quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

COISAS DO ARACAJU


 

Coisas do Aracaju.
(por Antonio Samarone)

A ousada iniciativa de Inácio Barbosa (março de 1855) em elevar o povoado de Santo Antonio do Riacho do Aracaju à categoria de cidade e transformá-la na capital da Província, teve um elevado custo sanitário.

Seis meses após a transferência da Capital, o próprio Inácio Barbosa contraiu a endêmica febre intermitente ou paludosa (malária), não resistindo, veio à falecer em 06 de outubro de 1855.

Não foi fácil encontrar quem quisesse vir morar na nova Capital.

O Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides, que sucedeu a Barbosa, encomendou aos doutores Guilherme Pereira Rabello e Pedro Autran, um laudo sobre as condições de salubridade da nova Capital.

O relatório dos médicos é apavorante. Ele é o primeiro documento de Saúde Pública de Aracaju, datado de 29 de junho de 1856.

Para se tornar habitável, os pântanos do Aracaju deveriam ser drenados. A cidade precisava ser aterrada, arborizada e embelezada. Era urgente a construção de habitações saudáveis.

Aracaju era o paraíso dos miasmas.

As dificuldades não decorreram da falta de planejamento. Pelo contrário! A planta da nova Capital foi encomendada ao engenheiro Capitão Sebastião José Basílio Pirro. A cidade foi antes esquadrinhada no papel e o planejado, cumprido.

Ao lado de Belo Horizonte, Aracaju foi uma das primeiras cidades planejadas do Brasil. O engenheiro Pirro, por justiça, merecia nomear uma grande avenida em Aracaju. Entretanto, nomeia apenas uma pequena travessa na Terra Dura.

No inicio, circulava o boato que a Capital voltaria para São Cristóvão. Os ricos não queriam construir em Aracaju. João Gomes de Melo, o Barão de Maruim, foi uma exceção. Construiu 15 casas somente na rua da Conceição, doou lotes aos amigos e foi morar nesta.

Não teve alternativa, a Rua da Conceição virou a Rua do Barão. Homenagem ao Barão de Maruim, um Grande do Império.

Em 23 de outubro de 1857 foi inaugurada a Igreja Matriz de São Salvador, na Rua do Barão.

Em 1860, durante a visita do Imperador à Aracaju, D. Pedro II fez um pequeno passeio pela Rua do Barão.

Outro famoso que morou na esquina da Rua do Barão, onde depois funcionou o cine Pálace (inaugurado em 1956), foi o senhor José da Trindade Prado, o Barão de Propriá.

Em 1873, a Câmara Municipal para agradar à Gonçalo de Faro Rollemberg, o barão de Japaratuba, que passou a morar na rua, trocou o nome para Rua Japaratuba. O Barão de Maruim já residia no Rio de Janeiro.

Mesmo no papel tendo passado para Rua de Japaratuba, depois de 1873, o povo sempre a chamava Rua do Barão. Na verdade, a Rua dos Barões!

No século XX chegaram à Rua do Barão o Hotel Internacional, depois substituído pelo Hotel Marozzi, o Teatro Carlos Gomes, o Ponto Chique e o Café Central,

Com a revolução de 1930, como forma de sublime bajulação política, as autoridades sergipanas ignoraram as tradições e renomearam a Rua do Barão como Rua João Pessoa. Um paraibano que nunca pisou os pés em Aracaju.

A Rua do Barão (atual João Pessoa) foi a primeira rua de Aracaju calçada à paralelepípedos, em 1919, tornando-se a principal artéria da cidade, suplantando em importância a Rua Aurora, atual Rua da Frente.

A Rua do Barão foi deformada e virou o Calçadão da João Pessoa. Sem memória, sem tradição e sem passado. Quem quiser conhecer a deliciosa história da Rua do Barão, procure pelos escritos do engenheiro Fernando de Figueiredo Porto (foto).

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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