Afetos de Violência.
(por Antônio Samarone)
Estranho, numa
conversa descontraída com um colega médico, fiz um desabafo: o governo do Rio
de Janeiro matou 1.249 pessoas em nove meses. Todos negros e pobres. Por último,
fuzilou a menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos. Isso é um genocídio!
Ele reagiu: “o
governo está certo. Bandido, com fuzil engatilhado, tem que morrer. Temos que fuzilar
todos!” Ele se identificou de imediato com o genocídio. “Temos”?
Eu retruquei, você
acha que os 1.249 mortos estavam armados de fuzil, inclusive as crianças?
Ele não se
intimidou: “era tudo bandido!” “Um ou outro inocente, acontece, mas é assim
mesmo, na guerra também morrem inocentes.”
Ainda sentenciou,
com a voz exaltada: “essa balela de direitos humanos não se aplica no Brasil. Ou
matamos essa gente ou não teremos segurança!”
Comecei a
perceber que o diálogo tinha ficado impossível.
Antes de me
afastar, ainda ouvi: “estávamos à beira do socialismo, ainda bem que acordamos há
tempo.”
Retruquei, que
socialismo mal-assombrado? Somos o país mais desigual do mundo. O PT governou
seguindo o manual do neoliberalismo e dos banqueiros, basta lembrar quem foi o
Ministro da Economia de Lula. O PT governou em aliança com gatos e cachorros. O
vice era Temer.
O doutor encerou
o assunto, com o sorriso dos vencedores: “Comunismo, nunca mais!”
Percebi: é morte
do diálogo! A luta será longa...
Antônio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário