sábado, 19 de outubro de 2024

ITABAIANA - 350 ANOS. PADRE FRANCISCO DA SILVA LOBO.

Itabaiana – 350 anos. Padre Francisco da Silva Lobo.
(por Antonio Samarone)

Os gregos atribuíam a Apolo a invenção da música. Pitágoras estabeleceu matematicamente a relação dos sons. Os chineses criaram uma técnica musical centrada na aritmética. A música é a harmonia entre os números e o cosmo.

A música floresceu em Itabaiana a partir de 1745, com a chegada do padre e maestro Francisco da Silva Lobo. Para fortalecer os serviços religiosos, ele criou uma orquestra sacra. O padre veio com a família. Permaneceu frente a paróquia de Santo Antonio e Almas entre 1745 e 1768.

Nas palavras de Sebrão Sobrinho, Francisco da Silva Lobo foi um “sacerdote ilustre e inteligente, entusiasta e progressista, quase doutor, licenciado coimbrense [...] que se deu de coração ao progresso do curral e do redil que lhe foram confiados”.

Continua, Sebrão Sobrinho:

“O vigário Lobo, na medida de suas possibilidades, muito trabalhou por Itabaiana, havendo sido seu primeiro cronista e, naturalmente auxiliado por seus fregueses, fundou uma orquestra a fim de acompanhar os atos religiosos, datando desse tempo a arte musical em Itabaiana ou, mais precisamente, com a música sacra, a FILARMONICA em Itabaiana, sendo seu primeiro mestre ou regente o próprio vigário, substituído por seu sobrinho, o licenciado Vito Manuel de Jesus e Vasconcelos, que foi sucedido por seu neto Francisco Manuel Teixeira, que teve como substituto o Tenente Samuel Pereira de Almeida, que a dotou de pancadaria tornando-a marcial, com a denominação de – “Philarmônicca Euphrosina”, em 1879.”

“Em 1897 a “Philarmônica Euphrosina” passaria a ser chamada “Philarmônica Nossa Senhora da Conceição, já sob regência do maestro Francisco Alves Junior. No final do século XIX (o maestro foi um dos idealizadores do novo título da filarmônica).”

O estudo de João Liberato, que cobriu o período entre 1898 e 1915, mostrou forte competição entre as duas bandas existentes em Itabaiana (Filarmônicas Nossa Senhora da Conceição e Santo Antonio) e a relação dessas disputas com a situação política da região.

A atuação da filarmônica N. Sra. da Conceição, antiga orquestra sacra do padre Francisco da Silva Lobo, já não se limitava aos serviços musicais sacros. Além dos eventos religiosos, a filarmônica tocava em bailes, eventos cívicos da cidade, comemorações e protestos.

As duas bandas de músicas concentravam a principal atividade cultural da cidade, que, de localização pouco acessível à época, ficava privada de modalidades como teatros, cinemas, dentre outras.

Em Itabaiana havia dois grupos políticos, liderados por dois coronéis, que também dominavam as duas filarmônicas.

O Coronel José Sebrão de Carvalho, comandando a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, e o grupo denominado Peba; e o Dr. Manoel Baptista Itajahy, comandando a Filarmônica Santo Antônio e o grupo denominado Cabaú.

"As bandas filarmônicas em Itabaiana tinha função análoga às bandas militares na corte luso- brasileira. Tocava em frente à residência do seu patrono político; recepcionava os convidados e a população; acompanhava as passeatas, desfiles e procissões; executava o repertório condizente com a ocasião; era um elemento essencial no estabelecimento da pompa e ordem nos rituais." - João Liberato.

Em 1913, um relato da inauguração da primeira iluminação pública de Itabaiana nos fornece mais um testemunho:

”Pelas 7 horas da noite, ao som da filarmônica Santo Antonio e presentes o representante do presidente do Estado, Dr. Nobre de Lacerda. Do da Imprensa, jornalista Costa Filho, autoridades locais e muito povo, foi inaugurada a iluminação pública, acendendo o intendente a primeira lâmpada, como é do estilo.” – João Liberato

As bandas de músicas eram elementos essenciais nos rituais políticos e religiosos em Itabaiana.

Essa atração por música na época se explica pela falta do que fazer à noite. Itabaiana não tinha energia elétrica e a música era uma forma do homem sair de sua casa para ir fazer alguma coisa lá fora, daí o número expressivo – para aquela época – de músicos.

“As filarmônicas eram solenes. Elas tinham atas, diretoria, presidência e um corpo social e diretivo grande... Fazer parte da diretoria e do corpo da filarmônica era uma coisa importante, na época era a única coisa que tinha para a pessoa participar além da igreja.” João Liberato.

Importantes comerciantes também faziam parte da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição. Podemos citar, como alguns deles: Josias Lapa Trancoso, negociante; Antônio Lourenço Telles, negociante; Cel. Hermelino Contreiras, muito bem-sucedido na exploração de seringais no Pará, um dos quais com o nome de Itabaiana; e Antônio de Oliveira Bezerra, ourives. O Cel. Sebrão também era um importante líder comercial.

O que caracterizava a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição era a sua inserção e adaptação a um meio social bastante heterogêneo, quase todos encontravam lugar naquela sociedade musical. Mesmo as pessoas de origem simples e pouca instrução podiam chegar a lugares importantes, como o cargo de maestro: “O maestro Antonio Silva tinha formação primária incompleta. Desde cedo ele estava costurando e cortando pano para ter um meio de vida.”

Infelizmente a Filarmônica Santo Antônio foi extinta em 1925, por motivos de desentendimentos dos gestores, apesar de na época ter sido politicamente mais bem-conceituada; e a Filarmônica N. S. da Conceição se transformou em um complexo musical.

Em pleno século XXI, a música continua a arte dominante em Itabaiana. Além da centenária Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, que vem de longe; temos a Filarmônica 28 de agosto, preste a inaugurar uma escola de sanfona; dezenas de grupos musicais, cantoras e cantores destacados, gênios que ganharam o mundo (Mestrinho) e, anualmente, um festival da canção.

Esse ano, o Festival da Canção será no dia 13 dezembro, aniversário de Luiz Gonzaga.

Itabaiana é um magnífico concerto.

Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário