quarta-feira, 18 de setembro de 2024

ITABAIANA - 350 ANOS. TONHO DE DOCI.

Itabaiana – 350 anos. Tonho de Doci.
(Por Antonio Samarone)

Em 10 de agosto de 2008, foi plantado no Cemitério de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, Antonio Oliveira, filho de Zezé da Requinta e Dona Eudócia. Dona Dorce, Doce, Dosse, Doci, Dossi, Dóce, e até hoje ninguém sabe como se escreve.

O seu irmão, Paulinho de Doci, mora em Salvador. Um homem de educação esmerada e vasta cultura. Mantém acesa as raízes itabaianense.

Antonio de Doci foi itabaianense mais erudito que conheci. Um iluminado, que fez de quase tudo: comerciante, jogador de futebol (foi o primeiro itabaianense que soube passar a bola), no mais, era chutão para a frente, e seja o que deus quiser. Tonho de Doci tinha estilo.

 
Antonio Oliveira, nasceu em Itabaiana em 11 de julho de 1926. Na Itabaiana agrícola, celeiro de Sergipe. Não foi um doutor de universidade, porque as circunstâncias não permitiam. Foi aprendiz de alfaiate, com o Mestre Pedro Devoto.

Naquele tempo em Itabaiana, o circo era a maior atração. Do fantástico Circo e Teatro Zé Bezerra, a outros menos espetaculares. Zé Bezerra foi o mais talentoso ator teatral, da Grande Itabaiana. Filho de Dona Antonieta, dona pensão, casado com Dona Lourdes, de João Giba, aluno de Procópio Ferreira. Zé Bezerra foi assassinado em Queimados, interior da Bahia.

Antonio Oliveira foi preso, primeiro pelo Governo Vargas e a segundo pela Ditadura Militar, acusado de crime ideológico. Foi deputado estadual, por três meses.

Antonio viveu agarrado aos livros. Profundo conhecedor do cinema. Antonio e Renato Mazze Lucas, levaram luzes para Itabaiana.

Antonio Oliveira é pai da médica Betania, vitima de meningite, e do escritor José Olino.

Para que a leitura não fique longa e cansativa, transcrevo esse texto de Cibalena, sobre Antonio Oliveira:

“Mané Fogueteiro / era o deus das crianças...” ─ assim começava uma velha canção de Augusto Calheiros que embalou as festas de São João da minha infância. Por que falo disso? Porque Antônio Oliveira foi o meu “Mané Fogueteiro”. Tonho de Dorce, além de vender bicicletas, radiolas e geladeiras, era o representante, na Itabaiana da minha infância, dos Fogos Caramuru ─ “os únicos que não dão xabu!” – como dizia o conhecido slogan. Outra faceta inesquecível é que Antônio Oliveira era comunista! Naquele tempo, toda pequena cidade tinha seus comunistas municipais. Eram comerciantes, sapateiros, mecânicos; eram casados e pacatos; no domingo, iam ao cinema com a família; batizavam os filhos, casavam na igreja, chamavam o padre (de quem, aliás, eram amigos) na hora de dar a extrema-unção aos seus moribundos. E eram comunistas! Admiravam a União Soviética e sonhavam com a revolução que resgataria o Brasil do subdesenvolvimento e da injustiça. Isso, que hoje pode parecer anedótico, era uma rota legítima na época em que se formou a geração de Antônio ─ os anos 40. Era um tempo de grandes engajamentos e quem tinha sensibilidade e queria mudar o mundo alinhava-se à esquerda. E numa época em que o velho Partido Comunista era um desaguadouro quase natural desses sonhos, meu Mané Fogueteiro aderiu ao Partidão. Em 1964, foi preso. Depois de solto, mudou-se para Aracaju, onde se tornou o Rei das Bicicletas – título monárquico, magnífico na loja de um comunista!

Discurso de Posse de Cibalena (Luciano Oliveira) na Academia Itabaianense de letras – AIL (28 de março de 2014).

Encerro com um chavão: Tonho de Doci, foi o nosso comunista histórico, com o jeitão de Itabaiana.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

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