As carretas das sombras. (por Antônio
Samarone)
Tive uma longa conversa com o Dr.
Carlos Salustiano, o Dr. Salu, oncologista de bata longa, um estudioso da
medicina. O Dr. Salu está inconformado com essa enxurrada de mamografias a que
estão submetendo as mulheres sergipanas, com o discurso de se fazer um
rastreamento em massas, para identificação precoce do câncer de mama. “É mentira!”
Afirmou com convicção o Dr. Salu.
Continuei a conversa com o Dr.
Salu: “essa carreta de Barretos, desde que chegou a Lagarto fez 11 mil exames e
identificou apenas 38 casos de câncer, dos 470 previstos para Sergipe esse ano.”
Eu retruquei, e não foi bom? “Bom nada! Esses 38 casos se forem de tumores avançados,
enraizados, nada muda nem no prognóstico nem na sobre vida; se forem tumores
iniciais, trinta por cento podem ser indolentes, que não iriam evoluir. Ou
seja, vai se iniciar um tratamento cruento de um tumor, sem necessidade. Resumindo,
essa farra das carretas não é um programa de saúde pública.’
Você está me dizendo que essas
carretas são semelhantes ao programa de prevenção de câncer de colo de útero
que a Senadora Maria do Carmo fazia? “Não, muito pior. O rastreamento de câncer
de colo, fazia sentido, pois 95% dos canceres de colo são causados pelo
papiloma vírus, o HPV, e se as lesões forem identificadas precocemente podem
ser retiradas, evitando o câncer. Houve recentemente uma campanha de vacinação
do HPV, para prevenir o câncer de colo de útero.”
“O que Sergipe está precisando são de Unidades de Tratamento. Isso sim, se encontra profundamente defasado,
enfatizou o Dr. Salu. A redução da mortalidade por câncer de mama está mais relacionada
com os avanços no tratamento. Esse rastreamento indiscriminado, em massas, no
caso do câncer de mama, obedece mais a interesses políticos e econômicos do que aos da Saúde Pública.” Eu senti que Dr. Salu sabia do que estava falando!
“Se Henrique Prata quiser ajudar,
venha ajudar no funcionamento dos hospitais, enfatizou o Dr. Salu. Eu soube que
ele vendeu duas carretas ao estado. Além daquela carreta da confusão, que ninguém
sabe quem comprou, nem quanto custou; além da carreta dos homens; teremos mais
duas. O serviço de saúde em Sergipe passará a ser móvel.” O Dr. Salu foi duro: “isso
são carretas de ilusões, carretas de fumaça, para embaçar as vistas do povo.”
E concluiu o colega oncologista: “o
rastreamento em massa de câncer de mama não reduz a taxa de mortalidade; não
limita o aparecimento e nem aumenta a sobrevida dos casos graves; sem falar,
que 15% dos tumores de mama graves aparecem nos intervalos das mamografias.”
Pelo jeito as mamografias são inúteis,
perguntei ao Dr. Salu. “Não, eu não disse isso. As mamografias podem ajudar no
diagnóstico sob indicação médica; e serem usadas em rastreamentos específicos, localizados,
em mulheres entre 50 e 69 anos, em especial quando existem casos de câncer de
mama na família. O que reafirmo é que, como rastreamento de massas, feitos a
torto e a direito, de esquina em esquina, sem critérios, traz mais malefícios
que benefícios para as mulheres.” Assim falou o Dr. Salu!
Antônio Samarone.
E eu, como sanitarista, tenho a mesma opinião.
ResponderExcluirPalmas pro Doutor.
ResponderExcluirJá há a desgraça da indústria da doença, com nutrição farta pros abutres "investidores" em Planos de Saúde(?) e outros; trazer as urnas eleitorais pra dentro dela, por mais essa via é extremamente lastimável.
Aqui em Tucano/BA o que se vê é a abertura de laboratórios e farmácias. Muitos e muitas. Pra mim, um leigo, mostra q a indústria da saúde está indo bem, mas a saúde das pessoas está bem distante disso. Tida visita a um médico se transforma num listao de exames e posteriormente de medicamentos.
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