COMO ACREDITAR QUE EM 2017 TEREMOS
UM “FELIZ ANO NOVO”?
Antonio Samarone.
Sou da geração que assistiu o fim
da ditadura, foi às ruas pela anistia e pelas diretas; e sonhou com um Brasil
livre. Em 1979, ano cheio de medos e incertezas, enchemos os olhos de lágrimas
e cantamos com Elis Regina, o hino de João Bosco e Aldir Blanc. Caia a tarde
feito um viaduto (o Paulo de Frontin), e as lembranças de Carlitos (Chaplin tinha
morrido no natal de 1977), choravam Marias e Clarisses” (viúvas de Manuel Fiel
Filho e Vladimir Herzog); e o bêbado com chapéu coco fazia irreverências mil Prá
noite do Brasil, (e que noite); contudo, sonhávamos com a volta do Betinho,
Prestes e Brizola; que tinham partido num rabo de foguete; e pensávamos que
aquela dor assim pungente não teria sido inutilmente. Vislumbrávamos a esperança,
mesmo de sombrinha numa corda bamba. Era um choro alegre, uma aflição aliviada,
pois o amanhã seria outro dia.
Hoje, estamos no limbo, não
enxergamos a esperança. Dante Alighieri encontrou na porta do Inferno: "Lasciate
ogni esperanza, ó voi que entrate" (Ó, vós que entrais, abandonai toda a
esperança); exatamente, o inferno é o fim da esperança... Como desejar feliz
2017? Não acredito num acordo de leniência política e que o PT seja perdoado do
envolvimento na ladroagem. Não vejo sinais de uma nova esquerda. A chamada
direita não tem projeto para o Brasil onde o povo esteja incluído: nem com esse
bando de malfeitores que usurpou o poder, testas de ferro do capital
financeiro; nem com a social democracia brasileira de FHC, Serra, Alckmin e
Aécio; muito menos com a turma do BBB (boi, bala e bíblia), liderados por
Bolsonaro e Malafaia. A sociedade perdeu a confiança em saídas políticas...
Bertold Brecht
cunhou uma sentença clássica: Infeliz a nação que precisa de heróis; em outras
palavras, infeliz o povo que precisa de salvadores da pátria, de líderes, de
libertadores; mas no Brasil estamos numa situação curiosa; e poderíamos
completar a frase de Brecht: mais infeliz é a nação que precisa de heróis e
eles não existem. Nem temos lideranças, nem instituições políticas com
credibilidade. As vagas estão abertas para os tiranos...
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