sexta-feira, 20 de setembro de 2019

ADEUS, HERMENEGILDO...


Adeus, Hermenegildo... (por Antônio Samarone)

“O céu nos deu como contrapeso aos muitos fardos da vida duas coisas: a esperança e o sono.” Kant.

Profissional bem-sucedido, inteligente, irônico, sempre com um sorriso largo... Ninguém suspeitava do tamanho da tristeza de Hermenegildo.  

Hermenegildo resistiu ao mundo virtual, viveu fora das redes sociais. Entre a solidão e promiscuidade social optou pela solidão. Uma solidão filosófica. Viveu plenamente a sua individualidade. Amou ao seu modo. Cultuou a solidariedade discreta.

Hermenegildo partiu de forma misteriosa, ninguém desconfiou que ele estava de malas prontas. Ninguém mesmo! Uns poucos perceberam que ele andava meio triste, mas não suspeitaram que a tristeza fosse tanta. Um gesto como esse se prepara no silêncio do coração.

A sua ida avexada, sem avisar, nos deixou uma pergunta profunda: qual o sentido da vida? Talvez a maior questão da filosofia. O iluminismo criou a ilusão do humanismo: o homem se basta, ele é o centro de todas as coisas. A hipótese divina foi descartada.

A dessacralização da vida foi um equívoco?

“Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia.” Albert Camus.

Na pós modernidade, a vida se tornou excessivamente transitória, não há nada que prometa duração e persistência. Passamos por uma profunda crise, manifestada pela perplexidade e pelo ceticismo social crescente, que apontam para a necessidade de um novo conjunto ideológico. Novas razões de viver.

Diante da incapacidade da moral religiosa, da impotência da razão para governar os homens e da dificuldade de submeter as paixões por meio de pura repressão, o homem foi deixado a própria sorte. Por outro lado, o humanismo iluminista foi sufocado pelas razões do mercado.

Vivemos na sociedade do cansaço. Do cansaço solitário, sem sentido, dividido, calado, cego. Um cansaço fundamental, profundo, um cansaço da alma.

Como disse o poeta Lenine: “Enquanto o tempo/ Acelera e pede pressa/ Eu me recuso, faço hora/ Vou na valsa/ A vida é tão rara...”

Hermenegildo, talvez você reencontre a “Lola” que você tanto amou, no meio dos anjos.

Antônio Samarone.

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