Ágoras Provincianas...
(por Antonio Samarone)
Participei ontem, de uma cerimônia política típica da vida sergipana. Os mecanismos de disputa do poder são os mesmos usados pelos Imperadores romanos. Os comícios são eternos.
Não me perguntem o que disseram no palanque. Não prestei a atenção. Em política nunca se diz o que se pensa. A política é uma estratégia de disputa do poder, onde o segredo é a principal arma.
A arte da política é não dizer nada e ainda parecer transparente. (Maquiavel Pé de Serra)
Uma multidão de líderes, vereadores, prefeitos, cabos eleitorais e assessores atentos. Ninguém estava ali a passeio. São eles que mandam, pelo menos são eles que elegem os Imperadores. O Poder não vem mais nem de Deus nem do Diabo, como nas monarquias. O Poder vem daquela gente, chamada de povo no texto constitucional.
É essa fonte de poder, inventada pelos gregos, que incomoda os déspotas esclarecidos (ou não). Os “eleitos” precisam da aprovação do povo, que deve ser convencido. Os mecanismos de convencimento não são exemplos de pureza. É uma relação humana.
O poder tem fontes não democráticas, que se legitimam sem precisar da anuência popular: a economia, a religião as forças armadas, a justiça, corporações, sindicatos, a tradição, a imprensa e tantas outras. Todas essas forças tentam demonizar o poder político.
Passamos por um longo processo de deslegitimação do Poder político.
Claro, os mecanismos de construção do poder político facilitam as críticas. Perguntei a uma velha raposa, presente no encontro de ontem: por que vocês não procuram aperfeiçoar as regras dessa disputa? Ele foi sucinto: “Estamos ganhando com essas regras, por que as mudar?” Eu me calei.
“O Poder é como um jegue carregado de rapadura, até o rabo é doce”, disse-me ontem o animado vereador Chico Pata, da Lagoa do Forno. Mesmo assim, penso eu, a política ainda é a forma mais civilizada para se alcançar o Poder.
Ontem tive saudade do meu pai, um “rabo branco”, apaixonado pelo PSD de Leite Neto. Meu pai era ativo nos comícios, era o primeiro a puxar as palmas e gritar “muito bem”, mesmo sem ter entendido nada do discurso.
Meu pai era da claque espontânea, mesmo sem nunca ter recebido um bom dia dos políticos. Naquele tempo era assim. Ele torcia pela PSD, como eu torço pelo Fluminense, sem nenhuma justificativa.
Como conciliar interesses divergentes, repartir a riqueza, prover segurança e conforto. Viver em paz. Como mediar os conflitos sem a política?
Fora da solução política, resta a força bruta.
O filosofo Armelino do Beco Novo acreditava na força: “dinheiro e pancada só não resolvem, se for pouco”, dizia ele de boca cheia. A soberania é da espada. O chefe político era um senhor de baraço e cutelo, herança da tradição das capitanias hereditárias.
A política substitui a força pela astúcia e pela narrativa convencedora. Em resumo: a política é a arte de convencer os outros de que o bom para você, é bom para todos. Por isso, frustra a maioria não comtemplada.
Quando os gregos inventaram a democracia, sabiam dos seus limites. Mas sabiam também, que as ditaduras eram bem piores. Não existem salvadores, mitos e “messias”. A superação das injustiças, quando e se houver, será uma obra de todos.
As classes médias alfabetizadas frustram-se facilmente com a política, pois só entendem da missa a metade. Eles percebem que a política é uma atividade de interessados, mas não sabem como lutar por seus interesses. Os seus interesses se transformam em privilégios e viram direitos (entre aspas).
Quando forças populares, por serem majoritárias, usam da política como mecanismo de ascensão social, as classes médias e os ricos se sentem ameaçados e renegam a democracia. Essa tem sido a história da América Latina.
O que assisti ontem, foi um processo de disputa de Poder imperfeito, cheio de subterfúgios, mas é o que temos. A luta não é pela supressão da democracia, mas pelo seu aperfeiçoamento.
Só se aprende a votar, votando.
Antonio Samarone (médico sanitarista).
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