Gente Sergipana – Veio Boba
(por Antonio Samarone)
Misael Batista dos Santos (Veio Boba), 79 anos, nascido e criado na enseada do Vaza Barril. Filho do Pescador de rede de lambuda, Seu Zuza, o lendário “Cu de Calo”, e de dona Omerina, marisqueira de raiz.
O Veio Boba é um Tupinanbá puro sangue, descendente direto do Cacique Surubi, o que jantou o Bispo Sardinha. O Veio Boba tem a fala mansa e arrastada, caminhado lento, olhar astuto, pescador desde os cinco anos, um herdeiro da cultura Tupi.
Ainda vive da pesca de siris, nas gaiteiras do Rio Santa Maria. Já é aposentado, mas não aguenta ficar sem fazer nada.
Tem cinco filhos vivos. Bom papo, sorriso estampando no rosto, atencioso. Não se lembra da última raiva, nunca teve um inimigo.
Perguntei se ele sofria de alguma mazela, se era incomodado por alguma doença. Ele deu uma risada e respondeu. “Doutor, o que causa doença é raiva guardada, cabeça quente, olho grosso, inveja e preguiça. Disso eu não sofro!”
Ele resumiu os sete pecados capitais (Ira, gula, inveja...)
O Veio Boba me deu uma aula de higiene. Verdades hipocráticas. “Cabeça fria, ventre leve e pé quente”, é um aforisma clássico de Avicena, mestre da medicina árabe.
O Veio Boba é a ancestralidade cultural dos Tupinambás, o que resistiu até agora a sociedade globalizada.
O Veio Boba é respeitado por todos, aqui no São José dos Náufragos, onde mora. Um Pajé cheio de sabedoria.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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