segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

POR QUE O MOSQUITO CONTINUA GANHANDO A GUERRA?

Por que o Aedes aegypti continua ganhando a guerra?

ANTONIO SAMARONE DE SANTANA.
ACADEMIA SERGIPANA DE MEDICINA.

A estratégia do Ministério da Saúde no combate ao mosquito não vem dando certo há 30 anos, desde a primeira epidemia de dengue em 1986. O governo insiste. Trata-se do esforço em matar o mosquito, seja com inseticida e larvicida, ou com a eliminação dos pequenos criadouros domésticos. Para isso, resolveu usar o exército, numa visível jogada de marketing; e realizar “mutirões” de convencimento, visando sensibilizar a sociedade, para que todos se engajem nessa missão. O slogan da estratégia é “um mosquito não é mais forte que um país inteiro”.
A novidade do “mata mosquito” são os recursos tecnológicos: esterilizar os mosquitos com radiações, lançar mosquitos transgênicos no meio ambiente ou mosquitos contaminados com a bactéria wolbachia, tudo dentro da lógica de eliminação por concorrência do mosquito selvagem. Tudo feito às pressas, sem uma consistente avaliação das consequências. Contudo, nem mesmo dentro dessa estratégia limitada, as ações da saúde pública têm sido permanentes e efetivas. O “mata mosquito” com a tímida participação dos agentes de saúde é um faz-de-conta.
No caso de Aracaju, nem a estratégia limitada está funcionando, o descaso é exagerado. O munícipio dispõe de 900 agentes de saúde, que se devidamente mobilizados, dariam uma grande contribuição; possui recursos para a eliminação dos grandes criadouros; e tem se limitado a rotina dos agentes de endemias. A ação do Estado tem sido mais intensa em vários municípios, inclusive na capital.
O que os pesquisadores da Saúde Pública, congregados na ABRASCO, têm insistido é na eliminação dos grandes criadouros, nas ações de saneamento ambiental, coleta do lixo, fornecimento permanente de água potável; somado a ações permanentes de saúde pública. O atual ecossistema urbano é favorável ao mosquito, onde ele se encontra no topo da cadeia alimentar. Mesmo com a provável descoberta de vacinas, como foi o caso da febre amarela e dengue, o risco de novas epidemias por outros vírus selvagens continua.

O mais perverso, é que nos próximos meses a tríplice epidemia vai arrefecer, devido ao inverno, como vem ocorrendo há décadas; e os méritos serão atribuídos às ações de marketing do Ministério da Saúde.   

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