domingo, 2 de julho de 2023

O QUE DISSE O CENSO DO IBGE?

 O que disse o Censo do IBGE?
(por Antonio Samarone)

Um fato relevante: o crescimento populacional está em declínio no Brasil, com as suas consequências: o envelhecimento avança e a proporção das pessoas economicamente produtivas diminui.

A crise japonesa, onde 1/3 da população tem mais de 65 anos, se aproxima do Brasil. Com um diferença, eles envelheceram ricos e nós estamos envelhecendo pobres.

A taxa de fertilidade no Brasil é de 1,65 filhos, por mulher em idade fértil. A taxa de fertilidade abaixo de 2,1, não repõe a população. No Brasil estamos com 1,65.

Na década de 1970, o debate era sobre a ameaça da explosão demográfica. O Brasil chegaria a 350 milhões de habitantes e a pobreza ia aumentar. Urgia o controle da natalidade.

Uma das justificativas para a construção da Transamazônica foi essa explosão. Era preciso criar espaços, para essa gente que iria nascer.

Em Sergipe, o Secretário da Saúde, Dr. José Machado de Souza, não aceitou a política de controle da natalidade. Não adiantou! Mudaram o nome para planejamento familiar, e uma epidemia de laqueadura de trompas foi executada.

Em 1940, a família média no Brasil possuía 6,6 filhos. Hoje, temos famílias de filho único, no máximo dois. É o modelo familiar das novelas da Globo.

A minha mãe teve 16 filhos, 9 irmãos sobreviveram. Os outros foram entregues a mortalidade infantil e viraram anjinhos. Eu tenho um filho. As famílias de filho único marcham para as famílias pet. Famílias com zero filho e um magote de gatos e cachorros.

Foi um erro de avaliação absurda. Se sabe que o Brasil chegará ao pico populacional com 250 milhões. Os estudos demográficos apontam que em 2100, o Brasil terá uma população de 190 milhões de habitantes.

Entenderam? Não houve explosão demográfica, pelo contrário, marchamos para o declínio populacional.

Vamos precisar dar meia volta. A implosão demográfica e o envelhecimento, apontam para a necessidade de estimularmos os nascimento.

Mesmo nessa visão convencional, implicaria em políticas sociais: retorno dos pré-natais, aumento de creches, escola em tempo integral, licença e incentivo a maternidade.

Outros defendem: nada disso, as novas tecnologias, a automação, a inteligência artificial, a internet das coisas prescindir da oferta de mão de obra.

De qualquer jeito, legiões de velhinhos precisarão de cuidados e qualidade de vida.

As famílias deixaram de ser esse refúgio. Iremos envelhecer sozinhos. Iremos perder a autonomia sozinhos. Quem pode, contratará uma multidão de cuidadoras. E a maioria, que não pode, morrerá à míngua.

Sempre se morreu só. A novidade é o envelhecimento na solidão compulsória. A solidão dos moribundos.

Entregar os velhos apenas aos cuidados médicos é um desastre humanitário e uma inviabilidade econômica. O hospital voltou a ser o abrigo para quem não tem onde cair morto.

Quem pagará essa conta?

O Estado neoliberal, voltado para o controle dos gastos? Os Planos de Saúde (capital financeiro), que vivem de lucros: aumento das receitas e redução das despesa. Nunca foram planos de saúde. São planos precários de socorro aos doentes.

A principal mensagem do Censo de 2022 foi a confirmação de que o envelhecimento da população é inevitável. Não poderemos continuar fingindo que não é com a gente e que é uma realidade distante.

Os cuidados dos velhos entregues as famílias, aos asilos filantrópicos ou as clínicas de repouso não respondem ao direito de envelhecermos com qualidade de vida.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário