Os Mistérios da Ciência. (por
Antônio Samarone).
Visitei Seu Caçulo (87 anos), um
tabaréu das Candeias que, há anos, reside em Aracaju. Gostei do papo! Ele
conhecia o meu avô Ascendino. Nasceram no Engenho “Matebe”, hoje povoado da
Moita Bonita.
Dessa vez tive uma surpresa,
Rosinha (82 anos), sua esposa, está em estágio avançado de Alzheimer. Ele é
quem cuida. A filha que tiveram, morreu no ano passado.
Meio acanhado, perguntei: o que
Rosinha tem? Ele de pronto: “caducando, ficou demente, não se assunta mais de
nada e nem reconhece mais ninguém.” E quem está cuidando? Perguntei preocupado.
Ele: “Deus! E eu tomo conta...” Imaginei as dificuldades.
Caçulo acrescentou: “outra coisa,
ela não morre tão cedo. Eu tenho certeza que embarco antes.” Ele ainda filosofou:
“as demências prolongam a vida. Gente assim não tem preocupação, nem raiva, nem
aborrecimento. O que mata a gente é desgosto, e disso ela está livre.” Nunca
tinha pensado, será se Caçulo está certo?
Com o envelhecimento da
população, teremos cada vez mais gente com idade acima de 80 anos. A medicina
acredita que mais da metade das pessoas acima de 85 anos, terá problemas com as
demências. E a ciência ainda sabe pouco, para prevenir.
Imagine! A pessoa esquece de
tudo, até mesmo quem é. Não é assustador? Seu Caçulo acha que não. Ele acredita
que o sofrimento é para quem toma conta. A pessoa com demência apenas não
consegue se comunicar, dizer o que pensa. A alma, o espírito dela sabe de tudo
o que está se passando, disse ele com muita certeza. “Eu sou espírita,
doutor...!”
Ele ainda perguntou: “estou
certo, Rosinha?” Ela nem disse que sim nem que não. O semblante dela ficou impassível.
Eu fiquei calado...
Vou perguntar aos doutores da
neurociência!
Antônio Samarone.
Que texto belíssimo. Aliás, suas crônicas, histórias, causos... Já estão a merecer uma publicação impressa.
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