sábado, 26 de abril de 2025

ITABAIANA, 350 ANOS. PROFESSORA LENITA CUNHA.

Itabaiana, 350 anos. Professora Lenita Cunha.
(por Antonio Samarone)

As mulheres de Itabaiana, sempre foram operosas, com afirma o Padre Marcos Antonio de Souza, em sua “Memória da Capitania de Sergipe – 1808”. Dona Lenita é natural do Zanguê, nascida a 28 de abril de 1954, filha Seu Carlito da Jabá, bodegueiro no Beco Novo, e Benvinda Valério dos Santos (Dona Netinha), professora no Malhador.

Uma família com 4 filhos: Lenita, Neide, Zuleide e Antonio Alberto, médico em Aracaju.

Lenita passou a infância no Zanguê. A família ligada a UDN, por conta do parentesco com Antonio de Ermírio, o líder local, cabo eleitoral de Euclides Paes Mendonça. Como era de práxis, com vitória Seixas Dória, PSD (1963), a mãe, professora, foi transferida para o Gandu. Depois foram transferidos para o Posto Agropecuário Fazenda Grande.

Lenita passou no exame de admissão do Murilo Braga, guardando lembranças da professora Floralice, de geografia, Ofenísia, de português e do grande Mestre Edgar, de biologia. Compartilho a lembrança de Edgar, um dentista do Aracaju, que nasceu com o talento pedagógico.

Lenita, cursou o na UFS Letras (português/inglês). Ainda estudante, foi aprovada no concurso de professora do Estado, e começou a ensinar em Itabaiana. Com a ida de Mercedes, professora de inglês, para os EUA, Lenita ocupou a vaga. Ensinou por 28 anos, até a aposentadoria.

Em 1969, Lenita casou-se com Edvaldo da Farmácia, e tiveram três filhos: Lizandes, Eline e Catarine. Na segunda metade do século XX, houve uma mudança de protagonismo em Itabaiana. O comércio, o empreendedorismo, passou a ser o caminho para a ascensão social. A escola, o curso superior, garantia um meio de vida modesto.

Lenita, uma alma intelectual, com vários livros publicados, entrou para o comércio. Comprou o bem-sucedido Armarinho de Zaíra. O marido, venerável mestre maçons, é uma liderança corporativa do comércio. Proporcionalmente, Itabaiana é onde existem mais maçons no Mundo. Isso vem de longe. Não me perguntem, eu não sei explicar.

Os livros de Lenita são diversificados. Sobre o meio ambiente, Rotary e Cosmologia. Lenita se identifica como uma agnóstica teísta, uma heresia, mas guarda os domingos e dias santos de guarda. Ela, Comendadora da Ordem de Sebrão, o sobrinho, se considera uma ambientalista.

Eu só conhecia a professora pela fama, de ser uma mulher inovadora e decidida. Recentemente, Lenita procurou a Secretária de Cultura para fazer uma queixa: pintaram um carneiro na Praça, como sendo o carneiro de ouro da lenda itabaianense, que ela não aceita. A carneiro de ouro da nossa lenda é outro, afirmara ela indignada!

Eu informei que não possuía jurisdição para vetar o carneiro da praça. Lendas, são narrativas orais, mistura de fatos com fantasias. As lendas possuem elementos fantásticos, míticos, sobrenaturais. Cada um, vê o carneiro de ouro de um jeito.

Lenita não se conformou. Foi ao Bom Jardim, reuniu os idosos, para ouvir a versão popular. Pintou o carneiro da lenda ao seu modo, e doou a tela a Biblioteca Municipal. Tá lá, exposta.

Em tempos de redes sociais, inteligência artificial, fake news, ter um professora aposentada, brigando pela pureza de uma lenda, me deixou com a esperança que a cultura está viva.

Gente, eu fui ao Bom Jardim, em noite de lua cheia, para comprovar se o carneiro ainda aparece. Eu vi. O motorista que foi comigo, um obreiro da Assembleia de Deus, não viu. A gente só vê o que acredita.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

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