Santo, Papa e Médicos. (por Antônio
Samarone).
A medicina no Brasil colônia é
uma continuidade da medicina portuguesa.
A faculdade de medicina nasceu em Portugal no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. A maioria dos
professores eram eclesiásticos, médicos de batina. Os dois professores mais
famosos foram o Frei Gil de Santarém e Pedro Julião. Um foi canonizado e virou Santo
e o outro tornou-se Papa. Isso mesmo, um Papa médico.
O Frei Gil faleceu em 14 de maio
de 1265, em Santarém, e chamava-se Gil Rodrigues de Valadares. É conhecido como
o “Fausto” português, por ter feito um pacto com o Diabo. Entregou-se as ciências ocultas (magia), ficou
famoso como médico, com as virtudes de um taumaturgo. Conta-se que ele realizou
curas milagrosas. Tornou-se “Santo”, primeiro pela “voz do povo” e depois pela
Igreja (foi canonizado em 1749).
Pedro Julião (Petrus Lusitanus ou
Petrus Hispanos), nasceu em Lisboa em 1216, estudou em Paris. Além de médico,
era filosofo, filólogo e teólogo. Um grande erudito. Tornou-se o Papa Joao XXI.
A obra médica do Papa intitula-se “Thesaurus pauperum” – um formulário terapêutico
com conselhos de higiene, adotada por séculos na faculdade de medicina de
Coimbra. Foi o fundador da cadeira de obstetrícia na faculdade de Montpellier. A
importância de Pedro Julião pode ser medida por ter sido citado na Divina
Comédia de Dante, e ter sido encontrado no Paraíso.
Com o surgimento das
Universidades, a Igreja passou a proibir que os padres exercessem a medicina. O
Concílio de Tour (1163), já havia proibido o exercício da cirurgia. “Ecclesia
abhorret a sanguine”. A proibição era extensiva a prática da anatomia em
cadáveres humanos. Em 1290, quando Dom Dinis, criou a Universidade Portuguesa,
o clero já estava afastado do exercício da medicina.
Somente no final do século XV, o
Papa Sixto IV, através de uma bula, autorizou o estudo de anatomia sobre o cadáver.
Mesmo assim, é exagero afirmar que a igreja dificultou a anatomia, pois essa
proibição não era obedecida, em muitas faculdades de medicina.
No final do século XV, nasceu em
Portugal outro destaque da medicina, Garcia da Orta. Em 1534 ele embarcou para Índia.
Em 1563, Garcia da Orta publicou uma das obras mais importantes da medicina e
da botânica, do século XVI: “Colloquios dos simples e drogas e coisas
medicinais da Índia”, prefaciado por Camões. A obra polemiza com a tradição hipocrática.
Uma leitura esclarecedora.
Finalmente, em 1511, nasceu em Portugal,
João Rodrigues de Castelo Branco (Amato Lusitano), um dos mais destacados
médicos da história de Portugal. Formou-se em Salamanca. Judeu, amigo de
Erasmo de Roterdã, rodou o mundo. Foi o primeiro a divulgar a ação terapêutica
de muitos vegetais nativos do Brasil. Várias obras publicadas.
Em 1549, com Tomé de Souza,
chegou oficialmente ao Brasil o seu primeiro médico, Jorge Valadares. Claro, na
esquadra de Cabral estava o Mestre João, que além de cosmógrafo, era físico e
cirurgião. Caminha em sua carta, relatou a higidez dos tupiniquins, todos rijos
e nédios; e Américo Vespúcio aprofundou: “Pelo que pude deduzir de suas
narrações, não há pestes nem doenças provenientes da corrupção do ar e se não
morrem de morte violenta, vivem larga vida...”
Antônio Samarone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário