domingo, 6 de setembro de 2020

O TRIBUNAL DO JÚRI EM ITABAIANA


O Tribunal do Júri em Itabaiana.
(por Antonio Samarone)
Pedro de Rita foi atacado numa estrada deserta, no meio da noite, em plena escuridão. No desespero, sacou de uma faca e golpeou o agressor. O golpe foi fatal, atingiu o coração do desconhecido.
Preso, levado a julgamento popular, Pedro foi interrogado pelo Juiz de Direito, Dr. João da Silva Melo, e usou como principal argumento a tese de legítima defesa. “Doutor, fui pego de surpresa, tomei um susto, senti que forasteiro queria me matar. Instintivamente, me defendi. Para não morrer, saquei de uma faca e apliquei um contra golpe.”
O Doutor Juiz ponderou: “E precisava matar? Por que o senhor não deu a facada em outro lugar, escolheu logo o coração.”
Pedro de Rita tomou a pergunta como descabida e retrucou: “O Senhor acha mesmo eu que deveria ter riscado um fósforo para alumiar e escolhido outro lugar para enfiar a faca?”
O Juiz se calou pensativo.
Esse argumento de Pedro de Rita em sua defesa, foi o mesmo usado pelo Rei Édipo, acusado de parricídio, de ter matado o Rei Laio, seu pai: “Por acaso, se fosses agredido por um desconhecido numa estrada deserta, iria, antes de se defender, indagar se aquele homem era o seu pai?”
Os dois fatos são reais, o de Pedro de Rita, contado por Tonho de Dóci, em seu livro, "História de uma Paixão", e o do Rei Édipo, contado por Sófocles, em "Édipo em Colono". Apenas modifiquei os personagens centrais da narrativa itabaianense.
Antonio Samarone. (médico sanitarista)

Um comentário: