O Suicídio no Oriente – A cremação
das viúvas. (por Antônio Samarone).
Na Índia o termo “sati” significa
esposa virtuosa, casta e fiel. Entretanto, “sati” era um costume antigo e bárbaro,
que existiu por muitos séculos na Índia. As mulheres ao enviuvarem,
acompanhavam o cortejo fúnebre do marido, com música e cânticos religiosos. Era
tradição que ao chegar junto à pira preparada para a cremação do defunto, a
esposa imolar-se junto.
O “sati” era uma cerimônia de cremação
da viúva (viva).
Mesmo quando o marido morria distante,
o ritual da cremação da viúva poderia ser realizado; Ela imolava-se junto a um
pertence do finado. Onde o rito era o do sepultamento, a esposa era enterrada
junto, viva. Esse costume era adotado pelos pertencentes da sub casta jugi
(tecelões).
Em Bali, as viúvas as vezes
preferiam tirar a vida com o kriss, um punhal de lâmina sinuosa.
Era um suicídio visto como purificador,
aplaudido pela comunidade. As autoridades assistiam com complacência. Somente
em 1984, é que o Primeiro Ministro Rajiv Gandhi declarou ser o “sati” uma
vergonha nacional.
Oficialmente, o ritual de
cremação da viúva (sati) foi proibido por lei em 1829, pelas autoridades
inglesas que ocupavam a Índia. O que não significa que tenha deixado de
existir.
O ritual do “sati” começava com a
viúva declarando o seu desejo publicamente. Os parentes e amigos suplicam que
ela desista, que pense nos filhos. Mas tudo é uma encenação, no fundo o desejo
de quase todos é que ela se sacrifique.
Tomada a decisão, a mulher se preparava
com cuidado. Vestia a roupa do casamento, coloca os braceletes e as joias nupciais,
cobria a cabeça com flores, e pedia a benção dos parentes mais velhos.
A cerimonia da cremação da viúva
era pública. Previa procissão, festejos, banquete e a participação de milhares
de pessoas. As grávidas eram poupadas, adiava-se a cerimônia até o nascimento
da criança.
A situação de viuvez era tão degradante, que as mulheres preferiam o suicídio (sati). Se uma sati era fausta, uma viúva era infausta. Se a primeira era amada, venerada, celebrada, a segunda era odiada, desprezada e odiada.
A situação de viuvez era tão degradante, que as mulheres preferiam o suicídio (sati). Se uma sati era fausta, uma viúva era infausta. Se a primeira era amada, venerada, celebrada, a segunda era odiada, desprezada e odiada.
Como na Índia predominava a
poligamia, o ritual de cremação da viúva poderia assumir ares de tragédia. Em
1724, quando morreu o rajá Aijtsingh de Marwar, imolaram-se 64 esposas. Em
1799, a morte de um brâmane que tinha mais de cem esposas, a pira fúnebre ardeu
por três dias, consumindo 37 delas.
Não descobrimos com que
frequência esses suicídios coletivos ocorriam.
O ritual da cremação da viúva
existia desde os séculos IV e III a.C. Ele nasceu para proteger os homens da
ameaça das esposas, quando elas começam a envenená-los.
O passado da Índia articulava-se a
quatro castas: brâmanes (sacerdotes); ksatriyas (guerreiros e cavaleiros);
vaishya (comerciantes); e shudra (trabalhadores). O costume do “sati” nasceu
entre os ksatriyas, uma casta alta. No início, o suicídio era proibido as
mulheres dos Brâmanes. Com o tempo, o ritual foi adotado por todas as castas.
Pelos dados da administração
britânica, entre 1815 e 1826, num total de 8.134 casos de SATI, 50% das viúvas
que se imolaram eram de shudras, 40% brâmanes, 6% de ksatriyas e 4% vaishya.
Calcula-se que somente no século
XIX, antes da proibição inglesa do “sati”, quase um milhão de mulheres tiraram
a vida na Índia, após a morte do marido. No mesmo período, não se identificou
nenhum viúvo que tenha se imolado após a morte da esposa.
Talvez por receio do antigo
costume hindu, nos casamentos cristãos os sacerdotes fazem questão de anunciar
a união marido e mulher, com uma ressalva, até que a morte os separe.
Antônio Samarone.
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