Itabaiana – 350 anos. Maestro Valtenio Alves de Souza.
(por Antonio Samarone).
Itabaiana é o reino de Apolo, deus da música.
A iniciativa do padre e maestro Francisco da Silva Lobo, em criar uma orquestra sacra em 1745, prosperou, deu resultados, Itabaiana tornou-se um celeiro de músicos.
A Filarmônica Nossa Senhora da Conceição encanta a nossa autoestima. É a maior instituição cultural de Sergipe e a mais antiga do Brasil. Possui em plena atividade: orquestra sinfônica, banda sinfônica, orquestra preparatória, orquestra experimental, banda infanto juvenil, grupo de flauta doce, classe de violão (50 músicos), grupo de percussão, fanfara, quinteto de metais, quinteto de cordas e quarteto de saxofones.
A filarmônica é composta por 350 músicos, 8 professores e 15 monitores. O maestro Ângelo Rafael Palmas Fonseca, doutor em regência, é um dos seus maestros. A filarmônica possui um laboratório de luteria, o Instituto João de Matos (escola) e um museu.
A Filarmônica é bem comandada pelo maestro Valtenio Alves de Souza.
Valtenio nasceu no pé da Serra de Itabaiana, em 30 de setembro de 1961. Filho de Seu Vieira e Dona Bonita, de uma família de seis irmãos. Estudou o primário no Educandário de Maria de Branquinha. O ginásio e o científico no Colégio Murilo Braga. Graduou-se em Educação Física, pela Universidade Federal de Sergipe.
Valtenio Alves de Souza, gostava do esporte, em especial o karatê. Entretanto, a sua alma era vocacionada para a música. Tocou corneta na fanfara da escola de Maria de Branquinha. No Murilo Braga, havia oficinas de músicas, organizadas pelo Mobral, onde Valtenio tomou um trompete emprestado e resolveu decifrá-lo.
Procurou o maestro Antonio Melo, da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição. Não teve sucesso, o exímio saxofonista Antonio Melo não tinha paciência com os discípulos.
Na verdade, a Filarmônica estava hibernando. Depois da morte de Euclides Paes Mendonça, presidente da Filarmônica, entre 1955 e 1959, o maestro Antonio Melo foi abatido pelo desânimo.
A Filarmônica Nossa Senhora da Conceição já foi comandada por dois chefes políticos: Coronel Sebrão e Euclides Paes Mendonça. Hoje está entregue aos músicos.
Depois da morte do mestre Antonio Silva, assumiu a direção musical da Filarmônica, por pouco tempo, o maestro João de Matos. Na primeira metade dos anos cinquenta, o comando passou para o maestro Antonio Melo.
Valtenio não desistiu de aprender trompete. O próprio Antonio Melo aconselhou que ele procurasse João de Matos, para aulas particulares. Não deu outra. Valtenio passou a ser aluno particular do velho maestro.
Em 1976, o governador José Rollemberg Leite enviou para o Colégio Murilo Braga, uma quantidade de instrumentos musicais, suficientes para a formação de uma banda. O que fazer, com esse cabedal? Quem iria tocá-los?
Valtenio, aluno do colégio e interessado em música, sugeriu a diretora Maria Pereira, que contratasse um professor de música e abrisse uma turma. O professor foi o maestro de João de Matos e a primeira turma teve 30 alunos. Valtenio foi o aluno mais brilhante.
Como pagar ao professor? A burocracia pública não é fácil. Maria Pereira enxergou uma saída: o dinheiro da cantina terceirizada, seria para o pagamento do maestro.
A iniciativa foi um sucesso. No 7 de setembro de 1977, a banda do Murilo Braga já desfilou garbosamente pelas ruas de Itabaiana, tocando 2 dobrados, composições do grande João de Matos.
Novas turmas se formaram, entre 1977 e 1988, até a saída do maestro. Muita gente aprendeu música no Murilo Braga, com João de Matos.
João de Matos (1912 – 1994), marceneiro, velho comunista, fez história na música itabaianense.
A experiência da escola de música no Murilo Braga não acabou com a saída de João de Matos. Entre 1988 e 2013, assumiu a função de professor de música, Valtenio Alves de Souza, já professor de Educação Física do Murilo Braga, desde 1984.
Valtenio, inteligentemente, não se afastou do Maestro da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, Antonio Melo. Conciliou as duas missões: professor de música do Murilo Braga e membro da diretoria da Filarmônica. A missão era reativar a centenária Filarmônica.
Em 1998, Valtenio, com paciência, ganhou a confiança de Antonio Melo, tornando-se Presidente da secular Filarmônica. A sua primeira obra, foi reconstruir a velha sede, na Praça da Igreja, onde hoje funciona o museu. Era uma precária casa de taipa.
Antonio Melo (1902 – 2002) de tradicional família de artistas, em Itabaiana, viveu cem anos. Um exímio saxofonista, improvisava qualquer arranjo.
Com a ascensão de Valtenio na Filarmônica, ele recrutou os melhores alunos de música do Murilo Braga, para integrarem-se. O espaço físico da sede tradicional, na Praça, ficou pequeno.
Com o fim da escola de música do Murilo Braga (2013) e a retomada das atividades da Filarmônica, uma área do Colégio Murilo Braga foi cedida, para o funcionamento do Instituto João de Matos (a escola da Filarmônica). Depois, a área foi cedida em comodato.
Ressalte-se a competente passagem pela presidência da Filarmônica, do médico, músico, filosofo e poeta, Rômulo de Oliveira Silva, período onde a Orquestra Sinfônica foi consolidada.
Valtenio casou-se em 1986, com Maria Aparecida, funcionária do SESP. O casal teve dois filhos: Tássio Vieira e Thaíse Rubeny.
Hoje, a grandeza da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, deve muito ao maestro Valtenio Alves de Souza que, pacientemente, transpôs o período difícil da Filarmônica, recompôs, formou novos músicos e ganhou a confiança dos velhos mestres da música itabaianense.
Valtenio colocou a Filarmônica no patamar merecido!
Antonio Samarone – Secretário de Cultura.
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