Óleo de Rícino
(por Antônio Samarone)
O fastio em
crianças, real ou imaginário, era um alerta de alguma enfermidade. No mínimo,
uma infestação por lombrigas. Para tratar o fastio havia uma terapêutica
tríplice: remédio de verme, purgativo e um bom fortificante.
Quando mamãe
cismava que eu estava com fastio, tomava a decisão: “vá no bodega de Zé Meu
Mano e compre um copo de óleo de rícino. Leve o copo. Só serve o de Neópolis, da
fábrica Cravo & Cia. Eu já voltava enjoando com o cheiro!
Entres os
purgantes o mais popular era o óleo de rícino. Um óleo amarelado, espesso, viscoso,
cheiro e sabor desagradáveis. Aqui residia a tortura. Desagradável mesmo! Eu
fechava o nariz e engolia de vez, sob terrível ameaça: tome logo, para ficar
livre.
Para reduzir a
vontade de vomitar, chupava-se uma banda de limão, para se tirar o gosto do óleo
de rícino da boca. Eu imaginava que no inferno, além do fogo, se usava óleo de
rícino três vezes ao dia.
Em menos de três
horas, o cristão se desmanchava, mudava-se para o sanitário, era oito horas de purgação.
Ao final, ficava-se prostrado, olhos fundos, certamente pela desidratação. No
dia seguinte, mamãe entrava com Biotônico Fontoura, o fortificante.
Em quinze dias
o fastio acabava.
Para os mais
novos: o óleo de rícino é extraído da mamona (Ricinus communis), vendia-se em farmácias, drogarias e bodegas. Minha mãe usava uma dose de 100 ml, meio copo. O indicado era 15
ml.
Não é atoa que
quando um sujeito é muito chato ainda dizemos: fulano de tal é um purgante.
Antônio Samarone.
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