domingo, 17 de setembro de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - Dr. Raulino Galrão de Lima.


RAULINO GALRÃO LIMA – Um apaixonado pela medicina.

Raulino Galrão, nasceu na Estrada da Rainha, Salvador, em 09 de março de 1937, filho do seu Serapião Oliveira Lima e dona Nair Galrão Lima, família pobre e numerosa (nove irmãos). Viveu plenamente a infância daquele tempo, nos (babas) futebol e nas traquinagens sadias. Desde cedo, o que Raulino queria mesmo era ser médico, inspirado no irmão mais velho Raimundo Galrão, médico destacado. Fez o primário na Escola Getúlio Vargas, no Barbalho; o ginásio no Instituto Normal da Bahia e o científico no Ginásio Central da Bahia. Todas escolas públicas. Na hora do vestibular o sapato apertou. Como cursar a faculdade, sem uma renda, precisava trabalhar. A realidade empurrou Raulino para um concurso na Polícia Militar. Aprovado, passou a seguir a carreira militar, passando para a reserva como Major da Polícia Militar da Bahia. Em seguida, fez vestibular para biologia, concluindo a sua primeira formatura. Em 1963, aos 26 anos, já com o diploma de Biologia em mãos, Raulino submeteu-se ao vestibular de medicina na Universidade Federal da Bahia, tornando-se médico em 21 de dezembro de 1969, aos 32 anos.

Já maduro, Raulino entrou de cabeça no curso de medicina. Virou rato de hospital. No período da anatomia, Raulino comprava os cadáveres anônimos no Nina Rodrigues, e enfrentava a dissecação minuciosa, sozinho, noites a fio. Tornou-se monitor de anatomia. No segundo ano passou a frequentar a maternidade. Meteu as caras e fez de tudo (de anestesia a cirurgia oncológica). Foi interno do Hospital Santo Antônio, da Irmã Dulce, onde até cirurgia neurológica realizou. Ao final do curso, Raulino estava preparado para exercer a medicina com qualidade em qualquer lugar. Somando-se a disciplina, os estudos e o treinamento exaustivo, o talento natural de Raulino para a medicina era evidente. Fazia um parto cesariano em menos de trinta minutos, e com perfeição.

Concluído o curso de medicina, casado, com filhos, Raulino recebeu uma visita surpreendente: a Irmã Rafaela Pepel vai a Salvador convida-lo para vir assumir a Maternidade São José, em Itabaiana, inaugurada em 01 de novembro de 1959. Desde 1963, a maternidade era administrada pela Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição (a mesma da Irmã Dulce): Evencia Vasconcelos (parteira), Maria Auxiliadora, Maria Acácia e Rafaela. Bateu a dúvida: como oficial da polícia poderia acomodar-se, ficar no corpo médico da corporação; mas a proposta de Itabaiana parecia atraente. Procurou os sergipanos Reginaldo Silva e José Augusto Lisboa, seus colegas de turma, para aconselhar-se, não deu outra, pediu licença da polícia, e em 17 de fevereiro de 1970 estava chegando a Itabaiana, para começar uma nova vida. Encontrou dois colegas residindo na cidade: Pedro Garcia Moreno e Ormeil Câmera de Oliveira.

Raulino fez uma revolução na assistência médica em Itabaiana. Corajoso, preparado, passou a fazer os partos normais e complicados, reativou o velho Hospital Rodrigues Dória, começou a realizar todos os tipos de cirurgia. Ele fazia a anestesia e operava sozinho. Iniciou o atendimento a 14 municípios da Região, dando por semana seis plantões de 24 horas. Vivia nos hospitais, com um media semanal de 30 partos. O mais importante, com baixa mortalidade Raulino fazia de tudo, atendendo sobretudo a população carente. Em 1973, passou no concurso da Faculdade de Medicina de Sergipe, para a cadeira de obstetrícia, o que facilitou a formação de sua equipe em Itabaiana. Vieram Luciano Siqueira e Guilhermino Noronha para anestesia; depois para a obstetrícia, Cardoso, Carlos Alberto, Antonia, Bosco, Aldevan, Fontes, Edmundo, montando uma equipe de profissionais qualificados.

Raulino abriu tanta gente, operou tantos, que passou a conhecer os sertanejos de Sergipe pela cor do tecido adiposo. A gordura do sertanejo é amarelo ouro, intensa, diferente, mais apurada, conta Raulino... Francisco Rollemberg, outro grande da cirurgia em Sergipe, presente na entrevista, confirmou balançando a cabeça. Raulino possuía uma habilidade cirúrgica notável. No campo espiritual, Raulino é espírita Kardecista praticante, com consequências em sua postura médica. Nunca deixou de atender um paciente, por ter ou não como pagar, razões financeiras nunca teve peso em suas decisões. Sempre movido pela missão de aliviar os sofrimentos dos seus pacientes. Um fato merece ser destacado: uma paciente de Carira teve trigêmeos e faleceu durante os partos, consequência, as três crianças (Bruno, Luciano e Raul) foram adotadas pela equipe médica. Raul passou a ser filho de Raulino. Do primeiro casamento, Raulino teve mais 4 filhos: Jorge, militar na Bahia; Jane, médica; Jussana, dentista; e Dinho.
   
Em 1980, Raulino, divorciado do primeiro casamento, começou um relacionamento com Josefa Delfina (foto), filha de Roque, ex prefeito de Campo do Brito, com quem vive até hoje. Delfina incentivou Raulino para a política. Foi vereador em Itabaiana por dois mandatos, deputado estadual, e presidente do IPES durante o Governo de Albano Franco. A passagem pela política, estimulou Raulino para voltar aos bancos escolares, junto com a esposa, em busca de uma nova formatura. Em 1993, aos 56 anos, Raulino recebe o diploma de bacharel em direito. Em seguida foi aprovado na prova da OAB, assumindo a condição de advogado, passando a exercer à lide jurídica, em especial na defesa dos colegas médicos quando precisam responder a justiça.

Somente em 2015, após 45 anos de bons serviços prestado ao povo da Região de Itabaiana (14 municípios), de ter sido presidente da Associação Olímpica de Itabaiana, ter participado do Rotary, virado ceboleiro, é que Raulino mudou-se para Aracaju. Quem pensa que ele, aos 80 anos, está descansando após a longa jornada, errou. Raulino continua dando três plantões por semana no Hospital José Franco, em Socorro; e os nos outros dois dias trabalhando na rede básica de Aracaju. Continua atendendo no SUS. Eu fiz uma pergunta óbvia, professor, já não está na hora de parar? Ele estendeu as duas mãos espalmadas, e respondeu-me de forma enfática: - “só paro quando as mãos começarem a tremer”. E eu sou testemunha, as mãos continuam hígidas, impassíveis ao tempo. Raulino, 80 anos, professor aposentado, oficial da reserva, trabalhos publicados em revistas científicas, tem uma situação financeira estabilizada, mas continua na linha de frente do SUS, atendendo aos que mais precisam. Saí querendo entender, que força é essa? Acho que a vocação tem um peso, Raulino tem a alma dos antigos médicos; mas acredito que a sua fé no espiritismo tem uma parcela de responsabilidade. A minha homenagem a Raulino é especial, pois além do exposto, foi ele quem sempre socorreu a minha mãe em suas necessidades de saúde, de forma gentil e atenciosa.


Antônio Samarone.

6 comentários:

  1. Nessa pandemia ele esta atendendo?
    No José Franco ,nossa senhora do Socorro

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  2. Um gênio na medicina, médico por amor a profissão e não por status social, parabéns a este exemplo de competência na área de saúde.

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  3. Dr. Raulino atendeu-me hoje pela manhã e confesso estou emocionada até agora. Nunca viu tanta sabedoria e humildade juntas num ser humano de tamanha grandeza. Foi Deus! Que me colocou de frente com ele.

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  4. Dr. Raulino atendeu-me hoje pela manhã e confesso estou emocionada até agora. Nunca vi tanta sabedoria e humildade juntas, num ser humano de tamanha grandeza. Foi Deus! Que me colocou de frente com ele.

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