sábado, 27 de abril de 2024

OS GATOS E AS FESTAS JUNINAS.


 Os Gatos e as Festas Juninas.
(por Antonio Samarone)

Nas festas juninas do Beco Novo, uma das brincadeiras populares eram os quebras potes. Pendurava-se um pote cheio de gatos num poste, e as pessoas, de olhos vendados, procuravam quebrá-lo. Quando conseguiam, os gatos saiam em disparada, terrivelmente assustados.

Onde nasceu essa brutalidade com os gatos? Em Paris, do século XVI, um dos prazeres das festas junina, era pendurar um saco de gatos numa fogueira. Quando a corda queimava, os gatos eram torrados vivos na pira ardente. A multidão comemorava aos urros.

Eu sei, era bem pior. Se queimavam também as bruxas e os hereges.

Hoje, se coloca guloseimas nos potes, em lugar dos gatos. Em pouco tempo, os gatos ganharam cidadania, direitos e regalias. O quebra pote deixou de interessar.

Uma antiga brincadeira de rodas, onde se cantava que se tinha atirado o pau no gato. Foi condenada. Também não se brinca mais de rodas.

Os humanos sempre foram cruéis. O humanismo é um pretensioso equívoco. Gosto desse poema de Antonio Risério.

“O humano é um engano do humano/ divide o humano, em humano e desumano/ humana é a sala de tortura, a napalme, a navalha, a metralha no gueto, a pele esfolada no porão/, humana, humaníssima a escravidão/ bobagem, nenhum capitalismo é selvagem/ O homem é o homem do homem, todos juntos a uma só voz/ Não consta que roseiras e gaivotas ajam assim.”

A verdade é que não se fazem mais churrasquinhos de gatos, nem se usa o seu couro nos pandeiros. As emoções foram domadas ou sublimadas?

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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