sábado, 9 de setembro de 2023

CAMINHADA...


 Caminhada.
(por Antonio Samarone).

“Uma parte de mim é todo mundo, outra parte é ninguém, fundo sem fundo” – Ferreira Gullar.

Envelheço percebendo que o existencialismo de Sartre tem as suas verdades. A natureza humana não vem pronta. Não é verdade que o pau que nasce torto, até a cinza é torta. Não, o pau torto pode ficar linheiro e vice e versa.

Venho me ajeitando à vida.

Entrei de corpo e alma na Cultura. Acho que será o Porto final.
Perdi muito tem na política. Sair e deixei as coisas do mesmo jeito. Talvez piores. Entendi a máxima de Lampedusa: “É preciso que tudo mude, para tudo continuar como estar.” Um jogo de faz de contas.

A política é arte de convencer os outros que o bom para você é o bom para todos.

Entre os desejos universais do homem: poder, glória, honra e salvação, o Poder é mais ilusório. No fundo queremos é ser felizes. Mesmo a opção pelo suicídio (estamos no setembro amarelo), é uma busca por felicidade.

Seu Sancho, do Beco Novo, estava certo: “política só presta para rico besta e pobre sabido.” Eu era um pobre besta. Achei que deveria fazer uma revolução, para adaptar o mundo às minhas crenças. Queria botar o mundo de cabeça para baixo.

Uma ilusão!

Entretanto, reconheço que se a opção for a guerra, eu prefiro a política. A política é a guerra por outros meios.

Quando ingressei no Movimento Estudantil, Ivan do Cachimbo, o nosso intelectual, me emprestou um texto de Jean Paul Sartre. Gravei uma verdade, que na época não concordava: “Para se fazer política é preciso sujar as mãos, sujá-las fundo, sujar na merda e sujar no sangue.”

Foi difícil entender que a política era inimiga da moral, incompatível com a moral apregoada. Foi preciso conhecer Weber, com as suas duas éticas, a de convicção e de responsabilidade. Na política, precisamos levar em conta as consequências dos nossos atos.

O velho marxismo também prega duas éticas, a dos trabalhadores e a da burguesia. A nossa e a deles. Eu sonhava com as mãos limpas de Kant. Antes da política, pensei em ser santo, igual a Santa Dulce. Um caminho espinhoso.

Em Sergipe, os marqueteiros políticos sempre usaram as mãos como metáforas. Teve candidato de “mãos limpas”, e outro com “mãos às obras.” Lembram-se? No final, ficamos na mão.

Não é fácil educar os homens. Sem coerção, a civilização se torna impossível.

O próprio Deus reconheceu o erro em ter criado o homem. Tentou refazê-lo, com o dilúvio. Não deu certo! Em pouco tempo, eles estavam adorando o bezerro de ouro.

Luiz Antonio Barreto me ensinou: Tudo tem dono! A política, a religião, as forças armadas, a ciência, os ofícios liberais, os sindicatos, os esportes. Só a Cultura não tem donos. Na época não entendi. Agora entendo.

A estupidez humana é quase infinita, mas foi com ela que dominamos o mundo. Assisto conformado a preparação da terceira guerra, dessa vez nuclear. A mãe de todas as guerras, como se diz no Alcorão.

Penso em cavar um bunker em meu sítio, pelo menos para assistir o final.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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