terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

OUTROS CARNAVAIS


Outros Carnavais...
(por Antonio Samarone)

Acordei essa terça-feira gorda ouvindo Capiba, na voz de Claudionor Germano. Era o que se tocava no Clube do Trabalhador, no Beco Novo. A época, dirigido por Borrachinha.

A lembrança que me restou dos carnavais foram as músicas de Capiba.

Foliões antigos, foliões raiz, só me lembro de Fefi, Biolo e Avaci. O resto, acompanhava o Bloco dos Sujos. Aos domingos de carnaval ocorria uma partida de futebol entre solteiros versus casados, no campo de Mané Barraca. Todos bêbados, ou quase bêbados.

Em Itabaiana, Carnaval era o frevo pernambucano.

O hino do Itabaiana é cantado por Claudionor Germano, o arranjo é do maestro Nelson Ferreira e a letra de Alberto Carvalho.

Aos domingos, tinha os blocos de rua. O bloco do Beco Novo (Margem da Serra - foto) era dominado pelos sapateiros João Criano e Avaci. A grande transgressão era homem vestido de mulher.

Em Itabaiana, bem ou mal, quase todo mundo tocava um instrumento. O Beco Novo era abençoado pela presença do Maestro Antonio Silva.

Esse Clube do Trabalhador foi fundado pelos comunistas Nilo Alfaiate, Tonho de Dóci, Mazze Lucas, Faustino, João Océa e Zé Martins, entre outros. Era uma estratégia para atrair os trabalhadores para a revolução.

Quando se cobrava ingresso no Clube do Trabalhador, nós, os índios do Beco Novo, entravávamos pelos fundos, passando pelo sítio de Zé Mosquito.

Éramos muitos e briguentos. A velha máxima: quem voltasse para a casa apanhado, apanhava de novo.

O Clube do Trabalhador era sinônimo de segurança, ficava defronte à casa de Seu Miguel Fagundes, a quem todos temiam. Quem era doido arrumar uma briga. A polícia nunca aparecia, tinha mais o que fazer.

A Rua do Beco Novo era segura. No trecho anterior, morava o Cabo João Mole, pai de Chumbrega, a maior patente militar do Beco Novo. Sem contar a valentia de Rosalvo do Cabo Quirino, motorista do Padre Arthur.

A noite tinha a guarda noturna, voluntários, com os seus apitos. Euclides Barraca, era o mais conhecido. Se fazia uma vaquinha, para o pagamento.

Vejam onde o comunismo foi se meter em Itabaiana.

Claro, não podia dar certo. Se o comunismo tivesse passado pelo Brasil, suspeito que Itabaiana seria um polo de resistência. Logo, logo veio o Golpe de 1964, e os comunistas ou foram presos, ou caíram na clandestinidade.

Em Itabaiana a organização forte era o Círculo Operário, do Padre João Moreira Lima. Uma organização católica e anticomunista.
Eu mesmo recebia bolsa de estudo da Escola do Padre (Educandário Cônego Vicente de Jesus), dada aos filhos de circulistas.

Naquele tempo, quem era besta fazer bullying. O pau comia. Bulling sempre existiu, vem do português arcaico - bulir.

O Clube do Trabalhador continuou vivo por muito tempo. Hoje, passou para o comando da Quadrilha Balança mais não Cai, de Salomão e dos herdeiros de Seu Bonito. Ficou em boas mãos. Essa gente é a autentica nata da cultura local.

Não sei quando, depois organizaram a Micarana (viva até hoje). Um carnaval baiano fora de época. Parece que a influência atual do Frevo limita-se aos blocos de Zé Pereira, em Neópolis.

Não tenho notícias dos blocos de rua, em Itabaiana.

Na verdade, não tenho saudade de carnavais, nem dos antigos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

PS: o grande Biolo, o nosso maior folião, está nessa foto.

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