Itabaiana – 350 anos. De onde vem o ouro?
(Por Antonio Samarone)
“Inicialmente, abrangia a Vila de Itabaiana uma área de cerca de 200 léguas quadradas. Sua ocupação territorial começou logo após a fixação da colonização portuguesa em Sergipe, como resultado do êxito de Cristóvão de Barros na investida contra os íncolas da região, nos começos de 1590.” Thetis Nunes.
Comprovam essa afirmativa as sesmarias concedidas a diversos proprietários já datadas dos primeiros anos do século XVII. Lento, porém, foi o desenvolvimento da Villa, prejudicado pela passagem do holandês.
A fama de terra do ouro, sem possuir nenhuma mina, acompanha Itabaiana há muito tempo. Sempre me perguntam: de onde vem esse ouro, com preço tão baixo? Eu não sei e mesmo que soubesse não diria. Não se ensina o pulo do gato.
Os invejosos se apressam: “O ouro é falso!” Calma, existem fábricas de folheados a “ouro”, mas são vendidos como bijuteria. Também existe o ouro certificado. Puríssimo!
Sigam o fio...
Primeiro foi a Prata. Em seguida o gado. Itabaiana é um planalto cercado de serras, um curral natural. Barleus, refere-se à prosperidade que gado apresentava nas bandas de "Itapuana", como denomina ele a Itabaiana.
A agricultura que, aos poucos, vai fixando o colono à terra com as plantações de algodão, mandioca e legumes. A cana se desenvolvia nos vales férteis dos rios Sergipe e Jacarecica.
“Também vinha constituindo-se um artesanato, utilizando o algodão, do qual saiam tecidos grosseiros e redes, que vão garantir a subsistência das famílias aí residentes. Um próspero comércio, decorrente dessas fabricações, se iniciou por negociantes que percorriam os sertões da Bahia, Pernambuco e Ceará levando aqueles produtos.” Thetis Nunes.
O auge da expansão foi atingida a partir de 1870 quando a máquina, a vapor, de descaroçar algodão chegou à Itabaiana. Rapidamente, se propagou o invento, e, em 1874, o Município contava com 50 vapores, o que influenciou na vida urbana itabaianense, que se torna cidade pela Resolução 1.331 de 28 de agosto de 1888.
Coube ao genovês Francisco Borsone instalar, em 1870, a primeira máquina de descaroçar algodão a vapor, em sua fábrica, à rua do Tanque do Povo, localizada no primeiro quarteirão da cidade. Nos fins do século XIX, já a população do município alcançava 27.000 habitantes.
Começa a destacar-se nessa época, a partir da instalação de um descaroçador de algodão, uma povoação situada em pleno centro das "matas" de Itabaiana, num local conhecido como Chã de Jenipapo, que toma o nome de São Paulo (atual cidade de Frei Paulo). Seria a primeira porção do Município de Itabaiana a desmembrar-se, formando uma nova unidade política.
De Itabaiana se desdobraram vários Municípios: Frei Paulo, Campo do Brito, Carira, Macambira, Ribeirópolis, Pinhão, Pedra Mole, Moita Bonita, Areia Branca, ou complementando outros que se foram desmembrando dos municípios vizinhos. Ficou a antiga Vila de Itabaiana reduzida a 337 km², um quinto, aproximadamente, de sua área inicial avaliada, em 1817, pelo Ouvidor José da Matta Bacella .
Quem vai festejar os 350 anos da Freguesia é a Itabaiana Grande, a Itabaiana histórica, sendo conciso: todo o Agreste Sergipano.
Como esclarecimento: chama-se Itabaiana Grande por conta da origem, Villa de Santo e Almas de Itabaiana Grande. Grande é a denominação da Serra de Itabaiana. Aliás, sempre foi.
“Em 1871, a população de Itabaiana era estimada em 34.876 habitantes. Itabaiana possuía 16 engenhos de açúcar. No relatório do Departamento Geral de Estatísticas, foram levantados 3.282 escravos: sendo 3.212 na agricultura, 45 jornaleiros e 21 artista.” Os escravos representavam 10% da população. Neli Santos – História de Itabaiana.
Foi a cultura do algodão, na segunda metade do século XIX, que impulsionou o crescimento urbano da Villa e a sua efetivação como cidade.
“Quando ganhou foro de cidade (1888), Itabaiana já possuía um comércio permanente com lojas de fazendas, joalherias (objetos de ouro e prata estrangeiras e nacionais), fábricas de charutos e cigarros, padarias, boticas de Cosmorama, de fogos de artifício, de bebidas, oficinas de artes mecânicas e manuais.” Neli Santos.
Na relação dos 1.998 eleitores aptos a votarem, na Villa de Itabaiana, em 1873, encontravam-se um médico, um advogado, dois padres e dez ourives. O ouro vem de longe.
“Os objetos de ouro e prata são bastante relacionados nos inventários dos sitiantes, dos fazendeiros e dos proprietários. O gosto por essas coisas, explica muito bem a presença de dez ourives nas listas de qualificações dos votantes.” Neli Santos.
“Em 1868, Maria Francisca de Almeida, moradora do Sítio Flechas, deixou, entre outros bens, um crucifixo de ouro, dois cordões de ouro fino, quebrados de ouro, um anelão, um anel de pedra e um cordão de ouro e seis colheres de prata.” Neli Santos.
Voltarei ao ouro, em breve.
Antonio Samarone – Secretário da Cultura.
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