NESTOR
PIVA, oitavo filho de Alberto Piva e Laura Piva, nasceu em 13 de junho de 1930,
em Salvador/BA. Imigrantes italianos, operários de tecelagem, ao chegarem ao
Brasil passaram pelas fábricas dos Matarazzos, em São Paulo; Bangu, no Rio de
Janeiro; Pelotas, Rio Grande do Sul; até chegarem a fábrica dos Catarinos, em
Salvador. Nestor Piva perdeu o pai aos três anos, o irmão mais velho, Inocêncio
Piva, assumiu as funções paternas. Estudou o primário no Colégio do Professor
Eufrates, em Salvador; e o restante dos estudos no Ginásio da Bahia. Em 1948,
ingressou na centenária Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia,
criada por D. João VI. A opção pela patologia foi precoce, desde cedo trabalhou
em laboratório e dominou as suas técnicas.
Nestor
Piva foi campeão juvenil no futebol pelo Galícia, vice-campeão baiano de vôlei
pelo Fluminense, e campeão de basquete pelo Bahia. Por muitos anos jogou tênis na
Associação Atlética de Sergipe; participou do movimento de rádio amador, e
tinha um xodó especial pela pescaria. Foi fundador e presidente do Clube de
Pesca de Sergipe. Um verdadeiro desportista.
Em
1954, o Dr. Augusto Leite convidou o professor baiano Aníbal Silvani para assumir
o serviço de patologia do Hospital de Cirurgia, em substituição ao patologista
alemão Konrad Schimitt, que retornava a sua terra. Silvani não aceitou, mas
indicou o seu aluno Nestor Piva, ainda doutorando para o cargo. Piva chegava em
Aracaju na sexta à tarde, trabalhava o final de semana, e retornava na segunda
para Salvador.
Formou-se
pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1954. Em 1955 organizou a disciplina de
patologia da Faculdade de Medicina da Paraíba. Um ano após voltou para Salvador
onde assumiu por concurso o cargo de médico do IAPC – Instituto de
Aposentadoria dos Comerciários. Em 1959 transferiu-se para Aracaju atendendo
convite dos médicos Juliano Simões e Fernando Sampaio, para retornar ao
Hospital de Cirurgia que estava sem médico patologista. Augusto Leite e o
Senador Leite Neto, conseguiram que o IAPC colocasse Piva à disposição do
hospital. Todos os exames de patologia do estado, inclusive os do Hospital
Santa Izabel, passaram a ser realizados no laboratório montado por Piva no
Cirurgia. Um fato: ele não recebia nada por isso. Ele só montou outro
laboratório, no São Lucas, quando o curso de medicina deixou o Hospital de
Cirurgia.
Nestor
Piva e Osvaldo Leite foram os primeiros professores da Faculdade de Medicina de
Sergipe, fundada por Antônio Garcia, lecionando inicialmente histologia; e em
seguida, professor titular da Patologia Geral, Especial e Bucal. Somente com a
saída das instalações da Faculdade de Medicina do Hospital de Cirurgia, Piva resolveu
fundar o seu Laboratório de Patologia no Hospital São Lucas, em sociedade com
duas ex-alunas. O Dr. Piva assimilou rápido toda a modernidade e quis que o seu
laboratório emitisse laudos com imagens digitalizadas e com as técnicas mais modernas
de imuno-histoquímica.
Em
1972, transferiu-se para Brasília onde assumiu por concurso o serviço de
patologia do Hospital das Forças Armadas. Nesse período foi professor adjunto
de patologia da Universidade de Brasília, ocupando o cargo de chefe do
Departamento. Permaneceu em Brasília por quatro anos, regressando a Sergipe
atendendo o convite do então reitor da UFS, economista Aloísio Campos.
Na
área administrativa, Dr. Piva exerceu vários cargos públicos: foi Diretor do
Instituto de Biologia (1969/70); Chefe do Departamento de Medicina Interna e Patologia
(1961/68); Diretor do Hospital Universitário, na administração do Reitor
Eduardo Garcia; Pró-Reitor de Graduação, onde implantou o sistema de créditos
na UFS, substituindo o antigo sistema seriado; Vice-Reitor da UFS; foi Secretário
de Educação do Estado de Sergipe por nove meses, no governo de João de Andrade
Garcez, tendo montado uma equipe de notáveis na educação (Gizelda Morais,
Carmelita Pinto Fontes, Beatriz Góis, Núbia Marques, Carmen Mendonça, Silvério
Fontes e Thetis Nunes). Com todos esses cargos ocupados, Piva nunca deixou a
sala de aulas. Nestor Piva nomeia um dos hospitais do município de Aracaju.
Foi
um dos fundadores e primeiro presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe,
onde atuou por dois mandatos. No início da década de 1980, um grupo de médicos recém-chegados
da residência médica, desconhecido, estava decidido em fundar o sindicato dos
médicos em Sergipe. Como legitimar esse sindicato, junto a uma categoria
conservadora? O grupo tinha participado ativamente do movimento estudantil na
UFS, quase todos de esquerda, como representar uma categoria tradicional?
Tivemos uma ideia, vamos convidar um médico antigo e que tenha legitimidade.
Quem? Não tivemos dúvidas: Nestor Piva. A maior cultura médica de Sergipe.
Combativo, corajoso, não fugia de conflitos, e respeitado por todos. Ninguém
enfrentava Piva e quem enfrentou perdeu. Procuramos o Dr. Piva e fizemos o
convite: professor, precisamos do senhor para legitimar o nosso Sindicato. Ele
aceitou... Dr. Piva foi militante no antigo Partido dos Trabalhadores, no tempo
que isso significava acreditar em mudanças para o Brasil. (no momento que
escrevo, estou ouvindo a delação de Palocci na TV).
Pesquisador
destacado na área da patologia parasitária, a sua tese de doutoramento em 1961,
foi sobre Esquistossomose do Aparelho Genital Inferior. Nesse período, só
existiam dois doutores em Sergipe: Luciano Duarte em filosofia e Nestor Piva em
medicina. Piva fez Pós-graduação em histoquímica com o Prof. Vialli – Universidade
de Pávia – Itália, de janeiro a julho de 1961, recebendo o Prêmio Pravaz. Pós-graduação
em Patologia no National Institute of Pathology - Prof.George Glenner -
Bethesda-MDUSA, de julho de 1965 a julho de 1966. Publicou (Parasitology - USA,
Acta Dermato Venerealogia Scandinávia, Riv. Italiana de Histochimica). Foi
presidente da Sociedade Brasileira de Patologia no período de 1985 - 1987.
Em
1956, Piva casou-se com a baiana Bernadete Rabello e com ela constituiu uma
família com quatro filhos: Ana Cristina, Marta, Nestor Piva Filho e Augusto
César. Em seu tempo livre, costumava distrair-se com a família e amigos, na
pesca com molinete, percorrendo nos finais de semana, as praias de Sergipe e
Alagoas, participando de campeonatos. Faleceu, sem deixar fortuna, em
decorrência de um câncer pulmonar, em 21 de outubro de 2004, em Aracaju/SE, com
74 anos. Tentou o tratamento no Hospital Universitário de Porto Alegre, e foi
tratado como indigente. Retornou à Aracaju, sabia da gravidade do seu problema e não aceitou nenhum tratamento invasivo, só cuidados paliativos. Sepultado no Cemitério Colina da Saudade, Aju/SE. Rendo
as minhas homenagens ao querido professor...
Antônio
Samarone.
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