O Talento de Zé Bezerra (foto).
(por Antônio Samarone).
Hoje tem espetáculo, perguntava o
palhaço... Tem sim senhor, respondia a molecada que ia atrás, no meio da rua...
Cansei de correr atrás do palhaço, para ser marcado com uma tinta, e poder
entrar de graça no grande circo. Era o Circo de Zé Bezerra.
Após o terceiro sinal, entrava uma
voz grave: o Circo e Teatro José Bezerra, o palácio de lona verde, anuncia e apresenta...
(e entreva um fundo musical). Esse era um sonho para a minha geração. O único
espetáculo que conhecíamos era o circo. E o Circo de Zé Bezerra era espacial.
Zé Bezerra, filho de Tibério
Bezerra e Antonieta Bezerra (Antonieta da Pensão), casado com Dona Lourdes, filha
de João Giba. Gente de Itabaiana. Não tenho como provar, mas se sabe que Zé
Bezerra foi aluno de Procópio Ferreira. Zé Bezerra era um grande artista: ator,
cantor, mágico e palhaço (Biriba). Como palhaço, ele contracenava com Brocoió e
Tita.
O dia de maior suspense, a cidade
parava, o circo revestia-se de negro, era quando o mágico José Bezerra colocava
a sua mulher no espaço. Isso mesmo, solta, podia-as passar um aro em torno da
mulher, como prova que não existia nenhum fio invisível. Se dizia que Zé
Bezerra hipnotizava a plateia. Eu cheguei a ir com o bolso cheio de limão, pois
acreditava que chupando limão quebrava o encanto, e só assim eu poderia saber a
artimanha do artista. Por causa do risco, a mulher que ele colocava no espaço
era Dona Lourdes, a própria esposa.
Além de circo, com palco e
picadeiro, era também teatro. Cada dia com uma peça diferente. A louca do
Jardim era casa cheia. A peça era uma adaptação para o teatro de um cordel, que
começava em versos: “vinde musa mensageira, do reino de Eloim/Traz a pena de Apolo
e escreva aqui por mim/o assassino da honra ou a louca do jardim.”
Instalado num alçapão no centro do
palco do circo ficava o “Ponto”, profissional do teatro responsável por
“assoprar”, em voz baixa, as falas que deviam ser repetidas, em voz alta, pelos
atores. Eu conheci o teatro no Circo de Zé Bezerra, e fiquei com boa impressão.
A grandeza do Circo era Zé Bezerra
e a família. A morena Iracema (filha), melhor rumbeira do Brasil. Era o segundo
ato do espetáculo. Iracema com um pequeno saiote, rebolando as cadeiras, quando
levantava um babado e podia-se ver a caçoula da dançarina, quase um short para
os padrões de hoje, aquilo levava a patuleia ao delírio. Tudo beirava a
inocência, comparando-se com as atuais dança da Rede Globo.
Iracema era casada com Vivaldo,
músico do circo. Em Itabaiana, todos desconfiavam de Vivaldo. Só podia... Eita
tempos atrasados. Circulando o poleiro do circo, passava um menino vendendo um “binoculo
de foto”, gritando: o retrato de mãe, o retrato de mãe; era o retrato de Iracema, e não dava para quem
queria.
O outro filho de Zé Bezerra, Iranildo,
era o malabarista. Lourdes, a esposa, atriz nas peças encenadas. Tinha mais um
filho, o mais novo, que eu não lembro o nome. O Circo de Zé Bezerra quando
chegava numa cidade, pelo povo, não sairia mais. Não esqueci de Antonieta,
uma portuguesa que cantava com sotaque lusitano. Uma velhinha saliente. Sempre a casa cheia. Em
Aracaju, o Circo de Zé Bezerra armava perto da Rodoviária Velha, e a temporada durava
mais de três meses.
Dona Breguedela, dona do rendez-vous
de Itabaiana, deixava o espetáculo começar, apagarem-se as luzes, para ela entrar
com as suas meninas. Só iam para as cadeiras. A discrição de Dona Breguedela no
circo chamava a atenção. Pois, até mulher-dama se dava ao respeito. Elas também
acompanhavam a procissão de Santo Antônio. Era tradição.
O circo acabou, faz tempo. Zé
Bezerra foi assassinado em Queimadas, na Bahia. O seu corpo foi sepultado numa
cova rasa. Sergipe, e Itabaiana em especial, não pode apagar da memória
histórica esse grande artista. Tá na hora das autoridades procurarem a família,
para transladar o corpo de Zé Bezerra para um cemitério em Itabaiana, e no local,
erigir um monumento em sua homenagem. Enquanto ele não caia no completo
esquecimento.
Antônio Samarone.
Sou Edilson Wanderley, filho de uma irmã de Zé Bezerra. Moro em Paulo Afonso na Bahia, e o filho dele que voces não lembraram o nome é Irivaldo Bezerra. Eram quatro filhos: Irailda, Iracema, Iranildo e Irivaldo.
ResponderExcluirSr. Edilson Wanderley... cheguei a trabalhar com seu tio José Bezerra... y tempos depois trabalhei tambem com um filho de Iracema, lembro que moravam no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro... Você , teria noticias ou me conseguir contato com eles? Sinceramente agradecido Edy* .meu face: Edy Star Staredy
ExcluirMuito legal essas histórias dos Artistas populares, que merece ser lembrados e homenagados.
ResponderExcluirParabéns