domingo, 8 de setembro de 2019

O MEU BISAVÔ BERNARDINO FERREIRO



O meu bisavô Bernardino ferreiro... (por Antônio Samarone)

Aos 17 de setembro de 1926, terça-feira, às 9:40 horas, o trem M-72 da Este Brasileira, guiado pelo maquinista Caetano Antônio de Jesus, atropelou e matou Bernardino José de Oliveira (59 anos), ferreiro, residente no povoado Sambaíba, em Itabaiana Grande.

Bernardino ia de Itabaiana com destino a cidade de Maruim, para comprar ferro, matéria prima do seu ofício. Montado num burro. Ao chegar nas proximidades do povoado Caititu, um trem passava no momento. Bernardino viajava seguindo a linha do trem.

O animal assustou-se com o apito do trem e saiu em disparada. A 500 metro da estação do Caititu a linha faz uma curva (KM – 337), em seguida existe um alto pontilhão. O animal ficou sem alternativa, assustado, não conseguiu sair da linha, sendo esmagado pelo trem em cima do pontilhão. Bernardino não conseguiu nem controlar o animal nem saltar antes, sendo despedaçado pelo trem, junto com o animal.

Essa história continua na lembrança dos mais velhos do Caititu, que ouviram contar essa tragédia.

Os corpos foram apanhados num saco, gente e animal misturados, colocados na estação ferroviária do Caititu, à espera do destino legal. No mesmo dia, os cadáveres foram transferidos para Aracaju, e periciados pelos doutores Carlos Tavares de Menezes e Mário de Macedo Costa, na Chefatura de Polícia. Segue o resumo do laudo pericial, emitido pelos médicos:

“Bernardino de Oliveira, brasileiro, residente em Itabaiana, de cor branca, ferreiro, aparentando sessenta e cinco anos de idade, apresenta fratura do crânio e esmagamento de tronco e membros, literalmente separados, que provocaram a morte instantânea.” Bernardino José de Oliveira foi sepultado em Aracaju, no Cemitério de Santa Izabel.

Ontem, 07 de setembro de 2019, fui ao Caititu, local do trágico acidente que vitimou o meu Bisavô Bernardinho ferreiro. O propósito era construir no local uma “Santa Cruz”, tradição dos ferreiros, meus ascendentes. Visitei a mata, para sentir o sopro quente do ferreiro Bernardino.

Só que a mata cobriu parte da estrada de ferro. Por coincidência, no local do acidente cresceu uma linda jurema, exatamente uma jurema. Como se sabe, os ferreiros de Itabaiana preferiam o carvão de jurema em suas forjas, pois permitem elevadas temperatura. Desisti da “Santa Cruz”, a natureza ofereceu uma jurema.

A Bigorna que foi de João José, Bernardino, Totonho, Zé, Homero, agora é de Arnaldo meu primo, tá no povoado flechas, resistindo há mais de 150 anos. O som da bigorna ainda é reconhecido pelos antigos.

Gente dos Ferreiros, Bernardino não foi abandonado. Espero estar vivo, para comemorar o centenário de sua morte.

Antônio Samarone.

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