quinta-feira, 21 de junho de 2018

SERGIPE PROFUNDO - A FESTA DE CATULINO DA JABÁ.



Sergipe Profundo – A festa de Catulino da jabá.

O São João na casa de Catulino da Jabá e Dona Josefa, no Sitio Porto, tem uma tradição de duzentos anos. A festa começou com os avós de Catulino, falecido em 2006, aos 97 anos. Hoje quem comanda é a família, sob a batuta do professor João Patola. É uma festa com convidados, mas quem chegar come, e ainda leva meia dúzia de pés-de-moleque. A festa é aberta. Aqui não existem penetras, todos são bem-vindos. 

O Sítio Porto sempre foi um povoado importante em Itabaiana, onde, além de Catulino, moravam Maria Carreiro; Seu Brasiliano e João Marinheiro. Hoje, o Porto está nas beiradas da cidade.

A festa de São João de Catulino começou cedo. No dia de Santo Antônio, a mandioca, plantada um ano antes, foi arrancada e colocada para pubar, em grandes potes, por sete dias. Esse ritual de fermentação da mandioca é uma herança dos Tupinambá, o mesmo do fabrico do Cauim. O cheiro vai longe.

Hoje (21/06), foi o dia de tirar a mandioca puba dos vasos, separar a casca, o talo, outras impurezas. A massa branca, úmida e cheirosa, foi levada para as urupemas, onde pacientemente será amassada, num ritual alegre de estórias e cantigas. Aqui consolida-se a tradição. Literalmente, todos “metem a mão na massa”, num trabalho duro e cansativo. Todos são voluntários. As estórias são deliciosas.

Separada da crueira, a massa puba será colocada em sacos e pendurada, para escorrer o excesso de líquido. Amanhã, dia 22, estará pronta. No dia 23, pela madrugada, as guloseimas serão preparas. Começa com o mingau de puba, apreciado e bem servido. Os bolos, manuês, beijus, pés-de-moleque (tradição árabe), são assados a moda antiga, em fornos de barros, aquecidos a lenha. A palha de bananeira para enrolar os pés-de-moleque vem da Moita Bonita. No dia 23, de manhãzinha, estará tudo pronto. É são João.

A festa de Catulino ainda terá jabá com farinha, uma antiga tradição dos ceboleiros, desde os tempos em que a jabá chegava em fardos de 230 kg. O boi vinha inteiro. Aquela jabá que ficava em mantas sobre os balcões das bodegas, e era consumida crua, como tira-gosto de cachaça.

No dia de São João, os convidados e os demais conhecidos aparecem. É uma festa da família de seu Catulino e dona Josefa. Foram dez dia de longa preparação. Tudo feito do mesmo jeito há duzentos anos. Miguel de Catulino é quem guarda o segredo das receitas e comanda os temperos. Ninguém mexe nada antes dele chegar. Quem quiser conferi o São João na Roça, eu tenho alguns convites.

Antonio Samarone.

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