O meu bisavô Bernardino ferreiro...
(por Antônio Samarone)
Aos 17 de setembro de 1926, terça-feira,
às 9:40 horas, o trem M-72 da Este Brasileira, guiado pelo maquinista Caetano Antônio
de Jesus, atropelou e matou Bernardino José de Oliveira (59 anos), ferreiro,
residente no povoado Sambaíba, em Itabaiana Grande.
Bernardino ia de Itabaiana com
destino a cidade de Maruim, para comprar ferro, matéria prima do seu ofício.
Montado num burro. Ao chegar nas proximidades do povoado Caititu, um trem
passava no momento. Bernardino viajava seguindo a linha do trem.
O animal assustou-se com o apito
do trem e saiu em disparada. A 500 metro da estação do Caititu a linha faz uma
curva (KM – 337), em seguida existe um alto pontilhão. O animal ficou sem
alternativa, assustado, não conseguiu sair da linha, sendo esmagado pelo trem
em cima do pontilhão. Bernardino não conseguiu nem controlar o animal nem saltar
antes, sendo despedaçado pelo trem, junto com o animal.
Essa história continua na lembrança
dos mais velhos do Caititu, que ouviram contar essa tragédia.
Os corpos foram apanhados num
saco, gente e animal misturados, colocados na estação ferroviária do Caititu, à
espera do destino legal. No mesmo dia, os cadáveres foram transferidos para Aracaju,
e periciados pelos doutores Carlos Tavares de Menezes e Mário de Macedo Costa, na
Chefatura de Polícia. Segue o resumo do laudo pericial, emitido pelos médicos:
“Bernardino de Oliveira, brasileiro,
residente em Itabaiana, de cor branca, ferreiro, aparentando sessenta e cinco
anos de idade, apresenta fratura do crânio e esmagamento de tronco e membros, literalmente
separados, que provocaram a morte instantânea.” Bernardino José de Oliveira foi
sepultado em Aracaju, no Cemitério de Santa Izabel.
Ontem, 07 de setembro de 2019, fui
ao Caititu, local do trágico acidente que vitimou o meu Bisavô Bernardinho ferreiro.
O propósito era construir no local uma “Santa Cruz”, tradição dos ferreiros,
meus ascendentes. Visitei a mata, para sentir o sopro quente do ferreiro Bernardino.
Só que a mata cobriu parte da
estrada de ferro. Por coincidência, no local do acidente cresceu uma linda
jurema, exatamente uma jurema. Como se sabe, os ferreiros de Itabaiana
preferiam o carvão de jurema em suas forjas, pois permitem elevadas temperatura.
Desisti da “Santa Cruz”, a natureza ofereceu uma jurema.
A Bigorna que foi de João José,
Bernardino, Totonho, Zé, Homero, agora é de Arnaldo meu primo, tá no povoado
flechas, resistindo há mais de 150 anos. O som da bigorna ainda é reconhecido
pelos antigos.
Gente dos Ferreiros, Bernardino
não foi abandonado. Espero estar vivo, para comemorar o centenário de sua
morte.
Antônio Samarone.
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