FEIRINHA DE NATAL - Num
belo texto (rev. 19, do IHGS) sobre as danças populares, Paulo de Carvalho Neto
descreveu as antigas feirinhas de Natal em Aracaju, de forma sucinta e
reveladora.
“Estes festejos, de autoria da Igreja, congregam a população
indistintamente, desde as classes mais favorecidas da área adjacente à Rua da Frente
até os proletários das oficinas e do carro-quebrado. Entremostram-se as classes
aí, em praça ao ar livre, sem, contudo, forçarem nenhuma mútua ligação. Os
pobres se condensam nos fundos da igreja ou em locais arredios, na sua chamada
Rua do Egito, onde a prefeitura lhes concede uma triste iluminação de interior
de barracas em troca de um imposto avultado. A frente da igreja ou no centro da
praça viceja o grupo privilegiado, em luz feérica, com o chão atapetado de
areinha branca e debaixo de uma paisagem de palmeiras cinquentenárias. Os entrelaçamentos
de grupos se processam assim; da burguesia fogem os filhos de família para a
Rua do Egito, onde bebem e fazem baderna; na Rua do Egito para a área da
burguesia vem as legiões de paralíticos, de tuberculosos, de cegos, de
leprosos, se postarem nas dobras do passeio a esmolar, expondo as suas pragas e
crianças de colo incrivelmente esqueléticas. As mulheres-damas são as únicas
realmente nômades nessa vasta concentração populacional. “
Antônio Samarone.
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