Correr é preciso...
(Por Antonio Samarone)
Correr é um desejo atávico, que foi necessário a sobrevivência da espécie. Descer das árvores e enfrentar as savanas, foi um risco. Viramos presas fácies de leões, hienas e crocodilos. Nossa defesa foi correr.
Com a posição bípede, liberamos as mãos e passamos a fabricar ferramentas. O domínio do fogo e o uso de ferramentas forjaram o sapiens. O Homo sapiens (cérebro de 1,5 kg) domina sozinho a menos de 60 mil anos. Entretanto, a posição bípede, o uso de ferramentas e o domínio do fogo já fazem 2 milhões de anos.
Correr é anterior e será posterior ao Homo sapiens. Independe da razão.
Para o cérebro, inconscientemente, ainda corremos para fugir do predador. Como as corridas são simulações, não existem riscos de sermos alcançados. Sempre escapamos das feras. Iludido, o cérebro reage, liberando doses generosas de neurotransmissores responsáveis pela sensação de felicidade, para comemorar a vitória.
Portanto, correr é um antigo comando do cérebro. Não se pode estranhar, que numa sociedade do desempenho (Chul-Han), as corridas se tornem alternativas de participação. Numa sociedade cindida, fragmentada, atomizada, as corridas tronaram-se um caminho em si. Navegar é preciso...
A febre por maratonas é contagiosa e não existem vacinas. Finalmente, um tema de união nacional: correr! Tanto faz para direita ou para a esquerda.
Nesse final de semana, um amigo, em quem sempre votei por achá-lo parecido com um Ministro do Império, jurista consagrado, anunciou solenemente a sua entrada para o Clube de Corridas. “A minha vida mudou!” Disse o causídico emocionado. Certamente, arrastará multidões.
Não sobrará ninguém para uma boa roda de conversas. Todos correndo. Os políticos não perdem tempo: estão criando um novo PCB – Partido Brasileiro dos Corredores.
Eu conheço uma madame em Aracaju, sexagenária, joelhos estropiados, que fez da corrida uma missão de vida. Uma devota das corridas! Viaja o mundo em busca do seu sonho. Ao final de uma dessas corridas domingueiras, ao ser entrevistada, ela derramou-se em prantos: “meu Deus, obrigado. Estou cumprindo mais uma missão na terra.” O esposo, abraçado, chorava junto.
Uma mocinha em Itabaiana, transformou, para tristeza dos pais, a sua festa de debutante numa corrida entre as amigas. Sem marmanjos. Uma maratona de moçoilas!
Se mamãe fosse viva, já tinha disparado o seu aforismo preferido: É o fim do Mundo!
A nossa espécie eliminou os demais “Homo” há apenas 60 mil anos. Reinamos sozinhos. Entretanto, parece que o “sapiens” vai durar pouco. Quem não acredita que o famoso botão será apertado, o apocalipse nuclear, não está assistindo pelas redes sociais, as profecias de Donald Trump.
Se não tem mais jeito, se os predadores já estão com o bafo quente em nosso pescoço, vamos correr. Pode ser que um ou outro escape.
Antonio Samarone – Médico Sanitarista.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
sábado, 26 de abril de 2025
ITABAIANA, 350 ANOS. PROFESSORA LENITA CUNHA.
Itabaiana, 350 anos. Professora Lenita Cunha.
(por Antonio Samarone)
As mulheres de Itabaiana, sempre foram operosas, com afirma o Padre Marcos Antonio de Souza, em sua “Memória da Capitania de Sergipe – 1808”. Dona Lenita é natural do Zanguê, nascida a 28 de abril de 1954, filha Seu Carlito da Jabá, bodegueiro no Beco Novo, e Benvinda Valério dos Santos (Dona Netinha), professora no Malhador.
Uma família com 4 filhos: Lenita, Neide, Zuleide e Antonio Alberto, médico em Aracaju.
Lenita passou a infância no Zanguê. A família ligada a UDN, por conta do parentesco com Antonio de Ermírio, o líder local, cabo eleitoral de Euclides Paes Mendonça. Como era de práxis, com vitória Seixas Dória, PSD (1963), a mãe, professora, foi transferida para o Gandu. Depois foram transferidos para o Posto Agropecuário Fazenda Grande.
Lenita passou no exame de admissão do Murilo Braga, guardando lembranças da professora Floralice, de geografia, Ofenísia, de português e do grande Mestre Edgar, de biologia. Compartilho a lembrança de Edgar, um dentista do Aracaju, que nasceu com o talento pedagógico.
Lenita, cursou o na UFS Letras (português/inglês). Ainda estudante, foi aprovada no concurso de professora do Estado, e começou a ensinar em Itabaiana. Com a ida de Mercedes, professora de inglês, para os EUA, Lenita ocupou a vaga. Ensinou por 28 anos, até a aposentadoria.
Em 1969, Lenita casou-se com Edvaldo da Farmácia, e tiveram três filhos: Lizandes, Eline e Catarine. Na segunda metade do século XX, houve uma mudança de protagonismo em Itabaiana. O comércio, o empreendedorismo, passou a ser o caminho para a ascensão social. A escola, o curso superior, garantia um meio de vida modesto.
Lenita, uma alma intelectual, com vários livros publicados, entrou para o comércio. Comprou o bem-sucedido Armarinho de Zaíra. O marido, venerável mestre maçons, é uma liderança corporativa do comércio. Proporcionalmente, Itabaiana é onde existem mais maçons no Mundo. Isso vem de longe. Não me perguntem, eu não sei explicar.
Os livros de Lenita são diversificados. Sobre o meio ambiente, Rotary e Cosmologia. Lenita se identifica como uma agnóstica teísta, uma heresia, mas guarda os domingos e dias santos de guarda. Ela, Comendadora da Ordem de Sebrão, o sobrinho, se considera uma ambientalista.
Eu só conhecia a professora pela fama, de ser uma mulher inovadora e decidida. Recentemente, Lenita procurou a Secretária de Cultura para fazer uma queixa: pintaram um carneiro na Praça, como sendo o carneiro de ouro da lenda itabaianense, que ela não aceita. A carneiro de ouro da nossa lenda é outro, afirmara ela indignada!
Eu informei que não possuía jurisdição para vetar o carneiro da praça. Lendas, são narrativas orais, mistura de fatos com fantasias. As lendas possuem elementos fantásticos, míticos, sobrenaturais. Cada um, vê o carneiro de ouro de um jeito.
Lenita não se conformou. Foi ao Bom Jardim, reuniu os idosos, para ouvir a versão popular. Pintou o carneiro da lenda ao seu modo, e doou a tela a Biblioteca Municipal. Tá lá, exposta.
Em tempos de redes sociais, inteligência artificial, fake news, ter um professora aposentada, brigando pela pureza de uma lenda, me deixou com a esperança que a cultura está viva.
Gente, eu fui ao Bom Jardim, em noite de lua cheia, para comprovar se o carneiro ainda aparece. Eu vi. O motorista que foi comigo, um obreiro da Assembleia de Deus, não viu. A gente só vê o que acredita.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
As mulheres de Itabaiana, sempre foram operosas, com afirma o Padre Marcos Antonio de Souza, em sua “Memória da Capitania de Sergipe – 1808”. Dona Lenita é natural do Zanguê, nascida a 28 de abril de 1954, filha Seu Carlito da Jabá, bodegueiro no Beco Novo, e Benvinda Valério dos Santos (Dona Netinha), professora no Malhador.
Uma família com 4 filhos: Lenita, Neide, Zuleide e Antonio Alberto, médico em Aracaju.
Lenita passou a infância no Zanguê. A família ligada a UDN, por conta do parentesco com Antonio de Ermírio, o líder local, cabo eleitoral de Euclides Paes Mendonça. Como era de práxis, com vitória Seixas Dória, PSD (1963), a mãe, professora, foi transferida para o Gandu. Depois foram transferidos para o Posto Agropecuário Fazenda Grande.
Lenita passou no exame de admissão do Murilo Braga, guardando lembranças da professora Floralice, de geografia, Ofenísia, de português e do grande Mestre Edgar, de biologia. Compartilho a lembrança de Edgar, um dentista do Aracaju, que nasceu com o talento pedagógico.
Lenita, cursou o na UFS Letras (português/inglês). Ainda estudante, foi aprovada no concurso de professora do Estado, e começou a ensinar em Itabaiana. Com a ida de Mercedes, professora de inglês, para os EUA, Lenita ocupou a vaga. Ensinou por 28 anos, até a aposentadoria.
Em 1969, Lenita casou-se com Edvaldo da Farmácia, e tiveram três filhos: Lizandes, Eline e Catarine. Na segunda metade do século XX, houve uma mudança de protagonismo em Itabaiana. O comércio, o empreendedorismo, passou a ser o caminho para a ascensão social. A escola, o curso superior, garantia um meio de vida modesto.
Lenita, uma alma intelectual, com vários livros publicados, entrou para o comércio. Comprou o bem-sucedido Armarinho de Zaíra. O marido, venerável mestre maçons, é uma liderança corporativa do comércio. Proporcionalmente, Itabaiana é onde existem mais maçons no Mundo. Isso vem de longe. Não me perguntem, eu não sei explicar.
Os livros de Lenita são diversificados. Sobre o meio ambiente, Rotary e Cosmologia. Lenita se identifica como uma agnóstica teísta, uma heresia, mas guarda os domingos e dias santos de guarda. Ela, Comendadora da Ordem de Sebrão, o sobrinho, se considera uma ambientalista.
Eu só conhecia a professora pela fama, de ser uma mulher inovadora e decidida. Recentemente, Lenita procurou a Secretária de Cultura para fazer uma queixa: pintaram um carneiro na Praça, como sendo o carneiro de ouro da lenda itabaianense, que ela não aceita. A carneiro de ouro da nossa lenda é outro, afirmara ela indignada!
Eu informei que não possuía jurisdição para vetar o carneiro da praça. Lendas, são narrativas orais, mistura de fatos com fantasias. As lendas possuem elementos fantásticos, míticos, sobrenaturais. Cada um, vê o carneiro de ouro de um jeito.
Lenita não se conformou. Foi ao Bom Jardim, reuniu os idosos, para ouvir a versão popular. Pintou o carneiro da lenda ao seu modo, e doou a tela a Biblioteca Municipal. Tá lá, exposta.
Em tempos de redes sociais, inteligência artificial, fake news, ter um professora aposentada, brigando pela pureza de uma lenda, me deixou com a esperança que a cultura está viva.
Gente, eu fui ao Bom Jardim, em noite de lua cheia, para comprovar se o carneiro ainda aparece. Eu vi. O motorista que foi comigo, um obreiro da Assembleia de Deus, não viu. A gente só vê o que acredita.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
domingo, 20 de abril de 2025
A GUERRILHA EM ITABAIANA.
A Guerrilha em Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
Havia uma perplexidade sobre o “porquê” da homenagem prestada ao presidente Médici, nomeando com o seu nome o Estádio de Futebol em Itabaiana. Recentemente o estádio foi rebatizado como Etelvino Mendonça.
De onde surgiu a motivação para a homenagem ao Presidente Garrastazu?
Em novembro de 1971, o 28º Batalhão de Caçadores realizou um treinamento anti guerrilha em Itabaiana, combinado com uma ação de presença e ações cívicos sociais. Era o Exército buscando legitimação para o regime de exceção. A manchete do Jornal “O Serrano”, sobre o acontecimento: “Exercito Comunga com o Povo.”
O Rotary Clube de Itabaiana prestou uma homenagem especial ao Exército Nacional pelas ações de treinamento anti guerrilha em Itabaiana, na pessoa do comandante do 28º BC, João Neiva de Mello Távora.
O comandante do 28º BC, em discurso no Rotary, justificou a escolha de Itabaiana para o local dos exercícios militares: a presença da sub estação da CHESF na cidade. Contudo, o serviço de inteligência militar apontava a presença de subversivos na cidade. Exagero!
Itabaiana sempre foi um ninho de devotos, onde se beijavam as mãos dos padres (ainda de batina); guardavam-se domingos e dias santos, ia-se ao catecismo e rezava-se todas as noites para o anjo da guarda.
A operação anti guerrilha incluía uma ação cívico social. O exército realizou atendimento médico, odontológico e veterinário em vários povoados de Itabaiana. Observando o relatório do exército, vários serviços foram realizados, incluindo 700 cortes de cabelo. O corte preferido foi o “Príncipe Danilo”.
A ação anti guerrilha em Itabaiana, coincidiu com a visita do Presidente Médici a Sergipe. Na ocasião, foi anunciada pelo Ministro Eliseu Resende a pavimentação asfáltica da BR – 235, no trecho Aracaju / Carira. A pavimentação foi concluída em 1973.
No mesmo mês da ação, novembro de 1971, o Presidente Garrastazu Médici Visitou Sergipe. O jornal itabaianense “O Serrano” noticiou: “A viagem do terceiro presidente revolucionário as Terras sergipanas foi coroado de pleno êxito, já que Aracaju inteira se floriu com o calor da visita presidencial.”
Continuou o Serrano: “Itabaiana cumprimentou o General Garrastazu Médici através do Deputado Pedro Moreno, que lhe ofereceu uma flâmula do Tremendão da Serra. Quebrando a rigidez do protocolo, o Deputado foi a única pessoa a se dizer torcedor do Flamengo, como Médici.”
Por que uma da ação anti guerrilha em Itabaiana? Uma cidade religiosa, apesar de ser governada pelo MDB, do Prefeito Filadelfo Araújo?
Estampou o Serrano em suas páginas: “Encerrada a semana de congraçamento Exército & Povo.” A cidade ficou literalmente ocupada, com a exposição do arsenal militar.
A ação anti guerrilha foi real. Meia dúzia de soldados (os mais feios) fantasiados de guerrilheiros, se esconderam nos quintais e matagais do Beco Novo.
A tropa, bem armada (balas de festim), eliminou os dublês de subversivos em poucos dias. No Beco Novo, ninguém entendeu. Depois da guerra, a molecada saiu procurando as cascas das balas.
A boca miúda, se comentava que a escolha de Itabaiana para uma ação anti guerrilha, foi a ameaça de um grupo de idosos, viciados em dominó. Não é piada. Vamos aos fatos: um grupo de velhos, viciados em dominó, reunia-se diariamente na Farmácia Americana. A farmácia fechou.
Para continuarem com a jogatina, eles conseguiram as chaves do Diretório Municipal do MDB, dirigido em Itabaiana, pelo deputado Baltazar Francisco dos Santos, de Ribeirópolis. Os Velhos do Dominó criaram uma nova cafua.
Não se sabe quem levou, mas foi encontrado um panfleto com a foto de Fidel Castro entre os viciados no Dominó dos Velhos. Baltazar, para evitar complicações, retomou as chaves e acabou com o nicho de subversivos.
Esse fato, colocou o 28 BC em alerta máximo. A inteligência militar decidiu por uma ação anti guerrilha em Itabaiana. Comunista tem astúcia do Cão, inventaram até um dominó subversivo em Itabaiana.
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
(por Antonio Samarone)
Havia uma perplexidade sobre o “porquê” da homenagem prestada ao presidente Médici, nomeando com o seu nome o Estádio de Futebol em Itabaiana. Recentemente o estádio foi rebatizado como Etelvino Mendonça.
De onde surgiu a motivação para a homenagem ao Presidente Garrastazu?
Em novembro de 1971, o 28º Batalhão de Caçadores realizou um treinamento anti guerrilha em Itabaiana, combinado com uma ação de presença e ações cívicos sociais. Era o Exército buscando legitimação para o regime de exceção. A manchete do Jornal “O Serrano”, sobre o acontecimento: “Exercito Comunga com o Povo.”
O Rotary Clube de Itabaiana prestou uma homenagem especial ao Exército Nacional pelas ações de treinamento anti guerrilha em Itabaiana, na pessoa do comandante do 28º BC, João Neiva de Mello Távora.
O comandante do 28º BC, em discurso no Rotary, justificou a escolha de Itabaiana para o local dos exercícios militares: a presença da sub estação da CHESF na cidade. Contudo, o serviço de inteligência militar apontava a presença de subversivos na cidade. Exagero!
Itabaiana sempre foi um ninho de devotos, onde se beijavam as mãos dos padres (ainda de batina); guardavam-se domingos e dias santos, ia-se ao catecismo e rezava-se todas as noites para o anjo da guarda.
A operação anti guerrilha incluía uma ação cívico social. O exército realizou atendimento médico, odontológico e veterinário em vários povoados de Itabaiana. Observando o relatório do exército, vários serviços foram realizados, incluindo 700 cortes de cabelo. O corte preferido foi o “Príncipe Danilo”.
A ação anti guerrilha em Itabaiana, coincidiu com a visita do Presidente Médici a Sergipe. Na ocasião, foi anunciada pelo Ministro Eliseu Resende a pavimentação asfáltica da BR – 235, no trecho Aracaju / Carira. A pavimentação foi concluída em 1973.
No mesmo mês da ação, novembro de 1971, o Presidente Garrastazu Médici Visitou Sergipe. O jornal itabaianense “O Serrano” noticiou: “A viagem do terceiro presidente revolucionário as Terras sergipanas foi coroado de pleno êxito, já que Aracaju inteira se floriu com o calor da visita presidencial.”
Continuou o Serrano: “Itabaiana cumprimentou o General Garrastazu Médici através do Deputado Pedro Moreno, que lhe ofereceu uma flâmula do Tremendão da Serra. Quebrando a rigidez do protocolo, o Deputado foi a única pessoa a se dizer torcedor do Flamengo, como Médici.”
Por que uma da ação anti guerrilha em Itabaiana? Uma cidade religiosa, apesar de ser governada pelo MDB, do Prefeito Filadelfo Araújo?
Estampou o Serrano em suas páginas: “Encerrada a semana de congraçamento Exército & Povo.” A cidade ficou literalmente ocupada, com a exposição do arsenal militar.
A ação anti guerrilha foi real. Meia dúzia de soldados (os mais feios) fantasiados de guerrilheiros, se esconderam nos quintais e matagais do Beco Novo.
A tropa, bem armada (balas de festim), eliminou os dublês de subversivos em poucos dias. No Beco Novo, ninguém entendeu. Depois da guerra, a molecada saiu procurando as cascas das balas.
A boca miúda, se comentava que a escolha de Itabaiana para uma ação anti guerrilha, foi a ameaça de um grupo de idosos, viciados em dominó. Não é piada. Vamos aos fatos: um grupo de velhos, viciados em dominó, reunia-se diariamente na Farmácia Americana. A farmácia fechou.
Para continuarem com a jogatina, eles conseguiram as chaves do Diretório Municipal do MDB, dirigido em Itabaiana, pelo deputado Baltazar Francisco dos Santos, de Ribeirópolis. Os Velhos do Dominó criaram uma nova cafua.
Não se sabe quem levou, mas foi encontrado um panfleto com a foto de Fidel Castro entre os viciados no Dominó dos Velhos. Baltazar, para evitar complicações, retomou as chaves e acabou com o nicho de subversivos.
Esse fato, colocou o 28 BC em alerta máximo. A inteligência militar decidiu por uma ação anti guerrilha em Itabaiana. Comunista tem astúcia do Cão, inventaram até um dominó subversivo em Itabaiana.
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
sexta-feira, 18 de abril de 2025
A FÉ EM TABULEIRO DO CHICO
A Fé em Tabuleiro do Chico.
(por Antonio Samarone)
Em Itabaiana, a fé acompanhou a colonização. Fomos a Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, ou seja, uma Vila de franciscanos e beneditinos, ao pé da Serra. Almas é uma referência a São Miguel, padroeiro dos beneditinos.
O topônimo Itabaiana é anterior a chegada dos portugueses. Itabaiana Grande é a serra, avistada por Américo Vespúcio, em 1501.
Itabaiana é uma civilização de devotos. Na Semana Santa, três povoados, comunidades agrícolas, encenam a Paixão de Cristo: Tabuleiro do Chico, Mangabeira e Malhada Velha.
No Tabuleiro do Chico a encenação da Paixão de Cristo é um culto, um ritual religioso. São devotos, movidos pela fé. Na Mangabeira a encenação é cultural, um teatro ao ar livre, com direção artística, cenário, som, luz e figurinos profissionais. A inspiração dos participantes continua religiosa.
A Mangabeira e o Tabuleiro do Chico realizam a encenação da Paixão de Cristo de forma distinta: na primeira é culto e na segunda é cultura. Eu sei, culto e cultura se entrelaçam, mas são manifestações distintas.
No Tabuleiro do Chico, a encenação da Paixão de Cristo é uma festa religiosa, realizada com recursos teatrais. Na Mangabeira é uma encenação teatral, com inspiração religiosa. A primeira é um culto e a segunda cultura. As duas são realizações de leigos, iniciativa da coletividade.
Na Semana Santa a Igreja já possui festas, dentro dos seus rituais: domingo de ramos, lava pés, procissões do encontro, vias-sacras, fogaréus, sábado de aleluia e domingo de páscoa. São festas religiosas, comandadas pelo igreja católica.
Em Nova Jerusalém (cem mil metros quadrados), Pernambuco, a encenação da Paixão de Cristo é puro teatro, espetáculo com fins lucrativos, destinada à recreação de turistas. Por exemplo, o ator que representa Cristo, pode ser até um ateu.
Nas três formas de encenação da Paixão de Cristo: culto, cultura ou espetáculo comercial, o espectador vai majoritariamente em busca de entretenimento, distração, jeito mais comum em se utilizar o tempo livre, o ócio. Poucos vão contemplar.
A Capela Sagrado Coração de Jesus, do Tabuleiro do Chico, pertence à Paróquia de Jesus Misericordioso, comandada pelo competente Padre Josivaldo. A encenação é acompanhada de perto pela Igreja.
Pode a cultura substituir a religião? Em minha infância passavam filmes sobre a Vida, Paixão e Morte de Jesus Cristo, cinema cheio em duas sessões. Parece que depois da “The Passion of the Christ”, de Mel Gibson, esse tipo de filme saiu de moda.
No teatro grego os heróis e os deuses eram satirizados pelos poetas, trovadores e teatrólogos.
A igreja católica foi a maior patrocinadora das artes. Os temas religiosos dominaram o renascimento. O teto da Capela Sistina é o maior exemplo. A música clássica surgiu dentro das sacristias das catedrais europeias.
A arte se dissociou da fé, a partir do iluminismo. A insistência na evangelização teatral, é vista com certa desconfiança pela igreja tradicional. O catecismo é cartesiano, direto, dogmático. A arte é movida a símbolos, tolerante, diversa, dialética e conflitante.
Geralmente, a arte é uma atividade crítica. As religiões reveladas são por natureza dogmática.
Em 1989, Joãozinho Trinta levou a alegoria de um Cristo Mendigo para a passarela, com o enredo: “Ratos e Urubus, larguem a Minha Fantasia, da Beija-Flor. Foi a maior polêmica. A Igreja católica entrou na justiça para proibir.
Deixando de lado essas divagações teóricas, a encenação da Paixão de Cristo no Tabuleiro do Chico é uma manifestação de devoção, autonomia e criatividade de pessoas simples. Uma forma de agradecimento a Deus pela vida.
Palmas, para a comunidade do Tabuleiro do Chico, que se esforça para apresentar aos visitantes uma manifestação criativa de fé e beleza.
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
quarta-feira, 16 de abril de 2025
MESA DE BAR
Mesa de Bar.
(por Antonio Samarone)
“Corina tem um filho comunista, coitada! E além disto, ele fuma maconha!” Amaral Cavalcante.
Antes das redes sociais, o barzinho era um espaço de encontros de artistas, boêmios, intelectuais, revolucionários e de uma meia dúzia de desocupados. A cada noite, se botava em dias as fofocas, as notícias e se aprovava planos para mudar o mundo.
O filosofo de mesa de bar desfilava imponente. Falava sobre tudo, sempre com a razão.
Lembro-me do Gosto Gostoso, que funcionava na rua Lourival Chagas, (se não me engano), perto do apartamento de Marcelo Déda. O bar era de Fernandinho (Fernando Montalvão Filho), um aristocrata de Lagarto, que largou o sólido emprego de bancário do Bradesco, para virar empresário. Walfredo, irmão de Waldefrei do Clube da ENERGIPE, era sócio.
O Gosto Gostoso foi um sucesso. Na época, o Partido dos Trabalhadores era uma marca de prestígio. Quem quisesse ser moderno, botava uma estrelinha no peito e saia desfilando. Eu não conhecia nenhum jovem de direita, caso existisse, era incubado.
O bar de Fernandinho e Walfredo era infestado de esquerdistas, intelectuais, jornalistas, agentes culturais, anarquistas e monarquistas de esquerda, boêmios, bicho grilo, artistas e filósofos. Uma Arca de Noé!
Antes, era o Gosto Gostoso refeições, vendia marmita e quentinha. Depois passou a abrir as quartas-feiras, servindo uma geladinha e tira gosto, abrilhantado por Chico Queiroga. Foi quando se tornou o Bar da moda e ganhou fama. Isso era efêmero, circulava.
Os candidatos de esquerda lançavam as suas campanhas políticas no Gosto Gostoso. A classe média universitária estava lá. Todos queríamos mudar o mundo. Uns mais, outros menos.
Fernandinho e Walfredo eram criativos, levava artistas alternativos. Por lá passaram famosos: Xangai, Vital Farias, Geraldo Azevedo, Elomar, e tantos outros que esqueci.
Dos talentosos artistas da terra, lembro-me de Pantera, Chico Queiroga, Doca Furtado, Sena e Sergival, Feliciano, Cataluzes, Amorosa, Ismar Barreto, Irmão e Tonho Baixinho. Devo ter esquecido de muita gente, a quem peço desculpas.
A cerveja gelada era complementada pela tradicional maniçoba, coração de frango e caldo verde. Se saia das intermináveis assembleias do PT, para o Gosto Gostoso, sem peso na consciência. Era um lazer quase revolucionário.
Lembro-me de um texto de Amaral Cavalcante, uma peça literária: “Vida, esperança de justiça e sofreguidão. Acho que éramos todos assim belos e revolucionários, naqueles tempos do Gosto Gostoso.”
Peço licença para continuar citando Amaral:
“Notável também eram as bolsas de coro cru a tiracolo. Cada um carregava nela o seu arsenal bélico: folhas soltas com desenhos malucos, doutrinas, diários guevarianos, manifestos, a última edição de Carlos Zéfiro e, no fundo, perfumando tudo, o providencial baseado – que ninguém é de ferro.”
O Gosto Gostoso começou a decair com a inauguração do Calipso e do Calabar, na Praia, com a iluminação nova da orla, implantada pelo governador João Alves.
Gente, por onde anda aquela turma, quantos continuam vivos, fazem o que, quantos estão entocados nas redes sociais. Apareçam! Os derrotados também são filhos de Deus. As nossas bandeiras estão encostadas temporariamente.
Como consolo, lembro-me de um verso de Cazuza: “Se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo não para.”
Antonio Samarone. Secretario de Cultura de Itabaiana.
MEMÓRIA ALDEÃ - HISTORIA DO BOM JARDIM.
Memória Aldeã – A história do Bom Jardim.
(por Antonio Samarone)
O único historiador sergipano a narrar as histórias das pequenas comunidades, dos povoados, foi Sebrão Sobrinho. Como surgiram essas povoações? Alguns foram antigos quilombos, aldeias indígenas ou engenhos desativados.
Em Itabaiana, foram quilombos: Barro Preto, Carrilho, Tabocas e Dendezeiro. Foram aldeias (tabas): Maitapoam, Caraíbas e Flechas. Sebrão acreditava que todos os povoados nasceram como tabas indígenas. Desconhecia os quilombos, reforçando a crença que em Itabaiana não tinha negros.
No Brasil Colônia, as terras foram distribuídas aos fidalgos pelo sistema de sesmarias. Via de regra, os beneficiados não as exploravam pessoalmente. Arrendavam para a criação de gado ou plantação de cana. O trabalho dominante era escravo. As sesmarias mediam-se em léguas.
O sistema de sesmaria chegou ao fim em 1822. A lei da terra, que introduziu a lógica mercantil, é de 1850. Passaram-se 28 anos sem normas jurídicas para a propriedade da terra. Predominavam as posses.
Nesse período, as ocupações de sesmarias improdutivas, dos espaços entre as sesmarias e as terras devolutas se acentuaram. As ocupações criaram os minifúndios, a cultura de subsistência e pequenos aglomerados populacionais (os povoados).
Essa realidade histórica, explica a distribuição de terras em Itabaiana. A ausência de latifúndios em torno da Villa. Os minifúndios conduziram a agricultura de subsistência, a produção de alimentos, sobretudo da farinha de mandioca. Nesse tempo, Itabaiana torna-se o celeiro de Sergipe.
Essa ocupação populacional do Pé da Serra de Itabaiana foi reforçada pela Peste de Cólera de 1855. Diante da Peste, a solução sensata era fugir. Sabia-se que a medicina era impotente e um par de botas constituía o mais seguro dos remédios. Desde o século XIV a Sorbone aconselhara aos que podiam que fugissem logo, para longe e por longo tempo.
Em Itabaiana, durante a pandemia de Cólera de 1855, atuou o Dr. Manoel Simões de Mello, que pouco pôde fazer, uma vez que a população daquele município, tendo em vista o abandono das autoridades, fugiu para as matas e serras vizinhas, não se encontrando quase ninguém no centro da Villa.
Assim nasceu o Bom Jardim: ocupação da terra pelas brechas da lei, acelerada pela fuga da Peste. Recebi de Seu Onésimo José de Jesus, um bom-jardinense raiz, uma versão consistente da história do povoado, que usei como principal fonte desse texto.
Trabalhadores sem-terra, residente na Villa, liderados por Vitório José de Jesus, por volta de 1850, ocuparam terras abandonadas no pé da Serra de Itabaiana. A terra era boa, clima ameno e água cristalina. Na chegada, os ipês estavam floridos. O nome estava evidente: Bom Jardim.
Vitório José estabeleceu-se na nova terra com a família. A esposa, Vitória Maria do Espírito Santo, e dez filhos: Felipe, Teófilo, Manoel, João José, Antonio Alexandre, Cândido, José Bispo, Josefa, Maria e Lourença. O texto de Seu Onésimo traça uma genealogia detalhada dos descendentes do fundador.
A escola só chegou ao Bom Jardim no século XX. Em 1910, aparece a primeira professora, Dona Lolosa, que veio do Aracaju. Ficou pouco tempo. Em 1915, trouxeram uma professora de Itabaiana, Maria Teodora, que ensinou por quatro anos.
Uma comunidade de devotos, gente rezadeira, religiosa. As missas começaram a ser rezadas pelo padre Vicente Valetim da Cunha, na casa de seu Brasiliano Bispo, onde também aconteciam as aulas de catecismo.
Dessas missas surgiu a ideia em se colocar um Cruzeiro no alto da Serra. A solenidade de instalação do Cruzeiro foi uma festa, comandada pelo Frei João, com mais de trezentos participantes. Gente de todos os povoados serranos. O Cruzeiro permanece lá até hoje.
Uma comissão de moradores solicitou ao Governo do Estado, Manoel Dantas, por intermédio do Intendente de Itabaiana, Cazuza de Queiroz, uma professora estadual. Foi enviada a Professora Laura Maria dos Santos, vinda do Aracaju. O senhor Lucas Evangelista cedeu a sua casa para a professora morar e se mudou para um povoado vizinho.
Em 1931, os netos de Seu Vitório, o fundador do povoado, resolveram construir uma capela, com apoio total do Padre Antonio Freitas, o pároco da Villa. A capela foi consagrada ao Sagrado Coração de Maria e solenemente inaugurada em 05 de fevereiro de 1936. A capela é belíssima (foto). Sebrão cita a existência de uma afinada Banda de Pífano, a filarmônica local, que acompanhava as festas religiosas.
Precedida por uma Santa Missão, pregada pelo Frei André, a padroeira foi entroniza na primeira capela da Paróquia de Santo Antonio e Almas, em 05 de fevereiro de 1936, sob a benção do Cônego Jugurta Feitosa Franco. A capela (foto), reformada em 1986, pelo Arcebispo Luciano Duarte. Completou 89 anos. Hoje, a capela pertence à Paróquia Nossa Senhora do Carmo,
Na década de 1950, foi construída uma escola estadual (hoje escola municipal Luís Floresta). Várias professoras marcaram passagem pelo Bom Jardim: Ester dos Santos, Maria Senhora de Jesus, Dona Zuleide.
Nessa época, década de 1950, Euclides Paes Mendonça, em seu ímpeto desenvolvimentista, construiu uma estrada trafegável para Itabaiana. Hoje essa estrada é asfaltada. Foi um grande progresso.
Na década de 1970, com a ajuda do Monsenhor Carvalho, foi instalada a luz elétrica, com ligação domiciliar. A comunidade conta com Unidade de Saúde, Escola Municipal de qualidade, água encanada, salão comunitário, associação de moradores atuante, bares e restaurante, com a famosa comida caseira. Aos domingos, vale a pena ir tomar o café da manhã no Bom Jardim.
O belo povoado tem memória do seu passado, orgulho do que o construíram, lembranças dos seus líderes e benfeitores, vaidade pela qualidade de vida. É o velho segredo: No Bom Jardim não tem ricos nem miseráveis, tem cidadãos. Camponeses ciosos da sua condição.
Acredito que no novo destino turístico de Itabaiana, o Bom Jardim será um polo atrativo, uma Trancoso, de Porto Seguro. Por onde andam os empreendedores? Tirem a grana do mercado financeiro. O Ecoturismo é o futuro.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
segunda-feira, 14 de abril de 2025
A CULTURA VICEJA.
A Cultura Viceja.
(por Antonio Samarone).
Em viagem com Luiz Antonio Barreto a Itabaiana, visando debater a formação de um Núcleo Local de Cultura, ele formulou uma tese: “a política, a igreja, as forças armadas, a imprensa tem donos. Só a Cultura é de todos.”
Fiquei pensando, demorei a entender, mas entendi. Enfiei a cabeça na cultura, entrei de corpo e alma.
Essa energia cultural em Itabaiana vem crescendo. As manifestações se multiplicam. Várias correntes, múltiplos agentes culturais, diversas formas de manifestações.
Quando Valmir me convidou para ser Secretário da Cultura, não podia rejeitar, era uma oportunidade em dar a minha contribuição. Lembrei-me de Luiz Antonio.
Ontem, um domingo, em singela solenidade, o intelectual e desembargador Vladimir Carvalho, doou a sua discoteca (800 discos), à Filarmônica 28 de agosto. Isso, essa é outra instituição musical. Não é aquela que completou 280 anos. A de Nossa Senhora da Conceição.
Além do desembargador, estão na foto: Samarone, com a camisa tricolor; o historiador Almeida Bispo, o professor Anderson, doutor em história, o músico Popó, a professora municipal Aldenir Machado e o maestro Natan Carvalho. Uma curiosidade: o maestro é do Bairro São Cristóvão, o antigo Tabuleiro dos Caboclos.
A força da música em Itabaiana produziu dois Natan(s) famosos, um Lima, outro Carvalho; um da música brega, outro da música clássica. Adivinhem quem enriqueceu?
A tradição musical em Itabaiana é de duas Filarmônicas.
Uma solenidade comovente, o Desembargador Vladimir Carvalho, (75 anos), escritor consagrado, imortal por várias academias, o maior nome vivo da intelectualidade itabaianense, falando para a juventude, para os alunos da Filarmônica. A cultura cria laços, narrativas, arte e história.
Itabaiana agradece!
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
(por Antonio Samarone).
Em viagem com Luiz Antonio Barreto a Itabaiana, visando debater a formação de um Núcleo Local de Cultura, ele formulou uma tese: “a política, a igreja, as forças armadas, a imprensa tem donos. Só a Cultura é de todos.”
Fiquei pensando, demorei a entender, mas entendi. Enfiei a cabeça na cultura, entrei de corpo e alma.
Essa energia cultural em Itabaiana vem crescendo. As manifestações se multiplicam. Várias correntes, múltiplos agentes culturais, diversas formas de manifestações.
Quando Valmir me convidou para ser Secretário da Cultura, não podia rejeitar, era uma oportunidade em dar a minha contribuição. Lembrei-me de Luiz Antonio.
Ontem, um domingo, em singela solenidade, o intelectual e desembargador Vladimir Carvalho, doou a sua discoteca (800 discos), à Filarmônica 28 de agosto. Isso, essa é outra instituição musical. Não é aquela que completou 280 anos. A de Nossa Senhora da Conceição.
Além do desembargador, estão na foto: Samarone, com a camisa tricolor; o historiador Almeida Bispo, o professor Anderson, doutor em história, o músico Popó, a professora municipal Aldenir Machado e o maestro Natan Carvalho. Uma curiosidade: o maestro é do Bairro São Cristóvão, o antigo Tabuleiro dos Caboclos.
A força da música em Itabaiana produziu dois Natan(s) famosos, um Lima, outro Carvalho; um da música brega, outro da música clássica. Adivinhem quem enriqueceu?
A tradição musical em Itabaiana é de duas Filarmônicas.
Uma solenidade comovente, o Desembargador Vladimir Carvalho, (75 anos), escritor consagrado, imortal por várias academias, o maior nome vivo da intelectualidade itabaianense, falando para a juventude, para os alunos da Filarmônica. A cultura cria laços, narrativas, arte e história.
Itabaiana agradece!
Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.
sábado, 12 de abril de 2025
MEMÓRIA APAGADA - ADEUS GUILHERMINO BEZERRA.
Memória Apagada – Adeus Guilhermino Bezerra.
(Por Antonio Samarone)
No final da Praça de Santa Cruz, em 04 de abril de 1937, Governo Eronides de Carvalho, foi inaugurado o Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (foto). O primeiro de Itabaiana. Uma gracinha arquitetônica. O berço intelectual de muitos meninos pobres. Foi lá que aprendi a ler e a escrever.
Para espanto geral, a Secretaria Estadual de Educação resolveu reformá-lo, ou melhor, deformá-lo, para abrigar uma parte da sua burocracia. O belo prédio está sendo estuprado arquitetonicamente. Adeus memória!
É mais um prédio histórico indo abaixo em Itabaiana. Recentemente demoliram umas das primeiras igrejas presbiterianas de Sergipe, de 1938. Agora foi o Guilhermino Bezerra, de 1937.
Não foi sem resistência.
Em 2015, a Academia Itabaianense de Letras, sob liderança do Desembargador Vladimir Carvalho, solicitou ao Governador Jackson Barreto a doação do prédio do Guilhermino Bezerra, para fins culturais, incluindo a construção da sede da Academia. Pelo sim, pelo não, a coisa ia bem, depois desandou.
O Ex Prefeito Adaílton Souza fez nova investida. Solicitou a municipalização do imóvel, para instalação do memorial de Itabaiana. Memorial é um museu moderno, tipo o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O arquiteto Ezío Déda chegou a visitar o prédio, concordando com a adequação do imóvel.
Em minha infância, Itabaiana possuía um museu, na Rua Padre Felismino, fundado em 1966. Sei que pouca gente se lembra do Museu de José Conrado dos Santos (Zé de Ana). Falava-se, a boca miúda, que ele tinha recebido ajuda de Lourival Batista. Ele negava!
Voltando ao Guilhermino Bezerra. Não houve jeito, faltou sensibilidade ao Estado.
A memória educacional de Itabaiana está sendo soterrada. Várias gerações de ceboleiros passaram por seus bancos. O Guilhermino Bezerra marcou a arrancada da educação em Itabaiana. O passo inicial para o Murilo Braga.
Ontem, o assunto foi abordado em um grupo de amigos. Um professor, tomado pelo realismo, disparou: “agora não tem mais jeito, a desgraça já está feito.” Outro, me jogou a culpa: “a Cultura Municipal” não poderia ter tombado antes? Tocar viola de boca é fácil.
A Prefeitura de Itabaiana tentou impedir, insistiu, solicitou oficialmente o prédio para implantar um memorial, preservando a beleza e o padrão original. A resposta foi a deformação impiedosa do Guilhermino Bezerra.
Fiquei pensando, por que tanto desrespeito a memória de Itabaiana?
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
(a foto é da lavra de Paulinho de Dóci, do acervo de Robério)
(Por Antonio Samarone)
No final da Praça de Santa Cruz, em 04 de abril de 1937, Governo Eronides de Carvalho, foi inaugurado o Grupo Escolar Guilhermino Bezerra (foto). O primeiro de Itabaiana. Uma gracinha arquitetônica. O berço intelectual de muitos meninos pobres. Foi lá que aprendi a ler e a escrever.
Para espanto geral, a Secretaria Estadual de Educação resolveu reformá-lo, ou melhor, deformá-lo, para abrigar uma parte da sua burocracia. O belo prédio está sendo estuprado arquitetonicamente. Adeus memória!
É mais um prédio histórico indo abaixo em Itabaiana. Recentemente demoliram umas das primeiras igrejas presbiterianas de Sergipe, de 1938. Agora foi o Guilhermino Bezerra, de 1937.
Não foi sem resistência.
Em 2015, a Academia Itabaianense de Letras, sob liderança do Desembargador Vladimir Carvalho, solicitou ao Governador Jackson Barreto a doação do prédio do Guilhermino Bezerra, para fins culturais, incluindo a construção da sede da Academia. Pelo sim, pelo não, a coisa ia bem, depois desandou.
O Ex Prefeito Adaílton Souza fez nova investida. Solicitou a municipalização do imóvel, para instalação do memorial de Itabaiana. Memorial é um museu moderno, tipo o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O arquiteto Ezío Déda chegou a visitar o prédio, concordando com a adequação do imóvel.
Em minha infância, Itabaiana possuía um museu, na Rua Padre Felismino, fundado em 1966. Sei que pouca gente se lembra do Museu de José Conrado dos Santos (Zé de Ana). Falava-se, a boca miúda, que ele tinha recebido ajuda de Lourival Batista. Ele negava!
Voltando ao Guilhermino Bezerra. Não houve jeito, faltou sensibilidade ao Estado.
A memória educacional de Itabaiana está sendo soterrada. Várias gerações de ceboleiros passaram por seus bancos. O Guilhermino Bezerra marcou a arrancada da educação em Itabaiana. O passo inicial para o Murilo Braga.
Ontem, o assunto foi abordado em um grupo de amigos. Um professor, tomado pelo realismo, disparou: “agora não tem mais jeito, a desgraça já está feito.” Outro, me jogou a culpa: “a Cultura Municipal” não poderia ter tombado antes? Tocar viola de boca é fácil.
A Prefeitura de Itabaiana tentou impedir, insistiu, solicitou oficialmente o prédio para implantar um memorial, preservando a beleza e o padrão original. A resposta foi a deformação impiedosa do Guilhermino Bezerra.
Fiquei pensando, por que tanto desrespeito a memória de Itabaiana?
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
(a foto é da lavra de Paulinho de Dóci, do acervo de Robério)
quinta-feira, 10 de abril de 2025
FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DE ITABAIANA - A CHEGADA DOS CRENTES.
Fragmentos da história de Itabaiana - A chegada dos Crentes.
(por Antonio Samarone
As Caraíbas é o único povoado de Itabaiana onde os seus filhos possuem um gentílico próprio: “caraibeiros”. Antes das granjas, o povoado era especializado na produção de galinhas e ovos.
Nos tempos do algodão (segunda metade do Século XIX), as Caraíbas despontou economicamente: possuía uma descaroçadora. A Terra do Coronel Cassimiro da Silva Melo, fidalgo do tronco do Dr. Vladimir Carvalho.
Sem a força econômica do algodão, não se entende como o professor José Gregório da Silva Teixeira estabeleceu o segundo culto protestante em Sergipe, nas Caraíbas, em Itabaiana. Teixeira foi o primeiro crente em Itabaiana. O avanço do protestantismo em Sergipe, seguiu os passos do algodão.
O meu avô, Totonho de Bernadinho, dizia ter conhecido o local onde funcionou o culto protestante nas Caraíbas.
O Pai de Dona Eulina Nunes, Antonio da Silva Nunes, foi o segundo protestante. A primeira Igreja Presbiteriana em Itabaiana (foto), foi inaugurada em 18 de dezembro de 1938, obra da família Nunes. Isso mesmo, aquela igreja que foi absurdamente demolida um tempo desses.
Como os crentes chegaram as Caraíbas, trazidos pela febre do algodão.
A primeira sesmaria doada em Itabaiana, foi em 05 de março 1600, a Manoel da Fonseca. (Mil braças ao longo do Rio Cajaíba). A fundação do Arraial de Santo Antonio e Almas é de 1606. Em 30 de outubro de 1675, é criada a Freguesia. Uma portaria de Dom João de Lancaster (1687) instalou a Villa de Santo e Almas de Itabaiana, somente oficializada por portaria, em 1698.
Entre 1600 e 1669, já existiam 69 sesmarias em Itabaiana. Os nomes dos sesmeiros, o tamanho das propriedades e os fins (roça ou criação), estão relacionados na tese da professora Maria Nele dos Santos – 1984. (aguardando a publicação). Em 1757, Itabaiana possuía uma área de 200 léguas quadradas, ou seja, 8 mil Km².
A Vila de Itabaiana eram agregados de casas de rancho. Os proprietários moravam em seus sítios e fazendas. A vida urbana na Villa de Itabaiana era paupérrima. A população rural afluía em dias de feira, nas festas religiosas, nas missas, Trezenas de Santo Antonio, Natal e Semana Santa.
Segundo o historiador Almeida Bispo, as feiras regulares apareceram em Itabaiana, por volta de 1862, movida pelo negócio do algodão. Na verdade, o núcleo urbano e o comércio tomaram forma em Itabaiana, na segunda metade do Dezenove, movidos pela prosperidade do algodão.
O período áureo do algodão em Itabaiana foi entre 1865 e 1875. Mesmo nesse período, os vereadores cobravam as construções de sedes próprias para a cadeia pública e sessões do júri, reforma da igreja, abertura de fontes e estradas, melhores instalações para o Talho de carne e um médico residindo na Villa.
A agricultura foi reduzida ao algodão. Em 1870, o genovês Francisco Borsone, casado com uma ricaça de Maruim, instalou o primeiro descaroçador e enfardador de algodão a vapor em Itabaiana, na Rua do Tanque do Povo, no primeiro quarteirão da cidade. Depois, creio ter sido esse mesmo vapor propriedade de Joãozinho Tavares.
A lei das Terras de 1850. Entre o fim das doações de sesmarias (1822) e a Lei da Terra de 1850, a ocupação de terras ficou caótica, as ocupações foram generalizadas. Após de 1850, a propriedade da terra obedeceu à lógica do mercado. Nesse interregno, consolidam-se novos proprietários de terras e a formação dos povoados de Itabaiana.
Por volta de 1859, o livro de registro de terras em Itabaiana, assinado pelo padre Domingos de Melo Resende, assinalavam duas mil duzentas e trinta e uma propriedades. Não estão incluídas as propriedades de Campo do Brito, à época Itabaiana, pois o livro de registro foi extraviado... A primeira anotação em Itabaiana foi de 1856.
Antes da Lei da Terra (1850), os registros eram das sesmarias.
Entre a abolição das doações de sesmarias (1822) e a Lei da Terra (1850), a posse e a ocupação foram as únicas formas de propriedade. Nesse período, nasceram o Bom Jardim e os demais povoados. As ocupações davam-se em áreas entre as sesmarias, em sesmarias abandonadas e as em terras devolutas.
Em 1854, existiam em Itabaiana 36 engenhos de açúcar, sete com alambiques, 103 fazendas de gados e um número considerável de sítios com lavouras. Em 1856, o número de engenhos estava reduzido para 16, provavelmente pelo desmembramento de Santa Rosa de Lima e Divina Pastora.
O engenho das Candeias era propriedade de Alexandre José Barbosa e o engenho Cajueiro de Hermenegildo José Pereira Magalhães.
Na lista eleitoral de 1873, Itabaiana possuía 1866 lavradores e 44 negociantes; 16 alfaiates, 15 sapateiros, 14 carpinas, 7 ferreiros (os meus antecedentes) e 5 ourives; 2 padres, 1 advogado e 1 médico.
A chegada dos Crentes nas Caraíbas, ocorreu nesse contexto histórico.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
quarta-feira, 9 de abril de 2025
BOCA DE FORNO
Boca de Forno.
(por Antonio Samarone).
A principal contribuição dos Tupinambás para alimentação, foi a farinha de mandioca. O pau de guerra, como era chamada, deu vantagens militares aos Tupinambás, pois a farinha é resistente a decomposição.
Foi a farinha que sustentou a colonização. A farinha possui três virtudes alimentares: “aumenta o que é pouco, engrossa o que é mole e esfria o que é quente”.
Durante séculos, a produção da farinha foi aperfeiçoada em Itabaiana. A farinha de Itabaiana virou marca de qualidade. A farofa tornou-se uma guloseima. Era uma produção artesanal coletiva. As farinhadas eram festas. Rituais de confraternização.
Atualmente a produção é feita em fabriquetas, por norma, com retirada da tapioca (amido). Entre as mudanças do processo, o forno de barro foi substituído pelo de ferro, visando o aumento da produtividade. A pressa reduziu a qualidade da farinha. Por exemplo: a antiga farinha pó do Rio das Pedras, só é produzida em forno de barro.
O forno de barro permite uma temperatura adequada para assar sem queimar. Os bolos, beijus, doces, petiscos, pitéus, rebuçados, acepipes, iguarias e manjares derivados da tapioca e da puba, precisam do forno de barro.
Ontem, fui ao Povoado Cajueiro, onde funciona a última oficina de produção fornos de barros, em Sergipe. Uma forma de resistência.
A produção de fornos de barros (foto) fica por conta de José Wilson, conhecido por Cajueiro, e de sua família. Uma tradição familiar de mais de cem anos. Tudo começou com Dona Maura de Zeca de Franco, no Povoado Congo. O senhor Durval do Forno, recentemente falecido, deu continuidade.
Hoje, os irmãos Cajueiro e Edmilson, segue a prática da família, e continuam produzindo fornos de barro. Mesmo com a demanda reduzida. A cultura popular resiste, não sei até quando.
As doceiras que conhecem as virtudes dos fornos de barro e não sabiam onde encontrá-los, podem me procurar.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
domingo, 6 de abril de 2025
A FUNDAÇÃO DE ITABAIANA - 350 ANOS.
A Fundação de Itabaiana. 350 anos.
(por Antonio Samarone).
Em resposta ao competente Conselho Estadual de Cultura.
A historiadora Thetis Nunes, citando um documento de 1757, descreveu os limites da Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, situada a uma légua da grande Serra:
Ao ocidente, com Villa de Lagarto, separados pelo Rio Vaza Barris; ao Leste, com a Villa de Santo Amaro, separados pelo Rio Sergipe; ao sul, com São Cristóvão, todas com uma distância de dez léguas. Para o Oeste, os limites de Itabaiana chegavam ao Sertão de São João de Jeremoabo, comarca da Bahia.
Itabaiana possuía uma área de 200 léguas quadradas.
A primeira atividade econômica em Itabaiana foi a criação de gado, a prosperidade dos curraleiros. O historiador holandês, Barleus, confirma a riqueza do gado em Itabaiana. O hábito alimentar de carnívoros tem a sua origem distante. Em Itabaiana, a carne está presente em todas as refeições.
Entretanto, foi a agricultura que ajudou a fixar o colono em pequenas propriedades. Os plantadores de mandioca, algodão e legumes. A farinha de Itabaiana virou uma marca de qualidade. O artesanato, com o algodão, passou a produzir tecidos e rede de dormir, citados pelo padre Marco Antonio de Souza.
No início do século XIX, a sede da Villa de Itabaiana possuía menos de mil habitantes. A vida se passava na extensa zona Rural. A Câmara Municipal, em meados do século XIX, delimitou a criação de gado na área de três léguas à dentro das matas, acabando com as "soltas". As fazendas precisavam construir cercas.
O primeiro líder político de expressão em Itabaiana, foi o Capitão Mor das Ordenanças de Itabaiana, José Matheus da Graça Leite Sampaio, senhor de terras destacado na Província. Militante da autonomia de Sergipe e da adesão a independência nacional.
Matheus da Graça foi eleito deputado para a primeira Assembleia Geral do Império (1826). Ele não chegou a exercer, pela idade avançada e doenças. Faleceu em janeiro de 1829.
A partir da década de 1860, a crise mundial do algodão, teve desdobramento em Itabaiana. Plantar algodão virou uma febre, invadindo as matas.
Em 1870, chegou a Itabaiana a primeira máquina de descaroçar algodão, o chamado Vapor. Rapidamente, em 1874, já existiam 50 Vapores. Ocorreu o crescimento do espaço urbano, nasceu um comércio promissor.
Despontou na produção de algodão o povoado Chã de Jenipapo, atual Frei Paulo. Dezenas de municípios sergipanos foram desmembrados de Itabaiana. Frei Paulo foi o primeiro.
A Resolução 1.331, de 28 de agosto de 1888, elevou a Villa a condição de Cidade, iniciativa do deputado Guilhermino Bezerra. Essa data é comemorada como o aniversário da Cidade.
Um equivoco histórico. Itabaiana foi fundada bem antes. Itabaiana vem da ocupação de Sergipe. Em 1675, foi criada a Freguesia de Santo Antonio e Almas (350 anos).
A Igreja chegou antes da Coroa!
Antes Arraial, Itabaiana se tornou Villa em 1697. Como dizia Sebrão sobrinho: uma comunidade de vilões, artesões e bodegueiros. Passam a existir: a Câmara, a Cadeia e o Pelourinho. Juiz ordinário, promotor, delegado, fiscais de renda e eleições. Quase tudo no papel.
Itabaiana vem de longe! O 28 de agosto de 1888 é uma data relevante, mas longe de ter sido a fundação. A filarmônica é de 1785, não pode ter sido anterior a cidade. A confusão é sobre o conceito de cidade. São Cristóvão já foi fundada com Cidade, nunca foi Villa. Itabaiana foi Arraial, Villa e depois Cidade.
A Criação da Freguesia de Santo Antonio e Almas (Paróquia), em 30 de outubro de 1675, é uma prova da existência consolidada da comunidade de Itabaiana, chamada à época de Arraial.
Em reunião recente do Conselho Estadual de Cultura, foi perguntado que data era essa, dos 350 anos de Itabaiana? Gerando um clima de desconfiança. Espero que esse modesto texto, esclareça as dúvidas do douto Conselho.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone).
Em resposta ao competente Conselho Estadual de Cultura.
A historiadora Thetis Nunes, citando um documento de 1757, descreveu os limites da Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, situada a uma légua da grande Serra:
Ao ocidente, com Villa de Lagarto, separados pelo Rio Vaza Barris; ao Leste, com a Villa de Santo Amaro, separados pelo Rio Sergipe; ao sul, com São Cristóvão, todas com uma distância de dez léguas. Para o Oeste, os limites de Itabaiana chegavam ao Sertão de São João de Jeremoabo, comarca da Bahia.
Itabaiana possuía uma área de 200 léguas quadradas.
A primeira atividade econômica em Itabaiana foi a criação de gado, a prosperidade dos curraleiros. O historiador holandês, Barleus, confirma a riqueza do gado em Itabaiana. O hábito alimentar de carnívoros tem a sua origem distante. Em Itabaiana, a carne está presente em todas as refeições.
Entretanto, foi a agricultura que ajudou a fixar o colono em pequenas propriedades. Os plantadores de mandioca, algodão e legumes. A farinha de Itabaiana virou uma marca de qualidade. O artesanato, com o algodão, passou a produzir tecidos e rede de dormir, citados pelo padre Marco Antonio de Souza.
No início do século XIX, a sede da Villa de Itabaiana possuía menos de mil habitantes. A vida se passava na extensa zona Rural. A Câmara Municipal, em meados do século XIX, delimitou a criação de gado na área de três léguas à dentro das matas, acabando com as "soltas". As fazendas precisavam construir cercas.
O primeiro líder político de expressão em Itabaiana, foi o Capitão Mor das Ordenanças de Itabaiana, José Matheus da Graça Leite Sampaio, senhor de terras destacado na Província. Militante da autonomia de Sergipe e da adesão a independência nacional.
Matheus da Graça foi eleito deputado para a primeira Assembleia Geral do Império (1826). Ele não chegou a exercer, pela idade avançada e doenças. Faleceu em janeiro de 1829.
A partir da década de 1860, a crise mundial do algodão, teve desdobramento em Itabaiana. Plantar algodão virou uma febre, invadindo as matas.
Em 1870, chegou a Itabaiana a primeira máquina de descaroçar algodão, o chamado Vapor. Rapidamente, em 1874, já existiam 50 Vapores. Ocorreu o crescimento do espaço urbano, nasceu um comércio promissor.
Despontou na produção de algodão o povoado Chã de Jenipapo, atual Frei Paulo. Dezenas de municípios sergipanos foram desmembrados de Itabaiana. Frei Paulo foi o primeiro.
A Resolução 1.331, de 28 de agosto de 1888, elevou a Villa a condição de Cidade, iniciativa do deputado Guilhermino Bezerra. Essa data é comemorada como o aniversário da Cidade.
Um equivoco histórico. Itabaiana foi fundada bem antes. Itabaiana vem da ocupação de Sergipe. Em 1675, foi criada a Freguesia de Santo Antonio e Almas (350 anos).
A Igreja chegou antes da Coroa!
Antes Arraial, Itabaiana se tornou Villa em 1697. Como dizia Sebrão sobrinho: uma comunidade de vilões, artesões e bodegueiros. Passam a existir: a Câmara, a Cadeia e o Pelourinho. Juiz ordinário, promotor, delegado, fiscais de renda e eleições. Quase tudo no papel.
Itabaiana vem de longe! O 28 de agosto de 1888 é uma data relevante, mas longe de ter sido a fundação. A filarmônica é de 1785, não pode ter sido anterior a cidade. A confusão é sobre o conceito de cidade. São Cristóvão já foi fundada com Cidade, nunca foi Villa. Itabaiana foi Arraial, Villa e depois Cidade.
A Criação da Freguesia de Santo Antonio e Almas (Paróquia), em 30 de outubro de 1675, é uma prova da existência consolidada da comunidade de Itabaiana, chamada à época de Arraial.
Em reunião recente do Conselho Estadual de Cultura, foi perguntado que data era essa, dos 350 anos de Itabaiana? Gerando um clima de desconfiança. Espero que esse modesto texto, esclareça as dúvidas do douto Conselho.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
sábado, 5 de abril de 2025
O CANTO DAS CIGARRAS
O Canto das Cigarras.
(Por Antonio Samarone)
Ainda existem vidas, fora das redes sociais!
Resolvi conhecer a cultura dos povoados em Itabaiana. Comecei pela Matapoã (Maitapam), onde viveram os meus ancestrais. Ontem, fui ao Bom jardim. A quem procurar? Pensei, aos mais velhos. Eles são os guardiões da cultura.
Como antigamente, fizemos uma roda de conversas (foto), no quiosque de Dona Terezinha, no meio da Praça. Lá estavam: Zé de Chico (94 anos), Seu Onésimo (81 anos), Maria Clemencia e Inês, todos nascidos e criados no Bom Jardim. Marcelo Pulido, um paulista exilado no Povoado e Erotildes de Jesus, Secretário de Agricultura de Itabaiana.
Uma conversa alegre, inteligente e bem informada. Eles são descendentes dos fundadores do Povoado, tetranetos de Vitório José de Jesus, o desbravador, que chegou por essas bandas em meados do século XIX. Os Ipês do pé da Serra estavam floridos. O nome foi automático: aqui é um Bom jardim.
Aliás, Seu Onésimo tem essa história escrita. Ficou acertado que quando ele encontrar, me dará uma cópia do manuscrito. Será um mimo. Um achado. Quando eu receber a raridade, darei ampla divulgação.
Um povo religioso (católicos) e trabalhador. O padroeiro é o “Sagrado Coração de Maria”, comemorado no terceiro domingo de agosto. Não tem miséria no Bom Jardim. Nem ricos, nem pobres, todos vivendo decentemente. É o povoado mais bonito de Itabaiana. Disparado.
Quando o Monsenhor Carvalho estava construindo a Igreja do Colégio Arquidiocesano, em Aracaju, foi feita uma campanha estadual solicitando que as comunidades doassem os bancos. Um daqueles bancos da Igreja, foi doado pelo povo do Bom Jardim. O Padre Carvalho se afeiçoou pela comunidade e passou a frequentar as festas locais do padroeiro.
Em minha adolescência, participei no Bom Jardim de um retiro para jovens, organizado pelo padre Antonino, um italiano que rondou por aqui. Éramos quinze. Após uma pregação, o padre mandou que a gente saísse para meditar. A missão não foi cumprida: não sabíamos o que era meditar e tivemos vergonha de perguntar.
O Bom Jardim possui uma Capela imponente e bem cuidada. Uma terra de grandes professoras, destaco: Zuleide Floresta, Laura Maria dos Santos e Anita Santos.
A eletrificação do Bom Jardim foi lenta, as coisas não andavam. O Monsenhor Carvalho intercedeu junto ao Governador Augusto Franco. Em 30 dias, as luzes do Bom Jardim foram acesas. Esse fato é lembrado até hoje.
A abertura da estrada até Itabaiana, na década de 1950, foi um reboliço. Um sitiante não deixava que a estrada cortasse o seu sítio. Euclides Paes Mendonça foi pessoalmente comandar o trator, para a derrubada das cercas.
Retornei da roda de conversas ao anoitecer. Desci pelo Beco Novo. Fiz algumas fotos. Ao chegar na Praça da Matriz, fui recebido pelo canto das cigarras. Um som de minha infância, envolvente, ritmado, todas anunciando a quaresma.
Não ouço cigarras em Aracaju. Se existirem, são cigarras da capital, silenciosas!
Ontem, achei que as cigarras da Praça da Igreja (milhares, centenas de milhares), estavam a todo pulmões. Mais de cem decibéis. Sabiam que o Bispo Josafá ia chegar puxando uma via-sacra.
Por quem cantam as cigarras? Na cultura chinesa, a cigarra é um símbolo de imortalidade e renascimento.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
(Por Antonio Samarone)
Ainda existem vidas, fora das redes sociais!
Resolvi conhecer a cultura dos povoados em Itabaiana. Comecei pela Matapoã (Maitapam), onde viveram os meus ancestrais. Ontem, fui ao Bom jardim. A quem procurar? Pensei, aos mais velhos. Eles são os guardiões da cultura.
Como antigamente, fizemos uma roda de conversas (foto), no quiosque de Dona Terezinha, no meio da Praça. Lá estavam: Zé de Chico (94 anos), Seu Onésimo (81 anos), Maria Clemencia e Inês, todos nascidos e criados no Bom Jardim. Marcelo Pulido, um paulista exilado no Povoado e Erotildes de Jesus, Secretário de Agricultura de Itabaiana.
Uma conversa alegre, inteligente e bem informada. Eles são descendentes dos fundadores do Povoado, tetranetos de Vitório José de Jesus, o desbravador, que chegou por essas bandas em meados do século XIX. Os Ipês do pé da Serra estavam floridos. O nome foi automático: aqui é um Bom jardim.
Aliás, Seu Onésimo tem essa história escrita. Ficou acertado que quando ele encontrar, me dará uma cópia do manuscrito. Será um mimo. Um achado. Quando eu receber a raridade, darei ampla divulgação.
Um povo religioso (católicos) e trabalhador. O padroeiro é o “Sagrado Coração de Maria”, comemorado no terceiro domingo de agosto. Não tem miséria no Bom Jardim. Nem ricos, nem pobres, todos vivendo decentemente. É o povoado mais bonito de Itabaiana. Disparado.
Quando o Monsenhor Carvalho estava construindo a Igreja do Colégio Arquidiocesano, em Aracaju, foi feita uma campanha estadual solicitando que as comunidades doassem os bancos. Um daqueles bancos da Igreja, foi doado pelo povo do Bom Jardim. O Padre Carvalho se afeiçoou pela comunidade e passou a frequentar as festas locais do padroeiro.
Em minha adolescência, participei no Bom Jardim de um retiro para jovens, organizado pelo padre Antonino, um italiano que rondou por aqui. Éramos quinze. Após uma pregação, o padre mandou que a gente saísse para meditar. A missão não foi cumprida: não sabíamos o que era meditar e tivemos vergonha de perguntar.
O Bom Jardim possui uma Capela imponente e bem cuidada. Uma terra de grandes professoras, destaco: Zuleide Floresta, Laura Maria dos Santos e Anita Santos.
A eletrificação do Bom Jardim foi lenta, as coisas não andavam. O Monsenhor Carvalho intercedeu junto ao Governador Augusto Franco. Em 30 dias, as luzes do Bom Jardim foram acesas. Esse fato é lembrado até hoje.
A abertura da estrada até Itabaiana, na década de 1950, foi um reboliço. Um sitiante não deixava que a estrada cortasse o seu sítio. Euclides Paes Mendonça foi pessoalmente comandar o trator, para a derrubada das cercas.
Retornei da roda de conversas ao anoitecer. Desci pelo Beco Novo. Fiz algumas fotos. Ao chegar na Praça da Matriz, fui recebido pelo canto das cigarras. Um som de minha infância, envolvente, ritmado, todas anunciando a quaresma.
Não ouço cigarras em Aracaju. Se existirem, são cigarras da capital, silenciosas!
Ontem, achei que as cigarras da Praça da Igreja (milhares, centenas de milhares), estavam a todo pulmões. Mais de cem decibéis. Sabiam que o Bispo Josafá ia chegar puxando uma via-sacra.
Por quem cantam as cigarras? Na cultura chinesa, a cigarra é um símbolo de imortalidade e renascimento.
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
quinta-feira, 3 de abril de 2025
ITABAIANA - 350 ANOS. TINDA E OS PRETOS DO TABULEIRO DOS CABOCLOS.
Itabaiana – 350 anos. Tinda e os Pretos do Tabuleiro dos Caboclos. (por Antonio Samarone).
Em Itabaiana, o "football" nasceu no Tabuleiro dos Caboclos (atual Bairro São Cristóvão) e foi praticado majoritariamente pelos Pretos. Até a chegada deles, vindos do Quilombo Barro Preto, no pé da Serra, vizinho ao Bom Jardim, o Tabuleiro era dos Caboclos (índios miscigenados).
Os Pretos eram ceramistas: faziam potes, panelas e purrões. Outros, pataqueiros ou sapateiros. Nas horas vagas, jogavam futebol. Os primeiros, que se destacaram no futebol, foram: Coringa, sobrinho de Divo Preto, que foi jogar na Bahia e Lima de Mané Padeiro, que brilhou no gol do Confiança.
O futebol era jogado pelos Pretos.
Tinda (foto), José Nivaldo dos Santos, era um meia-esquerda rápido e inteligente. Filho de Raimundo Preto, o zelador do antigo Etelvino Mendonça, e Dona Zefinha. O Tabuleiro dos Caboclos era uma comunidade muito pobre.
A única família que possuía um rádio era a de Mané Padeiro, berço de vários jogadores de futebol: além de Lima, citado acima, Lafayete, Beto, Nado e Manoelito. O grande zagueiro Zé de Chico, do Itabaiana, é casado com uma filha de Mané Padeiro.
Quando Tinda nasceu (08/02/1952), o pai trabalhava num órgão de fomento agrícola (Fazenda Grande), e tomou como padrinho para o filho, o Dr. Cansanção, engenheiro-agrônomo e chefe da repartição.
O Dr. Cansanção deu ao novo afilhado, Tinda, uma cabra parida. Garantiu o leite da criança, por um bom tempo. Tinda é de uma família de 13 irmãos, não frequentou a escola. Aprendeu a arte de sapateiro. Ainda fabrica sandálias de couro, para completar a renda da aposentadoria.
No Tabuleiro dos Caboclos, os Pretos eram quase todos parentes. Seu Raimundo, o pai de Tinda, era irmão de Divo, um preto de porte atlético, zagueiro do Itabaiana; irmão de Seu Deca, pai de Zé de Vitinha, ponta esquerda de rara habilidade; de Dona Preta, mãe de Nado Preto e Tica, dois craques; de Tonho de Zeferino e de Seu Rufino, um pataqueiro que limpava mil covas por dia.
Outros Pretos se destacaram no futebol itabaianense: Tonho e Zé de Preta, filho do finado João Babão; Cosme e Damião, gêmeos, filhos de João Barraca, Augusto e Elisio, filhos do bodegueiro Zé Mapinguim; Turinha, sobrinho de Osano, Pai de Santo. Sem contar os Pretos importados de Maruim: Pierrô, Bonito e Seu Jorge (goleiro).
Os pretos também se destacaram na música. O maestro Antonio Silva foi uma grande estrela. Maestro da Filarmônica e compositor. Pai do Professor Airton (Órion), de Nilo Base, alfaiate e jogador de futebol, e de Seu Bebé dos Passarinhos.
Sobre Nilo Base no futebol, Antonio de Dóci deu uma definição inusitada: “Nilo corria bem, chutava forte, cabeceava com força, sabia driblar, mas não era um bom jogador.” Como assim, eu perguntei. Seu Antonio foi sucinto: “Ele fazia tudo isso na hora errada.”
Hoje, o Bairro São Cristóvão não tem mais nem paneleiros, nem jogadores de futebol. A última artesã do barro é Nega, que mora no Povoado Cajueiro, onde mantém um Terreiro de Umbanda.
Acho que essa visão que em Itabaiana não tem Pretos é falsa. Todos citados acima, com quem convivi, são Pretos, ou quase Pretos, como diz Caetano Veloso. Foram eles que praticavam o futebol e faziam panelas em Itabaiana.
Observação: esqueci de muitos Pretos. Eu fiz dupla de ataque no Cantagalo, com Tinda (foto). Ele um craque, eu esforçado.
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
Em Itabaiana, o "football" nasceu no Tabuleiro dos Caboclos (atual Bairro São Cristóvão) e foi praticado majoritariamente pelos Pretos. Até a chegada deles, vindos do Quilombo Barro Preto, no pé da Serra, vizinho ao Bom Jardim, o Tabuleiro era dos Caboclos (índios miscigenados).
Os Pretos eram ceramistas: faziam potes, panelas e purrões. Outros, pataqueiros ou sapateiros. Nas horas vagas, jogavam futebol. Os primeiros, que se destacaram no futebol, foram: Coringa, sobrinho de Divo Preto, que foi jogar na Bahia e Lima de Mané Padeiro, que brilhou no gol do Confiança.
O futebol era jogado pelos Pretos.
Tinda (foto), José Nivaldo dos Santos, era um meia-esquerda rápido e inteligente. Filho de Raimundo Preto, o zelador do antigo Etelvino Mendonça, e Dona Zefinha. O Tabuleiro dos Caboclos era uma comunidade muito pobre.
A única família que possuía um rádio era a de Mané Padeiro, berço de vários jogadores de futebol: além de Lima, citado acima, Lafayete, Beto, Nado e Manoelito. O grande zagueiro Zé de Chico, do Itabaiana, é casado com uma filha de Mané Padeiro.
Quando Tinda nasceu (08/02/1952), o pai trabalhava num órgão de fomento agrícola (Fazenda Grande), e tomou como padrinho para o filho, o Dr. Cansanção, engenheiro-agrônomo e chefe da repartição.
O Dr. Cansanção deu ao novo afilhado, Tinda, uma cabra parida. Garantiu o leite da criança, por um bom tempo. Tinda é de uma família de 13 irmãos, não frequentou a escola. Aprendeu a arte de sapateiro. Ainda fabrica sandálias de couro, para completar a renda da aposentadoria.
No Tabuleiro dos Caboclos, os Pretos eram quase todos parentes. Seu Raimundo, o pai de Tinda, era irmão de Divo, um preto de porte atlético, zagueiro do Itabaiana; irmão de Seu Deca, pai de Zé de Vitinha, ponta esquerda de rara habilidade; de Dona Preta, mãe de Nado Preto e Tica, dois craques; de Tonho de Zeferino e de Seu Rufino, um pataqueiro que limpava mil covas por dia.
Outros Pretos se destacaram no futebol itabaianense: Tonho e Zé de Preta, filho do finado João Babão; Cosme e Damião, gêmeos, filhos de João Barraca, Augusto e Elisio, filhos do bodegueiro Zé Mapinguim; Turinha, sobrinho de Osano, Pai de Santo. Sem contar os Pretos importados de Maruim: Pierrô, Bonito e Seu Jorge (goleiro).
Os pretos também se destacaram na música. O maestro Antonio Silva foi uma grande estrela. Maestro da Filarmônica e compositor. Pai do Professor Airton (Órion), de Nilo Base, alfaiate e jogador de futebol, e de Seu Bebé dos Passarinhos.
Sobre Nilo Base no futebol, Antonio de Dóci deu uma definição inusitada: “Nilo corria bem, chutava forte, cabeceava com força, sabia driblar, mas não era um bom jogador.” Como assim, eu perguntei. Seu Antonio foi sucinto: “Ele fazia tudo isso na hora errada.”
Hoje, o Bairro São Cristóvão não tem mais nem paneleiros, nem jogadores de futebol. A última artesã do barro é Nega, que mora no Povoado Cajueiro, onde mantém um Terreiro de Umbanda.
Acho que essa visão que em Itabaiana não tem Pretos é falsa. Todos citados acima, com quem convivi, são Pretos, ou quase Pretos, como diz Caetano Veloso. Foram eles que praticavam o futebol e faziam panelas em Itabaiana.
Observação: esqueci de muitos Pretos. Eu fiz dupla de ataque no Cantagalo, com Tinda (foto). Ele um craque, eu esforçado.
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
quarta-feira, 2 de abril de 2025
ITABAIANA - 350 ANOS. FIOTE DA CASTANHA.
Itabaiana – 350 anos. Fiote da Castanha.
(por Antonio Samarone)
Everton Souza Nascimento (Fiote da Castanha), nasceu 09 de julho de 1977, no Povoado Estreito, vizinho ao Polígono da Castanha (Carrilho, Dendezeiro e Tabocas), ao Mundo Novo e ao Dunga, em Itabaiana.
Antes da castanha, era uma região de feirantes livres e pataqueiros pobres.
Fiote da Castanha é filho de Elionaldo Nascimento, conhecido por Leão, motorista de caminhão. A mãe, é Dona Décia Souza. Uma família de 4 irmãos (Everton, Elisângela, Elionaldo e Josefa).
Fiote, demorou pouco na escola, era preciso ganhar a vida. Aos 12 anos, já vendia verduras nas feiras, com um cesto na cintura. Apreendeu cedo a vender, cativar o cliente, tornar o que está vendendo uma necessidade. Sempre de bom humor.
O comércio de Itabaiana cresceu, pela alma empreendedora do seu povo. Fiote é um bom exemplo: ganha a vida pelo trabalho, pelo dom de ser bom comerciante. Logo cedo, Fiote começou a levar a castanha assada de Itabaiana, para o resto do Brasil. Foi um desbravador da venda da castanha assada em Salvador e no Rio de Janeiro.
Até hoje, Fiote vende castanha. Não viaja mais, como faz uma legião de itabaianenses, que percorrem o Brasil com um saco de castanha nos braços, vendendo e divulgando Itabaiana. São mais de 500.
Fiote da Castanha casou cedo, aos 19 anos, com Dona Giselma, com quem teve três filhos: Davi, Sara e Natã. Isso mesmo, o Natãzinho Lima, sucesso nacional da música brega. Fiote está em num segundo casamento, com a aracajuana Fernanda.
A vida de Fiote foi a de um itabaianense médio, voltada para ganhar dinheiro, e gastar em farras. Festeiro, torcedor do Tremendão da Serra e do Flamengo. Fiote seguia a sua rotina anônima, até aparecer um filho famoso. Ficou conhecido, por conta desse filho famoso e rico.
Fiote tem uma personalidade forte e uma autoestima dos itabaianenses, bairrista até o pescoço. Sabe o que quer, respeita as raízes e as velhas amizades. Nunca será apenas o Pai de Natãzinho.
Como surgiu uma estrela da musica popular, saindo de uma família de trabalhadores, sem raízes musicais. Se foi herança, foi um gene muito recessivo. Quando menino, Natãzinho queria ser caminhoneiro, seguir o destino do Avô, Seu Leão.
Ele nunca perdeu a tradicional carreata de caminhões de brinquedo, que ocorre em Itabaiana, como parte da festa dos caminhoneiros, em junho.
Certa feita, Natãzinho, aos 14 anos, foi com o irmão Davi, fazer um bico de garçom numa festa particular, no Povoado Maitapam. A festa era animada por um conjunto musical, da região. Sem maiores pretensões, Natãzinho desafiou o irmão: “quer apostar que se deixarem, eu vou ao palco e canto uma música?” Apostaram e ele ganhou. Cantou tão bem, que o povo da festa começou a pedir bis.
Natãzinho ganhou animação e passou a cantar em tudo que era lugar, festas, barzinhos. Os amigos, Maicon, do Batata Frita; Adinaldo, do Posto Esquina e Garrafinha, entre outros, patrocinaram a gravação de um CD. Ele mandou o CD, para o produtor Charles e para o empresário Genílton. Eles não gostaram!
Natãzinho inventou um show chamado “de bar, em bar”. O de bar, em bar, número 4, foi na Marianga, um bairro popular de Itabaiana, onde vivia a sua família. A festa estourou, foi um grande sucesso. O sucesso de outro show na Barragem do Campo do Brito, estourou nas redes sociais.
Daí, ele se profissionaliza, cria a sua banda, faz amizades com os cantores famosos no estilo dele, com destaque para a parceria com Safadão. Aos 22 anos, Natâzinho saí da venda de castanha, ajudando ao pai, para sucesso nacional. Hoje, reside em São Paulo.
Não é fácil sair de Itabaiana, de família de trabalhadores, sem padrinhos, chegar a fama. Não é à toa que os vencedores são poucos. Até agora, a fama e a riqueza, não quebraram as raízes de Natâzinho.
Ele incorporou em sua música, o espirito de caminhoneiro do seu avô, Seu Leão; o empreendedorismo e o bom humor do pai (Fiote da Castanha); e a alma do povo de Itabaiana (fio do canso) e o bairrismo do Mestre Orpilio.
Ainda é cedo, mas até agora, a humildade de quem conhece e ama as origens, continua espelhada na testa. Não deixe o sucesso sombrear a sua humildade.
No último “de bar, em bar”, que ele fez em Itabaiana, em praça público, eu fiquei de longe, observando. As pessoas passavam aos lotes, apressadas, era um dia de semana, todas comemorando o seu sucesso, como uma vitória coletiva da cidade, como um título do Tricolor.
Perguntei a seu pai, Fiote da Castanha, quais os motivos do sucesso do filho, além da voz afinada e da sorte. Ele foi certeiro: “o povo de Itabaiana abraçou Natãzinho desde cedo.” Eu comecei a entender...
A minha praia musical é outra, gosto de outros estilos, mas não posso esconder: o seu sucesso, a sua humildade, a sua ligação com as raízes itabaianenses e com os caminhoneiros, me envaidecem.
Fiote da Castanha soube criar os filhos!
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
Everton Souza Nascimento (Fiote da Castanha), nasceu 09 de julho de 1977, no Povoado Estreito, vizinho ao Polígono da Castanha (Carrilho, Dendezeiro e Tabocas), ao Mundo Novo e ao Dunga, em Itabaiana.
Antes da castanha, era uma região de feirantes livres e pataqueiros pobres.
Fiote da Castanha é filho de Elionaldo Nascimento, conhecido por Leão, motorista de caminhão. A mãe, é Dona Décia Souza. Uma família de 4 irmãos (Everton, Elisângela, Elionaldo e Josefa).
Fiote, demorou pouco na escola, era preciso ganhar a vida. Aos 12 anos, já vendia verduras nas feiras, com um cesto na cintura. Apreendeu cedo a vender, cativar o cliente, tornar o que está vendendo uma necessidade. Sempre de bom humor.
O comércio de Itabaiana cresceu, pela alma empreendedora do seu povo. Fiote é um bom exemplo: ganha a vida pelo trabalho, pelo dom de ser bom comerciante. Logo cedo, Fiote começou a levar a castanha assada de Itabaiana, para o resto do Brasil. Foi um desbravador da venda da castanha assada em Salvador e no Rio de Janeiro.
Até hoje, Fiote vende castanha. Não viaja mais, como faz uma legião de itabaianenses, que percorrem o Brasil com um saco de castanha nos braços, vendendo e divulgando Itabaiana. São mais de 500.
Fiote da Castanha casou cedo, aos 19 anos, com Dona Giselma, com quem teve três filhos: Davi, Sara e Natã. Isso mesmo, o Natãzinho Lima, sucesso nacional da música brega. Fiote está em num segundo casamento, com a aracajuana Fernanda.
A vida de Fiote foi a de um itabaianense médio, voltada para ganhar dinheiro, e gastar em farras. Festeiro, torcedor do Tremendão da Serra e do Flamengo. Fiote seguia a sua rotina anônima, até aparecer um filho famoso. Ficou conhecido, por conta desse filho famoso e rico.
Fiote tem uma personalidade forte e uma autoestima dos itabaianenses, bairrista até o pescoço. Sabe o que quer, respeita as raízes e as velhas amizades. Nunca será apenas o Pai de Natãzinho.
Como surgiu uma estrela da musica popular, saindo de uma família de trabalhadores, sem raízes musicais. Se foi herança, foi um gene muito recessivo. Quando menino, Natãzinho queria ser caminhoneiro, seguir o destino do Avô, Seu Leão.
Ele nunca perdeu a tradicional carreata de caminhões de brinquedo, que ocorre em Itabaiana, como parte da festa dos caminhoneiros, em junho.
Certa feita, Natãzinho, aos 14 anos, foi com o irmão Davi, fazer um bico de garçom numa festa particular, no Povoado Maitapam. A festa era animada por um conjunto musical, da região. Sem maiores pretensões, Natãzinho desafiou o irmão: “quer apostar que se deixarem, eu vou ao palco e canto uma música?” Apostaram e ele ganhou. Cantou tão bem, que o povo da festa começou a pedir bis.
Natãzinho ganhou animação e passou a cantar em tudo que era lugar, festas, barzinhos. Os amigos, Maicon, do Batata Frita; Adinaldo, do Posto Esquina e Garrafinha, entre outros, patrocinaram a gravação de um CD. Ele mandou o CD, para o produtor Charles e para o empresário Genílton. Eles não gostaram!
Natãzinho inventou um show chamado “de bar, em bar”. O de bar, em bar, número 4, foi na Marianga, um bairro popular de Itabaiana, onde vivia a sua família. A festa estourou, foi um grande sucesso. O sucesso de outro show na Barragem do Campo do Brito, estourou nas redes sociais.
Daí, ele se profissionaliza, cria a sua banda, faz amizades com os cantores famosos no estilo dele, com destaque para a parceria com Safadão. Aos 22 anos, Natâzinho saí da venda de castanha, ajudando ao pai, para sucesso nacional. Hoje, reside em São Paulo.
Não é fácil sair de Itabaiana, de família de trabalhadores, sem padrinhos, chegar a fama. Não é à toa que os vencedores são poucos. Até agora, a fama e a riqueza, não quebraram as raízes de Natâzinho.
Ele incorporou em sua música, o espirito de caminhoneiro do seu avô, Seu Leão; o empreendedorismo e o bom humor do pai (Fiote da Castanha); e a alma do povo de Itabaiana (fio do canso) e o bairrismo do Mestre Orpilio.
Ainda é cedo, mas até agora, a humildade de quem conhece e ama as origens, continua espelhada na testa. Não deixe o sucesso sombrear a sua humildade.
No último “de bar, em bar”, que ele fez em Itabaiana, em praça público, eu fiquei de longe, observando. As pessoas passavam aos lotes, apressadas, era um dia de semana, todas comemorando o seu sucesso, como uma vitória coletiva da cidade, como um título do Tricolor.
Perguntei a seu pai, Fiote da Castanha, quais os motivos do sucesso do filho, além da voz afinada e da sorte. Ele foi certeiro: “o povo de Itabaiana abraçou Natãzinho desde cedo.” Eu comecei a entender...
A minha praia musical é outra, gosto de outros estilos, mas não posso esconder: o seu sucesso, a sua humildade, a sua ligação com as raízes itabaianenses e com os caminhoneiros, me envaidecem.
Fiote da Castanha soube criar os filhos!
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.
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