terça-feira, 30 de outubro de 2018

A AMEAÇA COMUNISTA...



A ameaça comunista... (Por Antônio Samarone)
Vivam os espíritas, os monarquistas, os anormais, os criminosos de todas as espécies;
Viva a filosofia com muita fumaça e pouco fogo;
Viva o cão que ladra mais não morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarão, viva todo mundo, menos os comunistas.
Pablo Neruda

Hoje, as 3:15 da madrugada, a última célula comunista de Sergipe fechou suas portas. A ameaça de eliminação dos Vermelhos, fora o suficiente. Os últimos comunas organizados em células, obedientes ao centralismo democrático, caíram na clandestinidade eterna.
Agora que acabou, eu posso contar!
Durante a guerra fria, Aracaju foi a moscousinha do Nordeste. Anualmente, em todo 03 de janeiro, Aracaju acordava ao som da queima de fogos de artifícios, nos bairros operários. Era o aniversário de Luiz Carlos Prestes. Os mais velhos lembram e contam.
Nas eleições de 1947, segundo Luiz Antônio Barreto, “Aracaju deu maioria a Iêdo Fiúza, candidato dos comunistas a presidente, também deu mais votos a Luiz Carlos Prestes, para o Senado, do que aos candidatos sergipanos. Elegeu o médico comunista Armando Domingues, e o jornalista e empresário socialista Orlando Dantas, para a Assembleia Constituinte e Legislativa de Sergipe.”
Sem contar a eleição do comunista, Carlos Garcia, como o Vereador mais votado de Aracaju, em 1946.
Esta célula vermelha funcionava numa casa apertada, ao lado do quartel do 28 BC, no Bairro 18 do Forte. Eles eram apenas nove, o mais novo com 82 anos. Liam Marx, Hegel, Bukharin e Plekhanov, possuíam uma pequena biblioteca, e tinham guardadas as fotos da última visita de Prestes à Aracaju.
Eles eram apenas nove, o jornalista Fragmon Carlos Borges, o operário têxtil Manoel Vicente, o gráfico Zé Nunes, o mecânico Lourival, o Jornaleiro Careca, o filosofo Gilberto Burguesia, o relojoeiro João Océas, o servidor público Agonalto Pacheco e o ferroviário Pedro Hilário. E ainda Lídio da Cocada, que citava Lênin a três por dois. A célula recebia orientação de Rosalvo Alexandre, ex representante de Prestes em Sergipe.
Esta célula funcionava desde 1956. Criada logo após o XX Congresso do PCUS, onde Nikita Kruschev denunciou os crimes de Stalin. Hoje, pela madrugada, após a leitura de trechos do “Que Fazer”, clássico de Lênin, decidiram pelo inevitável, fecharam a célula. “Gato escaldado, tem medo de água fria”, profetizou Lídio da Cocada!
Após exaustivas discussões, decidiram, por unanimidade, fechar a célula. Por fim, cantaram a Internacional e, por via das dúvidas, lavraram uma ata circunstanciada. Nesse ato singelo, os últimos que lutavam pela coletivização dos meios de produção, ditadura do proletariado e o fim do estado burguês, penduraram a chuteira. Eles abominavam os vícios da pequena burguesia.
Por uma deferência pessoal, Rosalvo Alexandre me telefonou pela manhã relatando o ocorrido. Autorizou que eu repasse aos interessados pelas redes sociais. E assim está sendo feito.
Espero que esse fato tranquilize os bolsonarianos, e desobrigue-os da montagem de novos comandos de caça aos comunista.

Aproveito para informar ao Jornalista Xico Sá, que andou procurando por comunistas, em belo artigo no El País. O comunismo acabou em Sergipe! Sobraram meia dúzia de gatos pingados, que por questões de princípios filosóficos, coerência e afetividade continuam profetizando o marxismo. Acho que vão morrer assim!
Antonio Samarone.

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