quinta-feira, 3 de outubro de 2024

ITABAIANA - 350 ANOS. ANTONIO LEITE SAMPAIO.

Itabaiana – 350 anos. Antonio Leite Sampaio.
(por Antonio Samarone)

Todo final de tarde, um senhor elegantemente vestido, terno de linho branco, chapéu panamá, gravata de seda, andar elegante e cabeça erguida, cruzava o Beco Novo. Um Príncipe, um Leite Sampaio, um aristocrata, descendente direto de José Matheus da Graça Leite Sampaio, Comendador da Ordem de Cristo e herói da Independência de Sergipe. Faleceu em 29 de janeiro de 1829.

Esse Príncipe nunca trabalhou. Foi croupier de uma cafua de baralho, na Rua da Pedreira. Sempre elegante, boêmio, inveterado, seresteiro e dependente do álcool. Como ele se denominava: um “cachaceiro do povo”, herói das bodegas e cantor dos velórios.

O Príncipe tinha uma moléstia na bexiga: quando bebia, mijava nas calças. Como o terno era branco, o mijo que corria entre as pernas ficava muito evidente. Os mais antigos, em Itabaiana, conheceram esse personagem: Osvaldo Leite Sampaio (Santinho de Nia).

Santinho de Nia era filho de Manuel Francisco Leite Sampaio (Manesinho de Babinha), Intendente de Itabaiana (1906 – 1907), e Maria Saturnina de Jesus (Dona Nia). Santinho, faleceu em 1973.

Santinho de Nia casou com Dona Adélia de Oliveira Sampaio. Tiveram doze filhos, três sobreviveram: Zequinha, que herdou o comando do jogo; Caçulinha, casada com Pedro Nila e o protagonista desse texto, Antonio Leite Sampaio (Tonho Leite).

Antonio Leite Sampaio nasceu em 16 de março de 1937, na Rua do Futuro, em Itabaiana, filho de Santinho de Nia e Dona Adélia. Fez as primeiras letras com Dona Maria, a mãe do Desembargador Vladimir Carvalho. Tonho Leite concluiu o primário, no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra.

Fez exame de admissão para a primeira turma do Ginásio Estadual de Itabaiana (o famoso Murilo Braga), em 1949. Uma turma de quarenta alunos. Somente vinte, concluíram, em 1953. Sete homens (veja a foto) e treze mulheres.

Zé Queiroz, Paulinho de Doci e Tonho Leite, da primeira turma do Murilo Braga, foram altos funcionários do Banco do Brasil. Antes, Petronio, Osvaldo e Alberto, filhos de Seu Vivi e Dona Iaiazinha, também fizeram carreira no BB.

Tonho Leite é da primeira geração que teve acesso ao Ginásio, em Itabaiana. Essa vantagem facilitou o futuro da juventude local.

O primeiro emprego de Tonho Leite, foi no DNOCS, através do prestígio de Vieira Lima. Foi trabalhar na construção de Açudes.

Vieira Lima, injustamente esquecido, foi uma personalidade importante em Itabaiana. Criou uma família numerosa e influente: Dulce, Neusa, Sonia, Ivone, Fernando, Milton e Terêncio. Não me lembro de todos. Vieira Lima era o Barão do Beco Novo.

Tonho Leite foi balconista do Armazém de Euclides Paes Mendonça, onde trabalhavam Serapião, Anísio Goiouiou, Zé Meu Mano, Chico do Cantagalo. Certa feita, Santinho de Nia, embriagado, desacatou o Coronel: - “Euclides, você é um merda.” Foi o suficiente, foi recolhido à cadeia pública.

No dia seguinte, Tonho Leite foi conversar com o patrão: - “Euclides, o senhor prendeu o meu pai?” Prendi! Vá lá e diga a Solon (o delegado), que solte. Santinho foi solto e Tonho Leite não regressou ao serviço, pela desconsideração. Abandonou o emprego.

As contradições: como havia dito, Santinho de Nia nunca trabalhou. De repente, ele se encontrava aposentado, como ferroviário. Tonho Leite quis saber: - “Pai, Itabaiana nunca teve trem e o senhor se aposentou como ferroviário.” O pai respondeu: - “um milagre de Euclides de Paes Mendonça.”

Tonho Leite foi o meia esquerda do Margem da Serra e do Canta Galo. Um jogador clássico. Me fez uma correção: - “você escreveu que José Augusto Melo era o único itabaianense que não possuia apelido. Errou! Na juventude, ele era conhecido como “Pampia”. Retiro o que escrevi.

Quando saiu do armazém de Euclides, Tonho Leite ficou desempregado. Passou a frequentar a mesa de Gamão, da loja de Filomeno. Uma roda de viciados (Etelvino Mendonça, Zé de Cabocla, Carlinho Siqueira e Vicentinho).

Como era regra, Tonho Leite foi tentar a sorte em São Paulo. Por lá, passou dois anos. Retornou a Itabaiana.

Casou-se em 1964, com Irla Monteiro, filha de Seu Maurício Andrade (bilheteiro do cinema de Zeca Mesquita) e Dona Preta (Maria Monteiro de Andrade), filha de Zezé do Fumo, irmão de Maria do Céu, a minha avó. Dona Preta foi professora de mamãe, nas Flechas. Eita mundo pequeno!

Da união Tonho Leite com Irla Monteiro, nasceram cinco filhos: Adriana, Alex, Breno, Doutel e Zaila. Doutel? Isso mesmo, uma homenagem ao líder trabalhista Doutel de Andrade. Tonho Leite era brizolista.

Tonho Leite ingressou e fez carreira no Banco Brasil.

Tonho de Adélia de Santinho de Nia, eram assim, que Antonio Leite Sampaio, um fidalgo itabaianense, era conhecido na infância. Um homem esclarecido, inteligente, cordial, que mantém fortes raízes com a cidade serrana. Tonho continua com a memória afiada, antenado, aos 87 anos.

Antonio Samarone – médico sanitarista.