidade.

A produção de livros em Sergipe se aproxima da nulidade, estimulada pela charlatanice literária, pela proliferação de academias e do relativismo cultural.

Na comunidade médica não é diferente. Muita lixo é publicado com a capa de “artigo científico”, apenas para reforçar formalmente currículos pessoais.

A medicina de mercado não produz teorias, ciência, filosofia, narrativas e reflexões. O mercado trata da produção e do consumo, da produtividade e do lucro. Tempo é dinheiro, não existe espaço para a reflexão.

Fiquei curioso com o livro do Dr. Sinval Andrade.

O livro é profundo, consistente, fundamentado, destrincha a bioluminescência, trata do papel dos biofóton na regulação da vida.

A luz, como se sabe, anda numa velocidade de 300 000 km/s, e a sua importância nos fenômenos vitais não pode ser ignorada.

Deus começou a criação do mundo pela luz; “Fiat lux” (que aja luz). A narrativa criacionista entendeu a importância da luz.

Diz o professor Sinval, em seu livro:

“Os biofótons se originam no DNA e fazem parte de um sistema de comunicação entre as células e entre elas e todos os órgãos, incluindo aqueles que não estão conectados à rede nervosa. A luminescência se desenvolve em uma campo eletromagnético, coordena todos os processos bioquímicos e regula a transmissão de informações nos seres vivos.”

Não se trata de esoterismo, nem filosofias orientais mal assimiladas, nada, não é magia, é pura ciência. Sinval avança defendendo o uso desses fótons luminosos terapeuticamente.

Eu não possuo formação na física para emitir juízo de valor.

O livro avança em conhecimentos técnicos sobre o uso terapêutico da luz, com descrição da ação de cada uma. Fiquei surpreso com a existência de cores espirituais: a turquesa espiritual, verde-luz, púrpura e rosa.

O livro de Sinval trata do uso terapêutico dos raios gama, do infravermelho e do ultravioleta. Trata de aspectos conhecidos e desconhecidos do uso da luz.

“O vermelho é uma cor quente, 620 – 740 nm, com grande poder de penetração, estimula o fluxo sanguíneo, coração, pulmão, rim, ossos e músculos. É uma cor antidepressiva.”

Se entende a importância do pau brasil no século XVI, ele permitiu a coloração vermelha dos tecidos, a cor preferida pelos Papas.

O saber médico abandonou o paradigma humoral dos gregos, assumiu, no século XIX, o paradigma celular de Rudolf Ludwig Karl Virchow e, mais recentemente, o paradigma molecular, com a síntese do genoma humano. O Professor Sinval Andrade retoma com brilho ao paradigma hipocrático.

Gente, com um título simples (manual básico de cromoterapia), o Itabaianense Dr. Sinval Andrade dos Santos, de forma despretensiosa, produziu um grande livro.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

A GRANDEZA DE MARUIM


 A Grandeza de Maruim.
(por Antonio Samarone)

“Tabaiana dá cebola, tapioca e mudubim; Propriá, arroz furado, pilombeta e surubim; Dores dá enforcado; cachaça só Maruim”. João Canário.

Hoje pela manhã assisti a uma conferência da professora Lúcia Marques sobre Maruim. Uma aula espetáculo, no estilo Suassuna.

O Gabinete de Leitura de Maruim reviveu seus dias de glória.

A professora Lúcia acentuou a grandeza de Maruim na segunda metade do século XIX, falou sobre a revolta de Santo Amaro, o Porto das Redes, a alfandega, o Consulado alemão, as cartas de Adolphine, Condessa alemã, vítima do cólera.

Falou da visita do Imperador Pedro II, falou da cultura, da vida do povo, da construção da Igreja, do Barão de Maruim, tudo com muita graça e leveza.

Falou do médico humanista Alcides Pereira, do dr. Chico Fonseca, o maior clínico de Sergipe, do gênio Luciano José dos Santos.

Falou das epidemias de Maruim: da febre palustre, do cólera, e da maldita tísica, que ceifou milhares de vidas.

Foi em Maruim, no povoado Caititu, onde o meu bisavô, o ferreiro Bernardinho José de Oliveira, que ia a maruim em 1936, montado em seu burro, comprar ferro, foi atropelado pelo trem. O IML não conseguiu separar o que era do meu bisavô e o que era do animal. Foram sepultados juntos.

A professora Lúcia falou dos lagartos da Cotinguiba, empalhados no Museu Nacional que pegou fogo, no Rio de Janeiro.

Falou do Ganhamoroba e dos seus pescadores.

O Gabinete de Leitura de Maruim estava lotado, e quem foi, saiu encantado com a conferência da Professora Maria Lúcia Marques Cruz e Silva.

Esse é o Sergipe profundo.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

GABINETES DE LEITURAS EM SERGIPE

 Gabinetes de Leitura em Sergipe.
(por Antonio Samarone)

A Academia de Medicina marcou uma visita ao gabinete de leitura de Maruim, instituição cultural criada em 1877. Não foi o primeiro, em 1860 tivemos um gabinete de leitura em Aracaju e, em 1875, tivemos outro em Ibabaiana. O gabinete de Maruim é o único em funcionamento.

Os Gabinetes de Leitura eram instituições culturais, com alcance social, com debates literários, políticos e científicos. O Gabinete de Maruim foi um antro de conspiração republicana em Sergipe. Lá discursou o rebelde médico baiano, Domingos Guedes Cabral.

O Brasil viveu uma onda de criação de Gabinetes de Leitura, no século XIX. O Gabinete Português de Leitura, criado em 1837, ainda funciona no Rio de Janeiro.

O Gabinete de Leitura de Itabaiana, que funcionava na Rua das Flores, foi criado em 28 de fevereiro de 1875. Teve vida efêmera. Foi a criação do inquieto Manoel Damásio Pereira Leite, um seminarista que virou professor. Um apaixonado pela cultura francesa, talvez tenha se inspirado nas “boutiques à lire”.

Assinaram o livro de ata da fundação do gabinete de leitura de Itabaiana: Professor Manoel Damásio Pereira Leite, Alferes Joaquim José de Oliveira Mesquita, Tenente Manuel Álvares Teixeira, Antonio de Oliveira Bezerra, Tenente Antonio dos Santos Leite, Capitão Manuel Joaquim de Carvalho Lima, Tenente José Teles de Góis, Professor Olímpio Pereira de Araújo, Alferes Antonio Joaquim de Oliveira Noronha, Guilhermino Amâncio Bezerra, José Amâncio Bezerra, Jose Martins Fontes, Tenente Marcelino de Melo Cardoso, Esperidião Zamiro de Sousa Lopes, Tenente José da Costa Fonte, Capitão Francisco Julião de Lemos, Dr. Francisco Dias César, Tenente-coronel Antonio Carneiro de Menezes, Samuel Pereira de Almeida, Antonio Cornélio da Fonseca, Tenente José Caetano de Távora, Alferes José Verano de Carvalho Lima, Francisco Farias de Barreto Freire, Antonio Pinheiro de Melo e Salustiano de Carvalho Lima.

Segundo o pesquisador Sebrão sobrinho, o gabinete de Itabaiana tinha por objetivo facilitar aos seus membros a instrução pela leitura dos bons livros e jornais, especialmente os nacionais. Porém, a principal função era oferecer o ensino básico à juventude Itabaianense.

O gabinete foi a mais democrática instituição de ensino surgida em Itabaiana, no século XIX. Os melhores professores de Itabaiana estavam no Gabinete. Num primeiro momento, recebeu mais de 70 matriculados.

No primeiro ano havia quatro professores: Olimpio Pereira de Araújo, Guilhermino Bezerra, Damásio Leite e Antonio Joaquim de Oliveira Noronha. As disciplinas ofertadas eram: Primeiras letras (professor Olímpio); Matemática elementar, Língua, Literatura nacional e Catecismo (Guilhermino Bezerra); História do Brasil, Geografia Moderna e Língua francesa (Damásio Leite) e Música (maestro Antonio Joaquim de Oliveira Noronha).

José Martins Fontes, juiz de Direito e posteriormente Presidente da Província, foi eleito presidente do gabinete de leitura de Itabaiana. Quando Presidente da Província nada fez pelo Gabinete, pelo contrário, transferiu o professor Manoel Damásio, o mais entusiasta pelo Gabinete, para a povoação de Nossa Senhora das Dores dos Enforcados, atual cidade de Dores.

A morte do professor Manoel Damásio, em 10 de janeiro de 1881, foi a morte do Gabinete de Itabaiana. Desgostoso, pobre e doente de beribéri. Morreu em Itabaiana, buscando a cura da sua enfermidade com a mística da Serra de Itabaiana.

A sua alegria era ver o letreiro do Gabinete estampado na porta da Instituição. Pelo contrário, a sociedade itabaianista, omissa e descuidada com a cultura, calou-se frente à agonia do Gabinete.

Itabaiana só voltou a falar em livros e leituras em 1959, com a criação da Biblioteca Pública Municipal de Itabaiana, batizada com o nome do farmacêutico e rábula Dr. Florival de Oliveira, avô do meu amigo Cibalena.

Esse texto é uma apressada resenha dos estudos do competente pesquisador Itabaianense, Wanderlei de Oliveira Menezes, em trabalho publicado sob o título: GABINETE DE LEITURA DE ITABAIANA (1875-1880).

E sobre o Gabinete de Leituras de Maruim, bem, sobre Maruim, ficarei sabendo no sábado após a visita.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

A POLÍTICA ESTÁ CONFUSA EM SERGIPE

 A política está confusa em Sergipe.
(por Antonio Samarone)

Por que os candidatos da situação (Mitidieri e Rogerio), ainda não decolaram? Por que, até agora, nem a máquina viabilizou o primeiro, nem Lula viabilizou o segundo?

A pergunta mais difícil: por que Valmir de Francisquinho, um “outside”, sozinho, pouco conhecido fora do Agreste, enfrentando dificuldades reais e inventadas pelo Poder, continua bem à frente nas pesquisas eleitorais?

A resposta ainda não existe. Existem pistas...

A sociedade cansou da política, na forma como funciona em Sergipe. Essa rejeição é desorganizada e se manifesta como indignação individual, através das redes sociais.

Em Sergipe, o quadro é agravado pela permanência de um mesmo grupo no Governo há 16 anos. Todos estão no Governo. O poder público voltou-se exclusivamente para beneficiar os ocupantes da máquina, para eles mesmos.

A oposição em Sergipe foi residual, simbólica, sem instrumentos de pressão. A Assembleia Legislativa é um poder decorativo, uma casa do amém. Nada de importante acontece, além de ratearem entre si os recursos públicos.

Se todos estão no Governo, para que pressa? Eles vão empurrando com a barriga. A Pandemia virou uma justificativa para a paralisia do Governo. Calma gente, estamos numa pandemia. Belivaldo descansou, foi beneficiado pela crise sanitária.

A novidade foi o crescimento da militância digital. O único espaço. Só que as redes sociais denunciam escândalos sucessivos, que se esgotam rapidamente, sem maiores consequências. As redes sociais não organizam a luta política.

O que estão de cima, como se dizia, ficaram cegos na fartura. Tudo é muito fácil: rendimentos generosos, acesso livre ao que restou dos serviços públicos. O cidadão comum, sem padrinhos, sofre em busca do básico.

Esse imenso grupo de políticos, no poder a 16 anos, pensou: na hora da eleição a gente distribui migalhas, contrata uma máquina de propaganda, informa que dessa vez será a verdadeira mudança, que vão resolver, e o eleitorado embarca na viagem.

Eles não estão entendendo, por que até agora não deu certo.

Como, se os prefeitos, os deputados, os vereadores, os comissionados, a imprensa marrom, os líderes prestigiados, porque se até nos mesmos estamos do nosso lado, a nossa família, um magote de puxa-saco, mesmo assim, o eleitorado ainda está descontente.

Aí entra Valmir de Francisquinho. O povo acredita que Valmir, além de bom gestor, não faz parte dessa panela e nem vai criar outra panela. É uma forma de vingança do eleitorado.

Se diz até que ele é inelegível, que o voto popular foi cassado. Mesmo assim, o povo tem as suas rebeldias e quer eleger o inelegível.

O que vai acontecer até 02 de outubro? Não sei...

Antonio Samarone (médico sanitarista)

DO ÓPIO DO POVO A SOCIEDADE DOPADA.

 Do ópio do povo à sociedade dopada.
(Por Antonio Samarone)

As drogas acompanham o homem. Os celtas, egípcios e sumérios era consumidores habituais do ópio. Hipócrates conhecia os tremores provocados pelo vinho. Os povos originários do Brasil consumiam o cauim.

A pós-modernidade intensificou o consumo. Não se trata de uma questão moralista, médica ou religiosa. O uso estimulado das drogas compõe um modo de vida decorrente do modelo de sociedade.

Nesse espaço, tratarei apenas do álcool. Houve uma disputa histórica de narrativas: o alcoolismo é uma doença que merece um tratamento ou uma depravação moral, que merece punição. Ou o tratamento é a forma mais eficaz de punição?

Os alcoólicos anônimos, a forma mais eficaz de controle, oscila entre os discursos de autocontrole e de patologia.

Por que o alcoolismo deixou de ser um problema de Saúde Pública, uma ameaça à sociedade? Como andam a dependência, o delirium tremens, a cirrose e a neuropatia alcoólica?

O alcoolismo tornou-se um problema médico somente a partir da segunda metade do século dezenove, passando a ser incluído entre os transtornos mentais. Antes, a embriaguez era um vício.

Além da medicalização, os alcoólatras passaram a ser “tratados” (ou segregados) em asilos de insanos. O combate ao alcoolismo gerou debates morais, econômicos e criminais. As saídas iam da prisão a grupos de alcoólicos anônimos, lares para dependentes, com promessas, em caso de abstinência.

O século XX tornou o beber descontrolado uma doença. O alcoolismo era parte da degeneração do discurso psiquiátrico e o “delírium tremens” um consequência temida. A psiquiatria propunha a prisão para os alcoólatras que procriassem ou a castração preventiva.

No século XXI o alcoolismo foi naturalizado, virou moda, virtude, até desejável.

Outra grande mudança: a maconha deixou de ser a erva maldita e virou remédio. A medicina reconheceu essa panaceia. Finalmente!

A importância econômica da indústria de bebidas alcoólicas, não permite que álcool figure entre as drogas a ser combatidas. Não é o potencial ofensivo da droga que define a ilicitude. Pelo contrário, o álcool é uma droga de uso estimulado. Artistas famosos, são elogiados como bebedores contumazes.

Ser um grande bebedor entre os jovens é uma virtude desejada e recompensada com elogios e aplausos. A lei só fustiga, cada vez menos, os que dirigem bêbados. Não tenho vistos blitz específicas.

A rede de destruição de bebidas alcoólicas (bares e botecos) é maior que a rede de farmácias e boticas.

O alcoolismo deixou de ser um problema de Saúde Pública, talvez nem exista.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

O PODER EMANA DO POVO


 O Poder emana do Povo?
(por Antonio Samarone)

Cientistas políticos, jornalistas especializados e palpiteiros em geral tem quebrado a cabeça para explicar o fenômeno Valmir de Francisquinho. Cada um diz uma coisa. Nada consistente.

O fato é que Valmir caiu nas graças do povo. Numa época em que o eleitor desconfia dos políticos, fala mal de quase todos, diz que são farinha do mesmo saco, embusteiros e que só aparecem em tempo de eleição.

Valmir se tornou a vingança do povo contra os políticos.

Os Gregos acreditavam que a sorte era uma dádiva divina, distribuída por uma deusa chamada Fortuna. Ela distribuía aleatoriamente a sorte entre os humanas, de forma caprichosa, ao seu modo. Perdemos a crença na deusa Fortuna, não significando obrigatoriamente que ela deixasse de existir.

Os letrados não acreditam em sorte e azar, no máximo, acreditam no acaso. O pensamento científico trabalha com a noção de probabilidade estatística. Os cristãos acreditam nas Graças de Deus. As ciências sociais, com as suas diversas metodologias, acreditam no saber acadêmico.

Eu, suspeito que a deusa Fortuna não morreu.

O velho Maquiavel ensinava que a vitória dos Príncipes dependia da deusa Fortuna, do bafejar dessa deusa, que hora dar e hora tira a sorte dos Príncipes. Acho que Maquiavel sabia o que estava dizendo. Ele achava também que a "Virtú", isto é, a competência e o talento, ajudavam na vitória.

Não há dúvidas, que nessas eleições a deusa Fortuna escolheu Valmir. Numa metáfora rural, o cavalo selado passou em sua porta e ele montou. Os seus adversários lutam para derrubá-lo no tapetão, pois no voto está difícil.

Os velhos políticos em Sergipe estão usando de tudo para impedirem a candidatura de Valmir. Ninguém os subestime, eles são poderosos. Uma velha raposa da política sergipana, me disse convicto: “Valmir não será candidato! Dinheiro só não resolve quando é pouco.”

A Justiça sendo cega, acredita no que lhe dizem. A denúncia é que Valmir em 2018, pintou um povoado de azul, para ajudar a eleição do seu filho. Isso não pode ficar por isso mesmo, vamos cassá-lo, dizem os donos do poder.

A condição humana é perversa: ao mesmo tempo que Valmir saboreia a maior glória de um político, ser amado pelo povo; por outro lado, Valmir padece de uma ansiedade devastadora, ficar esperando uma decisão imprevisível e incerta.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

A DIVISÃO DO BRASIL

 A Divisão do Brasil.
(por Antonio Samarone)

“Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar/ Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora... Mas se a sentença se anuncia bruta, mas que depressa a mão cega executa, se não o coração perdoa.” Fado Tropical

Não é de hoje, o Brasil sempre foi dividido e violento. A ideologia do homem cordial decorre do milenarismo, do paraíso tropical e do bom selvagem, ideologias europeias.

Para a pintura, tivemos duas primeiras missas, uma pintada por Victor Meirelles e a outra por Cândido Portinari.

A missa de Meirelles (pintada em 1859) destaca a congregação do invasor branco com os índios, uma harmonia entre pagãos e católicos. O Brasil era o paraíso, o quinto Império da utopia milenarista.

A missa de Meirelles foi inspirada na Carta de Pero Vaz Caminha, só publicada em 1817, na Coreografia Brasileira de Aires de Casal. Caminha pinta o índio como o bom selvagem à espera da salvação cristã.

A mesma primeira missa pintada por Portinari (1948) elimina os índios da cena. A missa é um ato unilateral de ocupação, empurrando os nativos para um beco sem saída: entre a Cruz e a Espada.

Não tivemos um genocídio humanitário e civilizador.

A colonização brasileira foi um banho de sangue, índios e negros foram consumidos na fornalha da construção do Brasil. A dominação portuguesa nunca fez concessões aos subalternos, reprimiu sem piedade qualquer rebelião.

A regra era cortar as cabeças, literalmente, degolar os derrotados.
O Brasil cordial é uma lenda. Aliás, a tortura e a matança continuam, nunca cessou.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

SETEMBRO AMARELO (2022)

 Setembro Amarelo
(por Antonio Samarone)

Benjamim Rush (1746 – 1813), pai da psiquiatria americana, foi o descobridor de três métodos de tratamento da doença mental, por volta do século XIX.

Primeiro, Rush achava que a loucura era decorrente da falta de circulação de sangue no cérebro, e como tratamento, colocava o paciente bem amarrado numa cadeira giratória, acionada com uma manivela, até que o infeliz ficasse tonto e começasse a vomitar;

Segundo, Rush também acreditava que a doidice se devia a uma sobrecarga sensorial, e como tratamento, o paciente era amarrado numa cadeira tranquilizadora, e a cabeça colocada dentro de uma caixa de madeira fechada, para que ele não recebesse estímulos;

Terceiro, o método de tratamento preferido pelo Pinel americano, era esvaziar o intestino do alienado, com um depurativo contendo 10 grãos de calomelano e 15 grãos de jalapa, até o infeliz botar os bofes para fora.

Rush, o Hipócrates da Pensilvânia, além das sangrias dos doentes mentais, foi o introdutor das chamadas “duchas frias” nos loucos. O paciente era amarrado, imobilizado, e colocado nu, numa banheira de gelo, até se acalmar.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

A FORMALIDADE DA MORTE

 A formalidade da morte.
(por Antonio Samarone)

“O que há em mim é sobretudo cansaço, não disto nem daquilo, nem sequer de tudo ou de nada: cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço.” Fernando Pessoa.

O envelhecimento é um acontecimento abrupto, repentino, que ocorre aos pulos. Chega de vez. Pacheco vive numa fronteira entre o ontem e o amanhã, insiste em não perder o seu lugar no mundo. A aposentadoria foi um duro golpe, rompeu os últimos elos da vida social.

Pacheco estava de férias de si mesmo. Ninguém sabe onde a velhice leva. A gravidade do envelhecimento depende do apego a vida cotidiana e aos sonhos. A velhice é um cansaço que o descanso não resolve.

O silencio é um atalho que evita aborrecimentos. Pacheco vive pensativo, acabrunhado, entediado, luta para aprender a não ser mais nada.

Afastou-se do mundo, escondeu-se num puxadinho da casa de um filho rico. Tornou-se um peso para a família. Os filhos não podem amparar a decadência do pai.

Entretanto, Pacheco não quer morrer, deseja apenas o anonimato, a solidão ontológica.

Os filhos, numa crise de sinceridade, decidiram procurar uma casa de repouso para Pacheco. A justificativa era racional: o valor da aposentadoria custeava as despesas e lá, ele seria bem atendido. Banho na hora certa, fraldas limpas, sofás confortáveis nos corredores e TV na Globo.

O descanso eterno começa em vida.

Pacheco sentiu-se ameaçado e impotente. O asilo é o verdadeiro cemitérios dos vivo, disse ele. Enganou-se Lima Barreto, o cemitério dos vivos não é o manicômio.

A internação em asilos suprime a identidade social, apaga a história pessoal e rompe os vínculos familiares. A ameaça do asilo, levou Pacheco ao desespero. Era as profundas do inferno.

Pacheco emudeceu, parou de comer, desligou o telefone, e foi acometido de estranhos pesadelos. Em todos, a sombra da foice da morte estava como pano de fundo. Era o conhecido pressentimento: vou morrer!

Isso durou sete dias. No oitavo, Pacheco sentiu uma dor intensa no peito, puxando para as costas, suor frio, própria dos infartes fulminante. Não tinha dúvidas, era ela, a morte. O SAMU chegou em tempo recorde.

No hospital, Pacheco recebeu um tratamento de príncipe. Fez todos os exames em tempo recorde e o Leito na UTI reservado.

Pacheco se arrependeu de alguns pecados e rezou baixinho. Antes de subir na maca derradeira, gritou a todos pulmões: “Fora o fascismo!” E deitou-se conformado.

Para surpresa da medicina os exames de Pacheco estavam em ordem: o coração batia compassado, o pulmão respirava, o cérebro pensava, o rim filtrava as impurezas.

O corpo de Pacheco dava para o gasto. A ansiedade, era o medo da morte e dos sofrimentos naturais da velhice.

O médico, educado, cientificamente bem formado, disse convicto: “Pacheco, pode ir embora, você não infartou, não foi dessa vez.” Entretanto, Pacheco tinha convicções sólidas, nada o removia da ideia do infarte fulminante.

Pacheco lembrou-se das lições do sábio Aristeu, seu professor no ginásio da Estância.

“O nosso primeiro inimigo aparece sob a forma de lobo, nos ataca de fora; depois sob a forma de rato, o ataque é subterrâneo e se combate através da higiene; o estágio seguinte é o ataque sob a forma de besouro. Finalmente, o ataque é viral, mais difícil de defender-se."

"Entretanto, na hora da morte, o ataque é neuronal, psíquico, é uma violência sistêmica e fulminante, torna a alma indefesa.”

Pacheco bradou na ante sala da enfermaria masculina: “doutor, quem infartou foi a minha alma. Os velhos não têm assento na Sociedade do desempenho, nem disputam.”

Em meu reencontro com o Pacheco, já em casa, ele foi sucinto: “estou tomado de melancolia e mau humor”, e deu uma gargalhada.

Deus proteja Pacheco desses aborrecimentos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

A NEUROSE ENGANADORA

 A Neurose Enganadora.
(por Antônio Samarone)

A histeria e a epilepsia são as duas doença mais antigas da história da medicina. Hipócrates chamava a histeria de “sufocação da matriz”.

O útero ("hystera”) era visto como uma animal caprichoso que andava pelo corpo da mulher. Na ausência do coito, a matriz (útero, mãe do corpo) ficava seca, leve e subia, sufocando as mulheres.

A histeria desapareceu da literatura médica por mil anos. Retornou na idade média com a caça as bruxas.

Nos julgamentos de bruxaria os médicos eram consultados para diferenciar a possessão demoníaca da histeria, epilepsia e melancolia. O fim dos julgamentos marcou a vitória dos médicos sobre os padres.

Thomas Sydenhan, o pai da clínica (1680), escreveu que a histeria era a mais comum das doenças, podendo agir por emoções mentais e por desarranjos corporais.

No século XIX, os vapores da histeria eram atribuídos as noites insones de mulheres desocupadas e vadias.

Jean-Martin Charcot, o criador da neurologia, trocou o exorcismo pela hipnose. Os neurologistas rejeitaram a origem uterina da histeria, classificando-a como uma doença dos nervos e a psiquiatria como uma neurose. Foi uma derrota da ginecologia.

Freud foi assistente de Charcot por dois semestres (1885 – 86).

Freud classificou a histeria como uma doença psíquica e os neurologista como um doença dos nervos. A histeria, que lotava os hospitais, se tornou rara no início do século XX, perdeu a gravidade. A histeria passou a ser confundido com dissimulação.

Após a primeira guerra, a histeria retornou, estabelecida como uma doença psíquica próxima ao fingimento. A epidemia de encefalite letárgica (1919), sequela da gripe espanhola, foi confundida como uma forma de histeria. A encefalite se caracterizava por convulsões, mutismo, letargia e catalepsia histérica.

A histeria foi despejada da neurologia, indo procurar abrigo na psiquiatria. A histeria se manifestava como possessão demoníaca ou encosto. Aliás, os exorcismos continuam com muito prestígio nos tratamentos religiosos.

A histeria era a linguagem do corpo da mulher expressando o que não poderia ser dito de outra forma. As fotos das pacientes de Charcot demonstram esta tese e continuam preservadas nos arquivos do Salpêtriére.

Freud mantinha pendurada na parede do seu consultório, em Viena, a gravura de uma dessas pacientes.

A histeria era uma eterna mímica. Não existiam histéricas solitárias.

Os sintomas da histeria foram incorporados por outras patologias e transtornos mentais. Perdeu-se como entidade nosológica.

Entretanto, “histérica” continua sendo uma agressão de conotação sexual, prevalente nas mulheres. Permaneceu a origem hipocrática, onde histeria era uma doença originada no útero (hystera) e Histerectomia a retirada cirúrgica do útero.

A histeria nas visões da medicina; a sufocação do útero, de Hipócrates; a possessão das feiticeiras; a neurose, segundo Freud; a doença dos nervos, de Charcot; o furor uterino na linguagem popular e a dor do amor na literatura, percorre o imaginário humano há séculos.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

O TEMPORA! O MORES!

 O tempora! O mores!
(por Antonio Samarone)

A psiquiatria reconhece dez transtornos distintos da personalidade: paranoide; esquizoide; esquizotípica; antissocial; histriônica; narcisista; evitativa; dependente; obsessivo-compulssivo e borderline.

Fiquei aborrecido: e os canalhas, por que ficaram de fora dos transtornos da personalidade? Quem são os canalhas? Segundo Nelson Rodrigues: “O canalha é sempre cordial, um ameno, um amorável”.

O canalha não tem peso na consciência, remorsos, não sofre, é um desmemoriado. O pulha não está ao alcance da clínica psiquiátrica?
O patife escapou até da psiquiatria. “Quem deve a Deus, paga ao diabo.”

O que a psiquiatria considera transtorno da personalidade?

Uma definição clássica: são portadores de transtorno da personalidade ou caráter todo o indivíduo que se desvia das expectativas da cultura, nos aspectos cognitivos e afetivos, nos relacionamentos interpessoais e no controle dos impulsos.

Um adendo importante: e que esse desvio das expectativas da cultura leve ao sofrimento da pessoa.

O canalha não se desvia da cultura, está na média, e o mais importante, a canalhice não causa sofrimentos. Ao contrário... Falta-lhes os escrúpulos.

Personalidade, caráter, índole e temperamento são sinônimos, é tudo a mesma coisa, só depende da época e das circunstâncias. Hipócrates já descrevia os temperamentos.

O senso comum acredita que a personalidade é herdada: “o que o berço dá, só o túmulo o leva”.

“Homo homini lúpus.”

Antonio Samarone (médico sanitarista)

AS LOUCURAS DA PSIQUIATRIA

 As loucuras da psiquiatria.
(por Antonio Samarone)

“os médicos pensam que fazem muito pelo paciente quando dão um nome a sua doença” – Immanuel Kant.

A psiquiatria orgânica iniciou o século XX buscando terapias de choque ou biológicas para intervir nas doenças mentais. Houve uma corrida sem sucesso em busca da localização dessas doenças na estrutura cerebral, uma base material.

As terapias de choque avançaram com a descoberta que a Sífilis podia afetar o Sistema Nervoso Central e causar danos cerebrais através de um treponema, gerando uma doença chamada de “Paralisia Geral Progressiva” (PGP).

Nesta doença havia um evidente agente etiológico: o “Treponema pallidum”, que age no sistema nervoso e alcança o cérebro de maneira lenta e progressiva, provocando disartria, alucinações e comprometimentos motores que acabam por levar o paciente ao óbito.

O médico austríaco Wagner von Jauregg, em 1917, observando que a Malária provocava nos doentes febres mais duradouras e mais fortes, procurou meios de aplicar de maneira artificial esta doença nos pacientes diagnosticados com PGP tentando assim eliminar o seu agente causal, o “Treponema pallidum”.

Estava criada a malarioterapia. Os hospitais psiquiátricos passaram a experimentar esse tratamento na demência precoce (esquizofrenia) e em outras doenças mentais. Entenderam? A psiquiatria passou a provocar uma doença (a malária) visando currar as doenças mentais.

Por esta loucura, o Dr. Wagner von Jauregg, foi contemplado com o Prêmio Nobel em Medicina, em 1927.

Vários psiquiatras buscaram analisar os possíveis efeitos benéficos dos ataques epiléticos na cura de determinadas doenças mentais. As convulsões teriam um efeito terapêutico. “A dor maior, cura a dor menor”.

Teve início à procura de substâncias capazes de provocar “convulsões terapêuticas”, elegeu-se a cânfora para a obtenção de seu propósito. Pouco essa técnica foi substituída pelo Cardiazol.

O Cardiazol é o nome comercial do Pentametilentetrazol, fabricado na década de 1920 pelo laboratório “Knoll”. “O Cardiazol atua sôbre o sistema nervoso, determinando convulsões pela excitação dos centros subcorticais. Segundo Blume, o Cardiazol age também sobre a medula, atingindo o segmento sensitivo do arco reflexo”.
Os hospitais psiquiátricos entraram na Era do Cardiozol.

O psiquiatra húngaro Laudislau von Meduna é considerado o fundador desta técnica terapêutica, divulgada por ele em 1936. Usando a convulsoterapia no tratamento da esquizofrenia, ele ficou famoso no mundo.

Psiquiatra genuinamente organicista, Von Meduna chefiou o Laboratório Histológico da clínica psiquiátrica de Budapeste e com base em seus estudos sobre lesões e anatomia patológica do cérebro, desenvolveu experiências envolvendo as crises convulsivas no tratamento das Esquizofrenias.

Com a metodologia da Convulsoterapia desenvolvida, Laudislau von Medunafoi premiado por sua “descoberta” e ganhou fama entre a comunidade médica internacional.

O uso da eletricidade em Psiquiatria passou a ser cogitado após o uso em larga escala do Cardiazol, uma vez que já se sabia que, com uma voltagem específica, a corrente elétrica, aplicada nas têmporas dos seres humanos, provoca uma crise convulsiva semelhante à da Epilepsia.

Ugo Cerletti, juntamente com Bini, na tentativa de tornar as convulsões terapêuticas mais eficientes, pesquisou a possibilidade de serem efetuadas convulsões elétricas, cuja primeira comunicação foi apresentada no "Encontro da Associação Psiquiátrica Suíça", realizado em Müsinger, Berna, em maio de 1937, e em 1938 foi realizada a primeira aplicação de uma corrente elétrica em um paciente esquizofrênico, com melhoras.

A eletroconvulsoterapia (ECT) se tornou uma panaceia em psiquiatria. Essa técnica medieval, com alguns reparos, continua em uso pela psiquiatria organicista de mercado.

Ugo Cerletti, pela descoberta do eletrochoque, recebeu o Prêmio Nobel em Medicina, em 1948.

Outra loucura da psiquiatria foi o uso a lobotomia terapêutica. Isso mesmo, destruíam o lobo frontal da cérebro, para acalmar os pacientes.

O neurologista português Egas-Muniz (foto), também foi ganhador do Prêmio Nobel em medicina, em 1949, por ter criado a lobotomia pré-frontal e utilizado em pacientes que não respondiam a outras medidas terapêuticas, bem como em obsessivos e melancólicos. A primeira lobotomia foi realizada em 1935.

A era dos psicotrópicos.

Em 1949, o cirurgião francês Henri Laborit usou a clorpromazina procurando reduzir o choque cirúrgico. Percebeu, que os pacientes ficavam com o comportamento alterado. Estava descoberto, sem querer, o primeiro antipsicótico.

Em 1952, os hospitais psiquiátricos passaram a usar a clorpromazina no tratamento da esquizofrenia.

Em 1958, a Geigy lançou a imipramina no mercado, o primeiro antidepressivo. Foi sucesso imediato.

A terceira substância de uso psiquiátrico, foi o lítio, como estabilizador das oscilações do humor. O lítio foi usado por John Cade, médico do exército australiano, para dissolver o ácido úrico, em porquinhos da Índia. Também sem querer, percebeu que os porquinhos ficavam calmos, com o uso do lítio.

Em 1949, John Cade utilizou um teste com lítio em pacientes com mania, psicose e melancolia.

A partir das descobertas dos psicotrópicos, a Indústria farmacêutica em parceria com a psiquiatria orgânica, assumiram a hegemonia da narrativa psiquiátrica, levando a onde estamos. O DSM é o principal produto intelectual dessa abordagem.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

A OFTALMOLOGIA EM SERGIPE

 A Oftalmologia em Sergipe
(por Antonio Samarone)

Até as primeiras décadas do século XIX a oftalmologia era apanágio dos cirurgiões aprovados, que realizavam operações de catarata, fístula lacrimal e enucleação do globo ocular.

Os autores antigos responsabilizavam a sífilis, as febres intermitentes e o reumatismo pelo desencadeamento de muitas lesões oculares. A oftalmologia cuidava de conjuntivite, terçol, sapiranga e oftalmia purulenta (tracoma).

Na história do ensino médico no Brasil, a cadeira de “oftalmologia” clínica foi uma primeira disciplina especializada a ser instalada. Na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a cadeira foi criada em 1873.

O médico sergipano José Antonio de Abreu Fialho, se estabeleceu como lente catedrático de oftalmologia a partir de 1906, indo desempenhar um papel marcante na consolidação da especialidade no Brasil.

Os primeiros oftalmologistas sergipanos:

Dr. José Antonio de Abreu Fialho natural de Aracaju, nascido a 20 de janeiro de 1874. Doutor em medicina em 1897, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese “A oculística perante a patologia: perturbações oculares nas moléstias cerebrais”. Fez especialização em Viena na clínica Fuchs. O Dr. Abreu Fialho faleceu a 17 de março de 1940. O sergipano Abreu Fialho, foi o maior nome da oftalmologia brasileira do século XX.

Dr. Oscar de Noronha, natural de Estância, nascido em 1859, recebeu o grau de doutor na Faculdade de Medicina da Bahia em 1883, defendendo a tese “Fistulas lacrymaes”. Foi militar, nomeado diretor do Hospital Militar de Porto Alegre, onde exerceu a oftalmologia em sua clínica privada.

Dr. Ulysses de Azevedo Faro, natural de Rosário do Catete, nascido a 28 de outubro de 1856, recebeu o grau de doutor pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1881, com a tese “Influência da medula espinhal sobre as funções respiratórias, circulatórias, de calorificação e nutrição”. Escreveu vários trabalhos sobre a cirurgia de catarata. Circulou por vários Estados, findando por montar clínica em São Paulo para desenvolver sua especialidade de oftalmologia.

Dr. José Lourenço de Magalhães, natural de Estância, nascido a 11 de setembro de 1831, recebeu grau de doutor pela Faculdade de Medicina da Bahia em 15 de abril de 1856 defendendo a tese “como reconhecermos que o cadáver morreu de afogamento?” Lourenço de Magalhães Foi diretor do serviço de oftalmologia da Casa de Saúde N. S. da Ajuda, no Rio de Janeiro. Também foi especialista, com reconhecimento internacional, em lepra. Presidente da Academia Nacional de Medicina (1895 -96). Faleceu em São Paulo em 23 de novembro de 1905.

Dr. José Correia de Mello Bittencourt, natural de São Cristóvão, nascido a 22 de dezembro de 1859, recebeu o grau de doutor na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1882, com a tese “Da influência do curativo de Lister nas septicemias cirúrgicas”. Especializou-se em oftalmologia na clínica Wecker em Paris. Foi membro da Sociedade Francesa de Oftalmologia.

Dr. Francisco de Barros Pimentel Franco, natural de Laranjeiras, nascido a 06 de novembro de 1879. Formou-se em medicina na Bahia em 1904, com a tese “Das Coroidites”. Antes já havia se formado em farmácia e em odontologia. Foi interno, na Bahia, da Clínica Oftalmológica da faculdade. Praticou a medicina em Própria, Laranjeiras e Aracaju. No final da vida exercia apenas a oftalmologia. Faleceu a 24 de abril de 1922.

Dr. Edilberto de Souza Campos, nasceu a 04 de setembro de 1883, em Lagarto. Doutorou-se em medicina em 1905, no Rio de Janeiro, defendendo a tese “Notas sobre a correção óptica permanente da miopia”. Fez o curso de especialização em oftalmologia em Viena, Áustria. Em junho de 1908, publicou um importante livro de medicina: “Os Medicamentos da Oculística”, opúsculo de 144 páginas, destinado a servir guia prático no uso dos medicamentos pela categoria médica.

Dr. Durval Prado - nascido em Capela, Sergipe, foi óptico até se formar em Medicina aos 31 anos, em 1934, pela FMUSP. Livre docente em 1942, recebeu também o Prêmio Moura Brasil pelo seu trabalho “Noções de óptica, refração ocular e adaptação de óculos”. Professor de oftalmologia da USP. Doutor em 1934, e livre docente em 1940.

Sem contar, que o maior nome da medicina sergipana no século XIX, Dr. Antonio Militão de Bragança, também exercia a oftalmologia em sua clínica, tendo sido Lampião o seu paciente mais famoso. O conhecido “olho cego” do Rei do Cangaço, foi um acidente com um espinho de quixabeira, tratado pelo Dr. Bragança.

Cabe a Sociedade Sergipana de Oftalmologia zelar pela memória da especialidade. Em Sergipe, todos acham que são os “primeiros” em seu oficio.

Prometo apresentar os oftalmologista sergipanos da segunda metade do Século XX.

Antonio Samarone (médico sanitarista)