quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A VACINA CONTRA A PARALISIA


A Vacina contra a Paralisia...
(por Antonio Samarone)

A paralisia infantil aterrorizou a minha geração.

No final de 1961, o Departamento da Criança, comandado pelo doutor João Cardoso, convenceu o Secretário da Saúde, doutor Antonio Garcia, a realizar a primeira campanha de vacinação em massa em Sergipe, contra a Paralisia infantil.

Decidiram usar a vacina nova em Sergipe. Uma vacina oral, trivalente, de vírus vivo atenuado, a vacina Sabin. Uma grande novidade, com um agravante, o ensaio clínico tinha sido feito na URSS, na Cortina de Ferro.

Já existia a vacina Salk, americana, com o vírus inativado, desde 1955. A vacina Sabin era de vírus vivos, oral e testada na Rússia. A polêmica ideológica foi intensa.

A vacinação foi concentrada em Aracaju.

O chefe político Euclides Paes Mendonça, resolveu trazer os meninos de Itabaiana. Organizou uma enorme caravana. Minha mãe chegou de madrugada, ainda escuro.

O objetivo da campanha era vacinar todas as crianças entre 4 a 6 anos. Eu estava nessa faixa, completaria sete anos em dezembro de 1961.

Ocorre, que os organizadores da caravana implicaram com a minha idade. Eu era grandão, para os padrões de Itabaiana. “Esse não vai, já passou da idade”. Minha virou uma Onça. Ele vai de qualquer jeito, disse ela indignada.

Minha mãe partiu decidida para falar com dona Sinhá, a esposa de Euclides. Quando Dona Sinhá avistou mamãe, passos largos, cabeça erguida, falando alto, quase aos gritos, não teve dúvidas: “o menino de Dona Lourdes vai tomar a vacina”.

Dona Sinhá já sabia da polêmica.

Quando me lembro de mamãe brigando para me vacinar, perco o respeito por quem está contra a vacina da Covid-19. Não faço parte desse mundo de vocês, nem quero passar por perto.

Embarquei na marinete da Prefeitura, de tamancos, chapéu de couro e calça curta, para me vacinar contra a Paralisia Infantil. Era a minha segunda vinda à Aracaju.

A primeira foi com um ano, para tirar um carroço no peito que ameaçava sangrar, no Hospital de Cirurgia. Fui operado pelo Dr. Airton Teles, a quem meu pai morreu agradecido.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

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