A biografia de José Leite, resenha
do livro de Dilson Barreto - (por Antônio Samarone)
Não se escreve uma biografa em
vão. Biografa-se com finalidades precisas: exaltar, criticar, demolir, descobrir,
renegar, apologizar, reabilitar, santificar, dessacralizar. O livro do
economista Dilson Barreto, sobre a vida de José Rollemberg Leite, procura construir
a memória de um personagem da vida pública sergipana. Criar uma narrativa!
Sergipe, do ponto de vista
nacional, é um estado desprovidos de grandes nomes na política. Ressalvando-se
Olímpio Campos, Fausto Cardoso, Leandro Maciel e o General Maynard, mais um ou
dois, a vida pública sergipana foi dominada por líderes discretos, de pouco
destaque fora da Província.
O economista Dilson Barreto escreveu
uma biografia política, muito próximo de um livro de história. Fui procurar sobre
a vida pessoal, a intimidade do biografado, e não encontrei muita coisa. As
informações sobre a vida privada, são frias, objetivas, uma espécie de Curriculum
vitae ampliado. Passa-se a impressão que ele já nasceu como um homem público. O
livro é uma parte da história política do PSD em Sergipe.
Mesmo quando o autor trata das
festas de São João, onde o biografado aparece como amante das canjicas e manauês,
feitas em fogão a lenha, a narrativa serve apenas para torná-lo mais popular, pelo
menos no fundo, bem no fundo. Não se fica sabendo quem era José Leite, na vida privada.
Talvez o autor tenha respeitado o recato da aristocracia sergipana.
Uma fato singelo despertou o
meu interesse provinciano e bairrista: José Leite se casou em Itabaiana, em 15
de julho de 1939, com D. Maria de Lourdes Silveira Leite, irmã de Zeca
Mesquita. Nos em Itabaiana acreditamos, que por isso, tivemos um Ginásio no início
da década de 1950. Esse fato mudou a vida de muita gente, inclusive a minha. José
Leite levou o ensino secundário para Itabaiana.
A vida privada é contada no
que ela se relaciona com a vida pública. Por exemplo:
Uma passagem na página 93 é
esclarecedora: “No ano de 1928, agora com 16 anos, José Rollemberg Leite
encerra a segunda etapa de sua jornada intelectual, recebendo uma educação alicerçada
no rigor da disciplina e elevado nível de conhecimento. Decorrente de sua
rígida educação doméstica, sempre se destacou como uma aluno responsável,
dedicado aos estudos e cumpridor de seus deveres de estudantes.”
Aqui estão assentados os
pressupostos da imagem do homem público José Leite, que o autor quer transmitir
para os leitores e para a memória. Essa imagem já é em parte difundida pelo
senso comum: de um homem preparado, justo e honesto.
A ideia de glorificar os
feitos e realizações dos governantes remonta às primeiras civilizações da
Antiguidade.
Mesmo o autor se auto considerando
um admirador prévio do biografado, o livro não distorce, e procura fundamentar
as interpretações. O livro não entra no pantanal da apologia, gênero tão comum
em Sergipe del’ Rey. Seria injusto colocar o livro na categoria das hagiografias.
Por exemplos, alguns fatos polêmicos
do primeiro governo José Leite são enfrentados:
O assassinato do militante Anísio
Dário, o espancamento do jornalista Fragmon Carlos Borges e os atos de violência
contra José Onias, líder udenista de Propriá, no inicio do primeiro Governo
José Leite, são atribuídos ao Secretário de Segurança Pública, João de Araújo
Monteiro, o temido Monteirinho, e a “mão
pesada” do Comandante da Polícia, Djenal Queiroz, que recebiam ordens
diretamente do Presidente Eurico Gaspar Dutra.
Na versão do livro, José Rollemberg Leite sai isento desses episódios de violência.
Por outro lado, José Rollemberg
era acusado de fazer “vistas grossas” ao comunismo, pela opção política do seu
irmão, Márcio Rollemberg Leite, promotor público, simpatizante do credo
vermelho, ligado ao PCB.
No mais, a biografia exalta os
feitos dos governos José Leite, em especial, a sua honradez na participação na
vida pública. O livro ressalta as virtudes do biografado, um técnico que atuou
na política, um homem de grandes virtudes morais. O livro também é uma
prestação de contas da vida pública de José Leite, numa versão autorizada
.
Como biografia é uma bom livro
de história. Sem a pretensão cientificistas, os fatos citados são devidamente
referenciados.
Em síntese, o livro vale a pena ser lido. Está bem acima da média das biografias locais, geralmente bajulatórias.
É uma pesquisa de folego, que terá
grande valia para os interessados na história política de Sergipe. Cada um que faça
a sua leitura.
Antônio Samarone.
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