O Infarto da Alma – (por Antônio Samarone)
Resenha da Sociedade do Cansaço,
de Byung-Chul.
“Com a morte de Deus, louvamos a
saúde – nós encontramos a felicidade – dizem os últimos homens e piscam os
olhos.” Nietzsche.
Freud apontava a histeria e as
neuroses como as doenças da idade moderna, quando a negatividade, o controle, a
repressão e a disciplina predominavam. O homem precisava ser adestrado, para
adequar-se ao taylorismo. O homem máquina.
O vigiar e punir de Foucault foi
superado pela internalização da disciplina.
Nas sociedades ocidentais
pós-modernas, pós-industriais, predomina as positividades (yes, we can), são sociedades
do desempenho, com novas subjetividades. Síndrome de Burnout, transtorno do déficit
de atenção (TDAH) e depressão são as doenças do capitalismo contemporâneo.
No lugar do enunciado disciplinar
coercitivo (tu deves), imposto de fora; entra em cena um novo enunciado (nós
podemos).” O sujeito do desempenho – mais rápido e eficiente - substitui o
sujeito da obediência. A Sociedade disciplinar gerava loucos e delinquentes; a
sociedade do desempenho produz depressivos e fracassados. O sujeito do desempenho
é um empresário de si mesmo.
O excesso de positividade se
manifesta no excesso de estímulos, informações e impulsos, desestruturando a
atenção, tornando-a dispersa, com rápidas mudanças de foco. É o fim do tédio
contemplativo, perdendo-se o dom de escutar, sentir, ver e criar. A pura
inquietação não gera nada novo, apenas uma atenção fragmentada.
Para elevar a produtividade, o
paradigma da disciplina é substituído pelo paradigma do desempenho. Contudo, o
poder não cancela o dever, o sujeito do desempenho continua disciplinado. Nessa
passagem para o paradigma do desempenho está a gênese dos elevados índices de
depressão, expressão patológica do fracasso do homem pós-moderno consigo mesmo.
Na patogenia da depressão ainda
colaboram a carência de vínculos do homem pós-moderno e a violência sistêmica da
sociedade que produz os infartos psíquicos. O que causa a depressão do
esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão do imperativo
do desempenho. A perda da fé não só em Deus, como na realidade, torna a vida
transitória. A dessacralização da vida conduz ao efêmero, ensejando nervosismos
e inquietações.
O homem depressivo é aquele
animal laborans que explora a si mesmo. É agressor e vítima, prisioneiro e
vigia, senhor e escravo ao mesmo tempo. O sujeito do desempenho encontra-se em
guerra consigo mesmo.
A sociedade do cansaço solitário,
do cansaço fundamental, se desdobra numa sociedade do doping cerebral
(neuro-enhancer). Ritalina, cocerta, vyvanse e aderal para segurar o desempenho.
Encero com uma conhecida citação de
Nietzsche: “Por falta de repouso nossa civilização caminha para uma nova barbárie.
Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto.”
Encero mesmos, com os versos de
Lenine: Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma/Até quando o corpo pede
um pouco mais de alma/A vida não para... Enquanto o tempo acelera e pede
pressa/Eu me recuso, faço hora, vou na valsa/A vida é tão rara...
Antônio Samarone.
Boa tarde! Em visita ao seu blog me deparei com um conteúdo bem interessante para leituras alternativas. Parabéns pelo blog. Estarei acompanhando.
ResponderExcluirPor oportuno, estou retornando as redes sociais após um tempo fora e gostaria te deixar aqui o convite para conhecer o meu novo espaço em https://enfoqueextrajudicial.blogspot.com
Agradeço sua atenção e aguardo sua visita.
Boa tarde. Quero fazer parte dessa história.
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