domingo, 29 de setembro de 2019

ÓLEO DE RÍCINO


Óleo de Rícino (por Antônio Samarone)

O fastio em crianças, real ou imaginário, era um alerta de alguma enfermidade. No mínimo, uma infestação por lombrigas. Para tratar o fastio havia uma terapêutica tríplice: remédio de verme, purgativo e um bom fortificante.

Quando mamãe cismava que eu estava com fastio, tomava a decisão: “vá no bodega de Zé Meu Mano e compre um copo de óleo de rícino. Leve o copo. Só serve o de Neópolis, da fábrica Cravo & Cia. Eu já voltava enjoando com o cheiro!

Entres os purgantes o mais popular era o óleo de rícino. Um óleo amarelado, espesso, viscoso, cheiro e sabor desagradáveis. Aqui residia a tortura. Desagradável mesmo! Eu fechava o nariz e engolia de vez, sob terrível ameaça: tome logo, para ficar livre.

Para reduzir a vontade de vomitar, chupava-se uma banda de limão, para se tirar o gosto do óleo de rícino da boca. Eu imaginava que no inferno, além do fogo, se usava óleo de rícino três vezes ao dia.

Em menos de três horas, o cristão se desmanchava, mudava-se para o sanitário, era oito horas de purgação. Ao final, ficava-se prostrado, olhos fundos, certamente pela desidratação. No dia seguinte, mamãe entrava com Biotônico Fontoura, o fortificante.

Em quinze dias o fastio acabava.

Para os mais novos: o óleo de rícino é extraído da mamona (Ricinus communis), vendia-se em farmácias, drogarias e bodegas. Minha mãe usava uma dose de 100 ml, meio copo. O indicado era 15 ml.

Não é atoa que quando um sujeito é muito chato ainda dizemos: fulano de tal é um purgante.

Antônio Samarone.


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