quarta-feira, 13 de março de 2019

SANTO, PAPA E MÉDICOS.


Santo, Papa e Médicos. (por Antônio Samarone).

A medicina no Brasil colônia é uma continuidade da medicina portuguesa.

A faculdade de medicina nasceu em Portugal no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. A maioria dos professores eram eclesiásticos, médicos de batina. Os dois professores mais famosos foram o Frei Gil de Santarém e Pedro Julião. Um foi canonizado e virou Santo e o outro tornou-se Papa. Isso mesmo, um Papa médico.

O Frei Gil faleceu em 14 de maio de 1265, em Santarém, e chamava-se Gil Rodrigues de Valadares. É conhecido como o “Fausto” português, por ter feito um pacto com o Diabo. Entregou-se as ciências ocultas (magia), ficou famoso como médico, com as virtudes de um taumaturgo. Conta-se que ele realizou curas milagrosas. Tornou-se “Santo”, primeiro pela “voz do povo” e depois pela Igreja (foi canonizado em 1749).

Pedro Julião (Petrus Lusitanus ou Petrus Hispanos), nasceu em Lisboa em 1216, estudou em Paris. Além de médico, era filosofo, filólogo e teólogo. Um grande erudito. Tornou-se o Papa Joao XXI. A obra médica do Papa intitula-se “Thesaurus pauperum” – um formulário terapêutico com conselhos de higiene, adotada por séculos na faculdade de medicina de Coimbra. Foi o fundador da cadeira de obstetrícia na faculdade de Montpellier. A importância de Pedro Julião pode ser medida por ter sido citado na Divina Comédia de Dante, e ter sido encontrado no Paraíso.

Com o surgimento das Universidades, a Igreja passou a proibir que os padres exercessem a medicina. O Concílio de Tour (1163), já havia proibido o exercício da cirurgia. “Ecclesia abhorret a sanguine”. A proibição era extensiva a prática da anatomia em cadáveres humanos. Em 1290, quando Dom Dinis, criou a Universidade Portuguesa, o clero já estava afastado do exercício da medicina.

Somente no final do século XV, o Papa Sixto IV, através de uma bula, autorizou o estudo de anatomia sobre o cadáver. Mesmo assim, é exagero afirmar que a igreja dificultou a anatomia, pois essa proibição não era obedecida, em muitas faculdades de medicina.

No final do século XV, nasceu em Portugal outro destaque da medicina, Garcia da Orta. Em 1534 ele embarcou para Índia. Em 1563, Garcia da Orta publicou uma das obras mais importantes da medicina e da botânica, do século XVI: “Colloquios dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia”, prefaciado por Camões. A obra polemiza com a tradição hipocrática. Uma leitura esclarecedora.

Finalmente, em 1511, nasceu em Portugal, João Rodrigues de Castelo Branco (Amato Lusitano), um dos mais destacados médicos da história de Portugal. Formou-se em Salamanca. Judeu, amigo de Erasmo de Roterdã, rodou o mundo. Foi o primeiro a divulgar a ação terapêutica de muitos vegetais nativos do Brasil. Várias obras publicadas.

Em 1549, com Tomé de Souza, chegou oficialmente ao Brasil o seu primeiro médico, Jorge Valadares. Claro, na esquadra de Cabral estava o Mestre João, que além de cosmógrafo, era físico e cirurgião. Caminha em sua carta, relatou a higidez dos tupiniquins, todos rijos e nédios; e Américo Vespúcio aprofundou: “Pelo que pude deduzir de suas narrações, não há pestes nem doenças provenientes da corrupção do ar e se não morrem de morte violenta, vivem larga vida...”

Antônio Samarone.

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