quinta-feira, 7 de setembro de 2017

MESTRE DA MEDICINA EM SERGIPE - NESTOR PIVA


NESTOR PIVA, oitavo filho de Alberto Piva e Laura Piva, nasceu em 13 de junho de 1930, em Salvador/BA. Imigrantes italianos, operários de tecelagem, ao chegarem ao Brasil passaram pelas fábricas dos Matarazzos, em São Paulo; Bangu, no Rio de Janeiro; Pelotas, Rio Grande do Sul; até chegarem a fábrica dos Catarinos, em Salvador. Nestor Piva perdeu o pai aos três anos, o irmão mais velho, Inocêncio Piva, assumiu as funções paternas. Estudou o primário no Colégio do Professor Eufrates, em Salvador; e o restante dos estudos no Ginásio da Bahia. Em 1948, ingressou na centenária Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, criada por D. João VI. A opção pela patologia foi precoce, desde cedo trabalhou em laboratório e dominou as suas técnicas.

Nestor Piva foi campeão juvenil no futebol pelo Galícia, vice-campeão baiano de vôlei pelo Fluminense, e campeão de basquete pelo Bahia. Por muitos anos jogou tênis na Associação Atlética de Sergipe; participou do movimento de rádio amador, e tinha um xodó especial pela pescaria. Foi fundador e presidente do Clube de Pesca de Sergipe. Um verdadeiro desportista.

Em 1954, o Dr. Augusto Leite convidou o professor baiano Aníbal Silvani para assumir o serviço de patologia do Hospital de Cirurgia, em substituição ao patologista alemão Konrad Schimitt, que retornava a sua terra. Silvani não aceitou, mas indicou o seu aluno Nestor Piva, ainda doutorando para o cargo. Piva chegava em Aracaju na sexta à tarde, trabalhava o final de semana, e retornava na segunda para Salvador.

Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1954. Em 1955 organizou a disciplina de patologia da Faculdade de Medicina da Paraíba. Um ano após voltou para Salvador onde assumiu por concurso o cargo de médico do IAPC – Instituto de Aposentadoria dos Comerciários. Em 1959 transferiu-se para Aracaju atendendo convite dos médicos Juliano Simões e Fernando Sampaio, para retornar ao Hospital de Cirurgia que estava sem médico patologista. Augusto Leite e o Senador Leite Neto, conseguiram que o IAPC colocasse Piva à disposição do hospital. Todos os exames de patologia do estado, inclusive os do Hospital Santa Izabel, passaram a ser realizados no laboratório montado por Piva no Cirurgia. Um fato: ele não recebia nada por isso. Ele só montou outro laboratório, no São Lucas, quando o curso de medicina deixou o Hospital de Cirurgia.

Nestor Piva e Osvaldo Leite foram os primeiros professores da Faculdade de Medicina de Sergipe, fundada por Antônio Garcia, lecionando inicialmente histologia; e em seguida, professor titular da Patologia Geral, Especial e Bucal. Somente com a saída das instalações da Faculdade de Medicina do Hospital de Cirurgia, Piva resolveu fundar o seu Laboratório de Patologia no Hospital São Lucas, em sociedade com duas ex-alunas. O Dr. Piva assimilou rápido toda a modernidade e quis que o seu laboratório emitisse laudos com imagens digitalizadas e com as técnicas mais modernas de imuno-histoquímica.

Em 1972, transferiu-se para Brasília onde assumiu por concurso o serviço de patologia do Hospital das Forças Armadas. Nesse período foi professor adjunto de patologia da Universidade de Brasília, ocupando o cargo de chefe do Departamento. Permaneceu em Brasília por quatro anos, regressando a Sergipe atendendo o convite do então reitor da UFS, economista Aloísio Campos.

Na área administrativa, Dr. Piva exerceu vários cargos públicos: foi Diretor do Instituto de Biologia (1969/70); Chefe do Departamento de Medicina Interna e Patologia (1961/68); Diretor do Hospital Universitário, na administração do Reitor Eduardo Garcia; Pró-Reitor de Graduação, onde implantou o sistema de créditos na UFS, substituindo o antigo sistema seriado; Vice-Reitor da UFS; foi Secretário de Educação do Estado de Sergipe por nove meses, no governo de João de Andrade Garcez, tendo montado uma equipe de notáveis na educação (Gizelda Morais, Carmelita Pinto Fontes, Beatriz Góis, Núbia Marques, Carmen Mendonça, Silvério Fontes e Thetis Nunes). Com todos esses cargos ocupados, Piva nunca deixou a sala de aulas. Nestor Piva nomeia um dos hospitais do município de Aracaju.

Foi um dos fundadores e primeiro presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe, onde atuou por dois mandatos. No início da década de 1980, um grupo de médicos recém-chegados da residência médica, desconhecido, estava decidido em fundar o sindicato dos médicos em Sergipe. Como legitimar esse sindicato, junto a uma categoria conservadora? O grupo tinha participado ativamente do movimento estudantil na UFS, quase todos de esquerda, como representar uma categoria tradicional? Tivemos uma ideia, vamos convidar um médico antigo e que tenha legitimidade. Quem? Não tivemos dúvidas: Nestor Piva. A maior cultura médica de Sergipe. Combativo, corajoso, não fugia de conflitos, e respeitado por todos. Ninguém enfrentava Piva e quem enfrentou perdeu. Procuramos o Dr. Piva e fizemos o convite: professor, precisamos do senhor para legitimar o nosso Sindicato. Ele aceitou... Dr. Piva foi militante no antigo Partido dos Trabalhadores, no tempo que isso significava acreditar em mudanças para o Brasil. (no momento que escrevo, estou ouvindo a delação de Palocci na TV).

Pesquisador destacado na área da patologia parasitária, a sua tese de doutoramento em 1961, foi sobre Esquistossomose do Aparelho Genital Inferior. Nesse período, só existiam dois doutores em Sergipe: Luciano Duarte em filosofia e Nestor Piva em medicina. Piva fez Pós-graduação em histoquímica com o Prof. Vialli – Universidade de Pávia – Itália, de janeiro a julho de 1961, recebendo o Prêmio Pravaz. Pós-graduação em Patologia no National Institute of Pathology - Prof.George Glenner - Bethesda-MDUSA, de julho de 1965 a julho de 1966. Publicou (Parasitology - USA, Acta Dermato Venerealogia Scandinávia, Riv. Italiana de Histochimica). Foi presidente da Sociedade Brasileira de Patologia no período de 1985 - 1987.

Em 1956, Piva casou-se com a baiana Bernadete Rabello e com ela constituiu uma família com quatro filhos: Ana Cristina, Marta, Nestor Piva Filho e Augusto César. Em seu tempo livre, costumava distrair-se com a família e amigos, na pesca com molinete, percorrendo nos finais de semana, as praias de Sergipe e Alagoas, participando de campeonatos. Faleceu, sem deixar fortuna, em decorrência de um câncer pulmonar, em 21 de outubro de 2004, em Aracaju/SE, com 74 anos. Tentou o tratamento no Hospital Universitário de Porto Alegre, e foi tratado como indigente. Retornou à Aracaju, sabia da gravidade do seu problema e não aceitou nenhum tratamento invasivo, só cuidados paliativos. Sepultado no Cemitério Colina da Saudade, Aju/SE. Rendo as minhas homenagens ao querido professor...


Antônio Samarone.

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