quarta-feira, 30 de abril de 2025

CORRER É PRECISO...

 Correr é preciso...
(Por Antonio Samarone)

Correr é um desejo atávico, que foi necessário a sobrevivência da espécie. Descer das árvores e enfrentar as savanas, foi um risco. Viramos presas fácies de leões, hienas e crocodilos. Nossa defesa foi correr.

Com a posição bípede, liberamos as mãos e passamos a fabricar ferramentas. O domínio do fogo e o uso de ferramentas forjaram o sapiens. O Homo sapiens (cérebro de 1,5 kg) domina sozinho a menos de 60 mil anos. Entretanto, a posição bípede, o uso de ferramentas e o domínio do fogo já fazem 2 milhões de anos.

Correr é anterior e será posterior ao Homo sapiens. Independe da razão.

Para o cérebro, inconscientemente, ainda corremos para fugir do predador. Como as corridas são simulações, não existem riscos de sermos alcançados. Sempre escapamos das feras. Iludido, o cérebro reage, liberando doses generosas de neurotransmissores responsáveis pela sensação de felicidade, para comemorar a vitória.

Portanto, correr é um antigo comando do cérebro. Não se pode estranhar, que numa sociedade do desempenho (Chul-Han), as corridas se tornem alternativas de participação. Numa sociedade cindida, fragmentada, atomizada, as corridas tronaram-se um caminho em si. Navegar é preciso...

A febre por maratonas é contagiosa e não existem vacinas. Finalmente, um tema de união nacional: correr! Tanto faz para direita ou para a esquerda.

Nesse final de semana, um amigo, em quem sempre votei por achá-lo parecido com um Ministro do Império, jurista consagrado, anunciou solenemente a sua entrada para o Clube de Corridas. “A minha vida mudou!” Disse o causídico emocionado. Certamente, arrastará multidões.

Não sobrará ninguém para uma boa roda de conversas. Todos correndo. Os políticos não perdem tempo: estão criando um novo PCB – Partido Brasileiro dos Corredores.

Eu conheço uma madame em Aracaju, sexagenária, joelhos estropiados, que fez da corrida uma missão de vida. Uma devota das corridas! Viaja o mundo em busca do seu sonho. Ao final de uma dessas corridas domingueiras, ao ser entrevistada, ela derramou-se em prantos: “meu Deus, obrigado. Estou cumprindo mais uma missão na terra.” O esposo, abraçado, chorava junto.

Uma mocinha em Itabaiana, transformou, para tristeza dos pais, a sua festa de debutante numa corrida entre as amigas. Sem marmanjos. Uma maratona de moçoilas!

Se mamãe fosse viva, já tinha disparado o seu aforismo preferido: É o fim do Mundo!

A nossa espécie eliminou os demais “Homo” há apenas 60 mil anos. Reinamos sozinhos. Entretanto, parece que o “sapiens” vai durar pouco. Quem não acredita que o famoso botão será apertado, o apocalipse nuclear, não está assistindo pelas redes sociais, as profecias de Donald Trump.

Se não tem mais jeito, se os predadores já estão com o bafo quente em nosso pescoço, vamos correr. Pode ser que um ou outro escape.

Antonio Samarone – Médico Sanitarista.

Um comentário:

  1. Eu ainda prefiro a caminhada, porque foi caminhando que chegamos até aquiKKKK
    Parebéns pelo texto.

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