terça-feira, 2 de janeiro de 2018

POLÍTICA EM SERGIPE - O livro de Ibarê Dantas.


Política em Sergipe – O livro de Ibarê Dantas.

A pretexto de escrever uma biografia, o historiador Ibarê Dantas, em seu novo livro – “Leandro Maciel na Política do Século XX”, traçou um consistente perfil da política sergipana, no período entre a revolução de 1930 e a ditadura militar; correspondendo ao início da vida pública de Leandro Maciel, em 1926, como diretor de obras públicas do Estado; e ao seu melancólico fim, em 1974, na humilhante derrota para o médico Gilvan Rocha, na disputa para o Senado.

Um livro da maturidade do escritor. Cuidadoso com os dados e as fontes, isento, minucioso, com uma escrita leve, contrariando a visão dominante no Brasil, que só os jornalistas escrevem bons livros de história. O livro do historiador Ibarê Dantas é bom e bem editado.

Ao traçar a disputa pelo poder num estado periférico, o livro de Ibarê Dantas retrata a caminhada de um grande político. Um chefe político dentro do antigo manequim da República Velha. Astucioso, zeloso com o seu prestígio, fiel e tolerante com os correligionários; implacável e violento com os inimigos. Leandro Maciel foi um conservador ilustrado, que disputou o poder por quase meio século, com um programa de desenvolvimento para Sergipe na cabeça. Leandro acreditava que o desenvolvimento de Sergipe seria pelo caminho da industrialização. O livro analisa a disputa política em conjunturas distintas: revolução de 1930, estado novo, populismo e ditadura militar. Como Leandro Maciel sobreviveu em cada conjuntura.

A parte mais substantiva do livro, que transcende aos objetivos das histórias locais e das biografias, é a descrição de uma sociedade civil numa conjuntura hegemonizada pela política. Os conflitos, os embates, os avanços e recuos ocorrem no campo da política. Mesmo em períodos de exceção, o legitimador das decisões continuava sendo a política, nesses casos, uma política autoritária. O livro permite aos mais jovens uma comparação com a atualidade, onde a esfera política está deslegitimada, criminalizada, onde o voto direto e secreto deixou de ser a fonte de poder, e as eleições livres estão eivadas de suspeitas. Vivemos numa era da usurpação do poder emanado do povo, como rezava os velhos textos republicanos. Parte da sociedade acredita que a única forma de legitimação do agente público é o concurso.

A deslegitimação da esfera política e a consequente perda de prestígio social dos seus agentes, atendem aos objetivos da esfera econômica, sobretudo do capital financeiro globalizado, que precisa de liberdade de ação e exploração, e que a nada respeita, nem normas nem fronteiras. Os humores e as idiossincrasias do mercado são apresentados como uma lei da natureza, uma força física, a qual devemos nos submeter. Os interesses do capital financeiro aparecem como princípios de uma realidade científica. O livro do professor Ibarê Dantas retrata uma conjuntura anterior, onde as contradições e os interesses de classes eram decididos no campo da política. Para que não haja mal-entendidos, duas observações: não estou fazendo juízo de valor sobre a natureza da política da época, apenas uma constatação; e claro, tratava-se de uma política excludente das massas subalternas (operários, camponeses, lúmpen, etc). Essa é outra discussão.

O livro “Leandro Maciel, na Política do Século XX”, do intelectual Ibarê Dantas, além da biografia de um personagem relevante, o livro trata da história, da vida e dos costumes da Província de Sergipe d’ El Rey no período; e ainda traz um belo estudo de caso de ciência política. Uma pena tratar-se de uma tiragem reduzida, sem distribuição nacional. Muita porcaria tem sido publicada pelas grandes editoras nacionais. Nesse caso, é o preço que se paga por se pensar a partir da periferia.
Antonio Samarone.

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