segunda-feira, 20 de março de 2017

A LITERATURA DE RANULPHO PRATA


Ranulpho Hora Prata – o fundador da radiologia em Sergipe.
Nasceu em 04 de maio de 1896, em Lagarto/SE, filho de Felisberto da Rocha Prata e Ana de Vaaconcelos Hora. Inicia os estudos em Estância, depois transferiu-se para Salvador onde concluiu o Ginásio. Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, estudando até o quarto ano, quando se transfere para Rio de Janeiro, concluindo o curso em 30 de dezembro de 1919, defendendo a tese “Do Riso”.. Em seguida transferiu-se para Mirassol, SP, onde se casou com Dona Maria da Glória Prata. Em 1925 retorna a Sergipe, a convite de Augusto Leite, para organizar o serviço de radiologia do Hospital de Cirurgia. Em 1927 foi para Santos, ocupar a vaga de radiologista na Santa Casa de Misericórdia. Pai do Dr. Paulo Prata (filho único) e avô de Henrique Prata, do conceituado Hospital de Câncer de Barretos, SP. Faleceu em São Paulo, tuberculose, em 24 de dezembro de 1942, aos 47 anos, internado no Hospital Santa Cruz.
Ranulpho Prata é Patrono da cadeira sete da Academia Sergipana de Letras e da cadeira vinte e tres da Academia Santista de Letras. Aprovado para a cátedra de literatura do colégio Pedro II, em Aracaju, cargo que não assumiu. Escreveu o tropeiro, conto, 1916; O Triunfo, romance, 1918; Do Riso, tese de medicina, 1921; Dentro da Vida, novela, 1922; a Longa Estrada, contos, 1925; o Lírio na Torrente, romance, 1926; Lampião, documentário – 1934; Navios iluminados, romance, 1937. Vários manuscritos ficaram inéditos, inclusive um romance Uma Luz na Montanha.
Qual o lugar de Ranulpho Prata na literatura brasileira? O crítico Geraldo Azevedo (1955), citado por Paulo de Carvalho Neto,  faz a seguinte análise: “Não será inverdade afirmar que Ranulpho Prata é um dos grandes injustiçados da literatura nacional. Nossa crítica, tão pródiga em dispensar elogios, ainda não se deteve para estudar a obra, não muito vasta, do escritor sergipano. Compreende-se até certo ponto essa ausência: é que Ranulpho Prata, de temperamento arredio, lutando sempre contra a pertinácia da doença (a tuberculose não tinha cura), vivendo exclusivamente para o trabalho e a família, não teve tempo de brilhar nas reuniões pseudos literárias, em que o cabotinismo, a auto incensação, a bajulação sem termo nem medida tomam a maioria das horas daqueles que procuram a glória sem querer participar das renúncias que a arte exige dos seus seguidores. Felizmente, o tempo não conserva ídolos de barro. E os que viveram uma vida literária sem literatura acabarão por ceder o lugar que injustamente ocupavam aos homens de têmpera e valor. Um dia, quando se fizer uma revisão honesta da história de nossas letras, Ranulpho Prata de certo aparecerá com o esplendor de sua grandeza humana. A obra que construiu cheia de brasilidade e calor, de ternura e emoção emergirá do esquecimento atual para o deslumbramento das gerações futuras. Nesse dia, a crítica literária nacional, terá apagado da história de nossas letras mais uma injustiça. “
Paulo de Carvalho Neto nos conta uma passagem deliciosa da amizade Lima Barreto com Ranulpho Prata: “Lima Barreto elogiou o livrinho – conta Ranulpho Prata a Silveira Peixoto, em 1940 -, e foi visitar-me no Hospital do Exército, onde eu era interno. A visita desse mulato genial deu-me grande alegria. Sentados num dos bancos do imenso parque do hospital, o Lima, meio tocado, como sempre, mas perfeitamente lúcido, claro, brilhante mesmo, queria saber com segurança se a Angelina do romance era realmente bonita como eu a pintara. Todos os ficcionistas, dizia-me com ironia, tem a mania de fazer belas raparigas das cidades pequenas. Nos lugares por onde eu andara não vira nenhuma... Eram todas feias, grosseiras, desalinhadas... E eu garanti que a minha Angelina era, positivamente, encantadora, capaz de virar cabeças sólidas de gente das grandes cidades. “

Uma literatura social influenciada por Jackson de Figueiredo, de quem era grande amigo. Uma poesia em defesa dos oprimidos de inspiração cristã, é essa a sua obra. Mais recentemente Ranulpho Prata começou a ser descoberto pelos estudiosos da literatura, a sua obra foi tema para tese de mestrado “História e Literatura no Porto de Santos – o romance de identidade portuária, Navios Iluminados, defendida por Alessandre Alberto Atanes Perreira, na Universidade de São Paulo; bem como teve o citado livro republicado pela editora da USP. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário