sábado, 18 de fevereiro de 2017

LOUCOS DE TODO O GÊNERO (PARTE DOIS)


Loucura, doidice ou alienação mental – Perturbação das faculdades intelectuais (CONTINUAÇÃO)

"Tratamento. Os loucos devem estar isolados, separados de todas as pessoas com quem viviam, e colocados de maneira que posam ser facilmente vigiados. É necessário tomar todas as precauções para impedir que se matem, se eles têm inclinação ao suicídio. Os alienados inquietos ou furiosos devem ser subjugados com a camisola, e até amarrados, se for necessário. Nunca se deve avivar as ideias ou as paixões desses doentes no sentido do seu delírio; é necessário não combater as suas opiniões desarrazoadas pelo raciocínio, discussão, oposição ou zombaria; e convém fixar a sua atenção a objetos estranhos ao delírio, e comunicar ao seu espírito ideias e afecções novas."

"O tratamento da loucura é difícil e complicado; e quase impossível que as famílias possam fazer o que convém. Só a presença das pessoas e coisas habituais é um grande obstáculo a sua cura. Interesses de muitos gêneros combinam-se para determinar as famílias a encerrar os alienados em estabelecimentos públicos ou particulares. Primeiro que tudo, a segurança pública impões justamente esta obrigação. A liberdade, que se deixa a estes doentes em seu domicilio, compromete a vida deles e das pessoas que os rodeiam; mil motivos deve fazer preferir a sua morada em um estabelecimento próprio. A experiência prova que um muito maior número de loucos são curados nos estabelecimentos do que quando são conservados no meio de suas famílias."

"No Rio de Janeiro, até o ano de 1841, não havia outro asilo para os loucos que o hospital de Misericórdia, onde estes infelizes se achavam na mais miserável posição. Já desde o ano de 1830 que a Academia de Medicina clamava contra esse estado de coisas; e fez a esse respeito vivas reclamações a administração. O sábio secretário da Academia de Medicina, o Dr. De-Simone, em uma memória cheia de convicção e de lógica que publicou, fez sentir a necessidade de criação de um estabelecimento separado em que os loucos pudessem ser submetidos a tratamento conveniente."

"Algumas comissões da Câmara Municipal, encarregada das visitas aos hospitais, representaram também energicamente no mesmo sentido. Estes brados da ciência e da humanidade acharam eco no coração do Monarca brasileiro o senhor D. Pedro II; e ao digno provedor da Santa Casa, o Conselheiro José Clemente Pereira, coube a glória de realizar o pensamento do Augusto Imperador. Este ilustre filantropo é o principal autor a quem o Rio de Janeiro deve a formação da Casa para os alienados, na Praia Vermelha, num dos lugares mais salubres dos arredores do Rio de Janeiro."

"Para levar ao cabo este grande projeto, Vossa Excelência recorreu ao patriotismo e a generosidade dos habitantes da Corte, muitos acudiram ao seu chamado, e citarei, entre as mais importantes subscrições, as do Comendador Thomé Ribeiro de Farias, Barão de Guapymirim, que deu sessenta contos de reis, do Barão do Pirahy, do Comendador José de Souza Breves e do Barão de Santa Luzia. S.M.I. o senhor D. Pedro II, tomou a empresa debaixo de sua alta proteção, favorecendo-a com a sua costumada generosidade, S.M. a Imperatriz viúva, como tutora de sua augusta filha, a senhora Princesa Dona Maria Amélia, contribuiu também para esta grande obra. Hoje a cidade do Rio de janeiro possui um dos mais belos estabelecimentos para os alienados."

"As sangrias abundantes estão já em parte riscadas do tratamento da loucura. Entretanto, é útil recorrer a sangria, nos indivíduos robustos, após uma supressão da hemorragia habitual, ou quando há sintomas de congestão cerebral. Os banhos frios, as duchas, as aplicações frias sobre a cabeça, são meios úteis. Empregam-se com vantagem os cáusticos na nuca e os purgantes. As viagens, a música, as distrações, os trabalhos de jardinagem, curam as vezes certos monomaníacos: são sobretudo vantajosos na convalescença para consolidarem a cura."

"Se se pudesse obter dos doidos um trabalho mecânico quotidiano de muitas horas e ao ar livre, as curas seriam muito mais numerosas. O maior obstáculo ao tratamento da loucura é a exaltação do pensamento: ora, não há coisa melhor para refrear as atividades das ideias do que os exercícios físicos prolongados, e até cansarem, como a agricultura, as artes mecânicas, a caça, etc. A ginástica reúne muitas vantagens no tratamento da loucura. Primeiramente, o doido que faz muito exercício pensa menos e sente menos, depois, o trabalho imprime as suas ideias uma direção vantajosa; enfim, o exercício dispõe ao sono, que é um grande benefício para muitos doidos. As viagens continuadas por muito tempo a pé ou a cavalo, sobretudo nos países montanhosos, são muito mais profícuas do que as que são feitas em sege. Os incômodos dessas viagens, a que os doentes não estão acostumados, produzem os melhores efeitos."

"A dieta é raramente útil, e podem-se permitir sem receio os alimentos que os doentes desejam. As insônias são muito comuns no começo das loucuras; combatem-se pelos exercícios, por banhos mornos prolongados tomados no momento de se deitar, abstinência do café e das bebidas espirituosas. Se isto não for suficiente, pode-se dar a noite uma xícara de amendoada com vinte gotas de láudano, uma pílula de ópio de 5 centigramas ou 1 grama de cloral hidratado ou bromuretado. Convém combater a prisão de ventre com clister de linhaça, limonadas de tamarindos ou alguns purgantes." 


Dicionário de Medicina Popular e das Ciências Acessórias de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, 1890. 

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