Senhora Presidenta, o Exército é outro...
Diante da repercussão
internacional da tríplice epidemia (Zica, Dengue e chikungunya), e em especial da
explosão dos casos de microcefalia; a Senhora resolveu organizar “um dia” (13) de
esforço nacional para o combate ao mosquito. A estratégia escolhida foi a
mobilização das Forças Armadas, acompanhado de uma ampla campanha de marketing. A intenção foi boa.
Mesmo considerando que a presença
dos mosquitos decorre sobretudo da falta de saneamento ambiental, é consenso,
que ação do poder público eliminando os criadouros domiciliares e peridomiciliares,
em parceria com a população, reduz a infestação dos mosquitos, e pode interromper
a transmissão das doenças.
Em dezembro de 2015, o Sistema
Único de Saúde (SUS) possuía 332.289 agentes comunitários de saúde credenciados
pelo Ministério da Saúde, presentes em 5.504 municípios; profissionais que residem
nas comunidades onde atuam, conhecem as pessoas, as vilas e veredas, já
visitaram cada casa dezenas de vezes, são experientes; esses agentes estão
vinculados a 48.391 equipes de Saúde da Família; compostas por médicos,
enfermeiros, técnicos em enfermagem, e que já cadastraram e visitaram a imensa
maioria dos domicílios. Essa é a rede básica do SUS.
Senhora Presidenta, esse é
Exército da Saúde pública. Qualquer estratégia para dar certo precisa centrar o
combate ao mosquito nesses profissionais. A Senhora poderia organizar uma Força Sanitária Nacional, com esses agentes, centralizar o comando, com a missão
prioritária de visitar todas as casas, permanentemente, e fazer uma varredura
rigorosa dos criadouros do mosquito. Estamos diante de uma emergência. Claro
que a ajuda das forças armadas, das igrejas, das escolas, dos sindicatos, das
entidades empresariais, e de que mais quiser ajudar, será muito importante. Mas
a base da ação não pode deixar de ser o SUS.
Só mais um pedido, a tarefa é
reduzir o número de criadouros, suspenda imediatamente o envenenamento do meio
ambiente e das pessoas, com o uso abusivo de inseticidas (fumacês) e larvicidas,
já condenado por especialistas da ABRASCO. A experiência com o uso dos organoclorados
(DDT, BHC, etc.) foi desastrosa para a saúde pública.
Antonio Samarone - médico sanitarista.
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