quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

EU ACREDITEI EM CEGONHAS



Eu acreditei em cegonhas. (por Antônio Samarone)

Nasci antes do Concílio Vaticano II (1961 - 1965). Vivi um tempo sob a égide do Concilio de Trento, onde o sexo era pecaminoso e precisava ser escondido das crianças.

O Concilio de Trento (1545 – 1563), tornou o casamento obrigatório; permitindo o sexo vaginal somente com fins de procriação. Tornou abomináveis e passiveis de excomunhão: o sexo oral, sodomia, abortos, incestos e adultério. Essas regras valiam em Itabaiana.

A repressão sexual das crianças era absoluta. A maternidade, o nascimento de uma criança, era obra da cegonha, que num horário imprevisto, secretamente, trazia o bebê para junto da mãe. Durante o parto de um dos meus irmãos, que nasceu em casa; fiquei a madrugada acordado, de olho no telhado, esperando a chegada da cegonha.

A minha estranheza maior era que não existiam cegonhas em Itabaiana, era a minha única desconfiança da explicação.

Outra crueldade era a interdição do onanismo. A doutrinação era pesada. Naquele tempo todos tínhamos um “anjo da guarda”, um dedo duro full time, o que tornava uma simples masturbação num martírio. Na confissão, o padre sempre perguntava se a gente tinha praticado o crime solitário. Eu sempre mentia!

Não sei se nas mudanças dos costumes propostas pelo novo Governo, essas coisas voltarão. A direita tem um certo fascínio pela Idade Média. É só aguardar...

Antônio Samarone.

Nenhum comentário:

Postar um comentário